segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Pensando na economia americana...

VINICIUS MOTA, na FOLHA DE S. PAULO de hoje, escreve sobre “o impensável”.

O ano que vem marcará o 50º aniversário do episódio mais tenso da Guerra Fria. Em outubro de 1962, soviéticos e americanos flertaram com o embate direto, a partir da resposta dos EUA à instalação, em Cuba, de bases de mísseis de ataque da URSS.

A ameaça de escaramuça desafiou a sociedade a especular sobre o que restaria em caso de colapso daquela ordem bipolar. A abstenção do combate frontal entre americanos e soviéticos, afinal, era um requisito que conferia estabilidade e previsibilidade às relações e aos conflitos internacionais.

A guerra aberta inauguraria um período de prolongada incerteza.

E o que ocorreria hoje se o dólar e os títulos do Tesouro dos Estados Unidos deixassem de ser o esteio das finanças globais? Como no caso dos mísseis, a ameaça de calote americano questiona fundamentos da organização do mundo como ele é -ou parece ser.

A resposta é impensável nos termos atuais. Não há moeda para a qual fugir; não há governo com poder econômico e credibilidade comparáveis; não há arquitetura financeira para absorver o colosso de riqueza denominada em dólares.

E entretanto faz 30 anos que os Estados Unidos estão afundando no vermelho. Para sustentar o consumo, o governo faz dívida com seus cidadãos, as famílias penduram sua renda futura em bancos e cartões de crédito, e o país inteiro toma emprestado do exterior.

Com a produção estagnada no nível de 2007 -e a probabilidade de resultados ruins até 2012-, os EUA rolam a conta na base da maquininha de imprimir dólares e papéis do Tesouro. Apesar dos resmungos, o mundo todo aceita o jogo, pois treme de pensar na desordem profunda que o fim dessa ilusão monetária acarretaria.

Ainda assim, tal como ruiu a ordem bipolar, que parecia inabalável, a supremacia do dólar não vai durar para sempre. Chegou a hora de desafiar o impensável.

O governo ideal.

A competência de um governo se revela em sua quase invisibilidade ideológica.

LUIZ FELIPE PONDÉ, hoje na FOLHA DE S. PAULO, escrevendo sobre os Anões bolivarianos, foi direto na ferida.

O colonialismo cultural de Bresser-Pereira.

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA, em artigo na FOLHA DE S. PAULO de hoje, questiona sobre “o colonialismo cultural” do economista. O assunto é provocativo, polêmico e merece ser discutido entre nós, sempre com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino e da pesquisa econômica. Será que podemos entender como mais uma espécie de “cota” que o governo deve dispor para as nossas publicações?

De que tipo de economistas o Brasil precisa? De economistas que pensem de acordo com os problemas e interesses nacionais ou conforme a agenda e os interesses dos ricos?

Faço essa pergunta ao verificar que hoje o padrão de qualidade do ensino e da pesquisa aceito pela "comunidade acadêmica" é definido pelas revistas estrangeiras.

Ao fazermos isso, estamos formando professores e pesquisadores alienados dos interesses nacionais, estamos praticando uma violência contra a nação brasileira.

Para que uma nação seja forte, precisa dominar a ciência e a tecnologia, o que permitiu que os primeiros países que se industrializaram se tornassem ricos e poderosos. Para isso, países como o Brasil, cuja revolução capitalista foi retardatária, precisam contar com universidades capazes de absorver a ciência e a tecnologia estrangeiras.

Não é, porém, com esse tipo de argumentação que se pode explicar o fato de que no Qualis - o sistema de qualificação de periódicos da Capes que serve para avaliar a produção acadêmica - não haja sequer uma revista nacional de economia classificada como A.

Se a teoria econômica fosse uma ciência natural e exata como é a física, não haveria problema aí. Mas a economia é uma ciência social, é uma ciência que busca compreender como as sociedades modernas produzem e distribuem riqueza.

É uma ciência imprecisa porque os homens não são autômatos previsíveis e é sempre marcada pela ideologia, pois os interesses que envolve são muito grandes. Pretender transformá-la em uma ciência matemática é pura arrogância, o que leva à desregulamentação dos mercados e abre espaço para baixo crescimento e crises.

A economia é uma ciência que sempre refletiu interesses nacionais. E os países ricos sempre a usaram para "empurrar a escada" dos retardatários, ou seja, para convencê-los a adotar políticas que consultam seus interesses nacionais.

Não obstante isso, os artigos publicados por pesquisadores em revistas brasileiras obtêm uma pontuação nas avaliações da Capes muito menor do que os publicados em revistas estrangeiras.

A participação das revistas nacionais na classe A é zero. O que estamos dizendo aos jovens brasileiros com essa política?

Que pautem suas pesquisas e sua forma de pensar pelos padrões dos países ricos nossos concorrentes. "Mas é mais difícil publicar em uma revista estrangeira", dizem-nos.

Claro que é em algumas revistas, mas não é esse o critério. Ao Brasil, o que interessa são economistas que saibam analisar e propor soluções para os problemas brasileiros.

Quando revelo à Capes minha indignação com o colonialismo cultural, dizem-me que estão traduzindo a visão da comunidade acadêmica.

Mas quem "consagra" tal monstruosidade é o Estado brasileiro, que existe não para traduzir, mas para afirmar valores.

Para resolver esse problema, a Capes deveria estabelecer para as ciências humanas um porcentual mínimo de periódicos nacionais A.

Não precisa ser um percentual alto como o da história. Um número em torno de 20% como é o caso da antropologia é aceitável. Inaceitável é o que ocorre na economia.

domingo, 31 de julho de 2011

EUA perdem o AAA na política.

Clovis Rossi, hoje na FOLHA DE S. PAULO, escreve sobre o drama que passa a economia americana e, pela grandiosidade, a mundial.

O presidente Barack Obama, em seu enésimo apelo ao bom-senso, lembrou na sexta-feira que os Estados Unidos correm o risco de perder, pela primeira vez na história, o melhor "rating" não porque não tenham a capacidade de pagar as contas, "mas porque não temos um sistema político AAA que corresponda ao nosso rating de crédito AAA".

É inacreditável, mas é isso mesmo. A dívida norte-americana é de fato colossal, na altura de US$ 14,3 trilhões, o que corresponde, grosso modo, a sete vezes o que o Brasil produz por ano de bens e serviços.

Mas, enquanto o mundo estiver disposto a financiá-la -e continua disposto- não haveria risco de "default", mesmo que parcial, e, por extensão, não haveria risco de degradação da nota de crédito da maior economia do mundo, única superpotência remanescente -fatores que tornam a situação alucinante.

Ao assumir que o sistema político norte-americano não merece nota 10, Obama está concordando explicitamente com a análise recorrente a respeito da crise, análise que fica de pé, aconteça o que acontecer hoje ainda ou amanhã. Há uma enxurrada de comentários dizendo que o sistema político norte-americano tornou-se disfuncional.

