segunda-feira, 18 de julho de 2011

O chavismo perde a cabeça.

Mac Margolis, colunista do ESTADO, correspondente da "NEWSWEEK" no Brasil e editor do site WWW.BRAZILINFOCUS.COM, escreve que ‘O CHAVISMO PERDE A CABEÇA.

Hugo Chávez não está bem. Não me refiro ao câncer que ele e seus aliados tentaram esconder. Tampouco à luta de poder deflagrada pela perspectiva de sua eventual incapacidade. Seu problema agora é de ordem existencial e ameaça a pedra fundamental ideológica na qual ele ergueu sua revolução bolivariana e passou a vendê-la ao mundo.

É que Chávez acaba de receber um puxão de orelha de Noam Chomsky. Em carta aberta, o renomado linguista americano fez duras críticas ao governo pelo tratamento desferido a Maria Lourdes Afiuni, magistrada venezuelana presa em 2009 e humilhada desde então.

A ofensa de Afiuni foi mandar soltar um banqueiro acusado de corrupção pela promotoria chavista. E, na cartilha bolivariana, indultar banqueiro ou empresário - isto é, aqueles que não se corromperam - é afagar o inimigo. O próprio Chávez colocou querosene na fogueira ao exigir, furioso, que a juíza fosse condenada a 30 anos de cadeia - pena máxima.

Afiuni passou mais de um ano no Instituto Nacional de Orientação Feminina, onde teria sofrido horrores, de ameaças de morte a tentativa de estupro. Hoje, em prisão domiciliar, está com a saúde fragilizada.

Chomsky denunciou o "tratamento degradante" que a juíza recebeu no cárcere e pressionou por sua libertação imediata.

Normalmente, o comandante nem pestanejaria. Mas o professor Chomsky não é um dissidente qualquer, senão o decano dos críticos do "imperialismo" americano e fiel defensor de regimes indefensáveis, entre eles o de Chávez. "Um mundo melhor está sendo construído", se entusiasmou ele em 2009, depois de uma excursão à Caracas de Chávez.

Ele foi um dos muitos intelectuais de gabarito internacional que assinaram a carta de repúdio ao Human Rights Watch que, em 2008, denunciou o que poucos duvidavam: o chavismo se apoia na sistemática perseguição da oposição, violação de direitos humanos, intimidação da imprensa e interferência no Judiciário.

Chávez correspondeu à gentileza, sugerindo que o presidente Barack Obama contemplasse Chomsky com a indicação para assumir a Embaixada Americana em Caracas. Chomsky continua admirador do homem forte venezuelano e ainda é condescendente com o silêncio de seus aliados intelectuais a respeito dos "ataques maldosos e implacáveis dos EUA e do Ocidente" contra a Venezuela de Chávez.

No entanto, a crítica contundente no caso Afiuni foi um duro recado de que a indulgência tem limite. Doente, com a economia enfraquecida e a violência em alta, Chávez não pode desprezar os amigos que ainda tem. Cuba, aliada fiel, está decadente e politicamente irrelevante.

Os novos líderes do continente elegeram o lulismo - e não o chavismo - como modelo de governo, entre eles o presidente eleito peruano, Ollanta Humala, ex-chavista de carteirinha. A Espanha está prestes a eleger um novo primeiro-ministro de direita, que já decretou o fim da condescendência de Madri com a esquerda latino-americana.

Chávez, porém, ainda tem jogo. Seu experimento bolivariano ocupa uma lacuna fundamental no imaginário do nosso tempo, o de reserva moral do minguante socialismo internacional. Anos atrás, o titular desse papel era Cuba, quando Fidel Castro esbanjava vigor e sua ilha ainda simbolizava a última barreira ao império ianque.

Lembro-me, nos anos 70, dos intrépidos colegas de faculdade que trocavam suas férias por uma passagem para Cuba, onde se juntariam às Brigadas Venceremos, cortando cana-de-açúcar para a revolução.

De lá para cá, Cuba perdeu seu charme e os turistas ideológicos. Hoje, seus órfãos estão encalhados na Venezuela. Destaque para Sean Penn, Benício del Toro, Oliver Stone e Danny Glover - a esquerda festiva de Hollywood, que viu no bolivarianismo a chance de pregar a revolução com a boina alheia. Noam Chomsky, cabeça pensante da turma, acaba de colocar um pé fora do barco, já há muito tempo sem rumo.

Crise europeia sem controle?

LUIZ CARLOS BRESSER – PEREIRA, escreveu hoje na FOLHA DE S. PAULO sobre “Crise europeia sem controle?

Nesta semana o ataque especulativo contra a Itália deixa claro que o verdadeiro problema que a Europa enfrenta hoje não é mais evitar a crise - ela está aí -, mas atravessá-la sob razoável controle.

Os principais obstáculos a uma solução adequada são os burocratas internacionais do Banco Central Europeu e do FMI que rejeitam a restruturação administrada da dívida, e o Institute of International Finance que quer reduzir o custo da restruturação para os grandes bancos que representa mais do que já sendo reduzido.

A Grécia está hoje em situação de insolvência. O documento do IIF reconhece esse fato. Diante disso, a única solução razoável para o problema é o default e a reestruturação da dívida ""a redução do valor total a ser pago e o aumento do prazo de pagamento - feita de maneira negociada e ordenada.

A Alemanha propôs essa solução, que dividiria as perdas entre os Estados e os bancos.

Estes rejeitaram a propostas com o apoio do Banco Central Europeu, do FMI, e da Comissão Europeia, e, há três semanas, a proposta alemã foi descartada em troca de uma alternativa segundo a qual os grandes bancos participariam do socorro total de € 115 bilhões de dólares com a substituição de seus créditos de curto prazo no valor de € 30 bilhões por créditos de longo prazo com um desconto.

O IIF dá agora sua resposta. Quer anulação ou redução de uma parte da dívida pública grega de € 350 bilhões de euros. Concorda, portanto, com a reestruturação que haviam recusado, mas quer que o setor público pague o prejuízo que os bancos tiveram ao emprestar à Grécia.

Os adversários da reestruturação argumentavam que a reestruturação grega contagiaria os demais países. Mas isto já está acontecendo, e se reflete nos juros elevados que os outros países europeus afetados estão sendo obrigados a pagar.

Agora, com o vazamento do documento do IIF, é a Itália o novo alvo. Devido ao excesso de dívida pública, os juros de seus títulos aumentaram perigosamente. Ao que parece o IIF foi longe demais.

Neste fim de semana, diante do agravamento da crise, os ministros de finanças europeus estão reconsiderando a proposta de reestruturação, agora chamada de "default seletivo", que obrigará os bancos credores a aceitar o desconto.

E o FMI dá afinal sinais favoráveis a essa solução.

Não há garantia de que a reestruturação da dívida grega controlada pela União Europeia, o BCE e o FMI garantirá a travessia ordenada da crise, porque o risco do contágio sempre existirá, e porque a solução será parcial.

Resolve o problema da dívida pública, não da dívida privada grega. Nem o problema dos custos de produção excessivos nos demais países devedores, porque o aumento dos salários neles foi maior do que o da produtividade enquanto o inverso ocorria nos países credores europeus, resultando na sobreapreciação implícita da taxa de câmbio.

A solução apenas resolve ordenadamente uma parte do problema. Vamos esperar que a outra parte - a da desvalorização necessária - vá aos poucos sendo resolvida através da adoção de planos de austeridade pelos governos, e através do aumento da produtividade das empresas. O fundamental é manter a economia europeia sob controle.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Adapte-se ou morra.

