Demétrio
Magnoli, no GLOBO de 04.07.2013, comenta sobre a paixão brasileira. Cada coisa no seu lugar. Gostar de futebol e torcer pelo Brasil é muito diferente de utilizar o dinheiro público na construção de elefantes brancos, ao invés de investir na educação, saúde e segurança. Afinal, você já pensou em quem ganha muito dinheiro com a Copa no Brasil?
Todos
podem protestar em todos os lugares - exceto nas imediações das sagradas
arenas da Copa das Confederações. Essa foi a mensagem enviada pelas
autoridades na "semana quente" das manifestações populares. Sem
intervenção policial, manifestantes cercaram palácios e interromperam vias
expressas. Em São Paulo, o eixo sensível da Avenida Paulista, onde se
concentram os hospitais, foi liberado para os protestos. Contudo, nas
cidades-sede do evento, batalhões de choque delimitaram um "perímetro de
segurança nacional" e atacaram manifestantes pacíficos que tentavam
ultrapassá-lo. A regra do protesto ilimitado excluiu os "territórios
internacionais" sob controle efetivo da Fifa. Nunca, numa democracia, um
governo nacional se curvou tão completamente a uma potência externa
desarmada.
A
bolha policial de isolamento dos estádios estendeu-se por dois a três
quilômetros. Não se tratava de assegurar o acesso de torcedores às arenas,
mas de impedir que as marcas dos protestos ficassem impressas sobre as marcas
da Fifa e das empresas patrocinadoras. "A condição prévia para a Copa é
a cessão temporária da soberania nacional à Fifa, que assume funções de
governo interventor por meio do seu Comitê Local." Nesse espaço, dois
anos atrás, Adriano Lucchesi e eu definimos a Copa do Mundo de 2014 como uma
"festa macabra" justificada pela "lógica perversa do
neopatriotismo".
Não
fomos os únicos, nem os primeiros. O jornalista Juca Kfouri deplorou o
triunfo dos bons companheiros Lula da Silva e Ricardo Teixeira na hora da
escolha do Brasil como sede do megaevento de negócios travestido de
competição esportiva. O ex-jogador Romário honrou seu mandato parlamentar
denunciando sistematicamente a farra de desvio de dinheiro público, que ainda
faz seu curso. "A Fifa é o verdadeiro presidente do Brasil hoje",
explicou com a precisão e simplicidade de que carecem tantos doutos
cientistas políticos. Mas a rapinagem dos piratas ficou longe da mira dos
partidos de oposição, que preferiram ocupar assentos periféricos na nave da
Copa, compartilhando dos brindes erguidos em convescotes de autoridades,
empresários e cartolas. Alguém aí está surpreso com a aversão dos
manifestantes ao conjunto de nossa elite política?
3
x 0. No domingo, encerrou-se o ensaio geral para o que será a Copa mais cara
da história. A festa macabra custará, no mínimo, R$ 28 bilhões, quase quatro
vezes mais que a realizada na África do Sul em 2010 (R$ 7,3 bilhões) e perto
de três vezes mais que as Copas na Alemanha em 2006 (R$ 10,7 bilhões) e no
Japão/Coreia em 2002 (R$ 10,1 bilhões). "Com o dinheiro gasto para
construir o Mané Garrincha poderiam ter sido construídas 150 mil casas
populares", calculou Romário. Ele tem razão: a arena de Brasília, a mais
cara de todos os tempos, custou R$ 1,7 bilhão.
Obedecendo
a uma compulsão automatizada, o ministro Gilberto Carvalho apontou um dedo
acusador para a imprensa, que "teve um papel no moralismo, no sentido
despolitizado" das manifestações populares. No mundo ideal desse senhor
"politizado", uma imprensa chapa-branca monopolista, financiada
pelas empresas estatais, desempenharia a função de explicar aos saqueados que
o saque é parte da ordem natural das coisas. "Sem a imprensa, não somos
nada", concluiu Jérôme Valcke, o zagueiro de várzea da Fifa, que também
gostaria de ter um "controle social da mídia".
Um
séquito de analistas especializados na arte da empulhação dedica-se, agora, a
criticar os cartazes dos manifestantes que contrapõem a Copa à
"saúde" e à "educação". No seu pronunciamento desesperado
do fim da "semana quente", Dilma Rousseff recorreu aos sofismas
desses analistas para exercitar o ilusionismo. Os recursos queimados na
fogueira das arenas "padrão Fifa", disse a presidente, são
"fruto de financiamento", não dinheiro do Orçamento. Mas ela não
disse que a fonte dos financiamentos concedidos pelo BNDES são títulos de
dívida pública emitidos pelo Tesouro, nem que a a diferença entre os juros
reais pagos pelo Tesouro e os juros subsidiados cobrados pelo BNDES é coberta
pelos impostos de todos os brasileiros, da geração atual e da próxima.
A
"verdade técnica" da presidente não passa de um véu destinado a
esconder o significado financeiro da festa macabra promovida pela Fifa e pelo
governo brasileiro. No seu conjunto, a operação Copa 2014 é uma vasta
transferência de renda da população para a Fifa, as empresas patrocinadoras
do megaevento e as empreiteiras contratadas nas obras civis. Uma CPI da Copa
revelaria as minúcias da rapinagem, destruindo no caminho governantes em
todos os níveis que se engajaram na edificação de elefantes brancos com
recursos públicos. É com a finalidade de evitá-la a qualquer custo que uma
corrente de parlamentares resolveu aderir à ideia de uma CPI da CBF. Sob a
pressão das ruas, cogita-se a hipótese de entregar os escalpos de José Maria
Marin e Ricardo Teixeira numa bandeja de prata para salvar a reputação das
autoridades políticas cujas assinaturas estão impressas nas leis e contratos
da Copa.
