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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sem paliativos.


Editorial de hoje no GLOBO comenta sobre a atual situação econômica brasileira e alerta para a necessidade de ajustes internos, considerando que a crise internacional pode continuar por vários anos.     

Por algum tempo, o governo alimentou a ideia que o Brasil poderia continuar crescendo, alheio à crise financeira internacional, até porque o país estaria mais voltado para a Ásia, onde a demanda por nossas exportações continuava firme e forte. Era, evidentemente, uma ilusão, pois seria apenas uma questão de tempo a Ásia também sentir os efeitos da crise.

E foi o que aconteceu. Diante da perspectiva de baixo crescimento nos mercados mais desenvolvidos, as economias asiáticas, muito impulsionadas por exportações, não têm conseguido manter o mesmo ritmo acelerado de expansão do passado. A Ásia certamente permanecerá com mais dinamismo e vigor do que outras partes do mundo, mas não mais a ponto de provocar uma pressão de demanda explosiva, capaz de sustentar as cotações de matérias-primas industriais e agrícolas lá nas alturas.

A participação do comércio exterior no conjunto da economia brasileira é relativamente pequena, mas é essa troca de mercadorias que na verdade funciona como força motriz do crescimento. Historicamente, é a partir do impulso das exportações que o mercado doméstico ganha velocidade.

Sem esse impulso, o governo tem recorrido a medidas pontuais para estimular o consumo interno de segmentos industriais que viram a sua demanda minguar nos últimos meses. Setorialmente são iniciativas que até podem ser válidas, desde que vistas como paliativos, de efeito passageiro. Não será com tais estímulos que a economia recuperará o impulso de crescimento sustentável.

O nó da questão está nos investimentos. Mesmo com ritmo de crescimento moderado, a economia brasileira se depara com muitos gargalos em sua infraestrutura. Sem removê-los, a economia sempre enfrentará dificuldades quando tentar crescer mais rapidamente.

Viabilizar investimentos, públicos e privados deveria ser o foco da política econômica, e para tal há desafios importantes a serem superados. O principal deles é um aumento de poupança doméstica. Para financiar investimentos, a economia brasileira não pode contar indefinidamente com o reforço da poupança externa. A prática nos mostra como os humores dos mercados financeiros mudam, às vezes até sem fundamento.

O Brasil tem um nível de poupança doméstico baixo, entre outras razões porque a economia do país teve que conviver, por anos a fio, com um desequilíbrio estrutural nas finanças públicas. Em vez de financiar investimentos, parte da poupança doméstica foi deslocada para a cobertura dos déficits governamentais.

A conjuntura atual tem favorecido a redução desses déficits, pois o componente financeiro tende a diminuir com a queda das taxas básicas de juros. Então, o país está diante de uma oportunidade para ampliar a poupança doméstica, redirecionando-a para investimentos. Nesse caso, o governo terá de redobrar a atenção com os gastos de custeio, não cedendo a pressões para a concessão de aumentos de salários ou concessão de benefícios. Se cair na tentação populista, perderá a oportunidade, e dificilmente a economia brasileira encontrará outro caminho para assegurar um razoável ritmo de crescimento nesse ambiente de crise internacional, que pode perdurar ainda por vários anos.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Embate nos juros não é de fácil solução.


Editorial de hoje do GLOBO e as recentes mudanças ocorridas no Banco do Brasil e na Caixa Econômica. 

Os juros também obedecem a leis de mercado, e, no caso brasileiro, refletem uma demanda reprimida por crédito e uma oferta ainda insatisfatória. O total de crédito no país, embora tenha crescido a taxas anuais de quase 20%, não ultrapassa o equivalente à metade do Produto Interno Bruto (PIB). Nas economias mais desenvolvidas, essa percentagem chega ao dobro, e mesmo nas emergentes os índices estão mais próximos de 70%.

Uma das razões de o crédito ser caro e restrito no Brasil é que o sistema financeiro tem em seu passivo uma elevada concentração de recursos com garantia de liquidez imediata, herança dos tempos em que, para se proteger da inflação, os poupadores se habituaram às aplicações de overnight. De maneira geral, os poupadores não se sentem suficientemente seguros nas aplicações de mais longo prazo, haja vista que é relativamente recente a disseminação de fundos de previdência privada complementar, por exemplo. É um quadro que tende a mudar, pouco a pouco, à medida que o real consiga se mostrar menos vulnerável à inflação - e não sejam tomadas decisões em Brasília que gerem dúvidas sobre o futuro.

A garantia de liquidez imediata teve como lastro principal a rolagem da dívida pública. A diminuição e o alongamento desse endividamento certamente contribuirão para que os poupadores se sintam mais atraídos para aplicações de médio e longo prazos, especialmente se tiverem estímulos tributários para tal.

Enquanto essa transformação não se materialize, haverá um embate entre os bancos e os tomadores de crédito. Os juros muito elevados criaram, de fato, um ciclo vicioso. Por falta de opção, os que precisam recorrer ao crédito se arriscam a uma situação de desequilíbrio financeiro diante de qualquer eventualidade ou turbulência que afete seus rendimentos. O crédito caro embute, então, o risco de inadimplência alta. E a falta de pagamentos leva o sistema financeiro a compensar a perda com a cobrança de uma taxa média de juros salgada. Esta é uma das causas de um elevado spread no Brasil - diferença entre o que o banco paga ao investidor em seus títulos e o que cobra do tomador de empréstimo.

O embate muitas vezes resvala para disputas judiciais, que podem adiar a solução e ter um resultado imprevisível para ambos os lados. Assim, os bancos acabam cobrando menos juros em créditos nos quais se sentem mais garantidos (desconto em folha, retomada de bens e imóveis etc.) e vão ao exagero nos financiamentos sem garantia (cartões de crédito, crédito pessoal, cheque especial). São uma aberração taxas de 50% ao ano quando a inflação se encontra abaixo de 6% e a Selic aquém de 10% .

O governo parece acreditar que a quebra desse círculo vicioso ocorrerá por uma maior concorrência por parte de bancos estatais (BB e CEF). Não deveria ser muito otimista, diante da pouca mobilidade da clientela (é pequeno o número de clientes que costumam mudar de banco atraído por oferta de crédito menos caro). Então, é pouco provável que os juros recuem significativamente apenas por esse movimento, sem que outros fatores que contribuem para taxas elevadas se alterem. Os bancos, com razão, pedem menos impostos para praticar taxas mais civilizadas. O governo não gosta da reivindicação. Mas o espaço de negociação precisa ser mantido aberto, para que cheguem a pontos comuns. O Brasil não está condenado a ter juros nas nuvens por todo o sempre.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Ainda falta uma política industrial.


Editorial do Globo de hoje e o novo pacote de estimulo à indústria.  

Assim que as condições da economia mundial começaram a se degradar, na explosão da bolha imobiliária americana, em fins de 2008, a competitividade de cada país passou a ser testada a fundo. A crise americana, transmitida para a Europa pelos canais financeiros, com impactos em todos os continentes, estreitou mercados e, com isso, gerou um tal acirramento na competição global que dificuldades mascaradas na longa fase de expansão começaram a surgir. "Só quando a água baixa a gente vê quem está nadando nu" - a folclórica frase do bilionário americano Warren Buffett se aplica à perfeição ao que aconteceu no Brasil. A maré dos bons tempos vazou, e vários setores atolaram, sem conseguir competir com produtos importados - estes também ajudados pelo câmbio -, tampouco exportar.