MICHAEL SPENCE, laureado com o Nobel de Economia, é professor de economia na escola Stern de administração de empresas, Universidade de Nova York, pesquisador visitante no Conselho de Relações Exteriores e pesquisador sênior na Hoover Institution, Universidade Stanford. Escreveu hoje na FOLHA DE S. PAULO sobre a situação econômica atual do mundo.

A estrutura política que comprovadamente serve melhor às grandes economias emergentes se concentra não apenas na estabilidade monetária ou nos aspectos macroeconômicos, mas também na adaptação. Essa adaptação é orientada por uma avaliação projetiva das variações estruturais microeconômicas e macroeconômicas e das medidas necessárias a dar-lhes sustentação. E quanto aos grandes países avançados? Por motivos históricos, as atitudes de política econômica se provam menos flexíveis e adaptáveis. Um exemplo: em 8 de julho, depois do anúncio dos mais recentes e decepcionantes números sobre o emprego nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama expressou a opinião, compartilhada por muitos, de que um acordo sobre o limite das dívidas federais e sobre a redução do deficit público reduziria as incertezas que estão prejudicando o investimento em negócios, o crescimento e o emprego. Em outras palavras, os problemas fiscais dos Estados Unidos explicam sua recuperação econômica extremamente fraca. Assim que um acordo sobre a situação fiscal seja concluído, o governo poderá se afastar e permitir que o setor privado impulsione as mudanças estruturais necessárias a restaurar um padrão de crescimento inclusivo. Os comentaristas econômicos e financeiros parecem cada vez mais confusos quanto à fraca recuperação dos Estados Unidos. As diferenças entre a situação atual e as demais recuperações norte-americanas posteriores à Segunda Guerra Mundial são tão grandes que o uso do termo "recuperação" chega a ser dúbio. Mas os líderes norte-americanos ainda assim aceitam a visão cíclica da economia, analisam a recuperação fraca e imputam a culpa por ela a erros políticos posteriores à crise. Mas a conclusão sensata é a de que não vivemos uma recuperação cíclica, e sim o começo de um processo postergado de adaptação estrutural às mudanças na economia mundial, ao crescimento das economias emergentes e à variação nas vantagens comparativas e a poderosas forças tecnológicas. É claro que ninguém nega que existiram elementos cíclicos na crise de 2008. Mas vieram acompanhados de desequilíbrios estruturais que se acumularam por pelo menos 15 anos e que ocupam posição central na incapacidade da economia dos Estados Unidos para retomar seu nível normal de atividades. Os céticos podem bem questionar por que, se esses supostos desequilíbrios estruturais estão agora impedindo o crescimento do PIB e do emprego, eles não se tornaram aparentes antes da crise. A resposta é que já o eram, mas não nos números do emprego e do crescimento. Os demais sinais foram desconsiderados, ignorados ou tratados como pouco importantes. Um resumo curto desses sinais incluiria o consumo excessivo (que agora desapareceu) e a deficiência na poupança, baseados em uma bolha de ativos e em alto endividamento; um deficit em conta-corrente persistente e cada vez maior (sinalizando que o consumo e os investimento internos excediam a renda e a produção nacionais); e o crescimento líquido ínfimo do nível de emprego (ao longo de duas décadas). Com a queda na demanda interna agregada, o único propulsor de crescimento em operação, o comércio externo de bens e serviços, não serve à criação de empregos. Ignorar todos esses sinais gerou a ilusão de emprego e crescimento sustentáveis, antes da crise, e ajuda a explicar por que ela, e não aquilo que a causou, vem sendo vista como culpada pelos problemas. A "grande barganha" à qual Mohammed El-Erian, o presidente-executivo da Pimco, se referiu recentemente ao descrever a resposta correta à atual situação dos Estados Unidos precisa incluir um plano de estabilização fiscal. Mas também requer a adoção de uma estrutura política que reflita com precisão a natureza não cíclica das adaptações estruturais de prazo mais longo que serão necessárias para restaurar o crescimento e o emprego.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Obama e falácia do fluxo de capitais.

Paul Krugman, no ESTADÃO, posta em seu blog sobre que Obama e a falácia do fluxo de capitais

A coletiva de imprensa do presidente Obama não foi tão ruim quanto poderia ter sido; na verdade, mais ou menos ele disse que o estímulo precisa ser sustentado, salvo que não é politicamente possível. Mas também invocou a fada da confiança – e introduziu uma nova falácia, mostrando que ele e os seus assessores ainda não apreenderam a essência da macroeconomia numa armadilha de liquidez.

“Penso que, se o país como um todo, percebe que Washington age responsavelmente, compromissos estão sendo feitos, o déficit e a dívida sendo e tratados para um prazo de 10,15, 20 anos, que isso dará mais confiança às empresas para investirem com mais vigor neste país, os investidores dizendo que os EUA passaram a atuar unidos, dispõem-se a investir. E isso pode então ter um impacto positivo no campo do emprego e do crescimento em geral.”

OK, no começo surgiu a fada da confiança. Mas essa história de “investidores estrangeiros” foi, de fato, a parte pior.

Pense nisto: as taxas de juros nos Estados Unidos estão baixas; não observamos nenhum “crowding-out” (eliminação das despesas e dos investimentos privados) neste momento; NÃO existe uma escassez de poupança.

Assim, se os investidores estrangeiros decidirem que nos amam, o que isso provoca? Um aumento no valor do dólar, o que reduz as exportações e conduz a um menor número de postos de trabalho.

Isso parece familiar? Está intimamente relacionado ao raciocínio de que o acúmulo de reservas em dólar pelos chineses afeta inequivocamente a economia americana quando estamos numa armadilha de liquidez. E o que acabamos de perceber é que a Casa Branca ainda não entendeu isso.

Contudo, esta falta de compreensão é secundária comparado com o que vem ocorrendo no Congresso. Mas ainda assim é decepcionante e deprimente.

Sadia e Perdigão - união total.

ARTHUR BARRIONUEVO é professor da FGV-SP, especialista em concorrência e regulação e ex-conselheiro do Cadê, escreveu na FOLHA DE S. PAULO sobre “o que podemos esperar da fusão entre Sadia e Perdigão?

A aprovação pelo Cade da fusão Sadia-Perdigão, condicionada a um acordo negociado com a BR Foods (resultante da fusão), levanta muitas dúvidas sobre os seus impactos para o consumidor de baixa renda. Embora a avaliação seja complexa, dado o conjunto de mercados afetados pela operação, algumas feições do acordo permitem a discussão preliminar dos seus efeitos. A BR Foods deve: (a) vender 80% da capacidade da Perdigão no mercado interno (bem menos do que 80% de sua capacidade, já que ela é exportadora), incluindo fábricas, abatedouros, granjas, fábricas de ração e centros de distribuição; (b) retirar a marca Perdigão por um período de três a cinco anos, dependendo do produto, e retirada da marca Batavo em alimentos processados e carnes e; (c) vender as marcas Rezende, Wilson e outras. Para altas concentrações, existem dois tipos de remédios. O primeiro é o de desinvestimentos de ativos, e deve permitir ao seu comprador agir como concorrente viável e significativo. O segundo, comportamental, de compromissos que obrigam a empresa a seguir certas condutas. Os problemas com os desinvestimentos ocorrem quando os ativos vendidos não geram uma empresa sustentável, ou que é pequena para afetar o mercado, ou, ainda, dependente de insumos da empresa vendedora dos ativos. Os remédios comportamentais incluem o licenciamento de marcas/patentes, o que é difícil de administrar e que fracassa se não houver monitoramento. No nosso caso, existem desinvestimentos de ativos e marcas secundárias e a retirada temporária da marca Perdigão - que não segue a experiência internacional de licenciamento de marcas, tendo apenas o malsucedido caso Kolynos (1996) como precedente no Brasil. A questão é que, enquanto o voto do conselheiro Ragazzo era fundamentado e apresentava medida coerente com seu diagnóstico - venda de uma das marcas líderes e de ativos relacionados -, agora se trocou o certo pelo duvidoso. Ainda que a BR Foods repasse cadeias inteiras de produção e marcas secundárias, qual estudo garante que a nova empresa terá escala para concorrer com ela? Ou que exercerá influência nos preços? Qual o efeito da retirada da marca Perdigão? Igual ao caso Kolynos, onde a Colgate herdou os consumidores? A BR Foods detém a marca Sadia e a maior capacidade produtiva, logo, é a herdeira natural dos consumidores da marca Perdigão. Assim, muito ainda há a ser respondido do ponto de vista do interesse público.