"O
Brasil nos pediu para sediar a Copa do Mundo. Nós não impusemos a Copa do
Mundo ao Brasil." Joseph Blatter, o poderoso chefão da "família
Fifa", não mente quando repete seu mantra preferido. O
"Brasil", na frase, significa "Lula da Silva". A Copa
mais cara da história é a síntese perfeita do legado político do presidente
honorífico. À entrada do Mineirão, no jogo entre México e Japão, funcionários
a serviço da Fifa arrancaram das mãos de dois torcedores cartazes onde
estavam escritas as palavras proibidas "escola" e
"saúde". Os batalhões de choque em postura de batalha no perímetro
de "segurança nacional" da Copa e os agentes da censura política em
ação nos portões das arenas protegem mais que a imagem da Fifa e das marcas
associadas. Eles protegem, sobretudo, a imagem de Lula, o regente da festa
macabra.
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domingo, 7 de julho de 2013
A Copa de Lula.
Delfim Netto na Folha de S. Paulo: A voz da rua não é a voz de Deus nem a voz da lógica.
Folha
- Por que as pessoas foram às ruas?
Delfim
Netto - É uma emergência.
Alguns fenômenos vão ocorrendo aos poucos e, de repente, a acumulação provoca
uma mudança qualitativa. São Paulo é um inferno, mas aos poucos as pessoas se
convenceram de que a solução é impossível, porque não tem recursos. De repente,
aparece recurso para fazer estádio. O
povo é muito sábio. Recurso não é dinheiro, mas cimento e ferro. O povo
concluiu o seguinte: o cimento e o ferro que construíram o estádio são o
cimento e o ferro que não construíram o metrô.
Mas
há recursos para fazer mais metrô?
Claro
que não. O problema é que as prioridades do governo não eram as que a sociedade
desejava. A primeira reação do governo foi de susto e produziu uma
esquizofrenia hiperativa. De repente, o Congresso aprova projetos parados há
dez anos em quatro horas. Mas aprovou sonhos, ideias. Ou seja, nada será
cumprido. Teremos de devolver racionalidade ao sistema.
Qual
vai ser o resultado dessa esquizofrenia hiperativa?
Provavelmente
vamos ter uma reforma política. O cerne da questão é se o financiamento de
campanha deve ser público ou privado. Numa sociedade decente, quem pertence a
um partido tem que colocar seu dinheiro para eleger seu deputado. No
Brasil, como não há controle, vai haver duplo financiamento. Não há nada mais
conservador do que eleição financiada por governo, porque tende a reforçar a
maioria do governo.
Por
que não será possível cumprir as leis que foram aprovadas após os protestos?
Só
é possível distribuir o que já foi produzido,ou tem que tomar emprestado.
Chegamos ao limite. Estamos praticamente em pleno emprego e não podemos mais
elevar o deficit em conta-corrente.
A
voz da rua tem que ser educada a entender que pode escolher prioridades, mas
que a soma das prioridades não pode ser maior do que o PIB.
Como
queremos uma sociedade com liberdade individual, relativa igualdade e
eficiência produtiva, é preciso escolher um mecanismo para atingir esses
objetivos, que não são inteiramente conciliáveis. Esse mecanismo é o mercado e
a urna. Se a urna exagera, o mercado vem corrigir. Se o mercado exagera, a urna
corrige.
A
educação é fundamental para que o eleitor saiba que vai ser atendido dentro de
limitações. É fundamental para salvar não só a economia, mas a democracia.
Mas
educar leva tempo, e a insatisfação das pessoas é imediata.
É
uma questão de liderança política para convencer as pessoas de que leva tempo
para as prioridades serem corrigidas.
O
senhor vê na presidente Dilma essa liderança?
Não
tenho dúvida. A presidente é uma mulher muito competente e séria, com desejo
enorme de acertar.
Ela
também vai escolher prioridades novas e entender que é preciso acelerar as
concessões. Ela vai entender que, quando atende as condições do mercado, não
está numa queda de braço.
Após
as manifestações, os governos congelaram pedágios e tarifas. Isso vai
atrapalhar os leilões de concessão?
Muito.
Pioraram demais as condições de segurança jurídica das concessões. O prejuízo
que o Brasil teve é imenso e contraditório com tudo o que queremos.
É
por isso que eu digo: a voz da rua não é a voz de Deus. Também não é a voz da
lógica. É um sinal amarelo para que façamos as as coisas corretamente.
O
BC vem sinalizando que vai subir mais os juros. O senhor concorda?
O
Banco Central já provou que sabe mais que o setor financeiro. Na minha opinião,
Tombini [Alexandre Tombini, presidente do BC] cansou de ter esperança de que a
política fiscal ajudasse no combate à inflação. O BC vai subir os juros até
alcançar a meta, dentro de um horizonte de tempo de 15 ou 20 meses.
O
senhor defende um ajuste fiscal rigoroso?
Tivemos
truques demais. Destruímos coisas importantes. O transparente é esquecer os
truques e anunciar um programa para um equilíbrio fiscal em quatro ou cinco
anos.
A
presidente tem credibilidade. Quando ela decide, enfrenta furacão. O sujeito
que pensa que vai viajar de ônibus grátis tem que entender que vai pagar mais
no feijão.
Economia é ciência?
MARCELO MITERHOF, economista do BNDES, responde abaixo, diretamente do UOL.
Não há resposta certeira à pergunta do título.
Contudo, sua discussão é proveitosa para entender a natureza da economia.
A constatação inicial é que os economistas tratam seu
estudo de formas distintas. Pérsio Arida, em texto clássico, caracteriza a
ortodoxia como uma tentativa de replicar a metodologia da física, o que faria o
conhecimento econômico progredir por uma fronteira bem delimitada. A
heterodoxia não aceita tal noção.