Mais um pacote de estímulo à indústria foi desembrulhado em Brasília, para proteger o mais atingido dos setores pela maré vazante. A série de medidas, algumas bem-vindas, outras discutíveis, demonstra que nem sempre um conjunto de decisões compõe uma "política", no sentido mais profundo da palavra. Ao ampliar de quatro para 15 o número de setores beneficiados pela desoneração da folha de salários, em troca de uma taxação sobre faturamento, Brasília faz o reconhecimento implícito de que a necrose já vai longe na legislação trabalhista brasileira. Mas não consegue ir adiante para moldar uma verdadeira política com metas de curto, médio e longo prazos de redução efetiva e permanente do "custo Brasil". É provável que as corporações sindicais aliadas impeçam.

O que se passa com a indústria automobilística é exemplar. Depois de baixar o édito protecionista do aumento do IPI sobre veículos importados, Brasília tenta rever exageros, com o aceno de cotas - afinal, os grandes importadores têm fábricas no Brasil -, e acerta ao estimular investimentos em pesquisa. Mas as dificuldades do setor vão bem mais além. Estudo da PricewaterhouseCoopers, noticiado por "O Estado de S. Paulo", comparou os custos de produção de vários países e ficou evidente o porquê as montadoras, embora queiram vender no promissor mercado brasileiro, não planejam transformar o Brasil em plataforma de exportação: custos não competitivos. Enquanto o custo nacional de manufatura de veículos compactos, os escolhidos para serem montados no Brasil, é de US$ 1.400, comparável ao americano e japonês, no México ele se situa em US$$ 600, US$ 500 na Tailândia e na China, US$ 400.

Não serão medidas pontuais, muitas tomadas em função do maior acesso a Brasília de segmentos do empresariado, que alterarão este quadro. No pano de fundo desses números há uma infraestrutura precária, operários mal treinados e um sistema educacional público imerso em dificuldades conhecidas. Uma política de fato de aumento do poder de competição da indústria, ou qualquer outra atividade, fica capenga sem melhorias nestes campos.

Não é mesmo fácil executar uma política de fato de elevação de competitividade. Na solenidade em Brasília, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, no seu minuto de propaganda, disse que o Brasil estava reduzindo custos da produção sem retirar "direitos dos trabalhadores", ao contrário de outros países, e deu o azar de citar a Alemanha. Errou no exemplo. Lá, os trabalhadores, via sindicatos e o próprio Parlamento, concordaram em reduzir altos custos do "estado de bem-estar" alemão para defender o maior dos direitos: o do trabalho.

O que fazer? Gastar!


José Roberto Mendonça de Barros e Sergio Vale no Globo de hoje perguntam e respondem: O que fazer? Gastar!

Todo ano repete-se a discussão sobre o governo conseguir ou não fechar o superávit do setor público em 3,1% do PIB. Antes costumávamos duvidar da capacidade do governo em atingir tal objetivo, mas agora acreditamos 100% que o governo fará esse resultado. Como? Com a criatividade usual, que vai de jogar investimentos e custeio em restos a pagar cada vez maiores a manobrar com dividendos das estatais.

Mas essa discussão não depende apenas desses movimentos. Grande parte disso vem da expansão das receitas além do crescimento do PIB, algo que temos tido recorrentemente nos últimos anos. Em termos práticos, a cada aumento de 1% no PIB a receita real tem crescido em torno de 1,7% sistematicamente nos últimos anos. Isso se explica por vários motivos. Primeiro, nosso sistema tributário é progressivo nos impostos diretos e o aumento da classe média num ritmo maior do que o resto da economia ajuda a explicar parte do aumento de receita. Segundo, nosso sistema também tributa mais via impostos indiretos do que diretos, algo diverso do resto do mundo, mas dado que são esses setores que mais crescem na economia, como telecomunicações, combustíveis, financeiro e energia, é natural que contribua com maior arrecadação do que setores industriais tradicionais, por exemplo. Terceiro, a formalização tem aumentado ano a ano e permitindo aumento além da média tradicional do imposto de renda e outros tributos. Quarto, mesmo com perda de impostos importantes, como a CPMF, o governo achou um substituto à altura no IOF, que já tem nível de arrecadação semelhante ao finado "imposto do cheque". Como se espera que esse imposto vá aumentar pelas majorações recorrentes de alíquota, também é mais uma receita que cresce acima da média do PIB. Não podemos esquecer que o governo aproveitou o momento para trazer à discussão novamente aumentos de alíquotas de IPI de bebidas e cigarros, algo compensador das desonerações recentes.

Tudo isso fica mais evidente quando um setor como a indústria sofre mais do que o resto da economia como aconteceu em 2008/2009: a receita tributária acaba crescendo num ritmo ainda maior do que o PIB comparado com momentos sem crise. Nesses dois momentos, o governo tem optado pelo caminho mais prejudicial para o crescimento, que é aumentar os gastos num momento em que havia a oportunidade de desonerar de forma mais ousada a economia. Ou seja, mudamos de patamar de gastos, que se tornam rígidos, e não ajudam a indústria no longo prazo. Agora isso ocorre da mesma forma. A oportunidade perdida aqui não é simplesmente de se pensar num superávit primário maior do que já temos. Com 3,1% do PIB em 2016 chegamos a uma dívida líquida de 32% do PIB, um número bastante baixo sob qualquer critério. O que se perde é a possibilidade de pensar numa desoneração mais ampla e ousada que de fato significasse redução de custos para as empresas. Isso não acontece em grande parte porque o governo tem uma visão equivocada de acreditar que o câmbio é o grande vilão industrial. Algo que ficou muito claro no anúncio da nova política industrial. Além disso, acredita que parte do problema também é falta de financiamento, aportando mais recursos no BNDES.

Tudo isso apenas ajuda a distorcer mais o sistema fiscal, premiando uns em detrimento de outros, e amarrando ainda mais o financiamento de longo prazo no BNDES, um aporte que se torna um custo relevante para o Tesouro por se financiar pela Selic. Por mais relevante que seja o banco, e acreditamos que o seja, seu foco recente tem sido apoiar grandes campeões nacionais de forma pouco eficiente deixando de lado o que deveria ser um objetivo natural, que é o financiamento da inovação.

Daí a alusão no título ao fato de o governo amarrar as novas receitas com mais gastos. Mas não necessariamente gastos em si. O gasto aqui é de tempo desperdiçado ao não pensar em uma estratégia de longo prazo para a indústria. Países como Coreia do Sul e Taiwan não viram suas indústrias florescerem com políticas curto-prazistas. Ao fazer isso o governo joga fora novamente a oportunidade de estimular a indústria voltando a dar diretrizes para o setor. Um saudosismo das câmeras setoriais dos anos 80 que não nos cheira bem.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Gastar é fácil, investir nem tanto.


ROGERIO FURQUIM WERNECK é economista e professor da PUC-Rio. Escreveu este artigo para O GLOBO de hoje.
  