O fim do euro?

Hoje, em entrevista publicada no UOL, NIALL FERGUSON afirma: é necessário acabar com a união monetária para salvar a União Européia.

O historiador Niall Ferguson, professor da Universidade de Harvard, nos EUA, sempre foi um crítico do uso de uma moeda única na União Europeia (UE).

Em 2000, após a adoção do euro, ele já previa que o moeda não duraria dez anos devido às diferenças fiscais entre os países.

Agora, afirma, a Europa precisa agir rápido: acabar com a união monetária para salvar a União Europeia.

Ferguson deu nesta quarta-feira uma palestra em Edimburgo (Escócia) dentro da TED, conferência sobre tecnologia, entretenimento e design que termina na quinta-feira.

Autor do livro "Civilization: The West and the Rest" (Civilização, o Ocidente e o Resto), falou sobre o declínio do Ocidente, após mais de 500 anos de domínio sobre o resto do mundo.

Depois, conversou com jornalistas sobre a crise econômica na Europa e nos Estados Unidos.

O que a Europa deve fazer para conter a crise da dívida?

Quando a Europa adotou o euro, eu já dizia que não iria funcionar, porque você não pode ter uma união econômica sem união fiscal. Em 2000, escrevi que a moeda não duraria mais de dez anos, porque as enormes diferenças entre os países causaria o colapso do sistema. É o que vemos agora.

A política de empréstimos não está revolvendo o problema. O que fazer?

Há duas opções para a Europa hoje, ou se transformar numa federação, como os Estados Unidos, ou abandonar essa ideia de moeda única. Mas não há vontade política para a federação. Estamos muito próximos de uma crise enorme. Os mercados já se voltaram para países como Itália e Espanha. Não faz sentido manter uma política de moeda única se você questionar a participação desses países.

Não é possível excluir países e salvar a moeda?

Eu acho que é preciso acabar com a moeda única para salvar a UE. Não há outra solução. A Grécia não vai ser competitiva com a mesma política monetária da Alemanha. Portugal também não. Há seis meses, ainda era possível manter o euro e excluir da união monetária um país ou outro. Mas essa solução foi sendo adiada e hoje não é mais uma opção.

Por que a Europa está demorando para tomar uma atitude mais drástica?

Porque as pessoas em Bruxelas (sede da UE) e em Frankfurt (sede do Banco Central Europeu) continuam a negar a realidade.

E o problema do déficit nos Estados Unidos?

Essa discussão sobre calote é estúpida. Entramos num território muito perigoso quando encontramos na mesma manchete de jornal os termos EUA e calote. Mesmo com o enorme problema fiscal dos EUA, não devemos falar de calote nesse momento. É incrível que os republicanos tenham ficado tão doutrinários que não queiram nem sequer discutir o fim de buracos no sistema tributário e nas despesas do país para reduzir o déficit. Para quem não tem um cérebro histérico, essa ideia de calote nos Estados Unidos é chocante.

terça-feira, 12 de julho de 2011

A sincera análise de Krugman.

Paul Krugman, em seu blog aqui publicado pelo ESTADÃO, escreve sobre Por que a Itália? Porque não os Estados Unidos?

Boa a pergunta de alguns leitores. Mas é uma questão sobre a qual já escrevi anteriormente:

Especificamente, o motivo pelo qual a Grécia (e a Irlanda e Portugal, e até certo ponto a Espanha) enfrentam tantas dificuldades é que, com a adoção do euro, estes países não previram a possibilidade de uma boa saída para se esquivarem dos efeitos colaterais da bolha pré-2008. Para recuperar a competitividade, eles precisam de uma deflação maciça; mas esta deflação, além de envolver um longo período de desemprego muito elevado, agrava a carga real representada por sua dívida vendida. Os países que mantiveram suas moedas, não se defrontam com os mesmos problemas.

Os desafios da política macroeconômica.

Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas - FGV/EESP, escreveu hoje no VALOR ECONÔMICO, sobre os desafios da política macroeconômica.

Os desdobramentos da grande crise financeira, a ascensão da China e mudanças estruturais pelas quais passa a economia global e a economia brasileira nos últimos anos colocam enormes desafios aos economistas brasileiros. Vivemos uma época histórica ímpar em que somos obrigados a repensar a economia diante das mudanças impostas pela necessidade de enfrentar os novos problemas ou velhos problemas em novos contextos.

Os desafios e os problemas estão postos, mas o verdadeiro debate nem começou ainda. Os economistas ainda se reúnem em grupos doutrinários e de interesses, continuam defendendo as suas "verdades", contidas nos seus pressupostos ou aquelas que convêm aos seus interesses. Em vez de destilar doutrinas, é preciso caminhar para um debate pragmático para enfrentarmos os problemas novos que nos apresentam.

Vamos nos restringir ao problema da inflação que ganhou novos componentes e impõe alguns desafios, particularmente o fato de os instrumentos até agora utilizados tornarem-se insuficientes diante do novo contexto trazido pelas mudanças tanto na economia global, como doméstica. Além disso, sabemos que, para cada problema, devidamente convertido em objetivo da política, é necessário um instrumento para resolvê-lo. Hoje, os instrumentos utilizados são em número muito menor do que as metas e objetivos a serem enfrentados.

Hoje todos concordam que a inflação tem origens externa e interna. Do lado externo, a elevação dos preços das commodities causada pelo excesso de demanda global gerado pela rápida expansão econômica da China e de outros países asiáticos. Esse novo quadro inflacionário veio substituir o quadro anterior de desinflação, em função da contenção dos salários nos países desenvolvidos, pelo "deslocamento" das fábricas e empregos para China e outros países com baixos salários e da queda nos preços das manufaturas pela acirrada competição global. No quadro desinflacionário, a política de metas de inflação, com os bancos centrais perseguindo uma única meta, com um instrumento, a taxa de juros, podia ser aceitável, já que a meta de emprego ou de crescimento era providenciada pelo "boom de crédito". Com a crise financeira, a política monetária assumiu novas funções e a política de metas de inflação precisará ser repensada, incorporando no mínimo novos instrumentos e metas.

Essa elevação generalizada dos preços de commodities, especialmente no caso dos alimentos, é um fenômeno novo, pelo menos no período pós-guerra, e tem também uma inovação. A causa original do excesso de demanda global tem sido impulsionada pela inovação financeira, que converteu as commodities e as moedas de países produtores em ativos financeiros, objeto hoje de forte especulação. No novo quadro inflacionário, o instrumento taxa de juros tem eficácia limitada, pois a demanda tanto de alimentos como de petróleo são inelásticas e não consegue inibir a especulação financeira.

