Antonio
Delfim Netto, diretamente da FOLHA DE S. PAULO.
No
dia 16/6, a excelente jornalista Raquel Landim, especializada em assuntos
econômicos, escreveu nesta Folha um artigo importante, "Obsessão
nacional".
Nele,
revela uma das jabuticabas da realidade brasileira: a existência de nada menos
que 29 índices construídos por quatro instituições (IBGE, FGV, Fipe e Dieese)
para medir no tempo, em setores e no espaço a nossa taxa de inflação. São
divulgados nas mais diversas frequências. Até índices diários, exclusivos,
pagos à FGV pelos interessados por necessidade de ofício.
Por
incrível que pareça, a lista já está desatualizada: a Ordem dos Economistas do
Brasil relançou, no último dia 7, o seu Índice de Custo de Vida da Classe Média
(ICVM), que inclui 468 bens e serviços.
Se
a confusão fizesse sentido, poderíamos dizer que o brasileiro é o cidadão mais
bem informado e atualizado do mundo sobre a taxa de inflação. Há aqui,
entretanto, um problema trágico. Como a taxa de inflação é uma espécie de radiador
que dissipa o calor dos atritos produzidos pelo mau uso dos fatores de
produção, o desperdício de tempo e recursos para construir essa multiplicidade
de medidas é, ele mesmo, uma causa infinitesimal da inflação!
O artigo
chama a atenção para o fato de que, "na Austrália, a inflação é divulgada
uma vez a cada três meses". Talvez esta seja uma pequena causa para ajudar
a explicar por que lá a taxa de inflação anda às voltas de 2,4% e, no Brasil,
ela teima em rodar no limite superior da meta, 6,5%.
Uma
das poucas afirmações seguras sobre a taxa de inflação é a de que a inflação de
2013 será igual à "expectativa" de inflação formada pela sociedade,
corrigida, positiva ou negativamente, pela política econômica de 2013.
No
Brasil, há um fator que mexe com as "expectativas" e, fisicamente,
liga a inflação de 2013 à de 2012 de forma inexorável: é o mecanismo de
indexação informal e formal do qual não fomos capazes de nos livrar, mesmo com
o bem-sucedido Plano Real.
O
ilustre e competente professor de econometria da FEA-USP, José Tiacci Kirsten,
fez uma análise (ainda não publicada) do novo índice, onde mostra que os bens e
serviços indexados representam 36,1% do peso no índice geral. No exercício
feito com o mês de maio, 451 dos 468 preços apurados têm alguma forma de
indexação (pelo salário mínimo, por sindicatos, pelas administrações públicas,
por índices de preços anteriores e "tutti quanti"), o que mostra o
pequeno papel do mercado.
O
prof. Kirsten conclui que, no "núcleo duro da inflação, cerca de 90% é
representado pelos preços dos bens e serviços indexados, o que gera uma
inflação inercial cuja barreira será difícil de transpor".