Em artigo publicado há quase cinco anos, o ex-ministro Antonio Palocci fez ponderações sobre entraves aos investimentos do PAC que, a cada dia, soam mais oportunas (O GLOBO, 16/9/2007). Arguiu que, no governo, o investimento costuma ser "a mais difícil das tarefas". E que, em vista das dificuldades envolvidas, não só na escolha dos projetos, como nas fases de planejamento, financiamento e execução, "os gastos correntes tendem a ganhar de goleada dos gastos com investimentos".

O que Palocci queria dizer era que, ao escolher que uso dar aos recursos fiscais adicionais propiciados, ano após ano, pelo crescimento da arrecadação, o governo vinha mostrando preferência inequívoca por aumento de dispêndio corrente. E que, mesmo quando a escolha recaía sobre o investimento, à medida que a execução dos projetos se atrasava, na esteira de incontáveis dificuldades, a sobra de recursos fiscais acabava por viabilizar expansão adicional de gastos correntes.

São ponderações que continuam a merecer atenção. Nos últimos anos, o governo não encontrou dificuldade para expandir em muito seus gastos correntes. Aumentar o investimento público, no entanto, continua sendo muito difícil. E não se trata apenas de evitar que a expansão tão fácil dos gastos correntes acabe por inviabilizar o aumento dos investimentos. Trata-se também, e principalmente, de conseguir fazer o investimento acontecer, quando o financiamento está plenamente garantido.

No ano passado, o governo não tinha qualquer intenção de conter seus gastos de investimento. Muito pelo contrário. Ainda assim, o que se constatou, afinal, foi que tais gastos permaneceram estagnados, em nível equivalente ao de 2010. Não por ter havido contingenciamento de verbas ou qualquer outra forma de restrição ao financiamento. Mas, simplesmente, porque, em ministérios infestados por esquemas de corrupção, o governo se viu obrigado a desmantelar as cadeias de comando que acionavam o investimento. E ainda não conseguiu remontá-las.

A remontagem promete ser bem mais complexa do que o governo antevia, como bem ilustram as dificuldades de reconstrução do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o emblemático Dnit. De acordo com seu novo diretor, o órgão teria de contar com o dobro dos funcionários com que agora conta, para que pudesse ter chance de desempenhar a contento o papel que dele se espera, na gestão dos programas de investimento público sob sua responsabilidade. Em vista dessas dificuldades, já há quem argua que talvez faça mais sentido reconstruir o Dnit em outras bases.

Além de corrupção escancarada, o atrofiado esforço de investimento que ainda subsiste no orçamento federal vem enfrentando os custos do problemático loteamento de cargos que vem sendo feito pelo governo, em nome de um presidencialismo de coalizão que parece já ter ido bem mais longe do que seria razoável. A mídia tem dado destaque à licença com que políticos agraciados com a gestão de determinados órgãos da administração pública interpretam os poderes de que foram investidos. Proliferam casos de gestores que se permitem concentrar a maior parte dos investimentos dos órgãos que administram em projetos de interesse exclusivo dos Estados de onde são oriundos.

A grande vantagem da presidente é que dela não se pode dizer que lhe falte reflexão prévia sobre esses problemas. Desde o primeiro mandato do presidente Lula, Dilma Rousseff está mobilizada com o desafio de assegurar que os programas de investimento público avancem conforme previsto. E foi exatamente isso que, na transição do governo anterior para o atual, assegurou tão alto grau de continuidade na gerência dos programas de investimento público. Prestes a completar sete anos de envolvimento diário com tais problemas, a presidente já não tem como alegar surpresa diante de qualquer dos desafios envolvidos na complexa gestão dos investimentos do governo. Não pode se dar ao luxo de apresentar mais um ano de desempenho medíocre nessa área.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O começo do capitalismo.


Paulo Guedes, hoje no jornal O GLOBO.

Reunidos no Fórum Econômico Mundial, financistas, políticos e intelectuais exalam pessimismo. Discutem o suposto fracasso das economias liberais e suas economias de mercado. A nova ordem global seria na verdade uma desordem. A celebração anual da era dos excessos em Davos tornou-se agora um Muro das Lamentações. Pela indigência das análises apresentadas, os ocidentais se limitam a concluir, aturdidos, evocando a Lei de Murphy original: "Se uma coisa (o "capitalismo") tem chance de dar errado, vai dar errado." Ora, as democracias e o capitalismo são instituições extraordinariamente flexíveis, que foram bombardeadas por choques colossais nas últimas duas décadas. O mergulho de 3,5 bilhões de eurasianos, deserdados pelo colapso do socialismo, nos mercados de trabalho globais. Uma revolução tecnológica agudizou as pressões da competição global. E os governos ocidentais recorreram a velhos truques para manter artificialmente o crescimento ante os novos desafios.

Os financistas anglo-saxões sabem de seus abusos, estimulados por bancos centrais que promoveram excessos com dinheiro barato e regulamentação frouxa. A obsoleta social-democracia europeia sabe também de seus excessos, sob o pretexto de promover o bem-estar social. Quando celebravam seu sucesso em Davos, exibiam suas pretensas virtudes e sabedoria. Mas, agora expostas a farra do crédito e a irresponsabilidade fiscal, financistas e políticos dissimulam hipocritamente sua contribuição à crise contemporânea. A culpa é do "capitalismo".

E o que dizer dos bem pagos intelectuais, que sempre enfeitaram com seu brilho as celebrações dessa época de excessos - designada pelos pobres economistas, para sua eterna vergonha, como "Era da Grande Moderação"? Ora, dizem todos agora que é o fim do "capitalismo". Por ressentimento com os privilégios dos financistas? Em busca de atenção e influência? Ou pelo simples cacoete ideológico de renovação das profecias do fim do "capitalismo"?

Não é só Bill Gates que diz, com uma perspectiva histórica, que o "mundo está muito melhor hoje", em entrevista a Deborah Berlinck publicada ontem no GLOBO. Os bilhões de eurasianos que saem da miséria pelo mergulho nos mercados globais em busca de inclusão social também acham isso. Pergunte particularmente aos chineses o que acham de sua inserção na ordem "capitalista". Afinal, para eles, é apenas o começo do "capitalismo".

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ano novo, velhos hábitos.


Roberto DaMatta, hoje no GLOBO e sua visão sobre o ano novo. 

Chega o Ano Novo, mas os nossos grandes problemas estão nos velhos hábitos situados naquela zona malandra centrada entre o estado (essa milionária máquina gerencial pública com suas regras opostas ao bom-senso) e a sociedade. Nós, os cidadãos comuns que não recebemos milionários auxílios-residência, não temos licença-prêmio ou atrasados a receber e nem fomos eleitos para algum cargo público com o propósito de usá-lo para virarmos nobres e, melhor que isso, ficarmos fora do alcance da lei. Nós, os comuns, não temos emprego - temos impostos e trabalho!

Entramos o Ano Novo com o Poder Judiciário em crise. Quem julga os juízes numa terra onde tudo tem lei, mas os "bandidos" (eis uma categoria cada vez mais ampla) continuam leves, livres e soltos? A Lei da Ficha Limpa foi adiada e bloqueada, o mensalão pode ser devidamente engavetado. Há, pasmem, uma lei da palmada! E o Poder Executivo faz sinal de faxina e chama falcatruas de malfeitos, enquanto a foto de Daniel, filhinho do senador ficha-suja Jader Barbalho - empossado com o ritual que aristocratiza os eleitos - fazendo o antigo sinal que nos chama de otários, é o melhor símbolo deste 2011 que findou.