Minha opinião: a generalização, como quase toda generalização, é injusta. A disfuncionalidade não é de todo o sistema. Deriva da introdução nele, a partir do ano passado, do fundamentalismo hidrófobo do Tea Party, o movimento ultraconservador que não é majoritário nem entre os republicanos, mas cuja virulência sequestrou a agenda do país e, de certo modo, do mundo.

Basta ler comentário, também de sexta-feira, do "Financial Times", publicação que compartilha com o Tea Party a ojeriza a um Estado grande, mas é séria e responsável o suficiente para dizer: "Esta anabolizada facção populista-conservadora combina um zeloso e intransigente desejo de reduzir o governo com um desprezo cego pelas consequências do default. O desejo é legítimo, a irresponsabilidade é imperdoável".

A irresponsabilidade se torna ainda mais imperdoável quando se sabe que o que está em jogo agora não é aumentar a dívida para o futuro, mas simplesmente para pagar as dívidas já contratadas e devidamente autorizadas pelo Congresso em momentos anteriores.

Portanto, é injusta também a generalização feita pela presidente Dilma Rousseff, na cúpula de quinta-feira da Unasul, ao dizer, referindo-se a Estados Unidos e União Europeia que "a insensatez é a regra".

Em geral, quando se diz que todos são igualmente culpados, acaba-se aceitando que ninguém seja responsabilizado, o que, pelo menos neste caso, é um erro grave.

Se o presidente Obama tem alguma culpa é a de ter sido demasiadamente conciliador, o que o levou a abandonar a sua fórmula preferida -e de elementar sentido comum- de que o ajuste fiscal deveria ser composto por aumento de receita e corte de gastos, na proporção de 20% para 80%.

Agora, com ou sem "default", virão só cortes de gastos, o que o sentido comum diz que não é o mais sadio, num momento em que a economia patina, como mostra o pífio crescimento do segundo trimestre.

Revista Estudos Econômicos.

Mensagem de Delfim Netto na Revista Estudos Econômicos:

Foi com imensa honra e enorme gratidão que recebi o convite para ser patrono da nossa revista “Estudos Econômicos”, que completa o seu 41º ano. É sucessora de publicação mais antiga, a Revista de Teoria e Pesquisa Econômica.Este é um momento particularmente interessante para a nossa profissão. A crise de 2007/09 que atingiu o sistema financeiro, interrompeu o “circuito econômico” e já custou mais de 5% do PIB mundial e deixou desempregados mais de 30 milhões de honestos trabalhadores. Ela mostrou as limitações dos nossos conhecimentos de como funciona, de fato, o sistema econômico. Mostrou mais: a precariedade do que parecia uma revolução científica, a Economia Financeira, construída por pequenos economistas, supostos grandes matemáticos!

O economista é um cientista social que tenta entender como funciona o mundo real (e não impor-lhe o que gostaria que ele fosse), que tenta encontrar algumas regularidades e organizar estórias plausíveis sobre elas. O resultado do seu trabalho deve ajudar a lubrificar o funcionamento das instituições que levam ao desenvolvimento sustentável com justiça social. Nem toda atividade social é de interesse da economia, mas toda atividade econômica é de interesse social. O agente econômico é um animal mais complicado do que supúnhamos: aprende com uma racionalidade limitada inserido num universo de incertezas.

O individualismo metodológico e os agentes representativos, que estão na base das nossas construções teóricas são insuficientes para entender o fenômeno social das redes que dominam o universo social, da tendência à imitação dos agentes e da segurança que a norma dá ao cidadão. Este, seguramente, movese por estímulos e interesses, mas se move num espaço social, numa rede da qual é só um elemento, mas condiciona as suas escolhas.

A pobre discussão, que envolveu a ideia de “Estado Mínimo” era apenas uma ação diversionista. Na verdade, não existe “mercado” sem um Estado capaz de garantir as condições de seu funcionamento. Numa larga medida a forma de organização do sistema produtivo é ditada pelos que detém o poder político e formula a política econômica que serve aos seus interesses. A sua justificativa teórica e a formalização para justificá-la é um produto ideológico. Para entender isso basta ver como a tomada do poder pelas finanças nos EUA levou a uma política econômica que lentamente erodiu a legislação que regulava suas atividades e fora produzida após a Grande Depressão. Muito rapidamente os “cientistas” produziram a “ciência” que justificava a total desregulamentação da atividade financeira em nome da “eficiência” e da descoberta de “inovações” capazes de medir os “riscos” de forma que nunca mais se voltaria a 1929!

É preciso incorporar no DNA dos economistas a autonomia do político. Nas situações de conflitos irreconciliáveis, só o poder político pode arbitrar. Ainda que possamos ter, por exemplo, sugestões interessantes sobre a flexibilidade do mercado de trabalho (o que não é muito seguro do ponto de vista empírico), elas são, claramente, propostas “normativas” que produzem, inevitavelmente, “vencedores” e “perdedores”. É um pouco ridículo sugerir aos últimos que devem sacrificar-se em nome de um “valor maior” construído sobre bases teóricas discutíveis.

A minha esperança é que “Estudos Econômicos” continue a abrigar contribuições de todos os matizes, teóricos e ideológicos, porque aqui, como

na biologia, só a diversidade é fértil. Essa, aliás, é uma velha tradição da FEA/USP. Apenas para dar um exemplo. Nos idos de 1947, o ilustre Prof.Paul Hugon nos ensinava – na cadeira de Economia Política – que a moeda era “qualquer coisa” aceita pela sociedade com as qualidades de ser uma unidade de conta,de resgatar compromissos e capaz de ser reserva de valor. Era apenas um véu que escondia a economia real. Logo em seguida, o não menos ilustre Prof. Heraldo Barbuy – na cadeira de Sociologia – vinha nos “enriquecer” inspirado em George Simmel, que não era tão simples: a moeda era produto de uma convenção social que tinha profunda influência no comportamento humano, como a cupidez, a avareza e a prodigalidade e exercia profunda influência sobre a economia real.

Estamos diante de um novo e excitante momento. Sinto não ser mais jovem para aproveitar as oportunidades que se abrem à nossa profissão para prosseguir no trabalho de oferecer instrumentos para a boa governança dos Estados.

Boa sorte a todos.

Antonio Delfim Netto

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Cartoon da Time.

Direto da TIME, eu escrevo: nunca substitua seu livro por um tablet.

Para que serve a UNE?

Lendo no GLOBO excelente texto do genial NELSON MOTTA, pergunto: para que serve a UNE?

Se o futuro do Brasil está nas mãos dos estudantes e quem os representa é a UNE, então é bom começar a pensar em um plano B. Em artigo no GLOBO, o novo presidente, Daniel Iliescu, nem tão novo assim, porque tem 26 anos e já poderia estar formado e trabalhando, nega ser chapa-branca argumentando que a UNE é preta, vermelha, amarela, de todas as cores. Que fofura! Igualzinha ao comercial do agrobusiness com Lima Duarte na televisão.