Além disso, a atual pressão inflacionária não é passageira, decorrente de simples quebra de safra, mas um deslocamento persistente para cima na demanda, em função do rápido crescimento da China e Índia em que a oferta só conseguirá eliminar o excesso de demanda no longo prazo. E mais, a elevação da taxa de juros atrai fluxo de capitais e aprecia a taxa de câmbio e tem efeitos perversos. Taxa de juros elevadas e taxa de câmbio apreciada inibem novos investimentos em vez de ampliar a oferta de commodities e geram déficits em transações correntes. O aumento do fluxo de capitais acaba expandindo a oferta de moeda e de crédito.

Do lado interno, a causa da aceleração da inflação no Brasil que preocupa neste momento é a elevação dos salários, acima da produtividade, e que está pressionando principalmente o setor de serviços. Aqui há um fenômeno novo, pois, pela primeira vez, atingimos o "pleno emprego" e, com isso tudo indica que a chamada "curva de Phillips" que estabelece um "trade off" entre variação da taxa de salário e taxa de desemprego começa a valer de fato no Brasil. Não é o esgotamento da capacidade ociosa na indústria, nem a depreciação da taxa de câmbio ou algum choque de oferta doméstica que pressionam a inflação, mas o esgotamento relativo do excesso de oferta de trabalho.

Mudanças demográficas ocorridas ainda na década de 70 e 80, com redução na taxa de natalidade e que já há alguns anos vem diminuindo o número de trabalhadores que procuram o seu primeiro emprego, modificou completamente a dinâmica do mercado de trabalho no Brasil.

Além disso, é do setor de não "tradables" que vem a maior pressão inflacionária, pois a apreciação da taxa de câmbio não tem efeito anti-inflacionário neste setor, ao contrário, a apreciação, ao elevar os salários, geram pressões de demanda e inflação, exatamente em setores não expostos à competição das importações. É importante lembrar que a apreciacão da taxa de câmbio significa elevação relativa de preços dos setores não "tradables" onde a produtividade aumenta menos do que no setor de "tradables", expostos a competição internacional. Isso somado à desindustrialização fará com que a produtividade cresça lentamente na economia brasileira, fazendo com que os custos unitários de trabalho tenham que ser repassados aos preços. Os desafios estão postos: "pleno emprego" e inflação do setor de serviços estão aí para exigir muito maior eficácia da política de juros do que no passado.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Uma aula sobre a China.