Entrementes, o capitalismo vai mal. Mas a nossa economia cresce e ultrapassamos o Reino Unido. Aqui há clareza. Sabemos quem vai mal ou bem. O diabólico mercado pune os bandidos e dá um pontapé chapliniano na bunda dos hiperespeculadores. Quando não promove cadeia e uma nova consciência social nos Estados Unidos. Hoje, sabemos que o maior inimigo do capitalismo não é a classe operária, mas os gênios de Wall Street e do Silicon Valley que inventam bolhas de dinheiro fácil e superprogramas de comunicação enquanto seus usuários não têm nada pra dizer.

Mas, como compensação positiva, entramos o ano com uma intolerância maior para a bem estabelecida desigualdade dos poderosos (localizados no estado) e a igualdade devida a cada um de nós como cidadãos efetivamente republicanos. Desse aspecto, ninguém mais do que imprensa tem atuado com eficiência e equilíbrio. Pois é ela quem tem mostrado como é importante, numa sociedade igualitária, separar o que deve ter limites do mandonismo ilimitado.

Aqui, destaca-se a discussão implícita, mas em curso, do que é, de fato, servir ao governo. Não foram poucas as vezes que perguntamos aos responsáveis pela máquina pública se, afinal de contas, os mais "altos funcionários públicos" trabalham para si mesmos - como manda a ética do "corporativismo" brasileiro que, no fundo, é uma ação entre amigos com o consentimento legal do estado - ou se eles trabalham para o Brasil. Neste caso, é preciso tomar consciência que quando um sujeito vira ministro ele não tem mais vida privada quando se trata - obviamente - de consultorias e outros trabalhos que configuram conflito de interesse. Nesse ponto eu me pergunto se não precisamos de uma psicanálise coletiva.

Na entrada de um Ano Novo, vale uma pausa para pensar se vamos continuar assistindo à riqueza de todos ser desperdiçada ou seguir para o bolso de nossa aristocracia governamental e dos seus apaniguados. Esses "altos funcionários" que tudo sabem, tudo decidem e - aí está a chave no negócio - tomam um copo de vinho com quem comanda essa incrível máquina de produzir dinheiro sem aparentemente dar prejuízos a ninguém porque é um aparelho isento de responsabilidade. Máquina montada por uma elite escravista que realizou uma brutal internalização do seu espírito hierárquico e patrimonialista em todo o sistema. Esse espírito que até hoje nos isenta de culpa pelo que somos e pelo enorme descaso relativamente aos nossos próximos desiguais.

A igualdade cívica é um ideal. E, no entanto, a desigualdade é, no Brasil, não apenas um fato histórico capital, mas é também - apesar de alguns esforços - um valor. Temos altos funcionários e representantes do povo que são intocáveis. Suspenda-se por um momento a norma da hierarquia, instituindo uma corregedoria atuante em nível nacional, e temos uma crise no Judiciário que decorre da igualdade. Onde há igualdade, há conflito e, como consequência, ausência de bom-senso na sua resolução. O "engavetamento" e a "prescrição", esses gêmeos do nosso DNA legalístico forjado em Coimbra, conforme aprendi com José Murilo de Carvalho, são o modo (ou o "jeitinho") de mostrar quem fala mais alto.

Em 2011 voltamos a ser atrapalhados não apenas pela economia, onde perdas e danos sempre existem e são - eis o ponto - relativamente impessoais, mas pelo estado. Um estado que continua personalizado e aristocratizante, insensível à racionalidade num mundo claramente preocupado com a suficiência e com a sustentabilidade.

Registro, com um pesar indizível, a morte de Daniel Piza, que lia e admirava. Envio a todos os seus próximos um meu abraço solidário. Ninguém deve morrer aos 41 anos. Mas assim corre o mundo e agora cabe a cada um de nós honrar a sua busca, o seu amor aos livros, a sua inteligência e a sua honestidade.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Faltam deveres de casa para o Brasil.


Realista editorial do O GLOBO de hoje sobre a 6ª maior economia do mundo e a 73ª em IDH. Realmente Mantega, vamos ultrapassar os vinte anos... 

Não é desprezível o PIB brasileiro ter ultrapassado o da Inglaterra, com US$2,51 trilhões, e o país ser agora a sexta maior economia do mundo. Mas, antes que bravatas nacionalistas prejudiquem a percepção da realidade, cabe relativizar o feito, sem reduzi-lo de importância. Bem fez o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao lembrar que, para o brasileiro atingir o padrão de vida inglês, serão necessárias mais uma ou duas décadas de crescimento contínuo. Pois, se a renda per capita brasileira é de US$12.916, a inglesa está em quase US$40 mil. Algo semelhante acontece com a China, segunda potência econômica mundial, mas com uma renda per capita de US$5.183, menos que a metade da brasileira.

O PIB - o valor de tudo o que é produzido num país - é um indicador relevante, mas apenas um indicador. Para se ter uma ideia abrangente de um país, é necessário reunir uma série de dados. Mais ainda quando se trata do Brasil, terra de grandes disparidades - regionais, de renda, sociais, etc. Há vários outros índices que mostram como o Brasil ainda precisa avançar. Um deles é o do Desenvolvimento Humano (IDH), bem mais abrangente que o PIB. É sugestivo que a sexta economia tenha apenas o 73º IDH.

A trajetória cumprida pela sociedade depois da redemocratização, em 1985, lançou as bases para o país chegar ao ponto atual. Em 1994, com o Plano Real, veio a estabilização da economia, sem a qual nada seria possível. De 2003 a 2010, Lula resistiu à tentação de "mudar tudo isso que está aí", manteve os conceitos básicos da política econômica anterior e conseguiu combater a miséria - seria impossível se a inflação voltasse. Atingido o patamar de sexta "potência", o Brasil tem de se lançar sobre uma agenda da qual tenta escapar nos últimos nove anos. Para repetir em outros índices o crescimento do PIB, com inclusão social, terá de fazer reformas como a da Previdência. Ela é vital a fim de impedir um futuro europeu para aposentados e pensionistas brasileiros, e ainda abrir espaço nas contas públicas com o objetivo de se ampliar os gastos em educação, chave para o crescimento ter sustentabilidade. E se também aperfeiçoar a arcaica legislação trabalhista, o país ampliará ainda mais a formalização no mercado de trabalho, fonte de financiamento do próprio sistema previdenciário.

Também com o mesmo objetivo de mudar a composição dos gastos públicos, Brasília precisará abrir de fato portas de saída para beneficiários do grande sistema assistencialista montado nos últimos 16 anos. Ele só terá êxito quando liberar pessoas para o mercado de trabalho.

Gastos públicos proporcionalmente menores - um estado do tamanho de 40% do PIB precisa ser menos pantagruélico -, permitirão, ainda, o aumento da taxa de poupança, hoje na faixa dos 20% do PIB, cinco pontos aquém do necessário para a economia se manter em crescimento sem sustos.