Questões teóricas perduram por séculos sem solução: a
moeda é endógena ou exógena? A poupança precede o investimento ou não?
A equiparação à física é precária. Uma ciência dura ou
natural se caracteriza por descrever com objetividade e distanciamento os
fenômenos que analisa, obtendo leis (regularidades) e explicações que permitem
fazer boas previsões.
O problema de caracterizar a economia como uma ciência
dura é menos por sua conhecida capacidade de fazer previsões ruins. Isso
poderia significar somente que seu estágio de desenvolvimento é inicial.
Mais relevante, a economia tem uma face prescritiva
inexistente na física, indicando ao governo como agir. Comparação melhor é com
a engenharia, que prescreve métodos de construção ou fabricação.
Porém é mais fácil julgar o trabalho de um engenheiro:
se uma construção sua cai, sem dúvida ele errou. No caso dos economistas, um
péssimo ministro da Fazenda pode virar um rico consultor. É que as prescrições
econômicas têm uma dose de ideologia (crença) e interesse. É por isso que
costumam ser avaliadas.
Por exemplo, uma grande preocupação com a inflação e o
rigor fiscal atende à crença de que esses seriam requisitos da confiança dos
investidores. No entanto, é também um jeito de fazer com que o principal
interesse dos mais pobres (ganhar mais) seja deslocado para o longo prazo,
enquanto é imediata a busca de inflação baixa, que preserva a riqueza de quem
já tem renda alta.
Por outro lado, o foco na elevação dos salários reais
revela a crença na demanda como motor da economia, mas também o interesse na
distribuição de renda.
A ideologia também explica por que, ao contrário da
física, a teoria econômica e suas recomendações pouco mudam. Ideologias são
articulações de ideias que se caracterizam pela fixidez. Há quase 300 anos a
maioria dos economistas sugere flexibilização do mercado de trabalho,
austeridade fiscal etc.
É bom lembrar que, antes de ser um campo de estudo, a
economia é um sistema: um conjunto de coisas que se relacionam obedecendo a
certas regras.
O ser humano criou vários sistemas interessantes. O
xadrez é complexo, mas fechado e dado. O carro é um sistema complexo e que
muda. Só que as mudanças são planejadas e controladas por uma montadora.
A economia é o mais incrível: complexo, aberto e
descentralizado, formado pela interação de um sistema produtivo e um monetário.
No capitalismo, a moeda sem lastro foi uma novidade
decisiva para o sistema econômico, que fez a demanda --por produtos, inovações
e investimentos-- passar a ser o motor principal do desenvolvimento produtivo,
livrando a humanidade de ter que previamente acumular excedentes (poupança).
O dinamismo também trouxe mais volatilidade, o que
exigiu o sistema evoluir. Por exemplo, crises bancárias levaram ao monopólio da
emissão de moeda pelo Estado, que também criou o banco central para tentar
evitar que problemas de liquidez derrubem o sistema econômico. Esses processos
continuam a ocorrer: a crise do euro sugere a unificação fiscal de seus países.
Quer dizer, se a economia evolui pouco como teoria, o
mesmo não vale para o sistema econômico. O seu estudo é útil, pois permite
entender suas possibilidades, seus limites e riscos e como ele pode ser
manejado para atender aos interesses que defendemos. Para tanto, uma boa
dose de pragmatismo é saudável.
Nesse sentido, não gosto da abordagem ortodoxa pois se
refere a um sistema pré-capitalista, em que a presença da moeda não muda as
características de uma economia de escambo, e se baseia em idealização do
sistema econômico pouco afeita à contraposição com a realidade.
Porém, dado o viés ideológico, é difícil mudar o
entendimento econômico de alguém. Convém ao menos ter claro que a economia não
é uma ciência dura. Tal equiparação é frequentemente uma forma de tomar como
necessárias prescrições que são apenas crenças e defesa de interesses.
domingo, 30 de junho de 2013
Gustavo Franco: E o real foi para as ruas...
Leio no ESTADÃO o mestre Gustavo Franco e a relação ruas x R$.
O
real se tornou a moeda nacional há 19 anos, quando a inflação beirava 50%
mensais, mas não havia ninguém nas ruas. Durante os 15 anos anteriores, quando
a inflação acumulou 20.759.903.275.651% (vinte trilhões e troco), o brasileiro
produziu grandes manifestações em raras ocasiões: para pedir eleições diretas,
e depois para derrubar o primeiro presidente que elegeu nesse formato. A
hiperinflação, a maior desgraça econômica que o País já viveu (exceto pela
escravidão), não chegou a produzir mais que episódios isolados, seu efeito mais
marcante e paradoxal foi o torpor.
Como
foi possível que uma monstruosidade econômica desta grandeza não pusesse o País
submerso em protestos e passeatas?
Talvez
nunca seja possível responder com precisão. A hiperinflação foi um fenômeno
gigantesco e incompreensível, inclusive por que faltava clareza quanto ao
autor. Não havia uma causa, pois se dizia que a inflação de hoje era a de
ontem, portanto, de "natureza inercial", e não tínhamos responsável.
Contra quem protestar?
Na
verdade, a própria inflação era o protesto, pois a experiência de quem viveu
aqueles dias sombrios era sempre a do repasse, ou de "correr atrás"
para recuperar poder de compra que se derretia. O custo de vida se elevava 1%
ou 2% ao dia, era preciso passar adiante os aumentos, pois era um Tsunami, uma
reação em cadeia, um conflito distributivo que nos impunha um comportamento
nefasto, pois buscava-se "correr à frente" do processo, e assim nos
tornávamos cúmplices do vício, ainda que em legítima defesa.
