Lamentável que os dez anos da
morte de ROBERTO CAMPOS, economista e diplomata, conhecido defensor do liberalismo econômico, não estejam devidamente lembrados. É uma pena que o seu
excelente “A lanterna na popa” não esteja nas livrarias. É um livro sensacional
que li, mas que até hoje fico triste por não ter o exemplar em minha
biblioteca. Vide abaixo carta do editor do Livro ao presidente da ABL.
Dr. Marcos Vilaça,
Hoje, enquanto o sr. passeia
pela Europa na condição de presidente da Academia Brasileira de Letras, eu
estou aqui meditando sobre um pecado seu: o ter capitulado à nomenklatura da
ABL e deixado que os dez anos da morte de Roberto Campos passassem em branco
nos anais da instituição que ora preside.
Em abril eu alertei a vários
acadêmicos, e por duas vezes ao sr., que Roberto Campos merecia ser lembrado
numa sessão, ou mesa-redonda, mas a desculpa foi que isso não era possível
devido ao fato de que todas as datas já estavam preenchidas.
Mesmo assim a ABL achou
espaço em sua agenda para promover vários outros eventos menores, inclusive
dedicar uma mesa-redonda ao historiador Nelson Werneck Sodré, que embora mereça
homenagem, não pertenceu aos quadros da ABL.
É triste verificar que em
2011 ainda vigora, por parte de intelectuais que se dizem progressistas, veto
às ideias de Roberto Campos, e que a ABL, que existe também para lembrar e
reverenciar aqueles que deram o prestígio de seu nome à instituição, compactua
com isso.
Mais lamentável ainda é que
as vozes que se opuseram à realização da merecida homenagem a um ex-confrade
não tenham tido a coragem de externar abertamente as suas diferenças com ele, e
que o sr., por medo ou delicadeza, não tenha tido ânimo para frear essa ação
nada democrática.
Em abril eu afirmei ao sr.
que me manteria em silêncio a respeito desse assunto, e assim o fiz na
esperança de que, mais cedo ou mais tarde, a sua consciência cristã e os seus
brios pernambucanos ganhassem musculatura e lhe dessem força para pôr abaixo o
muro de silêncio que se armava na ABL em torno de um dos mais ilustres
intelectuais que já passaram pela ABL em toda a sua história.
Mas o sr. nada fez, e
chegamos em outubro sem que nem mesmo uma simples menção aos dez anos da morte
do dr. Roberto Campos tenha se dado na sessão de quinta-feira.
Na condição de amigo e editor
do ilustre liberal, só me resta escrever esse meu lamento aqui.
Afetuosamente,
José
Mario Pereira
5 comentários:
Um cara que trabalhou na ditadura militar pode mesmo ser lembrado como um liberal? Talvez, aqui no Brasil é tudo muito estranho. Um bom dever de casa, para uma homenagem justa, seria fazer a releitura do seu livro sobre a economia brasileira: A Nova Economia Brasileira. Depois, parra não ficar no desalento, compare com o livrinho do Friedman sobre capitalismo e liberdade. Creio, smj, que assim estaríamos fazendo uma bela homenagem aos liberais.
Do próprio site da ABL li:
No seu ideário, estiveram as reformas da Constituição, da Previdência Social, fiscal e partidária, além da aceleração do processo de privatização das empresas estatais. Criador do FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço -, da Caderneta de Poupança, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (posteriormente com o apêndice Social) e do Estatuto da Terra, que se adotado na década de 70, teria evitado os conflitos posteriores. Crítico ferrenho do dirigismo estatal, irônico nos comentários sobre as teses e diatribes esquerdizantes e profundo observador das transformações sócio-político-econômicas do mundo, Roberto Campos foi, também, um juiz de si mesmo.
Aprendi há muito que uma coisa é o que se fala e outra completamente distinta é o que faz. Salvo melhor juízo, acho que foi uma liçao do Friedman. Um forte abraço e vamos em frente.
Na vida, também aprendemos que quem não está no calor dos acontecimentos, não raramente, cai em idealismos e faz cobranças que dificilmente poderiam ter acontecido. Assim, eu acredito, tenha sido o comentário a criticar Roberto Campos como liberal. Todavia, a desconfiança não é lá tão estapafúrdia e pode ser feita: como um liberal pode ter feito parte de um governo autoritário? O pressuposto, parece, é de que fazem parte dos governos aqueles que comungam dos ideais que norteiam a ação desse governo. Ora, a adesão a um governo não se dá apenas pela concordância em princípios. E, muitas vezes, ela inexiste. Sociologicamente, a legitimidade, a aceitação de um poder, não se dá apenas por subjetivismos; não se deve esquecer a posição ocupada pelos agentes em determinada estrutura de poder. Roberto Campos nunca concordou com expedientes autoritários, mas via no golpe de 1964 um contra-golpe a uma potencial revolução socialista. Assim, escolheu entre o menos pior e tentou semear seus ideais liberais em terra árida.
Ademais, viver é ter de se ver, muitas vezes, contrariado em seus ideais, seja por fatores externos, seja por suas fraquezas. Apesar de tudo, ninguém pode dizer que Roberto Campos não foi um bom semeador do ideário liberal no Brasil.
Abraços,
V. P.
Postar um comentário