Durante décadas, o ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger, 88, foi um observador da China. Ele falou à "Der Spiegel" sobre seus encontros com Mao Tse-Tung, o futuro do Partido Comunista chinês e a rivalidade crescente entre Beijing e Washington.
Spiegel: Sr. Secretário, você acaba de celebrar seu 88º aniversário, o que significa que é quase tão velho quanto um dos partidos políticos mais influentes da história mundial - o Partido Comunista da China (CPC), que fez 90 anos na semana passada. Ainda é correto chamar o CPC de comunista? A China, tema de seu livro mais recente, ainda é comunista?
Kissinger: Não é um país comunista da forma como foi historicamente definido - com o estado gerindo a economia, determinando a distribuição de renda, e detendo o monopólio de todos os aspectos da vida intelectual. As reformas de Jiang Zemin no início da década de 2000 tentaram ampliar a base do Partido Comunista pela doutrina dos Três Representantes. Mas a China continua sendo um partido comunista no sentido de que o Partido Comunista detêm um monopólio do poder político.
Spiegel: Você se lembra de quando percebeu pela primeira vez o CPC como um movimento histórico, talvez até como uma ameaça histórica?
Kissinger: Nos anos 60, eu teria considerado a China com seu CPC um país mais dinâmico ideologicamente do que a União Soviética. Mas a União Soviética era estrategicamente mais ameaçadora.
Spiegel: E mesmo assim você e o presidente Richard Nixon não evitaram retomar as relações diplomáticas com a liderança comunista chinesa, a partir de 1973.
Kissinger: A Inglaterra e a França haviam estabelecido relações diplomáticas anos antes. Nossas conversas com Pequim serviram a um propósito estratégico: pensávamos que se China e a União Soviética compensassem uma à outra seria do interesse estratégico ocidental. Além disso, acreditávamos que era muito importante demonstrar para o povo norte-americano, na época dividido pela Guerra do Vietnã, uma nova noção de paz internacional.
Spiegel: Quando você se encontrou com os chineses na época, percebeu o imenso prejuízo humano que esses líderes haviam infligido a seu próprio povo - a Revolução Cultura, o Grande Salto Adiante? Isso não o incomodou?
Kissinger: Esses eventos foram uma catástrofe.
Spiegel: E foram bem documentados na época de suas negociações na China. O Grande Salto sozinho custou até 45 milhões de vidas, de acordo com estimativas dos historiadores.
Kissinger: O sofrimento e a fome eram conhecidos, mas não em sua total dimensão. Em todo caso, nos lidamos com a China enquanto um estado; não endossamos sua direção moral. Todos nossos aliados europeus e o Japão aplaudiram esse caminho.
Spiegel: É uma escolha que você fez porque suas considerações de política externa superavam as morais?
Kissinger: Não. Porque nós achávamos que promover a paz também era uma virtude moral, e porque a segurança também era um objetivo importante. Nós pensaríamos que a conclusão alternativa teria sido não ter nenhum contato com a China.
Spiegel: Você acredita que o CPC ainda existirá daqui a mais 90 anos?
Kissinger: O partido terá que ampliar sua base. Há muitas forças novas na China, e os líderes do atual partido estão proclamando que são necessárias mudanças. A questão essencial, é claro, é se os chineses permitirão em tempo a existência de partidos alternativos.
Spiegel: O CPC tem uma esquerda ideológica em seu cerne, ou ele é apenas um veículo conveniente de poder para as elites chinesas.
Kissinger: O partido se desenvolverá na direção do partido PRI (Partido Institucional Revolucionário) que governou o México por cerca de sete décadas fazendo ajustes pragmáticos. Pode haver um componente ideológico no cerne que, entretanto, não fará o papel amplo que fazia no período de Mao.
Spiegel: A abertura de relações, que você iniciou, tem com frequência sido divulgada como um triunfo político estrangeiro. Mas pode-se argumentar que ela começou um processo que agora tornou os Estados Unidos mais fracos e a China mais forte. O atual déficit comercial dos EUA com a China é gigante, e Pequim tem quase US$ 900 bilhões em títulos do tesouro dos EUA.
Kissinger: Você pode dizer isso só se não viveu naquela época como um participante consciente no debate. Quando a relação começou, a ideia de que a China se tornaria um competidor econômico para os Estados Unidos parecia inimaginável. Mas qual era a alternativa? Se um país de um bilhão de pessoas se organiza, ele pode se transformar num enorme concorrente. O desequilíbrio fiscal não é causado pela abertura mas por políticas norte-americanas equivocadas.
Spiegel: A secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton já expressou sua frustração com a China ao dizer: "como você pode ser duro com o seu banqueiro?"
Kissinger: Quando você deve dinheiro para o banco, isso se torna um arranjo mutuamente suicida. Se os chineses tentarem usar sua posição como banqueiros, eles podem fazê-lo sob o risco de perder as exportações que os tornaram o principal banqueiro em primeiro lugar.
Spigel: Então você ficaria menos preocupado com o débito dos EUA com a China do que Clinton?
Kissinger: É difícil jugar os graus de preocupação. Eu não acredito que a relação de banqueiro como tal é impossível de gerenciar. Entretanto, ela não é viável para que os Estados Unidos tenham déficits imensos indefinidamente sem colocar em risco seu crédito geral independentemente do que os chineses façam com a dívida que eles têm.
Spiegel: Clinton também foi crítica com a reação da China em relação à Primavera Árabe. Ela disse que os chineses estão "com medo" dela e tentando fazer a história voltar atrás. O quanto Pequim está preocupada com os acontecimentos recentes no Oriente Médio?
Kissinger: Não é sábio, nem tática nem psicologicamente, dizer a um país com 4 mil anos de história sem interrupções que compreendemos sua história melhor do que eles próprios. Mas sem dúvida, a possível aplicação dos princípios da Primavera Árabe à China é um motivo de preocupação para a liderança chinesa.
Spiegel: O que aconteceria se os protestos sociais emergissem na China e houvesse uma repetição do massacre na Praça Tiananmen? Como o mundo reagiria?
Kissinger: A posição formal norte-americana foi a de se opor à violência por parte de governos contra seus povos. Esse princípio não deveria ser abandonado. As implicações disso em casos individuais, entretanto, precisam ser vistas no contexto geral da política externa.
Spiegel: Isso deixa muito espaço de manobra.
Kissinger: Temos de defender essas questões de direitos humanos que consideramos de fundamental importância, mas também precisamos entender que há um preço em política externa a ser pago por essa atitude.
Spiegel: Você parece preferir lidar com temas de direitos humanos atrás de portas fechadas, e não em público.
Kissinger: Eu sempre disse que em relação à China, o engajamento é preferível.
Spiegel: Mas quando a China está irritada com outro país ou, por exemplo, com o Comitê do Prêmio Nobel por laurear o dissidente chinês Liu Xiaobo, ela diz isso, em alto e bom som. Esta é uma questão de dois pesos e duas medidas - por que o Ocidente não deveria criticar Pequim em público?
Kissinger: Eu não critico as pessoas que assumem uma postura pública em questões de direitos humanos. Expresso meu respeito por elas. Mas algumas pessoas são mais influentes sem uma confrontação pública.
"Pequim quer melhorar as relações com os EUA"
Spiegel: Quando o presidente Barack Obama assumiu o poder, ele tentou dialogar com a China. Mas mais tarde o debate sino-americano ficou concentrado em controvérsias - discussões na Conferência do Clima em Copenhague, debates fervorosos sobre a taxa de câmbio chinesa ou a fria recepção que Obama teve durante sua visita à China.
Kissinger: Obama gostaria de melhorar as relações com a China. A China também quer melhorar suas relações com os Estados Unidos. O que não está acontecendo é encontrar uma gramática para o diálogo, e parte disso é um problema cultura. Os norte-americanos veem a política externa como uma série de questões pragmáticas, em parte porque todos os problemas que foram reconhecidos como problemas nos EUA tiveram solução. Então, lidamos com os chineses numa série de temas específicos.
Spiegel: E isso é diferente para os chineses?
Kissinger: Os chineses olham para a política externa como uma série de eventos inter-relacionados. Veja o debate sobre a taxa de câmbio chinesa: nós discutimos mais estreitamente se a moeda chinesa deve se valorizar. Os chineses veem isso em termos da relação econômica geral com os EUA.
Spiegel: E eles só ajustariam sua moeda se os norte-americanos estivessem dispostos a retribuir?
Kissinger: Exatamente. Deve haver algum ajuste norte-americano em alguma área significativa para os chineses.
Spiegel: Então os chineses estão pensando de forma mais estratégica em termos de política estrangeira?
Kissinger: Não, apenas mais amplamente.
Spiegel: Os chineses sentem atualmente que estamos finalmente retornando às glórias do passado?
Kissinger: Os chineses costumam ser descritos como uma "potência em ascensão". Mas eles não pensam em si mesmos como uma potência em ascensão, porque durante 18 dos últimos 20 séculos, seu PIB foi o maior do mundo. Eles percebem o último século e meio como uma aberração e humilhação.
Spiegel: Você está descrevendo a mentalidade da liderança chinesa com grandes detalhes, mas tendo visitado a China mais de 70 vezes, você conheceu chineses comuns?
Kissinger: Eu não sei o que você quer dizer com "chineses comuns". Na maioria das visitas, eu faço o mesmo que eu faço na Alemanha, que é encontrar um grupo de intelectuais e pessoas que eu posso alcançar.
Spiegel: Você encontrou o ditador Mao Tse-Tung várias vezes nos anos 70. O que ele acharia da China moderna?
Kissinger: Mao estava interessado nessa noção de purificação ideológica da China mais do que numa recuperação econômica do país. Em nossas conversas, ele não mostrava praticamente nenhum interesse na cooperação econômica com o Ocidente. Então ele poderia considerar a China atual muito materialista. Ele provavelmente não gostaria dos modernos "yuppies" de Pequim ou Xangai.
Spiegel: "Pureza" - é este o ideal a que você associa Mao?
Kissinger: A definição de pureza de Mao era baseada em premissas diferentes do que as do Ocidente. Ele infligiu um sofrimento monstruoso ao povo chinês. Mas estou apenas apontando que a atitude chinesa é mais complexa. Eles apreciam o fato de que ele uniu o povo chinês.
Spiegel: Os chineses estão começando a pensar que talvez Mao tivesse algum outro objetivo?
Kissinger: A geração do ex-líder chinês Deng Xiaoping (que governou nos anos 80 e 90) considera a Revolução Cultural um desastre sem precedentes. Acredito que foi um imenso desastre, também. Mas há pessoas hoje na China que olham para as políticas lançadas por Mao como algo que poderia ter algum significado, mesmo quando foram longe demais.
Spiegel: As empresas norte-americanas que investiram na China reclamam sobre violações massivas aos direitos autorais. Autoridades norte-americanas lamentam o chamado "novo colonialismo chinês" na África. Como é possível abordar esses temas, dadas as sensibilidades chinesas que descreveu?
Kissinger: Em questões que afetam o interesse nacional imediatamente, você defende. Isso é normal quando se fala sobre o impacto de uma nação além de suas fronteiras. Minha visão é de que na relação com a China, nossos interesses estão mais bem servidos ao criar uma noção de coevolução do que pelo confronto constante.
Spiegel: Quando a China se envolve em outros países, ela parece estar preocupada apenas com interesses empresariais ou recursos naturais. Diferentemente dos EUA, Pequim não desenvolveu ainda tendências ideológicas missionárias.
Kissinger: Os norte-americanos acreditam que podem alterar as pessoas por conversão, e que todos no mundo são norte-americanos em potencial. Os chineses também acreditam que seus valores são universais, mas não acreditam que podem converter os outros a se tornarem chineses, este são apenas os que nasceram no país.
Spiegel: O seu livro será publicado na China?
Kissinger: Não sei ainda. Não aceitarei cortes, então será interessante ver se isso acontece ou não.
Spiegel: Sr. Secretário, muito obrigado por esta conversa.
Entrevista conduzida por Gregor Peter Schmitz e Bernhard Zand.

O que OBAMA quer.