Conforme
observou Elias Canetti, numa passagem famosa do livro Massa e Poder, a
hiperinflação pode ser tomada como "um sabá de desvalorização no qual
homens e unidade monetária confundem-se da maneira mais estranha. Um representa
o outro; o homem sente-se tão mal quanto o dinheiro, que segue cada vez pior;
juntos, todos se encontram à mercê desse dinheiro ruim e, juntos, sentem-se
igualmente desprovidos de valor".
A
hiperinflação era, portanto, um fenômeno depressivo, um exercício cotidiano de
queimar a própria bandeira, uma destruição de valores de forma ampla, o
suicídio de um símbolo nacional, uma ferida ética. O sentimento de culpa talvez
explique, em parte ao menos, o desinteresse na busca de responsáveis. A vilania
jamais era associada aos líderes políticos que ordenaram a gastança, as
pirâmides e estádios, as transposições, as emendas orçamentárias e a
generosidade nos bancos oficiais. Nenhum desses farsantes jamais defendeu a
inflação diretamente: apenas atacavam quem queria combater a inflação a sério,
os miseráveis neoliberais ortodoxos a serviço do FMI e da globalização.
A
imprensa jamais conseguiu produzir um rosto, um vilão, quando muito um ministro
que naufragou com um plano de estabilização, e o Ministério Público nunca
conseguiu processar ninguém por produzir inflação. Nenhuma CPI funcionou com
esses termos de referência. Foi o crime perfeito.
Pois
agora, passados 19 anos, ao invés de festejar a monotonia da estabilidade, a
ocasião serve para o registro que muitos desses personagens estão de volta. Parece
novamente recomposta a mesma coalizão inflacionária da "Nova
República", movida pelo "tudo pelo social", ou pela promessa de
inclusão social, ou de conquistas, a qualquer custo, e também por projetos
megalomaníacos e pela descrença em limites fiscais, tudo isso resultando em um
"hiperinflacionamento de desejos" no orçamento ou nos bancos
oficiais, bem além das possibilidades dadas pela disposição da sociedade em
pagar impostos.
Esta
é a matriz da hiperinflação, cujo desenrolar invariavelmente compreende a
descoberta da capacidade de administrar "politicamente" a realização
de desejos incorporando seletivamente grupos beneficiados na coalizão
governista numa espécie de clientelismo de massa. Em seguida, para que o
processo ganhe escala, é preciso capturar o Banco Central, a fim de adquirir o
controle sobre o crédito e sobre a fabricação de papel pintado, mágica que pode
ser compartilhada com os Estados, cada qual com o seu banco emissor e sem
limites quanto à capacidade de se endividar.
Agora,
todavia, esses canais monetários e creditícios estão bloqueados, embora com
alguns vazamentos. A inconsistência entre o inflacionismo da política fiscal e
as barreiras institucionais à inflação, notadamente na forma das metas de
inflação e dos impedimentos ao endividamento dos Estados (Lei de
Responsabilidade Fiscal e outros acordos de reestruturação de dívidas), nunca
foi tão aguda, parecendo configurar um quadro de inflação reprimida. O sistema
político se vê pressionado a fazer escolhas, as tensões vão se multiplicando, e
também o intervencionismo, pois o Estado tenciona ser maior que a Sociedade.
Diante
dessas limitações, o governo precisa racionar a realização dos desejos que
inflou, e para tanto parece ter criado uma espécie de feira de favorecimentos e
seletividades, fiscais e regulatórias, guiadas por idiossincrasias, amizades,
preferências e por clientelismo. A Casa prevalece sobre a Rua, como diria
Roberto da Matta, não há impessoalidade nos atos da administração, tudo tem o
seu destinatário, aos amigos tudo, aos outros a horizontalidade do mercado e a
hostilidade dos reguladores. Instala-se o primado da malandragem, o
investimento em lobby toma o lugar daqueles que se destinam à produção e à
competitividade, o país do futebol se torna propriedade dos cartolas e a Rua se
levanta.
Soa
familiar? Não é parecido com as reclamações que se ouve nas ruas?
É
surpreendente e alvissareiro que a sociedade exiba uma capacidade antes
inexistente de perceber a vilania dos velhos mecanismos de socialização dos
custos de estádios de futebol ou do apoio aos "campeões nacionais". A
imprensa não tem dificuldade em identificar os enredos e beneficiários, bem
como as fórmulas de ocultação e os truques contábeis e manipulações. A
irritação se torna cotidiana e crescente. Ninguém quer pagar as contas que não
lhe pertencem, as escolhas do governo são equivocadas e provocam indignação: se
há dinheiro para o Itaquerão e para o trem-bala, como as escolas, hospitais e
ônibus podem ser tão ruins?
O
"sistema político" tem muitos defeitos, mas o problema aqui tem muito
mais que ver com a liderança e há uma eleição logo à frente. No mundo plano da
globalização e das redes sociais, seria normal que a aversão a esse
pseudo-capitalismo de quadrilhas trouxesse para o centro da política o desejo
de horizontalidade, transparência, responsabilidade fiscal, probidade,
meritocracia e impessoalidade nas regras do jogo econômico. Era disso que se
tratava o Plano Real, sobretudo no seu capítulo sobre reformas. Mas o que
estamos vendo nos últimos anos é muito diferente. É compreensível a irritação
dessa maioria silenciosa com a epidemia de "seletividade", privilégio
e compadrio, que se sabe serem o berço da corrupção. Surpreendente mesmo não é
o protesto e seus temas, mas o timing e a faísca que o determinou.
A política econômica de Armínio Fraga para os dias de hoje.
Armínio Fraga no GLOBO, diz o que ele mudaria na atual política econômica se estivesse no poder.