O companheiro Iliescu afirma o pluralismo da entidade, que tem filiados de todos os partidos, embora seja um braço do PCdoB governista há mais de nove anos. Para ele a presença de 10 mil estudantes no congresso de Goiânia "é indicativo de uma juventude corajosa, generosa e mobilizada". Que coragem ! Que generosidade ir a uma boca-livre oferecida pela Petrobras. Mas ao menos ele reconhece que a grande maioria dos estudantes não se interessa pelos partidos nem pela UNE. Melhor assim. A UNE está cada vez mais parecida com um sindicato lulista.

A pérola de seu artigo é a justificativa do patrocínio oficial à UNE comparando-a aos principais veículos da imprensa brasileira, "que recebem milhões de reais em verbas publicitárias e não têm sua independência e seu senso critico questionados". A grande midia pode ser independente porque não vive só de anuncios oficiais, como os "blogueiros progressistas". A Petrobras precisa anunciar para vender mais óleo e gasolina e não para comprar opiniões. Talvez nem seja o caso de estudar mais, bastaria ler jornais e revistas.

O pior é tentar fugir da chapa-branca alegando que "as principais bandeiras da UNE têm pontos de dissenso com o governo federal", tipo o governo quer dar 7% do PIB ao Plano Nacional de Educação e a UNE quer 10%. Mas hoje o que mais falta para a educação não é dinheiro, é bom uso dos recursos, menos roubo e melhor qualidade do ensino.

A UNE também é "radicalmente contra as abusivas taxas de juros do Banco Central e a favor de mais investimentos e desenvolvimento", mas quem não é? Resta aos caras-pintadas ir para as ruas com coragem, generosidade e mobilização, e derrubar os juros.

Barulho em excesso,

Leio no GLOBO uma entrevista com o especialista em câmbio e sócio da Tendências Consultoria, Nathan Blanche. Ele diz que as medidas anunciadas no câmbio não mudam a trajetória do real. Ele teme a insegurança gerada pela intervenção e diz que especuladores são minoria nos mercados futuros.

Qual a avaliação do senhor sobre as medidas no câmbio?

NATHAN BLANCHE: Houve muito barulho e pouca eficiência. O governo tenta mais uma vez que controlar algo que é incontrolável. Por trás da queda do dólar, existe uma realidade de crise em mercados relevantes, com o americano e europeu, onde as moedas estão desvalorizadas. E a economia brasileira precisa da poupança externa para financiar seu forte crescimento, o que implica nesse fluxo de entrada de capitais. Eu não vejo como o Banco Central e o Ministério da Fazenda podem evitar a queda do dólar sem provocar um grande desastre, uma intervenção irresponsável, que levaria a uma quebra no crédito ao Brasil. E, nesse caso, o câmbio subiria para algo como R$3, R$4.

Mas o governo defende que a medida é para conter especuladores...

BLANCHE: Eu tenho um ditado que diz que quem chama os agentes dos mercados de derivativos e futuros de especuladores é porque não tem nenhuma noção da importância da segurança que esse mercado oferece. Pode ser o mercado de banana, laranja, café ou dólar. Tem, é verdade, sempre alguém que especula sobre os preços para ganhar dinheiro. Mas esse especulador é uma minoria. A maior parte dos agentes é responsável e quer apenas garantir a segurança de sua operação de crédito, de financiamento.

O Conselho Monetário Nacional passa a poder mexer nas regras de derivativos. Preocupa?

BLANCHE: É o que me deixa apreensivo. A legislação do mercado cambial brasileiro tem fragilidades que permitem esse tipo de intervenção do governo. Houve uma consolidação do regime de câmbio flutuante dos anos 90 para cá, mas em termos de lei ainda causa insegurança. Mas nada de muito dramático aconteceu até agora e o mercado tem encontrado caminhos para trazer dólares.

A Ata do Copom peca por excesso de neutralidade

Editorial do ESTADÃO comenta a ata da última reunião do Copom.

A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 19 e 20 de julho deixa uma impressão de mal-estar, pois, se, de um lado, aceita com tranquilidade que a meta central de inflação seja atingida somente em 2013, por outro, adota um tom neutro em relação ao crescimento da economia, levando a crer que este não será sacrificado na contenção da inflação.

A ata anterior havia previsto para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) uma variação de 6,22%, que passa a 6,31%, enquanto para 2012 ela passa de 5,10% para 5,20%, muito perto do que estava no último Relatório de Inflação. Isso mostra, claramente, um Copom ainda otimista: não parece levar em conta as consequências dos reajustes salariais do segundo semestre do ano nem os efeitos sobre os preços das medidas que acabam de ser tomadas na área do câmbio.

O fato que nos parece essencial é que os membros do Copom parecem aceitar que a luta contra a inflação tenha efeitos apenas em 2013, embora no texto da ata advirtam que uma inflação alta (hoje já anormal, com mais de 6%) pressiona em favor de um sistema de indexação.

A análise do Copom já seria suficiente para explicar a alta da taxa básica de juros naquela reunião. Porém, ao adotar uma posição de neutralidade diante da conjuntura nacional e internacional, a ata deixa a impressão de que as autoridades monetárias poderão, na próxima reunião, em agosto, dar uma pausa na ortodoxia, mantendo a Selic no nível atual e se reservando para realizar, no final do ano, um tímido reajuste dela, para não sacrificar o crescimento, como é o desejo da presidente Dilma Rousseff.

Mais uma vez, os membros do Copom se mostram totalmente serenos no que se refere à política fiscal, que garantiria atingir a meta de superávit primário de R$ 117,9 bilhões, e mais ainda em 2012. Assim, não veem o que criticar nas ações do governo federal, desprezando o atual volume de despesas, que resulta em grande aumento da liquidez do sistema financeiro, a ponto - como se está verificando - de tornar muito difícil uma política de controle do crédito. Esquecem, ainda, que o aumento das receitas (boa parte devido a novos impostos) é um fator inflacionário.

Mas é interessante que a ata faz críticas não veladas à atuação do governo anterior, que para enfrentar a crise internacional usou e abusou do recurso a uma política de subsídios que cabe eliminar, o que passa a ser uma tarefa muito delicada por causa dos projetos sociais do governo atual. E sem falar ainda dos compromissos assumidos com investimentos esportivos.

O governo e a batalha do câmbio.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 68, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso). Entende mais do assunto do que muitos colegas de economia... Veja o que ele escreveu hoje na FOLHA DE S. PAULO. Na verdade parece que o nosso governo está PERDIDO diante de um cenário internacional muito confuso e preocupante, os Estados Unidos a um passo do calote, o brasileiro com muito medo da volta da inflação ao nosso dia a dia etc. Logo, o futuro é incerto, mas prevejo para os próximos meses o US$ entre R$ 1,50 a R$ 1,70. Espero que minha bola de cristal esteja limpa...

Com o real chegando a seu momento de maior força em relação ao dólar, o governo Dilma Rousseff cruzou uma nova fronteira em sua confusa e pouco eficiente estratégia de proteger a indústria brasileira.

Pela primeira vez desde que o ministro Guido Mantega cunhou a expressão "guerra cambial", o governo tomou medidas para atingir o mercado futuro de câmbio na BM&F.