PAUL KRUGMAN, hoje na FOLHA DE S. PAULO, esclarece "O que Obama quer".
Sejamos francos. Está ficando cada vez mais difícil confiar nas motivações do presidente Barack Obama na luta em torno do Orçamento, em vista do desvio à direita que seu discurso econômico vem fazendo.
Se você apenas ouvisse os discursos dele, poderia concluir que ele compartilha o diagnóstico republicano sobre o que está errado em nossa economia e o que deveria ser feito para resolvê-lo. Talvez essa não seja uma impressão equivocada.
Um exemplo desse desvio à direita se deu no discurso em que Obama disse o seguinte sobre a base econômica do Orçamento: "O governo precisa começar a viver com os recursos dos quais dispõe, assim como fazem as famílias. Precisamos cortar gastos com os quais não podemos arcar, para colocar a economia sobre uma base mais estável e proporcionar a nossas empresas a confiança de que precisam para crescer e gerar empregos".
São três das falácias econômicas favoritas da direita em apenas duas sentenças. Não, o governo não deve traçar seu Orçamento como fazem as famílias; pelo contrário, tentar equilibrar o Orçamento em tempos de dificuldades econômicas constitui uma receita para aprofundar o declínio. Cortes nos gastos, neste momento, não "colocariam a economia sobre uma base mais estável". Eles reduziriam o crescimento e elevariam o desemprego. E as empresas não estão se contendo porque lhes falte confiança nas políticas do governo, mas porque não têm fregueses suficientes, problema que seria agravado, e não aliviado, por cortes de gastos no curto prazo.
As pessoas têm me perguntado por que os assessores econômicos do presidente não estão lhe dizendo para não acreditar na afirmação, popular entre a direita, mas avassaladoramente refutada pelas evidências, de que reduzir gastos diante de uma economia deprimida vá gerar empregos de maneira mágica. Minha resposta é: "Que assessores econômicos?". Quase todos os economistas destacados da gestão Obama ou já a deixaram ou a estão deixando. E não foram substituídos.
Quem está definindo as posições econômicas da administração? Parte do que temos ouvido está vindo, presume-se, da equipe política.
De qualquer maneira, não acredito que tudo isso se deva a cálculos políticos. Assistindo a Obama, é difícil não ter a impressão de que ele está procurando conselhos de pessoas que creem que o deficit, e não o desemprego, é o problema mais premente que a América enfrenta atualmente e acreditam que a parte maior da redução do deficit deveria vir de cortes nos gastos.
Nem os republicanos sugeriam cortes na Previdência Social; isso é algo que, aparentemente, Obama quer como um fim em si.
E isso levanta a grande pergunta: se um acordo em relação à dívida for fechado de fato, e se ele refletir de modo avassalador as prioridades e a ideologia conservadoras, deveriam os democratas no Congresso votar em favor dele?
O pessoal de Obama vai argumentar que seus correligionários deveriam confiar nele. Mas é difícil entender por que um presidente que vem se dando a muito trabalho para ecoar a retórica republicana e endossar visões conservadoras falsas deve merecer essa confiança.
PAUL KRUGMAN é economista, vencedor do Prêmio Nobel (2008).

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A tragédia grega e a comédia brasileira!

O texto abaixo é do amigo professor CARLOS PIO, que com sua mente privilegiada e ácida analisa o panorama econômico internacional e local. Boa leitura.

Temos assistido, atônitos, o desenrolar de mais uma crise financeira. A Grécia é a bola da vez. Apesar do novo protagonista, o enredo da tragédia é o mesmo das crises anteriores: sistema financeiro globalizado, bancos privados internacionais emprestando muito a governos fiscalmente irresponsáveis, governantes que preferem gastar mais a promover reformas condizentes com os novos tempos, sistemas políticos engessados pela força dos grupos de interesse que representam setores privilegiados das respectivas sociedades.

Mais particularmente, quais são os problemas da Grécia? Primeiro, uma dívida externa superior ao tamanho da economia nacional (€ 340bi, ou o equivalente à metade do PIB do Brasil). Segundo, um estado ineficiente, inchado e gastador. Terceiro, um conjunto de regras econômicas, políticas, sociais e culturais que emperram a produtividade das firmas, desestimulam as pessoas a trabalhar mais e de forma inovadora, impõem custos produtivos elevados, incertezas jurídicas e ineficiências generalizadas. Quarto, a impossibilidade de desvalorizar o câmbio uma vez que integra uma união monetária (a zona do Euro). Desde que acompanhada de medidas voltadas para minimizar seus efeitos inflacionários, a desvalorização é uma das medidas mais eficazes para reequilibrar as transações financeiras entre residentes e estrangeiros – porque ajusta automaticamente os custos e os preços domésticos aos internacionais –, possibilitando gerar e economizar divisas e, assim, pagar a dívida externa.

Qual a solução? A maneira mais eficiente de equacionar tais problemas envolve: reestruturar o estado, promovendo o enxugamento dos desperdícios, a prevalência do mérito na administração pública e profundos cortes orçamentários (de preferência poupando apenas os que beneficiam os cidadãos mais pobres ou vulneráveis); reformar as instituições que inibem os ganhos de produtividade – essenciais à prosperidade das pessoas e empresas; eliminar privilégios concedidos a empresas, setores econômicos e grupos da sociedade (como os funcionários públicos) os quais impõem custos elevados a outros grupos – consumidores (famílias e firmas) e contribuintes, por exemplo.

Mas tudo isso é duro demais, tanto para os grupos privilegiados – que não querem largar o tacho – quanto para os governantes, que nestes se apoiam para obter votos, recursos de campanha e emprego, quando abandonam a política. Sinal disso são as marchas diárias de grupos de comunistas e sindicalistas bem-vestidos e alimentados que enfrentam a polícia nas ruas para protestar contra o austero pacote negociado pelo governo com os credores da dívida externa grega. Há razões de sobra para duvidar de que o governo atual – ou qualquer outro – encontre apoio social ou parlamentar para enfrentar a ida dos que não querem os ajustes às instituições do capitalismo na pátria do teatro, da filosofia, das artes plásticas, da mitologia, e de tantas coisas mais.

Por ironia do destino, no mesmo momento em que hordas acampavam à frente do Parlamento grego, em Washington o representante do Brasil declarava apoio a Christine Lagarde, ministra das finanças da França, na disputa pela diretoria-geral do FMI – um dos fiadores dos pacotes de socorro à Grécia. Foi, de fato, mera coincidência, mas uma daquelas cheias de significado. Explico.

Lagarde disputava o cargo com o presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens. E o mexicano representava três coisas muito diferentes: uma alternativa latino-americana à dominação europeia no Fundo, justamente quando ele tem que equacionar um problema gigantesco no Velho Continente; uma opção vinda de um país que sofreu mais de uma crise financeira como a que ora afeta a República Helênica; a escolha de um dirigente cujo país realizou diversas reformas econômicas e financeiras nas últimas duas décadas, abriu-se para o mundo e ganhou respeito e mercados ao fazer justamente aquilo que todos, especialmente o FMI, precisará exigir dos gregos – governo, sociedade e empresas.

Mas Guido Mantega preferiu jogar no lixo o discurso (fácil) contra a predominância dos governos de países ricos nos organismos financeiros internacionais, em especial o FMI, a apoiar alguém que tinha todas aquelas qualidades. Ficou com Lagarde para não dar o gostinho da vitória ao liberalismo mexicano. O descompasso de Mantega na política internacional tem uma lógica: procura sonegar, dos brasileiros, tanto o reconhecimento de que o nosso passado grego nacional-desenvolvimentista foi um fracasso retumbante, quanto o árduo aprendizado de que é fundamental reformar as instituições e as mentalidades (política, econômica e empresarial) prevalecentes com vista a promover a eficiência e a prosperidade, como simbolizava o mexicano Carstens.