Muita
coisa, mas nem estou, nem sou candidato a nada... Escrevi com colegas
recentemente um artigo, na verdade dois artigos, que vocês publicaram,
argumentando que o Brasil vivia uma certa encruzilhada. O primeiro artigo
sugeria que poderíamos estar caminhando em direção a um modelo que deu errado,
parecido com o da década de 70, com pouco foco em produtividade, modelo mais
fechado, bancos públicos tendo papel grande demais, pouca capacidade de
mobilizar investimento em infraestrutura e outras questões como essas. Sem
prejuízo de muita coisa boa que aconteceu no combate à pobreza, na melhoria da
distribuição de renda, isso tudo é essencial e obviamente tem que continuar.
Agora de fato me parece que o Brasil tende a ir nessa direção que deu errado no
passado. Rever esse modelo me parece essencial. Esse modelo que comentei no
início da conversa, onde Brasília passa a ser um destino de peregrinação de
empresários, pleiteando subsídios, proteções, crédito barato, é um modelo muito
ruim, inclusive do ponto de vista distributivo. É um modelo pró empresa e não
pró mercado. Melhor reduzir o Custo Brasil e deixar os empresários competirem
entre si. A política recente de combustíveis e automóveis, discutida
recentemente em coluna da Miriam Leitão, carece de mudanças: o Brasil subsidia
carbono e automóvel, quando o mundo inteiro parece querer diminuir a sua pegada
e ter menos carros andando nas ruas, focar mais em transporte público, menos
poluente e “engarrafante”. Quando o governo segura o preço do petróleo como segurou
durante muito tempo com o objetivo de afetar o índice de inflação, se vê o
Brasil indo em direção contrária da que seria correta. O foco do governo
Fernando Henrique Cardoso em saúde e educação é atual e correto tanto do ponto
de vista de justiça social quanto de crescimento. Tudo que está acontecendo no
mundo da infraestrutura, a meu ver, requer muita atenção e vejo bastante espaço
para melhorias. Faço questão de registrar aqui que o próprio governo tem dado
sinais de que quer caminhar nessa direção e espero que as incertezas com
relação aos investimentos na infraestrutura não atrapalhem demais a retomada do
investimento, que já está muito atrasada.
sábado, 29 de junho de 2013
O sinal e o ruído - por que tantas previsões falham e outras não.
Neste
final de semana minha agenda é com o livro do Nate Silver “O Sinal e o Ruído
- Por que Tantas Previsões Falham e Outras não.” Conforme li na EXAME trata-se de um dos melhores livros de
economia lançado nos Estados Unidos em 2012 e agora aqui no Brasil. Recomendo a
todos os colegas economistas que também utilizam a estatística em seus
trabalhos.
Cita a EXAME que “o tema do livro ganha peso quando se lembra das previsões de Nate
Silver, estatístico do New York Times, para as eleições norte-americanas.
“Não é um livro só de economia, e sim um livro sobre a ciência e arte de fazer
previsões”, segundo Tony Volpon, chefe de pesquisa para mercados emergentes do
Nomura.
Silver investiga como se
pode distinguir sinais verdadeiros em um universo de dados confusos. Para
Silver, o excesso de confiança é, geralmente, o motivo da ruína de muitas
previsões – e elas poderiam melhorar com um aperfeiçoamento da incerteza.”
Problemas demais, governo de menos.
Leio hoje no ESTADÃO de 27.06.2013 artigo de José Serra sobre o atual momento econômico e político brasileiro. Apesar de Serra ter muitos críticos, a sua opinião merece ser conhecida.
As
manifestações que tomaram conta do Brasil nas últimas semanas derreteram a
agenda política nacional, até então dominada pela prematuríssima campanha
eleitoral, com três ou quatro candidatos já definidos. Sejam quais forem suas
origens, seus mecanismos de propagação, virtudes, defeitos e consequências, o
fato é que as mobilizações já produziram na vida brasileira um daqueles
momentos em que "o futuro não será mais como era", para evocar Paul
Valery.
Neste
momento, partidos e governos, nas três esferas, sentem-se acuados, mas o foco
principal de tensões situa-se no Palácio do Planalto, o grande responsável,
aos olhos da população (e é mesmo!), pela condução do País.
O
governo federal já vivia uma situação difícil, em razão do esgotamento do
modelo econômico lulista: rápido crescimento do consumo, baixo investimento,
forte criação empregos menos qualificados e inflação baixa. Esse modelo foi
viabilizado pela notável bonança externa, juntamente com o crescimento acelerado
das importações, o aumento do crédito para o consumo e a sobrevalorização
cambial. Foi a época da farra de divisas e da lei do menor esforço, com
estatuto semelhante ao da lei da gravidade.
A
eclosão das manifestações coincidiu com o fim desse ciclo e a estagflação.
Elas podem não ser efeito direto das condições da economia, mas é evidente
que eclodem numa dada realidade, e não no vácuo: desaceleração do consumo em
razão do menor crescimento da renda, do endividamento familiar elevado e da
maior inflação; desaceleração da criação de empregos menos qualificados e
falta de perspectivas para os assalariados de maior renda.
Nada
pior para um governo já sem rumo do que a ventania contrária das ruas. Daí a
ansiedade, a atrapalhação e a exacerbação do marketing das soluções virtuais.
O emblema do desatino foi a tal Constituinte com o fim específico de fazer a
reforma política. A proposta, tida como irrevogável, era de tal sorte absurda
que foi revogada em 24 horas. Ficou a pergunta: como pôde a Presidência da
República errar de forma tão bisonha? Agora, a fim de disfarçar o recuo,
trocou-se a Constituinte exclusiva pelo plebiscito, proposta impraticável.