Ministra de Lula, Dilma Rousseff viveu parte dessa história por dentro. Deve saber que seria ruinoso repetir a falácia da ditadura militar de tentar crescer com inflação. Depois do Plano Real, o Brasil precisa de novo salto: crescimento equilibrado, juros "normais", com um sistema educacional de bom padrão, infraestrutura ampliada e modernizada, para o que será necessária uma maior participação privada no setor e, portanto, menos preconceito ideológico em Brasília. É a missão da atual geração de dirigentes brasileiros.

domingo, 9 de outubro de 2011

O fim da ilusão dos Brics.

MARCELO COUTINHO, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Iuperj, escreveU este artigo especialmente para O GLOBO.

Em 1499, Américo Vespúcio passou próximo à costa norte da América do Sul, a caminho das Índias Ocidentais, como então era chamado o continente americano. Só anos depois, quando o navegador florentino regressava de uma viagem ao Brasil, concluiu que não podíamos ser um prolongamento da Ásia. 

Mesmo após tal descoberta, o termo Índias Ocidentais continuou a ser utilizado pela Companhia Holandesa, entre outras. Responsável pela ocupação do Nordeste brasileiro no século XVII, essa empresa desenvolveu uma organização mais capitalista no comércio internacional, cuja origem antiga remonta às redes fenícias de cidades mercantes, centenas de anos antes de Cristo.

Os Países Baixos apenas iniciariam a transição do mercantilismo para os mercados modernos. Estes se globalizaram, se desglobalizaram e se globalizaram novamente. Mas nunca estiveram tão perto de ver a Ásia predominar. Estamos entrando na Era do Dragão. E talvez em um neomercantilismo.

Países como China e Índia se distanciaram muito daquelas antigas fontes de bens primários e bugingangas. A Chíndia exporta também em massa produtos e serviços de alta qualidade. Não há nenhum outro país ou região comparável. O acrônimo Bric equivale à confusão criada com as Índias Ocidentais na geografia comercial.

O Brasil voltou a ser confundido com a Ásia. Ninguém acredita que somos a costa oriental do Sudeste Asiático como na época de Vespúcio, mas de alguma forma nos igualamos a partir de uma invenção do sistema financeiro. Sonhamos em ser um dos grandes emergentes que dominarão a economia no mundo. É o nosso excepcionalismo.

Quanto mais cedo despertarmos, melhor. Em comum com a Chíndia, o Brasil tem apenas o tamanho. Nos últimos três anos, crescemos em média 1/3 do que cresceram as potências orientais. Por outro lado, quando o Ocidente entrou em recessão em 2008, acompanhamos a queda, ainda que numa intensidade menor (-0,6%). O mesmo ambiente de forte desaceleração parece acontecer agora no fim de 2011.

Em matéria de dinamismo econômico, o Brasil é um país dividido. Seus setores industriais mais avançados seguem padrões ocidentais de derretimento. Já os setores tradicionais ligados às commodities ancoram-se na demanda do Oriente. O resultado é um crescimento intermediário entre os dois grupos, porém mais próximo dos baixos níveis dos países já desenvolvidos.

A pauta do que exportamos se concentra nos itens básicos. Somos menos diversificados do que éramos há dez anos. A substituição dos EUA pela China não trouxe vantagens. A indústria nacional desenvolveu dependência estrutural das importações, de modo que mudanças abruptas no câmbio não ajudam, mesmo quanto ocorre desvalorização.

O peso do Brasil no comércio é residual e vem caindo. O Brasil responde por 1% do fluxo comercial global, ou seja, bem menos do que há 50 anos, e um décimo hoje da Chíndia, com seus 2,5 bilhões de pessoas. Por sua vez, a importância brasileira no PIB do mundo em PPP representará em 2011 só 1/6 da participação chinesa e 40% da indiana. O mero ranqueamento que nos coloca entre as maiores economias gera, como se percebe, falsas impressões.

Se o critério utilizado para o acrônimo da Goldman Sachs é político, a situação fica ainda mais complicada. China e Índia têm armas nucleares, a primeira é autoritária e a segunda tem indicadores sociais piores que os do Maranhão. A China não apoia nosso assento fixo na ONU. A Índia encontrou sozinha aprovação dos EUA. As visões na OMC tampouco coincidem. Isso tudo sem falar da Rússia.

O fim da ilusão chamada Bric não deve estimular, todavia, comportamentos orientalófobos. O novo protecionismo pune os consumidores sem gerar compensações à altura em empregos locais. Mal ou bem, os asiáticos são agora atores imprescindíveis. Constatar que não somos a extensão deles é o início para nos inserirmos conscientes das novas rotas do comércio, da nossa menor importância relativa e dos desequilíbrios na condição de global players. Não somos China nem Índia ocidentais.

domingo, 2 de outubro de 2011

Até quando teremos floresta no Pará?


Esta matéria do O GLOBO eu li no blog do Reinaldo Azevedo. Ele conclui que "enquanto o debate sobre o novo Código Florestal sataniza os ditos “ruralistas”, ficamos sabendo que um dos principais agentes do desmatamento no Pará é o governo e sua política de distribuição de terras."
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Metade da população rural do Pará vive em áreas de reforma agrária
Por João Sorima Neto:
O Pará já tem uma “metrópole” vivendo em assentamentos. Dos 7,5 milhões de habitantes do estado, cerca de 1,3 milhão mora em áreas que foram destinadas à reforma agrária, segundo dados do Incra. Isso significa que os assentados correspondem a 17% da população total e à metade da população rural do estado. Pelo IBGE, uma cidade é considerada metrópole quando o número de seus habitantes ultrapassa um milhão. É como se toda a população de São Luís ou de Goiânia morasse em assentamentos. No Pará, para piorar, essa “metrópole” se expande e avança sobre áreas da Floresta Amazônica que deveriam ser preservadas. “O número é extremamente preocupante. Hoje, não há fiscalização eficaz em todos esses assentamentos, e muitos são irregulares. O desmate avança sem controle”, diz Paulo Amaral, pesquisador da Oscip Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Os números confirmam a preocupação. Levantamento do Imazon mostrou que, em agosto deste ano, o Pará foi o estado que mais desmatou na Amazônia. Foram 119 quilômetros quadrados de vegetação derrubada no estado, metade da área devastada na Amazônia Legal no período. A derrubada de árvores ocorre também nos assentamentos. No Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna, sudeste do Pará, o Ibama descobriu recentemente 340 hectares de floresta que viraram pasto. Os fiscais do Ibama viram que as 200 famílias assentadas no início do projeto, em 1997, hoje são 400. “O número de famílias aumentou, seja porque muita gente invadiu o assentamento ou adquiriu terra ilegalmente. E a maioria não vive do agroextrativismo, do uso sustentável da floresta, mas da exploração ilegal de madeira e carvão, além da criação de gado”, diz Marco Vidal, coordenador da operação do Ibama em Nova Ipixuna.
Num dos lotes, o “proprietário” derrubou a mata até a margem de um rio para o gado pastar. Não respeitou sequer a área de preservação legal na beira de rios, para evitar assoreamento. A madeira cortada era para fazer carvão. Apesar de ocupar a terra, o agricultor nem morava ali. Ele disse aos fiscais do Ibama que comprou parte do lote de um assentado em agosto de 2010, por R$ 5 mil, em transação não reconhecida pelo Incra. Esse padrão, segundo o Imazon, repete-se em outros assentamentos do Pará: a madeira vira carvão; a floresta, pasto; o assentado arrenda ou vende a terra a madeireiros e agricultores.
Nos últimos três anos, 2,7 mil hectares de floresta viraram pasto no Praialta-Piranheira, segundo levantamento do Ibama de Marabá. Foi numa estrada para esse assentamento que o casal de extrativistas José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo morreu numa emboscada em maio. “Mesmo sendo o único assentamento agroextrativista do sudeste do Pará, o Praialta-Piranheira repete o mesmo padrão de toda a Amazônia paraense. Perde-se floresta para a pecuária”, diz Vidal.
Semana retrasada, no oeste do Pará, servidores do Incra pediram proteção à Polícia Federal. Eles foram ameaçados por madeireiros e grileiros que intimidam agricultores e assentados da região. Nessa área, está o Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança, idealizado pela missionária Dorothy Stang, que foi assassinada. O local é constantemente invadido para retirada ilegal de madeira, e moradores ligados aos madeireiros fazem protestos contra a ação do Ibama. “Esse modelo de assentamentos em terras da União não tem referência de sucesso”,  diz Carlos Lamarão, presidente do Instituto de Terras do Pará (Interpa), órgão do governo do estado que também faz doação de terras e já assentou 9.102 famílias no estado.
Estudo do Imazon mostrou que os assentamentos foram responsáveis por pelo menos 15% do desmatamento da Amazônia até 2004. No sul do Pará, onde há atualmente 500 assentamentos, o percentual de devastação da floresta sobe para 50% nesse período. A região, que engloba as cidades de Marabá, São Félix do Xingu, Santana do Araguaia e Tucuruí, tem sido um dos principais eixos de ocupação da Amazônia. A pressão por terras e recursos naturais ali é enorme. O resultado é que novos assentamentos têm sido criados em áreas de floresta nativa, e o desmatamento avança a uma taxa de 3% ao ano, diz o Imazon.
No oeste do estado, a Justiça Federal interditou 99 assentamentos criados pelo Incra, desde 2005, por irregularidades no licenciamento ambiental. Com a decisão, as famílias assentadas não podem receber recursos públicos para legalizar os lotes. Para o juiz Francisco de Assis Garcês Castro, o licenciamento em terras da União deve ser feito pelo Ibama, e não pela Secretaria estadual do Meio Ambiente, como ocorria. Segundo o Ministério Público Federal, que fez a denúncia, a regularização desses assentamentos atende a interesses dos madeireiros: a aprovação de planos de manejo para retirar madeira desses locais é mais simples.
O Incra está colocando à disposição dos trabalhadores rurais vastas porções de terras da Amazônia e sua cobiçada biodiversidade, sem verificar os efeitos que podem ser gerados no meio ambiente”, escreveu o juiz ao conceder a liminar.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Chico, a referência.