Diante da tragédia grega, a comédia do governo brasileiro.

Notícias do blog!

Apesar de julho ser o mês favorito de uma legião de brasileiros para as férias anuais, aviso aos meus quase dois (milhões) de leitores que este blogueiro encontra-se em atividade.
No entanto, por 1001 razões, as postagens estão em menor quantidade, mesmo com diletos amigos abastecendo-me diariamente de notícias econômicas. E tem cada uma.
Trata-se de uma questão pontual e que será corrigida o mais breve possível.
Um ótimo final de semana para todos!

domingo, 3 de julho de 2011

Breve comentário sobre o debate do estímulo.

Paul Krugman no ESTADÃO on line comenta:

Um breve comentário sobre o fato de eu estar prematuramente correto a respeito do problema das proporções insuficientes do estímulo: talvez você ache que hippies como eu estavam apoiando suas opiniões em algum tipo de versão louca, selvagem e nada ortodoxa das leis da economia, enquanto as pessoas sábias e ponderadas que defendiam US$ 787 bilhões como um montante ideal recorriam às análises tradicionais.

Mas o que ocorria era exatamente o contrário. A defesa de um estímulo muito maior era inspirada pelos manuais mais básicos de macroeconomia e podia ser justificada também por modelos econômicos mais extravagantes, mas ainda tradicionais.

Em comparação, a ideia de um estímulo bem menor tinha como base uma combinação de improviso, intuição e simbolismo político: sem ter como base prova nenhuma, os governantes acreditaram que um estímulo maior acabaria inquietando o mercado de títulos, e/ou que um empurrão temporário seria suficiente para restaurar a tão importante confiança, ou que seria politicamente crucial manter o montante total abaixo da marca de US$ 1 trilhão. (Que diferença faria se nossa álgebra funcionasse na base 12?)

Em outras palavras, a sabedoria – conforme entendida pelo público – estava em rejeitar análises econômicas criteriosas em favor do tato, e só atinar para o fato de que a análise estava correta depois que tivessem se passado alguns anos de desemprego em massa. Os hippies leem os manuais; as Pessoas Muito Sérias confiam na análise detalhada das tripas de um animal, ou algum outro ritual do tipo.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

A velha superstição.

PAUL KRUGMAN, no ESTADÃO, comentando sobre a velha superstição.

Achei um exemplar da obra A Grande Depressão, de 1934, de Lionel Robbins, numa livraria de livros usados em Norwich. É muito revelador: sensato, repleto de tabelas e fatos, é um livro que, claramente, tem de ser visto como o trabalho de um observador sagaz – na verdade um sujeito muito sério.

Mas totalmente, completamente equivocado.

“A primeira razão fundamental para uma recuperação a partir da posição em que o mundo se encontra neste momento é reconquistar a confiança do setor privado”, afirma Robbins. “Mas como a confiança pode ser restaurada?” Ele se pronuncia contra a política monetária expansionista, mesmo para reverter a deflação de 1929 a 1933 – mas não dá nenhuma explicação lógica para isso; ao decidir que o problema era de “confiança”, declara que a expansão monetária cria “incertezas” e, em consequência, prejudica a confiança. E condena a política de taxas de câmbio flexíveis, porque isso cria incertezas e debilita a confiança.

Ao avaliar os escombros à sua volta, declara que a causa da depressão foi a intervenção excessiva do governo e que a solução, o que seria necessário para restaurar a confiança, seria (rufar de tambores) um retorno ao padrão ouro.

Você pode ver como este tipo de análise política baseada na superstição pode ter parecido plausível em 1934, embora mesmo a Teoria Geral de Keynes pudesse explicar como Robbins estava errado (e o fez). Mas, hoje, o que se esperava era que esses argumentos fossem coisa do passado.

O problema é que não. O novo informe do BIS vai muito no caminho de Robbins em 1934, com muito menos desculpas. Robbins sofria com a falta de uma estrutura para dar sentido aos fatos. O BIS, com tantos economistas, deparando exatamente com a síndrome econômica que Keynes analisou e, nesse aspecto, até Milton Friedman exigiria uma ação vigorosa, preferiu ignorar essa estrutura e, em vez disso, jogar o Calvinball monetário.

Eu, originalmente, concluiria esta postagem falando alguma coisa sobre estupidez, mas não é correto: as pessoas que trabalham no BIS não são estúpidas. O que ocorre neste caso é algo diferente e pior: estamos observando o desejo de uma respeitabilidade convencional pesando mais do que as lições da história; e observando um vago preconceito (que existe para servir aos interesses dos rentistas) triunfando sobre a análise.

A história não perdoará essas pessoas.

O mistério de Lagarde!

PAUL KRUGMAN, no ESTADÃO, comentando sobre o mistério de LAGARDE.

Pois bem, teremos Christine Lagarde no comando do FMI. Desejo a ela toda a sorte. E desejaria também que algum de nós fizesse a mínima ideia de como será o desempenho dela no cargo.

Não estamos falando de uma pessoa especialmente enigmática: além de inteligente, suas credenciais mostram uma mulher séria, responsável e criteriosa. Mas é justamente isso que me preocupa.

Afinal, estamos vivendo numa era na qual, no momento, a prudência convencional é tolice e a virtude convencional é vício. Tudo aquilo que as Pessoas Muito Sérias querem fazer – cortar os déficits imediatamente, “normalizar” os juros, preocupar-se com a inflação – consiste exatamente no tipo de medida que poderia transformar o declínio de 2008-? em décadas de estagnação.

Sob a batuta de Strauss-Kahn, o FMI estava se firmando na posição menos dogmática e mais aberta das grandes organizações internacionais. Isso não quer dizer muita coisa, mas era nítida a diferença do FMI em comparação aos loucos que comandavam a OCDE ou o Banco de Compensações Internacionais.

Assim, a pergunta é: será que o FMI vai se tornar mais razoável sob o comando de Lagarde? Pelo bem da economia, vamos torcer para que a resposta seja não.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Carrefour + Pão de Açúcar?

Tenho preocupação pela provável fusão Carrefour e o Pão de Açúcar. Os dois gigantes ditarão seus preços e os consumidores ficarão sem concorrência. Uma pena. Além do que, para fechar esse negócio, o santo BNDES precisa entrar com alguma coisa na ordem de R$ 4 bilhões para o Sr. Abílio Diniz "comprar" o Carrefour. E lá vai quase 32% do varejo nacional somente com esse novo "grupo". Quem ganha com a história? Claro que serão "eles". E com dinheiro "nosso". Quem perde: quem comprar neles.
Compete ao governo analisar se a fusão desses dois gigantes varejistas tornará o mercado menos competitivo, reduzindo o bem-estar de todos.
A confirmar.

A pergunta de Delfim Netto.

Antonio Delfim Netto, hoje na FOLHA DE S. PAULO e a pergunta que não quer calar.

