sexta-feira, 14 de outubro de 2011

ROBERTO CAMPOS - 10 anos.


Lamentável que os dez anos da morte de ROBERTO CAMPOS, economista e diplomata, conhecido defensor do liberalismo econômico, não estejam devidamente lembrados. É uma pena que o seu excelente “A lanterna na popa” não esteja nas livrarias. É um livro sensacional que li, mas que até hoje fico triste por não ter o exemplar em minha biblioteca. Vide abaixo carta do editor do Livro ao presidente da ABL.

Dr. Marcos Vilaça,

Hoje, enquanto o sr. passeia pela Europa na condição de presidente da Academia Brasileira de Letras, eu estou aqui meditando sobre um pecado seu: o ter capitulado à nomenklatura da ABL e deixado que os dez anos da morte de Roberto Campos passassem em branco nos anais da instituição que ora preside.

Em abril eu alertei a vários acadêmicos, e por duas vezes ao sr., que Roberto Campos merecia ser lembrado numa sessão, ou mesa-redonda, mas a desculpa foi que isso não era possível devido ao fato de que todas as datas já estavam preenchidas.

Mesmo assim a ABL achou espaço em sua agenda para promover vários outros eventos menores, inclusive dedicar uma mesa-redonda ao historiador Nelson Werneck Sodré, que embora mereça homenagem, não pertenceu aos quadros da ABL.

É triste verificar que em 2011 ainda vigora, por parte de intelectuais que se dizem progressistas, veto às ideias de Roberto Campos, e que a ABL, que existe também para lembrar e reverenciar aqueles que deram o prestígio de seu nome à instituição, compactua com isso.

Mais lamentável ainda é que as vozes que se opuseram à realização da merecida homenagem a um ex-confrade não tenham tido a coragem de externar abertamente as suas diferenças com ele, e que o sr., por medo ou delicadeza, não tenha tido ânimo para frear essa ação nada democrática.

Em abril eu afirmei ao sr. que me manteria em silêncio a respeito desse assunto, e assim o fiz na esperança de que, mais cedo ou mais tarde, a sua consciência cristã e os seus brios pernambucanos ganhassem musculatura e lhe dessem força para pôr abaixo o muro de silêncio que se armava na ABL em torno de um dos mais ilustres intelectuais que já passaram pela ABL em toda a sua história.

Mas o sr. nada fez, e chegamos em outubro sem que nem mesmo uma simples menção aos dez anos da morte do dr. Roberto Campos tenha se dado na sessão de quinta-feira.

Na condição de amigo e editor do ilustre liberal, só me resta escrever esse meu lamento aqui.

Afetuosamente,
José Mario Pereira 

5 comentários:

Chutando a Lata disse...

Um cara que trabalhou na ditadura militar pode mesmo ser lembrado como um liberal? Talvez, aqui no Brasil é tudo muito estranho. Um bom dever de casa, para uma homenagem justa, seria fazer a releitura do seu livro sobre a economia brasileira: A Nova Economia Brasileira. Depois, parra não ficar no desalento, compare com o livrinho do Friedman sobre capitalismo e liberdade. Creio, smj, que assim estaríamos fazendo uma bela homenagem aos liberais.

João Melo disse...

Do próprio site da ABL li:
No seu ideário, estiveram as reformas da Constituição, da Previdência Social, fiscal e partidária, além da aceleração do processo de privatização das empresas estatais. Criador do FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço -, da Caderneta de Poupança, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (posteriormente com o apêndice Social) e do Estatuto da Terra, que se adotado na década de 70, teria evitado os conflitos posteriores. Crítico ferrenho do dirigismo estatal, irônico nos comentários sobre as teses e diatribes esquerdizantes e profundo observador das transformações sócio-político-econômicas do mundo, Roberto Campos foi, também, um juiz de si mesmo.

Chutando a Lata disse...

Aprendi há muito que uma coisa é o que se fala e outra completamente distinta é o que faz. Salvo melhor juízo, acho que foi uma liçao do Friedman. Um forte abraço e vamos em frente.

Vinícius Portella disse...

Na vida, também aprendemos que quem não está no calor dos acontecimentos, não raramente, cai em idealismos e faz cobranças que dificilmente poderiam ter acontecido. Assim, eu acredito, tenha sido o comentário a criticar Roberto Campos como liberal. Todavia, a desconfiança não é lá tão estapafúrdia e pode ser feita: como um liberal pode ter feito parte de um governo autoritário? O pressuposto, parece, é de que fazem parte dos governos aqueles que comungam dos ideais que norteiam a ação desse governo. Ora, a adesão a um governo não se dá apenas pela concordância em princípios. E, muitas vezes, ela inexiste. Sociologicamente, a legitimidade, a aceitação de um poder, não se dá apenas por subjetivismos; não se deve esquecer a posição ocupada pelos agentes em determinada estrutura de poder. Roberto Campos nunca concordou com expedientes autoritários, mas via no golpe de 1964 um contra-golpe a uma potencial revolução socialista. Assim, escolheu entre o menos pior e tentou semear seus ideais liberais em terra árida.

Ademais, viver é ter de se ver, muitas vezes, contrariado em seus ideais, seja por fatores externos, seja por suas fraquezas. Apesar de tudo, ninguém pode dizer que Roberto Campos não foi um bom semeador do ideário liberal no Brasil.

Abraços,

V. P.

Vinícius Portella disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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