Do sempre bem informado Ancelmo Gois, mas neste caso acredito que não seja tese e sim dissertação. Porém, vale a leitura da nota. 


Um economista de prestígio descobriu uma curiosidade ao ler a tese de Dilma Rousseff, de 1997, sobre "Política monetária e sistema financeiro: a elevação das taxas de juros e a concentração bancária".
A única pessoa da academia citada é Francisco Lopes, professor da PUC e, à época, diretor de Política Monetária do BC.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Barulho em excesso,

Leio no GLOBO uma entrevista com o especialista em câmbio e sócio da Tendências Consultoria, Nathan Blanche. Ele diz que as medidas anunciadas no câmbio não mudam a trajetória do real. Ele teme a insegurança gerada pela intervenção e diz que especuladores são minoria nos mercados futuros.

Qual a avaliação do senhor sobre as medidas no câmbio?

NATHAN BLANCHE: Houve muito barulho e pouca eficiência. O governo tenta mais uma vez que controlar algo que é incontrolável. Por trás da queda do dólar, existe uma realidade de crise em mercados relevantes, com o americano e europeu, onde as moedas estão desvalorizadas. E a economia brasileira precisa da poupança externa para financiar seu forte crescimento, o que implica nesse fluxo de entrada de capitais. Eu não vejo como o Banco Central e o Ministério da Fazenda podem evitar a queda do dólar sem provocar um grande desastre, uma intervenção irresponsável, que levaria a uma quebra no crédito ao Brasil. E, nesse caso, o câmbio subiria para algo como R$3, R$4.

Mas o governo defende que a medida é para conter especuladores...

BLANCHE: Eu tenho um ditado que diz que quem chama os agentes dos mercados de derivativos e futuros de especuladores é porque não tem nenhuma noção da importância da segurança que esse mercado oferece. Pode ser o mercado de banana, laranja, café ou dólar. Tem, é verdade, sempre alguém que especula sobre os preços para ganhar dinheiro. Mas esse especulador é uma minoria. A maior parte dos agentes é responsável e quer apenas garantir a segurança de sua operação de crédito, de financiamento.

O Conselho Monetário Nacional passa a poder mexer nas regras de derivativos. Preocupa?

BLANCHE: É o que me deixa apreensivo. A legislação do mercado cambial brasileiro tem fragilidades que permitem esse tipo de intervenção do governo. Houve uma consolidação do regime de câmbio flutuante dos anos 90 para cá, mas em termos de lei ainda causa insegurança. Mas nada de muito dramático aconteceu até agora e o mercado tem encontrado caminhos para trazer dólares.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Evitar o calote: uma tarefa sobre-humana.

O eventual calote americano poderia, segundo especialistas, levar o mundo a uma das piores crises econômicas da História. E o Brasil não passaria incólume. Este seria o pior cenário, em que a disputa política dos Estados Unidos chegaria a um impasse extremo, a ponto de paralisar a maior economia do globo. O cenário catastrófico, contudo, não é considerado o mais provável pelos economistas. Mas, mesmo que o acordo para elevar o teto da dívida americana saia dentro do prazo - até 2 de agosto - ou com pouco atraso, haverá consequências econômicas. Países, empresas, investidores e trabalhadores terão de uma maneira ou outra, que conviver com maior instabilidade e incertezas. O dólar deve seguir sua trajetória de desvalorização, o que tende a influenciar a economia global que ainda não se recuperou totalmente da forte crise de 2008.

O impacto mundial de uma moratória seria turbinado pelo delicado momento que atravessam as outras economias desenvolvidas, como a crise de confiança e do endividamento na Europa e os problemas vividos pelo Japão pós-terremoto e tsunami. Até mesmo incertezas sobre a China complicam o cenário, pois o país asiático pode estar superaquecido e ter que frear seu crescimento. Assim, a briga pré-eleitoral nos EUA terá uma proporção maior que o imaginado em épocas de bonança.

- O que está em jogo é uma questão de princípios. Com a discussão da possibilidade do calote americano, se coloca em dúvida um modelo de sociedade de mercado, de respeito aos direitos adquiridos. Só essa discussão já gera efeitos negativos, embora eu não acredite que os EUA darão esse péssimo exemplo de irresponsabilidade institucional - diz Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da FGV.