Além
do "pacto" da reforma política, a presidente propôs o pacto da
educação: 100% dos royalties do petróleo para o setor. Resumir os problemas
da educação à elevação do orçamento seria equivocado. Mesmo assim, os novos
recursos vindos desses royalties serão bem menores do que se alardeia, pois a
vinculação só vale para contratos de exploração firmados a partir de dezembro
de 2002. E eles não gerarão petróleo antes de seis anos; dentro de uns dez o
total destinado à educação poderia chegar a R$ 8,5 bilhões anuais - cerca de
3% do Orçamento da União, dos Estados e municípios.
Já
o "pacto" da saúde consiste em importar uns 6 mil médicos
estrangeiros - a quase totalidade, cubanos. Alguém é contra água encanada ou
luz elétrica? Assim, quem se opõe a que o Brasil tenha mais médicos? O
problema é como fazer. Eles estão é mal distribuídos, concentrados nas
regiões do País com mais infraestrutura. É preciso criar condições para que
atuem no interior - e pouco se faz nesse sentido. Nada contra, é evidente, a
que profissionais de outros países atuem aqui, desde que seus diplomas sejam
revalidados mediante exames, que o Ministério da Saúde quer dispensar. Nota:
apenas 5% dos médicos cubanos que a eles se submeteram foram aprovados.
A
má distribuição dos médicos é apenas um dos problemas da saúde. O PT reduziu
de 53% para 44% a fatia dos gastos totais no setor, jogando mais peso nas
costas de Estados e municípios. A Anvisa foi loteada, padrão Agnelo Queiroz;
a Funasa, degradada. Durante a gestão petista, a participação das despesas
correntes do Ministério da Saúde no SUS caiu de 17% para 14% do total do
governo federal (excluídos o benefícios previdenciários). A rede hospitalar
tem sido fragilizada, sufocando as Santas Casas. Se a proporção de recursos
do SUS para o atendimento hospitalar fosse a herdada do governo FHC, hoje
seriam destinados a essa área R$ 7,5 bilhões a mais por ano.
Outro
""pacto" anunciado é o dos transportes urbanos: R$ 50 bilhões.
A gente fica com a impressão de que são recursos a fundo perdido. Não! Viriam
principalmente na forma de oferta de crédito a Estados e municípios. Além
disso, matéria do Valor evidenciou que, dos recursos federais disponíveis
para essa finalidade, 93% não foram ainda utilizados. Na prática, transportes
urbanos nunca foram prioridade do governo petista. Do contrário, jamais teria
lançado, há seis anos, o alucinado projeto do trem-bala entre São Paulo e
Rio, cujo custo deve andar ali pelos R$ 70 bilhões. Por sorte, a incapacidade
executiva do governo não permitiu que o projeto andasse depressa, mas já deve
ter consumido cerca de R$ 1 bilhão, com direito à criação de mais uma
estatal. Cancelar o trem-bala e concentrar os recursos em trens urbanos seria
medida mais que oportuna quando se fala em pactos pelo Brasil.
O
bom senso, aliás, recomendaria o barateamento do custo das eleições e maior
proximidade entre eleitor e eleito, como a adoção do voto distrital. Se o
Planalto quer diminuir a corrupção na máquina pública, não precisa de
propostas mirabolantes. Que se exija certificação dos 25 mil cargos de
confiança e dos altos funcionários de todas as empresas federais e se refaça
com critérios técnicos todo o quadro de dirigentes de agências reguladoras.
Mais ainda, que se regulamente com urgência o parágrafo 3.º do artigo 37 da
Constituição federal, sobre a participação dos usuários na administração
pública direta e indireta, com ênfase no controle da qualidade dos serviços.
Tais
medidas, entre outras, seriam simples e eficazes. Mas no petismo o fácil é
sempre difícil, pois eles são especialistas em obter vantagens com as
dificuldades que criam, e têm a convicção de que os problemas do País se
resolvem com marketing e anúncios solenes.
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domingo, 23 de junho de 2013
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Ressaca monetária.
Editorial da FOLHA e a ressaca monetária. E as previsões são pessimistas para o que vem por aí. E ainda estamos em 2013...
Dólar sobe no mundo todo após anúncio de
reviravolta do Fed, e efeito no Brasil se agrava com as deficiências da
política econômica de Dilma
Se o governo Dilma Rousseff antes perdia o
sono com o "tsunami monetário" -- como caracterizava o fluxo de
entrada de capitais resultante da política do Fed (banco central americano) de
inundar o mercado com recursos --, sobram agora razões para se preocupar com a
retração da onda.
Os sinais de reversão da maré estão à vista de
todos. Há mais otimismo com a recuperação da economia americana, que deve
crescer 2% neste ano e talvez bem mais que isso em 2014. Com a melhora, o
estímulo monetário deixaria de ser necessário.
O Fed já navega nessa direção. Seu
presidente, Ben Bernanke, disse que as compras de títulos no mercado -- hoje no
ritmo de US$ 85 bilhões ao mês -- serão contraídas em breve e suspensas até
meados de 2014. Para prevenir sobressaltos, disse que a retirada será gradual e
que a taxa de juros deve permanecer perto de zero até 2015.
O mercado financeiro não tem paciência com
detalhes. Quando identifica mudanças como essa, antecipa as consequências:
menos recursos no mercado global, juros em alta nos EUA e valorização do dólar
perante outras moedas, especialmente de países emergentes.
No caso do Brasil, há o
fator agravante da política econômica errática, em particular na questão da
austeridade fiscal, que prejudica a imagem do país. Acentua-se, com isso, o
temor pela perda de valor dos investimentos aqui realizados, o que provoca a
saída de dólares e a consequente desvalorização da moeda nacional.
A cotação do real frente ao
dólar fechou em quase R$ 2,26, ontem, mesmo após o Banco Central comprometer
US$ 3 bilhões para conter a desvalorização. Foi o pior nível desde abril de
2009, quando a crise internacional estava no auge.
