LUIZ
CARLOS MENDONÇA DE BARROS, engenheiro e economista, economista-chefe da Quest
Investimentos foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações no governo
FHC. Escreveu hoje na FOLHA DE S. PAULO.
O mundo vive hoje um desses momentos especiais em que mudanças estruturais -principalmente na economia- estão forjando o futuro de muitas sociedades. Para alguns países, os próximos anos serão marcados por dificuldades, principalmente devido a ajustes que precisarão ser realizados em um ambiente de baixo crescimento econômico. Para outros -e o Brasil está nesse grupo-, o futuro poderá ser muito favorável, pois serão reconhecidos como espaços de crescimento e mudanças sociais favoráveis, atraindo investimentos internacionais por um longo período de tempo.
Para
mim, esse cenário positivo para os países emergentes é hoje o mais provável,
embora ainda existam riscos de uma crise internacional de grandes proporções. Se os governos europeus e dos
Estados Unidos não tomarem as medidas necessárias para enfrentar a
combinação de uma crise fiscal profunda em um ambiente de pressões financeiras
sobre o sistema bancário, vamos cair -todos- em um abismo profundo. Nos
dois últimos dias apareceram sinais de que, pelo menos na Europa, os políticos
entenderam esse risco e resolveram tomar medidas para fortalecer a estrutura de
capital de seus bancos.
Mas,
nos Estados Unidos, a verdadeira guerra civil do Partido Republicano para
tirar o presidente Obama da Casa Branca ainda pode levar a maior economia do
mundo a uma recaída recessiva. E, para não cair no abismo que citei acima,
será preciso que Europa e Estados Unidos ajam em conjunto na direção correta.
Mas
o principal objetivo desta minha coluna é explorar um pouco o futuro de nosso
país no cenário de uma estabilização da crise financeira no mundo desenvolvido
ao longo dos próximos meses.
Com
os mercados libertos dos riscos de um buraco negro sugando toda a humanidade
-imagem magnífica da capa da última edição da revista "The
Economist"-, os investidores voltarão a se envolver com coisas mais sérias
do que especular ou se defender do caos. E o mundo que eles devem encontrar
nessa volta a tempos mais normais estará profundamente dividido entre nações
emergentes e nações desenvolvidas. Nas primeiras, o processo de absorção de
milhões de novos consumidores e o crescimento da renda de uma nova classe
média, criada ao longo da primeira década do século, serão retomados
certamente. No mundo rico, os ajustes fiscais que terão de ser feitos e,
principalmente, um sistema bancário zumbi e sem funcionalidade vão cristalizar
um crescimento econômico medíocre e, em alguns países, uma recessão do tipo
japonês.
Como
a vida continua e as empresas precisam aumentar seus investimentos, a atração
de economias como a brasileira será irresistível. Não podemos esquecer que a terapia
para manter a economia do mundo desenvolvido em funcionamento exigirá juros muito
baixos por um longo período de tempo. Com isso, o chamado custo de
oportunidade para investir em regiões vistas de fora como de maior risco ficará
baixo, aumentando a atratividade desses investimentos.
Mas
a política econômica que o Brasil deve adotar para maximizar esse
extraordinário potencial de crescimento precisa estar calibrada para esse novo
ciclo. Para que ele ocorra, seus líderes terão de entender o que está se
passando e tomar as medidas necessárias para maximizar os ganhos possíveis.
O Brasil tem hoje limites muito nítidos para continuar crescendo a taxas superiores a 4%. As pressões inflacionárias que estão latentes nos índices de preços dos últimos meses são indicadores claros de que estamos num momento delicado. Se adicionarmos ainda, ao longo de 2012, um novo fluxo de investimentos por conta dos desequilíbrios que citei, vamos certamente cruzar uma fronteira perigosa no campo da inflação.
E
o que me preocupa são dois comportamentos do governo nas últimas semanas: o
primeiro, a tomada de medidas administrativas para enfrentar uma depressão
econômica no mundo que pode não vir; e, o segundo, seu despreparo intelectual
para administrar um sucesso que pode acontecer.
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