Essa visão é compartilhada pelos demais economistas ouvidos pelo GLOBO, que traçaram expectativas sobre os efeitos de um calote. Além de Langoni, foram entrevistados Luís Afonso de Lima, da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet); José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB); André Perfeito, da Gradual Investimentos; e Raphael Martello, da Tendências Consultoria:

DÓLAR: O derretimento da cotação da moeda americana em relação a outras divisas tende a continuar. As que mais devem se valorizar são as moedas dos países em desenvolvimento e que crescem com mais força: é o caso do real. Mesmo que haja um acordo de última hora entre Casa Branca e Congresso, investidores devem fugir do dólar. "Investir em dólar seria o mesmo que, em uma casa pegando fogo, tentar fugir correndo para a lareira", diz Lima, da Sobeet. Mas isso não deve tirar a hegemonia da moeda americana. E pode favorecer as exportações americanas, pois seus produtos ficariam relativamente mais baratos e competitivos.

FLUXO DE CAPITAIS NO MUNDO: Países emergentes devem continuar recebendo uma enxurrada de recursos, o que continuará enquanto houver um forte descompasso entre o crescimento dos emergentes e a estagnação das nações ricas.

JUROS NOS EUA: Com a desvalorização do dólar e o eventual rebaixamento dos títulos americanos, a tendência é de alta dos juros no país a médio prazo, para que os EUA consigam atrair investidores e continuem se financiando. Isso pode segurar um pouco a desvalorização do dólar mais adiante.

JUROS NO BRASIL: O Banco Central brasileiro, preocupado com a inflação interna, não deve, no curto prazo, mudar a trajetória da política monetária, a não ser que o calote mergulhe os EUA numa severa recessão.

BANCOS AMERICANOS: Os economistas não enxergam problemas imediatos, como uma corrida aos bancos. O impacto só surgiria se o calote fosse prolongado, se os bancos acumulassem prejuízos. Haveria restrição ao crédito, o que ampliaria a crise, repetindo, de certa forma, o ano de 2008.

TÍTULOS DA DÍVIDA AMERICANA: Devem perder valor e terão de pagar mais juros. Mas não deve haver uma debandada geral por um motivo simples: não há uma clara alternativa a essa aplicação. Mas as agências de risco devem rebaixar a nota americana. China e Brasil estão entre os maiores detentores desses papéis.

INFLAÇÃO: Alguns acreditam que uma retração mundial pode contribuir para reduzir os preços globais, se a moratória se prolongar demais. Para sobreviver, as empresas disputariam consumidores e cortariam preços. Outros apostam no contrário, em uma valorização das commodities, como petróleo e grãos.

OURO: Vai se valorizar ainda mais. Desde janeiro de 2008, a cotação do metal - que pode se tornar o único porto seguro da economia global - já subiu mais de 90%. Com a aversão a riscos e ao dólar, deve aumentar a procura pelo ouro. Os EUA não sofreriam tanto, pois detêm a maior reserva mundial do minério.

PETRÓLEO E OUTROS PRODUTOS BÁSICOS: Uma eventual recessão americana provocada pelo calote pode reduzir o consumo e a pressão nos preços de alguns produtos básicos. Entretanto, o impacto disso pode ser minimizado, dependendo do comportamento da China e da Índia, que continuam com apetite de consumir. China - maior exportadora aos EUA - e Brasil poderiam sofrer no futuro por vender menos aos EUA, em crise.

ECONOMIA AMERICANA: A fraqueza dos EUA já foi sentida nos dados econômicos do primeiro semestre. Com o calote, a briga política e a proximidade das presidenciais de 2012, isso tende a se agravar e o país pode mergulhar em nova recessão.

ECONOMIA GLOBAL: Quando os EUA vão mal, o mundo vai mal. Quando isso se soma a um momento ruim também na Europa e no Japão, a situação piora. Nessa crise, os países emergentes podem continuar atraindo investimentos financeiros e produtivos, mas os EUA à frente de uma recessão global não seria bom para ninguém.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Derrubar a inflação exige determinação .

Hoje no O GLOBO a análise bem elaborada sobre o aumento na taxa de juros.

Como já era esperado pela maioria dos especialistas, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, mais uma vez por unanimidade, elevar em 0,25 ponto percentual as taxas básicas de juros, que agora estão no patamar de 12,5%. É o quinto aumento consecutivo.

Não é nada honroso para o país ser obrigado a adotar taxas tão altas para controlar internamente seus preços. Em uma conjuntura internacional marcada por políticas monetárias expansionistas, a economia brasileira pode até parecer uma estranha no ninho. Porém, mais nefasto e desonroso ainda seria o Brasil se vir novamente empurrado para o terreno pantanoso da inflação descontrolada. O período de maio a setembro tem sido caracterizado por pequenas variações nos índices de preços. Mas, nos demais meses, a inflação vem reaparecendo muito forte, alimentada por fatores como reajustes salariais expressivos, aceleração de gastos governamentais, indexação automática de tarifas e preços públicos, anuidades escolares, tributos, festas de fim de ano, entressafras, etc.

Nesse ambiente que favorece uma trajetória ascendente da inflação só é possível desarmá-la com políticas que esfriem a demanda no curto prazo e estimulem a expansão da oferta (via investimentos) no médio prazo.

A taxa de juros alta funciona como uma ducha fria sobre a demanda, pois encarece uma das suas principais alavancas, que é o crédito ao consumidor. Mas também pode inibir investimentos.

Desse modo, para se evitar uma dosagem de juros que provoque outros efeitos não desejáveis, as autoridades monetárias não podem agir sozinhas no combate à inflação. Essa ação precisa ser coordenada com as demais políticas governamentais. O setor público, por seu tamanho, é um poderoso agente econômico. Por meio de gastos correntes e investimentos, pode causar forte impacto sobre a demanda de bens e serviços.

Ora, se um dos objetivos da política econômica no momento é esfriar a demanda interna, e se já se admite que talvez os juros básicos atingiram ou estejam próximos de um patamar ainda suportável, seria mais do que razoável que o governo fosse mais rigoroso na contenção de seus gastos correntes. Os cortes anunciados no orçamento se mostram insuficientes, caso contrário o Banco Central não seria obrigado a continuar elevando os juros. Sintomático que o aumento da arrecadação continue a contribuir além do desejável para o superávit primário, em vez de cortes efetivos.

O risco de não se agir a tempo é de a inflação ficar acima do centro (4,5%) da meta oficial não só em 2011, mas também em 2012, postergando-se o objetivo para 2013, hipótese já presente nas discussões. Renova-se o perigo do enrijecimento dos malfadados mecanismos de indexação.

A inflação não é um mal com que se possa ir convivendo. O ambiente da economia internacional está conturbado pela situação financeira crítica de alguns países da Europa e pela dificuldade de recuperação dos Estados Unidos. O Brasil deve se precaver, buscando um ritmo de crescimento que favoreça investimentos, mas não abra espaço para a inflação. Não é um equilíbrio fácil e capaz de ser obtido sem determinação política. Antes da próxima reunião do Copom, no fim de agosto, essa determinação deveria estar mais clara.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

USA: OS MELHORES MBAs.

No GLOBO de hoje, Conheça as instituições de ensino que os executivos americanos escolhem para cursar um MBA:

Cerca de 42 executivos de grandes empresas que fazem parte do ranking "Top 100 CEOs", da revista Fortune, contam com um MBA ou mestrado em finanças ou economia em seus currículos. Mas quais são as escolas de negócios mais populares entre esse grupo? Liderando a lista está a Harvard Business School, seguida pela Columbia Business School, como mostra reportagem publicada no site da revista. Abaixo listamos as instituições de ensino eleitas pelos principais executivos dos Estados Unidos:

1) Harvard Business School- A HBS confirma sua boa reputação com oito dos executivos que fazem parte do ranking, mais do que qualquer outra escola de negócios. Juntos, o time emprega mais de um milhão de pessoas e administra empresas que movimentam cerca de US$ 550 bilhões, como General Electric e J.P. Morgan Chase.