Ao taxar essas operações com o IOF e estabelecer um marco legal para fixar --por medidas administrativas do CMN-- o nível de garantias exigidas, o governo --como Cesar-- cruzou o Rubicão.

Não há mais volta, pois, ao interferir em um mercado tão grande e tão interligado com o lado real da economia sem a devida reflexão sobre seus efeitos --e esse é certamente o caso--, o governo criou algo muito perto do caos.

Estou fora do país, mas os relatos que tive sobre a coletiva do ministro Mantega são suficientes para compor esse quadro de desconhecimento profundo das consequências das medidas adotadas.

Posso afirmar isso porque participei em 1986, quando era diretor do Banco Central, de algo muito semelhante. Pressionado para enfrentar a questão das expectativas de inflação embutidas nas taxas de juros dos títulos públicos, o Banco Central mudou a tributação desses papéis sem a necessária avaliação de suas consequências na economia como um todo.

Tudo virou um inferno, e uma sequência de novas medidas foi necessária para tentar enfrentar as maiores distorções que apareceram. E, a cada tentativa de correção, novos problemas se colocavam. No final, tivemos de voltar atrás...

A questão do real forte é ainda mais complexa do que a que o Banco Central enfrentou décadas atrás. E isso ocorre por várias razões.

A mais importante delas está relacionada às complexas relações entre mercados internos e externos que existem hoje na economia brasileira. E não estou falando apenas de relações financeiras, mas sim da complexa interação entre as cadeias produtivas em setores importantes do tecido produtivo. As importações fazem parte do cotidiano das empresas brasileiras, o que as obrigam a realizar operações de proteção contra a flutuação da taxa cambial.

Também os exportadores, principalmente no setor de produtos primários, precisam de mecanismos de proteção contra as flutuações de grandes proporções que ocorrem hoje nos mercados futuros desses produtos no exterior. E essas operações de proteção trazem, juntas, as flutuações nos mercados de câmbio.

Poderia escrever muito mais sobre as relações econômicas, e, como já disse, não apenas as financeiras, que estão por trás das operações de taxas de câmbio futuro na BM&F.

Mas tenho certeza de que isso não é necessário para mostrar ao leitor da Folha a fragilidade que está por trás das decisões tomadas pelo governo Dilma nos últimos dias.

Quando escrevo esta coluna, os mercados estão paralisados à espera de esclarecimentos do governo sobre as medidas tomadas. Já tenho muito tempo de estrada para acreditar que elas virão. Volto a afirmar que ninguém no Ministério da Fazenda --inclusive o ministro Mantega-- tem a menor ideia sobre a caixa de surpresas que eles abriram agora.

Uma coisa é certa: ao longo dos próximos dias um mercado futuro de taxas de câmbio, tendo o real como uma das pontas das operações, vai aparecer em Chicago ou em outras praças financeiras.

As demandas por operações desse tipo fazem parte hoje do que chamo de metabolismo da economia brasileira. Por isso, elas vão reaparecer em outros lugares. Mas, como sempre ocorre nessas situações, os custos de transação vão aumentar para quem faz negócios no Brasil e com o Brasil. Os pensamentos estratégicos que os chineses, em seus 5.000 anos de história, nos deixaram foi o de nunca usar um canhão para matar uma formiga.

Os efeitos colaterais que ocorrem quando isso acontece são sempre muito maiores do que os eventuais benefícios gerados. Vamos testar no Brasil de hoje a sabedoria estratégica dos chineses.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A semana feliz de Delfim Netto.

A última semana foi marcada por alguns fatos da maior importância:

1º) A decidida aplicação (com amplo apoio da sociedade) de um aditivo anticorrupção no combustível do Ministério dos Transportes;

2º) A forte indução do governo para que a Petrobras e a Vale enfrentem com determinação o problema do potássio;

3º) E, não menos importante, a adequação do orçamento da Petrobras nos termos da sugestão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, à presidente Dilma Rousseff. Isso reduzirá a pressão inflacionária no curto prazo e dará tempo para melhorar as condições de competição do equipamento nacional na exploração do pré-sal.

Os três fatos revelam a recuperação de uma visão de longo prazo absolutamente necessária para que o Brasil possa resolver o seu verdadeiro problema: construir uma estrutura produtiva eficiente capaz de gerar bons empregos aos quase 150 milhões de brasileiros que, em 2030, terão entre 15 e 65 anos. Isso deve ser feito com equilíbrio interno e externo.

Não faremos isso com o modelo agromineral-exportador energizado pelo desenvolvimento da China. Para tal modelo fomos descuidadamente empurrados. Sua justificativa é a míope construção teórica que afirma que caminhamos para a "harmonia universal" produzida pelo funcionamento de uma natural "divisão do trabalho" construída pela globalização.

Teremos a paz perpétua: para uns (EUA, Alemanha, China...), a indústria; para outros (Reino Unido, Índia...), os serviços; e para os demais (Brasil, Canadá, Austrália...), a agricultura e a mineração.

Para alguns países, isso talvez seja uma fatalidade. Não é, seguramente, o caso brasileiro. Sua aceitação não levará à estrutura produtiva que precisaremos até 2030. Para nós, só a ação de um Estado indutor inteligente (e eficiente!) estimulará a sua construção.

A regra de ouro da sua ação deve ser: forte estímulo à competição doméstica entre as empresas, com adequadas medidas microeconômicas que permitam-nas disputar com eficiência nosso crescente mercado interno. E mais: condições macroeconômicas que lhes deem isonomia para complementar na margem, com decrescente proteção, os ganhos de dimensão necessários para enfrentar a competição do mercado externo.

Atrair a montadora chinesa Chery, que começa a se instalar em Jacareí (SP) e vai ampliar a competição também no setor de autopeças e ajustar a velocidade dos investimentos da Petrobras de forma a criar a capacidade para atendê-los (com indústrias nacionais ou estrangeiras aqui instaladas), é um exemplo da política que temos de praticar: concorrência interna impiedosa e proteção externa inteligente.

Evitar o calote: uma tarefa sobre-humana.

O eventual calote americano poderia, segundo especialistas, levar o mundo a uma das piores crises econômicas da História. E o Brasil não passaria incólume. Este seria o pior cenário, em que a disputa política dos Estados Unidos chegaria a um impasse extremo, a ponto de paralisar a maior economia do globo. O cenário catastrófico, contudo, não é considerado o mais provável pelos economistas. Mas, mesmo que o acordo para elevar o teto da dívida americana saia dentro do prazo - até 2 de agosto - ou com pouco atraso, haverá consequências econômicas. Países, empresas, investidores e trabalhadores terão de uma maneira ou outra, que conviver com maior instabilidade e incertezas. O dólar deve seguir sua trajetória de desvalorização, o que tende a influenciar a economia global que ainda não se recuperou totalmente da forte crise de 2008.