Um sintoma da deterioração do cenário foi o
adiamento da oferta de ações da Votorantim Cimentos na Bolsa, que deveria
levantar até R$ 10 bilhões. É notável o contraste com a situação de abril
passado, quando a BB Seguridade conseguiu captar R$ 11,4 bilhões.
Salvo uma improvável grande decepção com a
economia americana, nos próximos anos haverá um enxugamento do capital farto em
circulação pelo mundo.
O Brasil está mais preparado que no passado
para enfrentar a turbulência: tem US$ 375 bilhões em reservas, e a dívida em
dólar do governo foi eliminada, entre outros fatores. Mas aproveitou mal a
liquidez externa: não aumentou a taxa de investimento, não ajustou as contas
públicas como deveria e não reforçou a competitividade da economia para
enfrentar a saída de capitais.
A alta do dólar encarece
importações e incentiva aumentos de preços domésticos, realimentando a
inflação. O Banco Central se vê forçado a elevar ainda mais os juros. Nesse mar
revolto, vai a pique o otimismo postiço do governo federal nos últimos anos
quinta-feira, 20 de junho de 2013
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Indexação.
Antonio
Delfim Netto, diretamente da FOLHA DE S. PAULO.
No
dia 16/6, a excelente jornalista Raquel Landim, especializada em assuntos
econômicos, escreveu nesta Folha um artigo importante, "Obsessão
nacional".
Nele,
revela uma das jabuticabas da realidade brasileira: a existência de nada menos
que 29 índices construídos por quatro instituições (IBGE, FGV, Fipe e Dieese)
para medir no tempo, em setores e no espaço a nossa taxa de inflação. São
divulgados nas mais diversas frequências. Até índices diários, exclusivos,
pagos à FGV pelos interessados por necessidade de ofício.
Por
incrível que pareça, a lista já está desatualizada: a Ordem dos Economistas do
Brasil relançou, no último dia 7, o seu Índice de Custo de Vida da Classe Média
(ICVM), que inclui 468 bens e serviços.
Se
a confusão fizesse sentido, poderíamos dizer que o brasileiro é o cidadão mais
bem informado e atualizado do mundo sobre a taxa de inflação. Há aqui,
entretanto, um problema trágico. Como a taxa de inflação é uma espécie de radiador
que dissipa o calor dos atritos produzidos pelo mau uso dos fatores de
produção, o desperdício de tempo e recursos para construir essa multiplicidade
de medidas é, ele mesmo, uma causa infinitesimal da inflação!
O artigo
chama a atenção para o fato de que, "na Austrália, a inflação é divulgada
uma vez a cada três meses". Talvez esta seja uma pequena causa para ajudar
a explicar por que lá a taxa de inflação anda às voltas de 2,4% e, no Brasil,
ela teima em rodar no limite superior da meta, 6,5%.
Uma
das poucas afirmações seguras sobre a taxa de inflação é a de que a inflação de
2013 será igual à "expectativa" de inflação formada pela sociedade,
corrigida, positiva ou negativamente, pela política econômica de 2013.
No
Brasil, há um fator que mexe com as "expectativas" e, fisicamente,
liga a inflação de 2013 à de 2012 de forma inexorável: é o mecanismo de
indexação informal e formal do qual não fomos capazes de nos livrar, mesmo com
o bem-sucedido Plano Real.
O
ilustre e competente professor de econometria da FEA-USP, José Tiacci Kirsten,
fez uma análise (ainda não publicada) do novo índice, onde mostra que os bens e
serviços indexados representam 36,1% do peso no índice geral. No exercício
feito com o mês de maio, 451 dos 468 preços apurados têm alguma forma de
indexação (pelo salário mínimo, por sindicatos, pelas administrações públicas,
por índices de preços anteriores e "tutti quanti"), o que mostra o
pequeno papel do mercado.
O
prof. Kirsten conclui que, no "núcleo duro da inflação, cerca de 90% é
representado pelos preços dos bens e serviços indexados, o que gera uma
inflação inercial cuja barreira será difícil de transpor".
Unicamp - a melhor universidade com menos de 50 anos.
Leio no UOL uma ótima notícia nestes dias tão confusos e preocupantes para os brasileiros.
A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) é a única instituição de ensino
superior da América Latina na lista das cem melhores universidades com menos de
50 anos. A universidade brasileira está em 28o lugar na lista preparada pelo
THE (Times Higher Education) -- posição bem melhor do que no ranking do ano
passado, em que estava em 44o lugar.
A
universidade brasileira é também a única dos BRICs. China, Rússia e Índia têm
universidades "jovens", mas nenhuma delas está entre as cem melhores
do mundo com menos de 50 anos.
Os
primeiros lugares da lista são ocupados por universidades de países europeus e
asiáticos. Ao todo, 28 países têm universidades no rankings das mais jovens.
Uma
diferença em relação à listagem do ano passado, de acordo com a análise do
físico da Unicamp Leandro Tessler, estudioso em ensino superior, é a entrada de
instituições de países em desenvolvimento como Irã, Arábia Saudita e Turquia. A
Universidade Koç, da Turquia, por exemplo, está em 31o lugar. No ano passado,
ela nem entrou na lista das cem melhores instituições jovens.
Apesar
de o Brasil estar bem em relação aos países vizinhos, o número de instituições
brasileiras na listagem caiu. A Unesp (Universidade Estadual Paulista) perdeu
posições e saiu da lista das cem melhores. No ano passado, a Unesp estava em
99o lugar.
Desde
2012 o THE elabora uma listagem específica com metodologia própria para as
universidades com menos de 50 anos. A ideia é estabelecer uma comparação mais
justa entre essas instituições.
No
ranking internacional do THE, feito desde 2004, todas as universidades são
comparadas entre si a partir de critérios ligados à qualidade de ensino e de pesquisa.