2) Columbia Business School- A Columbia tem apenas quatro executivos do ranking da Fortune, metade do que contabiliza Harvard, mas o número é forte o suficiente para classificá-la em segundo lugar. Não é nenhuma surpresa que três dos quatro CEOs comandem instituições financeiras, já que a escola de negócios tem a reputação de ser uma potência em finanças e um caminho direto para Wall Street.

3) Northwestern Kellogg School of Management -Ocupando a terceira posição, a Kellogg conta com três executivos (de empresas como Target, DuPont e Allstate), empatando com a Johnson Cornell School.

4) Johnson Cornell School - A Cornell também tem três CEOs pesos-pesados do ranking da Fortune. O trio compõe os quadros das seguintes organizações: Kraft Foods, Aetna e Sprint Nextel.

5) Stanford Graduate School of Business -Surpreendentemente, os dois executivos do ranking que cursaram MBAs em Stanford (um da Abbott Laboratories e outro da Time Warner) têm pouco a ver com negócios ligados à área de tecnologia do Vale do Silício.

6) Universidade de Chicago (Booth School) -- A Booth pode comemorar o fato de ter tido como aluno o CEO da terceira empresa do ranking das 100 maiores organizações: John Watson, da Chevron.

7) Universidade do Texas (McCombs School) - A instituição conta com um aluno que está no comando da quarta colocada do ranking da Fortune: James Mulva, da ConocoPhillips.

8) Drexel Univ. LeBow College of Business - Com sede na Filadélfia, a universidade superou sua rival, Wharton, por ter como aluno Michael Williams, CEO da Fannie Mae, quinta colocada na lista.

9) MIT Sloan School of Management -A Sloan tem apenas um executivo presente no ranking da Fortune: Alan Mulally, da Ford.

10) MBAs de ''segunda divisão'' - Embora ajude muito ter um MBA de uma escola de negócio altamente classificada, há um bom número de CEOs na lista que tiraram proveito de seus graus em escolas de segunda linha. Entre eles estão: Ivan Seidenberg (Verizon), que obteve seu MBA pela Pace University, de Nova York; Randall Stephenson (AT&T), que cursou MBA na Universidade de Oklahoma; Michael Fannie Mae (Williams), que cursou a Drexel, na Filadélfia; e John Hammergren (McKesson), que obteve seu MBA na Xavier University, em Cincinnati.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

'O falso rigor esconde a falta de rigor'

Trechos da entrevista concedida por José Serra a Sílvia Amorim e publicada, hoje, em O Globo

Qual a sua avaliação sobre a postura do governo Dilma nesse primeiro teste da presidente no Congresso?

Lamentável. Está à vista de todos: oferece cargos, loteia o governo, promove a troca de favores não republicanos em troca da submissão de parlamentares. O valor do mínimo está sendo usado para o governo evidenciar ao mercado um rigor fiscal que ele absolutamente não tem. O falso rigor esconde a falta de rigor. Por que não começam pelos cortes de cargos comissionados ou dos subsídios, como os que são entregues ao BNDES?

São uns 3% do PIB, R$ 110 bilhões. O governo está inflando despesas de maneira enganosa ou vai falir o país em um ano. Dou um exemplo: as despesas de custeio foram de R$ 282 bilhões em 2010. O orçamento deste ano diz que o governo vai gastar R$ 404 bilhões: um aumento de 43%. Os restos a pagar do governo Lula se elevam só neste ano a R$ 129 bilhões. Quer apostar como vão cancelar muitos dos projetos, depois de servirem como instrumento para atrair votos na campanha?

O senhor tem usado bastante o Twitter para criticar e cobrar ações do governo Dilma. O que destacaria deste início de governo?

O destaque é o estelionato eleitoral. Há quatro meses falavam em investir num monte de coisas, milhões de casas, milhões de creches, de quadras esportivas, de estradas, de ferrovias. A realidade é que está tudo parado, a herança maldita deixada por Lula é gigantesca em razão do descontrole dos gastos, dos maiores juros do mundo, da desindustrialização.

A montagem do governo foi um festival de barganhas e, antes de terminar o segundo mês, ainda tivemos o bloqueio a um salário mínimo melhor, o escândalo de Furnas e a não apuração dos escândalos da Casa Civil. Não é à toa que a presidente fala pouco e nunca de improviso. O atual governo optou por fingir que nada disso é com ele.

As suas recentes aparições em público têm sido interpretadas como uma demonstração de interesse pela presidência nacional do PSDB. O senhor está disposto a disputar o cargo?

Depois da eleição, eu me recolhi, tive e tenho um período de maior reflexão. Eu estou voltando aos poucos. Não tenho me movimentado nem aparecido tanto assim. Mas vou voltar a trabalhar e ao ativismo político. Não é emprego, não é cargo. Meu objetivo é debater o Brasil. Eu já fui presidente do PSDB entre 2003 e 2004. Em nenhum momento, a ninguém, expressei o desejo de voltar à presidência do partido. Não acho que seja uma questão tão importante agora. Há muita fofoca, diz-que-diz-que, presunções. Em todo caso, dentro do partido são muito poucos os que desejariam trazer 2014 para 2011. Além de surrealista, isso nos tiraria o foco, enfraqueceria a oposição.

Um de seus principais aliados, o senador Aloysio Nunes Ferreira já disse publicamente que "Serra deve estar presente na direção do partido". Isso não é um sinal de que há uma tentativa de viabilizá-lo?

Posso garantir que não há nenhum movimento. A afirmação do Aloysio deve ter sido feita em resposta a alguma pergunta específica e tirada de contexto. Mas me parece óbvia: por que o PSDB iria excluir de seu quadro dirigente uma pessoa que teve o voto de 44 milhões de brasileiros? Por que excluiria um de seus fundadores? Por que excluiria um quadro que já foi deputado, líder, senador, ministro duas vezes, prefeito da maior cidade e governador do estado mais populoso?

O senhor cogita criar um novo partido?

Isso é uma calúnia anônima, sem pé nem cabeça.

O seu nome também tem sido lembrado para a eleição de 2012 à Prefeitura de São Paulo. O senhor estuda essa possibilidade?

Já disse e repito: não vou disputar eleição em 2012. Quem está trabalhando com essa hipótese está perdendo tempo.

Em 2010, o senhor foi considerado o candidato natural do partido à Presidência da República. O senador Aécio Neves é o candidato natural do PSDB para 2014?

Não sei como aferir se uma candidatura é natural ou não. Quando só há um candidato, a candidatura não é natural, é única, como aconteceu com o Covas (Mário Covas) em 1989 e com o Fernando Henrique em 1994 e 1998. Em 2002, muita gente achava que eu era o candidato natural. No entanto, quando a eleição se aproximou, pelo menos dois qualificados companheiros também se apresentaram. O que eu acho é que 2014 ainda está muito longe, e há muitas variáveis ainda imprevisíveis. Seria perda de tempo ficar especulando sobre o assunto.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...