O impacto mundial de uma moratória seria turbinado pelo delicado momento que atravessam as outras economias desenvolvidas, como a crise de confiança e do endividamento na Europa e os problemas vividos pelo Japão pós-terremoto e tsunami. Até mesmo incertezas sobre a China complicam o cenário, pois o país asiático pode estar superaquecido e ter que frear seu crescimento. Assim, a briga pré-eleitoral nos EUA terá uma proporção maior que o imaginado em épocas de bonança.

- O que está em jogo é uma questão de princípios. Com a discussão da possibilidade do calote americano, se coloca em dúvida um modelo de sociedade de mercado, de respeito aos direitos adquiridos. Só essa discussão já gera efeitos negativos, embora eu não acredite que os EUA darão esse péssimo exemplo de irresponsabilidade institucional - diz Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da FGV.

Essa visão é compartilhada pelos demais economistas ouvidos pelo GLOBO, que traçaram expectativas sobre os efeitos de um calote. Além de Langoni, foram entrevistados Luís Afonso de Lima, da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet); José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB); André Perfeito, da Gradual Investimentos; e Raphael Martello, da Tendências Consultoria:

DÓLAR: O derretimento da cotação da moeda americana em relação a outras divisas tende a continuar. As que mais devem se valorizar são as moedas dos países em desenvolvimento e que crescem com mais força: é o caso do real. Mesmo que haja um acordo de última hora entre Casa Branca e Congresso, investidores devem fugir do dólar. "Investir em dólar seria o mesmo que, em uma casa pegando fogo, tentar fugir correndo para a lareira", diz Lima, da Sobeet. Mas isso não deve tirar a hegemonia da moeda americana. E pode favorecer as exportações americanas, pois seus produtos ficariam relativamente mais baratos e competitivos.

FLUXO DE CAPITAIS NO MUNDO: Países emergentes devem continuar recebendo uma enxurrada de recursos, o que continuará enquanto houver um forte descompasso entre o crescimento dos emergentes e a estagnação das nações ricas.

JUROS NOS EUA: Com a desvalorização do dólar e o eventual rebaixamento dos títulos americanos, a tendência é de alta dos juros no país a médio prazo, para que os EUA consigam atrair investidores e continuem se financiando. Isso pode segurar um pouco a desvalorização do dólar mais adiante.

JUROS NO BRASIL: O Banco Central brasileiro, preocupado com a inflação interna, não deve, no curto prazo, mudar a trajetória da política monetária, a não ser que o calote mergulhe os EUA numa severa recessão.

BANCOS AMERICANOS: Os economistas não enxergam problemas imediatos, como uma corrida aos bancos. O impacto só surgiria se o calote fosse prolongado, se os bancos acumulassem prejuízos. Haveria restrição ao crédito, o que ampliaria a crise, repetindo, de certa forma, o ano de 2008.

TÍTULOS DA DÍVIDA AMERICANA: Devem perder valor e terão de pagar mais juros. Mas não deve haver uma debandada geral por um motivo simples: não há uma clara alternativa a essa aplicação. Mas as agências de risco devem rebaixar a nota americana. China e Brasil estão entre os maiores detentores desses papéis.

INFLAÇÃO: Alguns acreditam que uma retração mundial pode contribuir para reduzir os preços globais, se a moratória se prolongar demais. Para sobreviver, as empresas disputariam consumidores e cortariam preços. Outros apostam no contrário, em uma valorização das commodities, como petróleo e grãos.

OURO: Vai se valorizar ainda mais. Desde janeiro de 2008, a cotação do metal - que pode se tornar o único porto seguro da economia global - já subiu mais de 90%. Com a aversão a riscos e ao dólar, deve aumentar a procura pelo ouro. Os EUA não sofreriam tanto, pois detêm a maior reserva mundial do minério.

PETRÓLEO E OUTROS PRODUTOS BÁSICOS: Uma eventual recessão americana provocada pelo calote pode reduzir o consumo e a pressão nos preços de alguns produtos básicos. Entretanto, o impacto disso pode ser minimizado, dependendo do comportamento da China e da Índia, que continuam com apetite de consumir. China - maior exportadora aos EUA - e Brasil poderiam sofrer no futuro por vender menos aos EUA, em crise.

ECONOMIA AMERICANA: A fraqueza dos EUA já foi sentida nos dados econômicos do primeiro semestre. Com o calote, a briga política e a proximidade das presidenciais de 2012, isso tende a se agravar e o país pode mergulhar em nova recessão.

ECONOMIA GLOBAL: Quando os EUA vão mal, o mundo vai mal. Quando isso se soma a um momento ruim também na Europa e no Japão, a situação piora. Nessa crise, os países emergentes podem continuar atraindo investimentos financeiros e produtivos, mas os EUA à frente de uma recessão global não seria bom para ninguém.

Por que o Brasil é campeão mundial de juros altos?

Gustavo H. B. Franco, sempre excelente, hoje no Valor Econômico:

Os números fiscais brasileiros são muito parecidos com os dos Piigs em pelo menos um aspecto importante: as "necessidades de financiamento do setor público" (NFSP), o conceito mais amplo de déficit público, sem nenhum ajuste ou dedução, estão na faixa de 20% do Produto Interno Bruto (PIB), como pode ser visto na tabela. As NFSP correspondem à soma do déficit nominal (primário mais juros) com as amortizações devidas no exercício fiscal.

Os países desenvolvidos, na média, tinham, antes da crise, dívidas brutas um pouco acima de 70% do PIB e prazo médio perto de oito anos, e com isso, se tivessem déficits nominais na faixa de 2%, tinham NFSP na faixa de 10% do PIB ou menos. Depois da crise, as dívidas crescem para algo como 105% do PIB em média e os déficits aumentam de modo que passamos a observar muitos casos de países com NFSP na faixa de 15% do PIB ou mais. O panorama fiscal no mundo desenvolvido conheceu uma piora muito séria, cujas consequências de médio e longo prazo desafiam prognósticos, e aqui se omite deliberadamente o Japão para não desviar a atenção do leitor.

O Brasil é um caso singular de país emergente com retrospecto ruim em matéria de dívida mas consegue manter uma dívida bruta acima de 60% do PIB em contraste com a maior parte dos países emergentes, cuja média tem permanecido na faixa de 35%. Com prazos médios na faixa de 3 anos, o Brasil faz rolagens anuais envolvendo algo como 20% do PIB a cada ano. Somando-se a isso um déficit nominal na faixa de 3% tínhamos em 2007 as NFSP na faixa de 23%. Com um tanto mais de alongamento de prazo e a manutenção do superávit primário (ainda que com alguns truques), conseguimos chegar a 19,3% para 2011, segundo a projeção do FMI, possivelmente a primeira vez que estaremos abaixo de 20% nos últimos anos. É um número muito ruim, mas que não atrai muita atenção face ao que se passa no resto do mundo.

A experiência dos Piigs, que refinanciam suas dívidas em mercados internacionalizados de bônus, enfrentando investidores exigentes, mostra que os países quebram quando se rompe a confiança no processo de rolagem, o que normalmente tem a ver sobretudo com o déficit fiscal do exercício corrente e também com os juros (prêmios de risco) pagos. Os investidores aceitam emprestar para países endividados mas que geram caixa, e começam a exigir mais juro apenas quando sua confiança nos números correntes se vê enfraquecida. E como os juros maiores pioram os números correntes, não é difícil criar o círculo vicioso onde estão alguns dos Piigs.

