Editorial do “O Estado de S.
Paulo” de hoje sobre “a desvalorização do real e a nova política de câmbio”.
Nas últimas semanas ocorreu uma modificação importante
no fluxo cambial, que passou a depender muito mais do saldo comercial do que do
saldo financeiro, uma vez que as entradas de recursos financeiros estão menores
do que as saídas.
Com a crise que atravessam os países do Primeiro
Mundo, as captações de recursos externos tornaram-se muito mais difíceis no 3.º
trimestre do ano. Levando em consideração o montante das captações (emissões de
bônus, empréstimos sindicalizados, pré-pagamentos das exportações e operações
do Tesouro Nacional), verifica-se que, de US$ 16,3 bilhões, no 2.º trimestre,
elas caíram para US$ 5,2 bilhões, no 3.º trimestre - o valor mais baixo
registrado desde o 1.º trimestre de 2009.
Isso não pode ser atribuído à queda da liquidez
nos Estados Unidos, pois o Fed (o banco central americano) ofereceu grande
liquidez por meio da recompra dos papéis do Tesouro norte-americano.
Sem dúvida, os bancos europeus é que tiveram
dificuldades para emprestar, por causa da situação apertada em que vivem, a
exigir reforço de capital. O que esse forte recuo das captações parece
indicar é uma aversão ao risco em relação ao Brasil, levando em conta que o
endividamento do País se mostra muito elevado, na medida em que foi bastante
rápido.
É importante considerar que, em termos
internacionais, os empréstimos externos têm um prazo médio pequeno (menos de 7
anos) e que os investimentos estrangeiros, que continuam importantes, estão
dando origem a grandes remessas de lucros e dividendos neste período em que as
matrizes das empresas estrangeiras precisam de recursos vultosos.
As medidas tomadas pelo governo brasileiro
afastaram as operações com títulos de renda fixa, que representavam um
mecanismo regular de entrada de capitais externos.
A perspectiva de uma queda do preço das
commodities - que permitiram que o Brasil aumentasse sensivelmente suas
exportações - alimenta, agora, entre os bancos, certa prudência, que poderá
levar o governo a rever algumas medidas adotadas na área cambial.
De fato, a desvalorização da moeda nacional em
relação ao dólar (além da própria valorização da moeda norte-americana) reflete
mais a evolução do balanço de pagamentos do que os efeitos das medidas tomadas
pelo governo.
No mercado internacional, a visão prospectiva
da situação da economia brasileira é de uma taxa de crescimento menor e uma
inflação mais elevada, o que alimenta a aversão ao risco.
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