Isso prejudica a avaliação das instituições mais jovens, que são comparadas a
instituições como Harvard, dos Estados Unidos, que começou a funcionar no
século 17.
A lista das melhores com
menos de 50 anos, no entanto, muda a cada ano porque as universidades
"envelhecem". Se passar dos 50 anos, a instituição deixa de fazer
parte do grupo
domingo, 16 de junho de 2013
Contas públicas brasileiras em 2013.
NILSON TEIXEIRA, Ph.D em economia pela Universidade da Pensilvânia e economista-chefe do Credit Suisse, recentemente analisou na FOLHA as contas públicas brasileiras.
O
tema das contas públicas ganhou destaque na imprensa nos últimos meses, por
causa do novo ciclo de aumento dos juros, do alto nível da dívida pública e da
adoção de sucessivas medidas de desoneração.
Nesse
ambiente, nosso cenário para as contas públicas ainda pode ser classificado
como favorável. Prevemos superavit primário (diferença entre as receitas e
despesas do setor público, exceto as despesas com os juros líquidos sobre a
dívida pública) ligeiramente inferior a 2,0% do PIB em 2013 e 2014.
Quando
deduzimos o pagamento dos juros, temos uma projeção de deficit nominal em torno
de 3,0% do PIB em ambos os anos, com dívida pública bruta próxima a 60% do PIB
no período.
Esse
quadro pode ser tido como favorável, em parte porque adotamos um cenário que
está longe de ser consensual: crescimento do PIB de 3,0% em 2013 e 4,0% em 2014
e taxa Selic estável em 8,75% a partir de agosto.
Se
assumíssemos menor crescimento ou mais juros, teríamos um superavit primário
provavelmente inferior ao necessário para uma dívida pública estável, condição
mínima para sustentabilidade fiscal de longo prazo.
Essas
simulações já não sugerem, portanto, um cenário tão benigno. O mesmo pode ser
dito sobre a fragilidade dos resultados fiscais neste ano. O superavit primário
acumulado até abril, de 0,9% do PIB, é o menor desde 2005, com exceção de 2006
e dos anos em que a meta fiscal de 3,1% do PIB não foi cumprida (2009 e 2010).
Em
todos os anos, a média do superavit primário entre maio e dezembro diminuiu na
comparação com a média entre janeiro e abril, sendo o menor recuo de 38% em
2011 e o maior de 70% em 2012.
Caso
o recuo seja de 55% entre os dois períodos deste ano, similar ao declínio médio
entre 2006-2012, o superavit primário será de 1,6% do PIB. Um primário de 2,3%,
conforme prometido pelo governo, seria compatível com um recuo de apenas 15% na
média entre esses períodos, muito abaixo do usual.
A
incerteza sobre a gestão de política fiscal aumentou também devido a sucessivas
alterações dos parâmetros de sua execução, que incluem a retirada de certas
estatais da contabilidade fiscal em 2009 e 2010; a maior anuência com a
expansão dos gastos de Estados e municípios; o uso das operações de
triangulação de ativos entre o Tesouro e outras entidades; e a utilização de
receitas extraordinárias, como de privatização, para o cumprimento da meta.
As
alterações propostas sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2013 e 2014
reduzem o superavit primário mínimo, para efeito de cumprimento da meta, para
cerca de 1,0% do PIB. A mera possibilidade de um valor tão baixo compromete o
papel da meta como referência para a política fiscal e eleva o risco de aumento
da dívida.
Certamente,
o quadro recente não representa uma deterioração fiscal irreversível. Porém
faz-se necessário reduzir a incerteza sobre as contas públicas, o que requer
uma política fiscal mais austera, que garanta, por exemplo, uma redução da
dívida pública dos atuais cerca de 60% do PIB para patamar próximo ao de outros
emergentes, em torno de 35% do PIB na média (veja gráfico).
Isso
contemplaria um período com superavit primário alto o suficiente para garantir
o rápido declínio do deficit nominal e da dívida pública. Mesmo com o nível de
endividamento ainda alto, seria razoável admitir alguma flexibilidade. Nesse
caso, poderia ser adotada uma estratégia que, de modo transparente,
interrompesse o declínio da dívida bruta como proporção do PIB, de forma a
estimular a economia.
Para
que essa abordagem seja crível, seria necessário definir, de forma precisa, as
condições para a retomada da estratégia anterior de redução da dívida.
O
que torna o problema ainda mais crítico é que, desde 2008, foi emitida dívida
mobiliária extra de cerca de R$ 400 bilhões, em torno de 20% do estoque da
dívida total, visando atender apenas os aportes a instituições públicas,
notadamente financeiras.
Dada
a provável demanda por financiamento de bancos públicos para infraestrutura nos
próximos anos, haverá a necessidade de emissão de mais de R$ 50 bilhões ao ano
até o fim desta década.
Sem
discutir seu mérito, esses aportes embutem a concessão de subsídios crescentes
e disseminados e geram um fluxo também crescente de despesas com o pagamento de
juros nos próximos anos, o que dificulta muito a redução do deficit nominal.
Em
suma, é preciso recuperar a credibilidade da gestão da política fiscal. Isso
pode ser alcançado com a aprovação de regras críveis, que, em última instância,
eliminem o deficit nominal nos próximos anos. Porém os eventos aqui mencionados
sugerem que esse objetivo seria perseguido pelo governo apenas no caso de
expressiva expansão da arrecadação e do PIB.
Ainda
que fosse o caso, uma regra contingente não seria suficiente para transmitir
maior credibilidade, em um contexto de recorrentes extensões e inclusões de
novas cláusulas de escape para a meta de superavit primário integral.
Compromissos vagos e contingentes à recuperação da atividade não resolverão o
impasse atual.
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