No Brasil a rolagem da dívida pública não representa problema graças ao fato de que praticamente toda a dívida é doméstica (as reservas no BC são maiores que a dívida externa pública) e ao fato de que a rolagem há anos tem lugar num ambiente semicativo onde o principal comprador é a indústria de fundos, que carrega algo como 1 trilhão em títulos públicos e operações compromissadas em fundos com liquidez diária. Por precário que pareça ao observador estrangeiro, o sistema é robusto, aguentou turbulências no passado, e não vamos ter problemas com rolagens ao menos enquanto os nossos juros continuarem sendo os maiores do mundo.

Mas e o custo dessa segurança? O que aconteceria se a taxa Selic caísse muito significativamente, para um nível "normal", como se espera que vá ocorrer no futuro?

Teríamos, inevitavelmente, uma migração de recursos para outros ativos, as rolagens ficariam mais difíceis e o Tesouro teria problemas de caixa, especialmente se tiver que amortizar parcelas significativas da dívida que vence. A situação fiscal teria que estar muito melhor para que se pudesse reduzir os juros de forma relevante sem criar problemas sérios com a dívida pública.

É fácil concluir que não se pode reduzir a taxa de juros abaixo de certo limite, provavelmente na faixa de uns 8% ou 9%, sem prejudicar o mercado semicativo no âmbito do qual temos conseguido manter em circulação durante anos a fio uma dívida relativamente grande e portanto, uma política fiscal mais frouxa que o ideal.

Esta é uma forma elegante de explicar a razão pela qual o Brasil é o campeão mundial de juros: é o preço que pagamos para manter nas mãos de brasileiros que aprenderam a desconfiar do governo um volume de títulos que eles talvez não quisessem manter a juros considerados normais e a prazos que não fossem diários. É o preço que pagamos pela desordem na política fiscal que, felizmente, não é tão grande para trazer de volta a hiperinflação, mas não é pequena o suficiente para que tenhamos juros normais. Em vez de tributar o pobre com a inflação, migramos para um modelo menos selvagem onde continuamos a empurrar a conta para um ausente, as futuras gerações.

Este artigo resume um trabalho maior, que pode ser encontrado em www.riobravo.com.br/gustavofranco/Juros-CLP_Casa_do_Saber-GFranco_final.pdf

Gustavo H. B. Franco doutor em Economia pela Universidade Harvard, foi presidente do BC e é sócio fundador da Rio Bravo Investimentos.

Economia americana.

Lemos na FOLHA DE S. PAULO que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, estimou que o ritmo de crescimento da maior economia mundial apresentou desaceleração recentemente.

"A atividade econômica continua crescendo, mas o ritmo se desacelerou" na maioria das regiões do país, afirmou o Fed em seu "Livro Bege", um relatório sobre suas reuniões apresentado nesta quarta-feira.

A estimativa do banco central americano foi divulgada no momento em que a saúde financeira dos Estados Unidos é colocada em prova. Democratas e republicanos estão em um impasse sobre o limite do país da dívida e sem um acordo até dia 2 de agosto o governo americano corre o risco de ficar inadimplente em algumas de suas obrigações.

Nesta data, os EUA devem ultrapassar o chamado teto de sua dívida, que é de US$ 14,3 trilhões (cerca de R$ 22,2 trilhões). Analistas afirmam que o calote da dívida americana poderia provocar um salto da taxa de juros nos Estados Unidos e potencialmente ameaçar a recuperação econômica mundial.

A oposição republicana, que controla a Câmara dos Representantes (deputados federais), exige que um acordo para elevar o teto da dívida seja vinculado a cortes no orçamento americano, para reduzir o deficit recorde, calculado em cerca de US$ 1,5 trilhão (R$ 2,3 trilhões) para o ano fiscal que termina em setembro.

Os democratas relutam em tocar em programas sociais que os republicanos querem enxugar, enquanto Obama insiste na necessidade de acabar com cortes de impostos que beneficiam a camada mais rica da população, criados ainda no governo de George W.Bush.

terça-feira, 26 de julho de 2011

O futuro do crescimento econômico.

O futuro do crescimento econômico, no texto sempre bem escrito do DANI RODRIK, hoje no VALOR ECONÔMICO. Dani Rodrik é professor de Economia Política Internacional na Universidade de Harvard, é autor de "The Globalization Paradox: Democracy and the Future of the World Economy" (O paradoxo da globalização: a democracia e o futuro da economia mundial).

Talvez pela primeira vez na história moderna, o futuro da economia mundial está nas mãos dos países pobres. Os Estados Unidos e a Europa marcham como gigantes feridos, vítimas dos seus excessos financeiros e paralisia política. Parecem condenados, por seu pesado endividamento, a anos de estagnação ou crescimento lento, ampliando a desigualdade e possíveis conflitos sociais.Grande parte do resto do mundo, entretanto, está carregado de energia e esperança. Autoridades governamentais na China, Brasil, Índia e Turquia estão preocupados com crescimento excessivo, e não com pouco crescimento. Sob determinados parâmetros, a China já é a maior economia no mundo e os mercados emergentes e os países em desenvolvimento respondem por mais de metade da produção mundial. A empresa de consultoria McKinsey qualificou a África, há muito tempo sinônimo de fracasso econômico, de terra dos "leões em movimento".

Como acontece frequentemente, a ficção reflete melhor a mudança de clima. "Super Sad True Love Story" (Verdadeiro Caso de Amor Supertriste), romance em quadrinhos do russo Gary Shteyngart, é um guia tão bom quanto qualquer outro para o que pode nos esperar. Situado num futuro próximo, a história se desenrola contra o pano de fundo de um EUA financeiramente arruinado sob uma ditadura de partido único e envolvido em mais uma inútil aventura militar no exterior - dessa vez na Venezuela. Todo o trabalho real nas empresas é feito por imigrantes qualificados; faculdades da Ivy League adotaram os nomes de suas homólogas na Ásia a fim de sobreviver; a economia está endividada junto ao banco central da China e "dólares ancorados ao yuan" substituíram a moeda tradicional como ativo seguro preferido.

Mas serão os países em desenvolvimento realmente capazes de puxar a economia mundial? Grande parte do otimismo sobre suas perspectivas econômicas é resultado da extrapolação. A década anterior à crise financeira mundial foi, sob muitos aspectos, a melhor de todos os tempos para os emergentes. O crescimento disseminou-se para muito além de um pequeno número de países asiáticos e, pela primeira vez desde a década de 1950, a grande maioria dos países pobres experimentou o que os economistas chamam de convergência - um estreitamento do diferencial de renda em relação aos países ricos.

Crescimento baseado em afluxos de capital ou booms de commodities tendem a ser de curta duração. Crescimento sustentado requer a elaboração de incentivos para encorajar investimentos do setor privado em novos setores, e fazê-lo com um mínimo de corrupção.