A grande pergunta a ser feita à sociedade brasileira (e, em particular, ao poder incumbente de plantão) é: como vamos proporcionar empregos de boa qualidade a quase 150 milhões de cidadãos com idade entre 15 e 65 anos que viverão em 2030?
Talvez seja bom recordar alguns preliminares:
1) Nossa memória é curta e nosso entusiasmo é grande. Esquecemos que "quebramos" duas vezes nos últimos 16 anos (1998 e 2002) e fomos socorridos pelo FMI para honrar nossos compromissos externos, o que garantiu a continuidade de nossa democracia;
2) Todas as crises que abortaram o crescimento do Brasil nos últimos 50 anos foram produzidas por dificuldades no financiamento do deficit em conta-corrente ou por uma crise de energia;
3) A grande mudança da situação externa não foi resultado de particular melhoria na política macroeconômica. Foi consequência da expansão mundial (da China, especialmente), que aumentou a demanda dos produtos que estávamos preparados para exportar (alimentos e minérios), cujos preços beneficiaram-se, adicionalmente, de um fantástico aumento. Parte importante de tal aumento deve-se à desvalorização do dólar promovida pela política monetária americana.
Tais setores são poupadores de mão de obra. Suas cadeias de serviços são suscetíveis de serem ampliadas, mas absolutamente incapazes de dar resposta à grande pergunta.
É uma grave ilusão supor que nada vai mudar nos próximos 20 anos. A "oferta" de alimentos e minérios está sendo estimulada em quase todos os países, inclusive pela própria China. Não existe, portanto, razão para acreditar que o nosso modelo agromineral-exportador induzido seja bem sucedido no longo prazo.
Além do mais, quem pode garantir que a China manterá, por mais 20 anos, a estrutura política atual (que já dá alguns sinais de fadiga)?
A alegre aceitação dessa "nova" divisão internacional do trabalho (para a China a indústria, para a Índia os serviços e para o Brasil alimentos e minérios) põe em risco o futuro da economia brasileira como necessário instrumento de construção de uma sociedade mais justa, com pequeno desemprego e suficiente emprego de boa qualidade em 2030.
Precisamos aproveitar a oportunidade (os bônus!) dos setores agrícola e mineral (o pré-sal) para nos livrar da trágica dependência externa e impedir que o pré-sal nos leve a outra dependência.
O que precisamos mesmo para responder à grande pergunta é continuar a aproveitar com inteligência os dois "bônus" e dar condições isonômicas a nossos empresários e trabalhadores para que construam o mercado interno que vai assegurar os bons empregos para nossos filhos e netos.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Déficit externo não é sinal de crise, mas deve ser monitorado

Também no completo blog da MIRIAM LEITÂO, leio que “o BC divulgou hoje que o déficit em transações correntes (balança comercial, viagens, pagamentos de juros e remessas de lucros e dividendos no país) ficou em US$ 4,1 bilhões em maio. No acumulado em 12 meses, está negativo em US$ 51 bilhões. Não vamos entrar em crise por causa disso, mas é um dado que temos de acompanhar sempre.

O Brasil de hoje é diferente do do passado. Antes, quando o país fechava no vermelho, tremíamos na base, porque devíamos muito, tínhamos poucas reservas, enfrentávamos crise cambial, dólar alto. A situação hoje é diferente.

Mas é preciso olhar para esses números com atenção: só gastos com viagens internacionais registraram saldo negativo de US$ 5,450 bilhões no ano.

Em junho, o déficit em transações correntes também deve ficar em torno de US$ 4 bi, segundo o BC. As previsões do BC para a balança comercial, que faz parte da conta, melhoraram: o superávit deve passar de US$ 15 bilhões para US$ 20 bilhões.

Vale a pena explicar isso: o Brasil está com superávit na balança comercial, apesar de o dólar estar baixo, porque os produtos que o país exporta estão com preço elevado no mercado internacional. Isso nos favorece, serve um pouco como anestesia para esconder alguns desequilíbrios que a economia brasileira acumula nos últimos tempos.

Por outro lado, o país recebeu muito investimento direto, aquele direcionado ao setor produtivo. Apesar de o governo não se mostrar preocupado, tem gente, como o FMI, achando que tem dinheiro entrando que finge ser para o setor produtivo, que não paga IOF, quando não é.

O momento é outro, como disse, mas é melhor olhar o que o Brasil fez de errado no passado pra não repetir as mesmas coisas. Hoje, quando analisamos o caso da Grécia, sabemos que não será fácil resolver o problema da dívida, vivido aqui nos anos 80.

Quando a conta externa fica negativa por muito tempo e o país se descontrola, pode virar um problema. O Brasil, hoje, está bem, porém há dias de sol e outros de chuva. Temos de nos preparar para enfrentar momentos piores. Para isso, é preciso olhar os dados com cuidado, identificar por que não estamos conseguindo atrair mais turistas, por exemplo. O turismo doméstico está caro inclusive para os brasileiros. Por isso, muita gente pensa em viajar para fora, porque faz a conta e vê que ficaria mais barato.

Temos alguns pontos para acertar para que essa conta não fique excessivamente alta. É preciso abrir espaço para que esse período de déficit seja para a modernização da economia brasileira, não apenas para gastos no exterior.”

O FMI MUDOU MESMO. Ela ganhou!!!

Leio no sempre atualizado blog de MIRIAM LEITÃO que “o apoio dos EUA à candidatura de Cristine Lagarde sela a vitória virtual da ministra de Economia da França para a chefia do FMI, segundo as agências internacionais de notícias. Em nota divulgada mais cedo, o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, disse que "o talento excepcional da ministra e a ampla experiência oferecerão uma liderança inestimável para esta indispensável instituição em momentos críticos para a economia global".

Ele destacou ainda o "amplo apoio" que Lagarde obteve entre os membros do Fundo, incluindo as economias emergentes. Rússia e China já anunciaram que estão com Lagarde, que disputa a chefia da instituição com o presidente do BC do México, Agustín Carstens. O conselho executivo do FMI deve escolher hoje o substituto do ex-diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn.”

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Universidade brasileira se fecha para o mundo

Gostei de ler na FOLHA DE S. PAULO de hoje o texto abaixo. É a realidade de nossas universidades. Ainda estamos longe do 1º mundo. Por enquanto...
Se você está na universidade, faça o teste. Conte quantos alunos ou professores internacionais existem na sua instituição. Provavelmente, a resposta vai ser nenhum ou poucos. As universidades brasileiras são muito fechadas para o mundo: difícil para quem é de fora vir para cá. Quem já visitou uma universidade nos EUA ou na Europa sabe que a situação é diferente. Existe uma batalha pela "internacionalização". As escolas competem por professores e alunos no mercado global. Afinal, muitas das inovações tecnológicas dos EUA, por exemplo, foram feitas por "forasteiros". Sergey Brin, do Google, é russo; Jerry Yang, do Yahoo, é taiwanês; o fundador do eBay, Pierre Omidyar, é franco-iraniano. Há relação direta entre universidades, estrangeiros e inovação. É claro que o Brasil ainda luta para abrir espaço para seus próprios jovens. Só 20% estão na universidade (são 43% no Chile e 61% na Argentina). Mas o desafio é fazer as duas coisas ao mesmo tempo: ampliar o acesso local e internacionalizar. Ninguém disse que seria fácil ser potência emergente! Um bom primeiro passo é prestar atenção ao básico. A maioria dos sites estão só em português. Vale traduzir um mínimo. Professores estrangeiros também se surpreendem com a dificuldade em reconhecer seus diplomas. O de Harvard precisa ser "revalidado", o que pode levar meses ou anos. Além disso, os principais rankings globais exigem internacionalização. Saldo: apesar dos centros de excelência, nossas universidades acabam mal posicionadas. É claro que o esforço não pode ser isolado. Precisa acompanhar o desenvolvimento do país. Só que já crescemos nos últimos 16 anos, e a questão continua a não ser pensada. Para quem quiser saber mais sobre o tema: bit.ly/jMGIMf.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...