Esse, no entanto, foi um período peculiar, caracterizado por muito vento de cauda econômico. Os preços das commodities estavam elevados, o que beneficiou países africanos e latino-americanos em especial, e o financiamento externo foi abundante e barato. Além disso, muitos países africanos bateram no fundo do poço e recuperam-se de longos períodos de guerra civil e declínio econômico. E, como sabemos, o rápido crescimento nos países avançados alimentou, de modo geral, um aumento no volume do comércio mundial até níveis recordes.

Em princípio, um baixo crescimento pós-crise nos países avançados não bloqueará, necessariamente, o desempenho econômico dos países pobres. Em última instância, o crescimento depende de fatores do lado da oferta - investimento e aquisição de novas tecnologias - e do estoque de tecnologias que podem ser adotadas pelos países pobres e que não desaparece quando o crescimento dos países avançados fica lento. Assim, o potencial de crescimento dos países atrasados é determinado por sua capacidade de eliminar o atraso em relação à fronteira tecnológica - e não pela velocidade com que a própria fronteira está avançando.

A má notícia é que ainda não temos uma compreensão adequada sobre quando esse potencial de convergência é concretizado ou sobre o tipo de políticas que gerem crescimento autossustentado. Mesmo casos de inquestionável êxito têm sido objeto de interpretações conflitantes. Alguns estudiosos atribuem o milagre econômico da Ásia a mercados mais livres, ao passo que outros acreditam que intervenção estatal foi o fator decisivo. E a aceleração excessiva de crescimento, após algum tempo, perdeu impulso.

Os otimistas estão confiantes em que dessa vez será diferente. Eles acreditam que as reformas da década de 1990 - melhor política macroeconômica, maior abertura e mais democracia - colocaram o mundo em desenvolvimento em curso de crescimento sustentado. Recente relatório do Citigroup, por exemplo, prevê que o crescimento será fácil para países pobres com populações jovens.

Minha leitura das evidências é mais cautelosa. É certamente motivo para comemoração que as políticas inflacionárias tenham sido extirpadas e a governança melhorou em grande parte do mundo em desenvolvimento. De modo geral, essas mudanças melhoram a resistência da economia a choques e evitam colapsos econômicos.

Mas desencadear e sustentar crescimento rápido exige algo mais: políticas orientadas para a produção que estimulem mudanças estruturais em curso e fomentem emprego em novas atividades econômicas. Crescimento baseado em afluxos de capital ou booms de commodities tendem a ser de curta duração. Crescimento sustentado requer a elaboração de incentivos para encorajar investimentos do setor privado em novos setores - e fazê-lo com um mínimo de corrupção e competência adequada.

Se a história pode nos servir de guia, o leque de países que capazes desse feito continuará estreito. Assim, embora possa haver menos colapsos econômicos devido a melhor gestão macroeconômica, crescimento elevado provavelmente permanecerá episódico e excepcional. Em média, o desempenho pode ser um pouco melhor do que no passado, mas nem de longe tão espetacular como esperam os otimistas.

A grande questão para a economia mundial é se os países avançados atolados em dificuldades econômicas serão capazes de abrir espaço para o rápido crescimento dos países em desenvolvimento cujo desempenho dependerá em larga medida de sua incursão em setores industriais e de serviços onde os países ricos têm sido tradicionalmente dominantes. As consequências para o nível de emprego nos países avançados seriam problemáticas, especialmente tendo em conta a escassez de empregos com altos salários. Consideráveis conflitos sociais poderão tornar-se inevitáveis, colocando em risco o apoio político a aberturas econômicas.

Em última instância, parece inevitável uma convergência maior na economia mundial pós-crise. Mas uma grande reversão na sorte dos países ricos e pobres não parece economicamente provável nem politicamente viável.

O desastre que conhecemos.

Paul Krugman, em seu blog divulgado no ESTADÂO fala sobre “O desastre que conhecemos”.

Há um argumento que poderia passar despercebido na discussão um tanto confusa sobre os efeitos da moratória nos mercados financeiros: ninguém sabe exatamente quais seriam os efeitos de um calote da dívida. Ela poderia produzir uma calamidade, ou o desastre poderia ser contido afetando muito pouco as taxas de empréstimos ao setor privado.

Mas o que nós sabemos é que, se o governo for obrigado a reduzir drasticamente os gastos quando o dinheiro acabar – se parar de pagar as aposentadorias, ou parar de pagar as empreiteiras, ou seja lá o que for – as consequências disso tudo serão tremendamente negativas para a economia. Haverá uma nova quebra da Bolsa.

Espero e rezo para que os advogados de Obama descubram que a solução proposta pela 14ª emenda afinal de contas é válida. Porque, de outro modo, nos encontraremos diante de uma situação realmente calamitosa, mesmo que os mercados se mantenham calmos.

Bolsas de estudos no exterior.

Para o mundo acadêmico, Programa de bolsas de estudos no exterior selecionará quem tem mérito, segundo Dilma. Hoje na FOLHA DE S. PAULO:

Ao apresentar, hoje, as diretrizes do programa Ciência sem Fronteiras, que pretende conceder 100 mil bolsas de intercâmbio para brasileiros, a presidenta Dilma Rousseff disse que a seleção dos estudantes não será baseada no critério do “quem indica”, mas sim no de quem tem mérito. Segundo ela, a distribuição das bolsas levará em conta a representação étnica, social e regional.

“Não estamos fazendo um programa baseado em quem indica. Estamos criando ações orientadas pelo mérito”, assinalou a presidenta. “Todos [os contemplados] vão ter de ter nota acima de 600 no Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] e daremos especial atenção aos alunos ganhadores de olimpíadas, notadamente a da matemática”, acrescentou Dilma, no encerramento da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES)

De acordo com a presidente, o governo quer que os estudantes brasileiros estudem nas melhores universidades e em cursos de ciências exatas, onde há maior deficiência de profissionais, como as áreas de engenharia e de tecnologia da informação.

Ao falar sobre o programa, o ex-reitor da Universidade Federal da Bahia, Naomar Monteiro, alertou para o risco de que o critério de seleção por mérito favoreça os estudantes que têm acesso à educação privada e que, por isso, ingressam nas melhores universidades. “Assim, o Estado brasileiro vai custear um programa justamente para a parcela representativa da camada que tem recursos e acesso e os estudantes das classes pobres ficarão fora”.

No discurso, a presidenta Dilma abordou o assunto. De acordo com ela, o critério por mérito é crucial e o Programa Universidade para Todos (Prouni) comprova que os estudantes de baixa renda têm bom desempenho. “Não há demérito em ter política por mérito. Está provado que política por mérito pode contemplar as classes menos privilegiadas. O Prouni mostrou que o desempenho no Enem para os selecionados para o programa era adequado para os parâmetros existentes.”

Dilma adiantou que a pré-seleção dos alunos que poderão ser beneficiados pelo programa será feita pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e pelo Prouni.

O secretário-geral da Nova Central Sindical de Trabalhadores, Moacyr Auerswald, pediu a criação de cursos de línguas para que a necessidade de dominar um idioma estrangeiro não prejudique os estudantes de baixa renda a ter acesso às bolsas no exterior.

O Ciência sem Fronteiras dará bolsas para diferentes níveis de estudo, do ensino médio ao doutorado. As bolsas serão custeadas com parceria público-privada. Do total, 75 mil bolsas serão custeadas pelo governo federal e 25 mil com a colaboração de empresas privadas.

sábado, 23 de julho de 2011

A Pequena Depressão.

Hoje na FOLHA DE S. PAULO, o Nobel PAUL KRUGMAN escreve sobre os riscos de desastre global: Segundo ele, "As negociações de dívida, se derem certo, repetirão o grande erro de 1937: opção prematura por contração fiscal freará a recuperação."

Estes são tempos interessantes - no pior sentido. Estamos diante não de uma crise iminente, mas de duas, com riscos de desastre global. Nos EUA, fanáticos de direita no Congresso podem bloquear a elevação necessária do teto da dívida. E, se o plano que acaba de ser acordado por chefes de Estado europeus não acalmar os mercados mundiais, poderemos ver dominós caindo em todo o sul da Europa. Potencialmente, as duas semeariam o caos.

Mesmo que consigamos evitar uma catástrofe imediata, é praticamente garantido que os acordos que estão sendo fechados de cada lado do Atlântico agravem a depressão.

Os responsáveis pelas decisões econômicas parecem determinados a perpetuar algo que chamo de a Pequena Depressão -o período prolongado de desemprego alto que começou com a Grande Recessão de 2007-2009 e continua até hoje.

A grande bolha imobiliária da década passada, fenômeno americano e europeu, foi acompanhada por um aumento enorme na dívida das famílias. Quando a bolha estourou, a construção imobiliária residencial caiu vertiginosamente, assim como os gastos dos consumidores. Tudo ainda poderia ter dado certo se outros atores econômicos importantes tivessem elevado gastos. Mas ninguém o fez. E os governos tampouco fazem muito para ajudar. Alguns foram, pelo contrário, obrigados a reduzir gastos em vista da queda das receitas. Os esforços modestos de governos fortes (incluindo o plano de estímulo de Obama) mal foram suficientes para contrabalançar essa austeridade forçada.

Portanto, estamos com economias enfraquecidas. O que os governantes propõem? Menos que nada.

Anteontem, os "chefes de Estado ou governo da área do euro" divulgaram seu grande acordo. Não foi tranquilizador. É difícil acreditar que a engenharia financeira que o comunicado propõe resolva a crise grega, que dirá a europeia.

Mas, mesmo que resolva, o que vai acontecer a seguir? O comunicado prevê fortes reduções do deficit "em todos os países exceto os que estão em um programa", a acontecer "até 2013 no mais tardar".

Como os países "que estão em um programa" estão sendo forçados a aderir à austeridade fiscal drástica, isso equivale a planejar que toda a Europa reduza gastos ao mesmo tempo. E nada sugere que em menos de dois anos o setor privado estará preparado para tomar medidas para que a economia cresça.

Para quem conhece a história dos anos 30, soa muito familiar. Se alguma das duas negociações de dívida fracassar, é possível que estejamos perto de um replay de 1931, o colapso global dos bancos que fez a Grande Depressão ser tão grande.

Mas, se elas derem certo, estaremos prestes a repetir o grande erro de 1937: a opção prematura por contração fiscal que fez a recuperação descarrilar e garantiu que a Depressão continuasse até que a Segunda Guerra finalmente deu à economia o incentivo de que ela precisava.

Há um ditado antigo: "Você não sabe, meu filho, com quão pouca sabedoria o mundo é governado". As elites de ambos os lados do Atlântico mostram incompetência em sua resposta ao trauma econômico, ignorando todas as lições da história

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Derrubar a inflação exige determinação .

Hoje no O GLOBO a análise bem elaborada sobre o aumento na taxa de juros.

Como já era esperado pela maioria dos especialistas, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, mais uma vez por unanimidade, elevar em 0,25 ponto percentual as taxas básicas de juros, que agora estão no patamar de 12,5%. É o quinto aumento consecutivo.

Não é nada honroso para o país ser obrigado a adotar taxas tão altas para controlar internamente seus preços. Em uma conjuntura internacional marcada por políticas monetárias expansionistas, a economia brasileira pode até parecer uma estranha no ninho. Porém, mais nefasto e desonroso ainda seria o Brasil se vir novamente empurrado para o terreno pantanoso da inflação descontrolada. O período de maio a setembro tem sido caracterizado por pequenas variações nos índices de preços. Mas, nos demais meses, a inflação vem reaparecendo muito forte, alimentada por fatores como reajustes salariais expressivos, aceleração de gastos governamentais, indexação automática de tarifas e preços públicos, anuidades escolares, tributos, festas de fim de ano, entressafras, etc.

Nesse ambiente que favorece uma trajetória ascendente da inflação só é possível desarmá-la com políticas que esfriem a demanda no curto prazo e estimulem a expansão da oferta (via investimentos) no médio prazo.

A taxa de juros alta funciona como uma ducha fria sobre a demanda, pois encarece uma das suas principais alavancas, que é o crédito ao consumidor. Mas também pode inibir investimentos.

Desse modo, para se evitar uma dosagem de juros que provoque outros efeitos não desejáveis, as autoridades monetárias não podem agir sozinhas no combate à inflação. Essa ação precisa ser coordenada com as demais políticas governamentais. O setor público, por seu tamanho, é um poderoso agente econômico. Por meio de gastos correntes e investimentos, pode causar forte impacto sobre a demanda de bens e serviços.

Ora, se um dos objetivos da política econômica no momento é esfriar a demanda interna, e se já se admite que talvez os juros básicos atingiram ou estejam próximos de um patamar ainda suportável, seria mais do que razoável que o governo fosse mais rigoroso na contenção de seus gastos correntes. Os cortes anunciados no orçamento se mostram insuficientes, caso contrário o Banco Central não seria obrigado a continuar elevando os juros. Sintomático que o aumento da arrecadação continue a contribuir além do desejável para o superávit primário, em vez de cortes efetivos.

O risco de não se agir a tempo é de a inflação ficar acima do centro (4,5%) da meta oficial não só em 2011, mas também em 2012, postergando-se o objetivo para 2013, hipótese já presente nas discussões. Renova-se o perigo do enrijecimento dos malfadados mecanismos de indexação.

A inflação não é um mal com que se possa ir convivendo. O ambiente da economia internacional está conturbado pela situação financeira crítica de alguns países da Europa e pela dificuldade de recuperação dos Estados Unidos. O Brasil deve se precaver, buscando um ritmo de crescimento que favoreça investimentos, mas não abra espaço para a inflação. Não é um equilíbrio fácil e capaz de ser obtido sem determinação política. Antes da próxima reunião do Copom, no fim de agosto, essa determinação deveria estar mais clara.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...