terça-feira, 31 de maio de 2011
O humor de Luiz Carlos Mendonça de Barros.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS realmente aponta na direção correta. Neste final de maio/2011, vale parar tudo para fazer a leitura completa deste seu post publicado no sítio http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/blog-do-mendonca-de-barros/. E o que é pior: sua análise realmente sinaliza para um cenário de juros altos e dólar valorizado. Vamos aguardar um pouco e confirmar suas "previsões"? Boa leitura!
A próxima semana será marcada por uma serie de greves no serviço publico em São Paulo, segundo informações que circulam na imprensa. Outras certamente se seguirão - inclusive no setor privado - envolvendo outras regiões do Brasil e motivadas por campanhas de “lutas” dos sindicatos buscando negociações salariais previstas para os próximos meses. Certamente a palavra de ordem será a “ recuperação das perdas reais dos ultimos meses”.
Nada de especial dirão muitos e com certa razão: estes momentos fazem parte da dinamica de uma democracia como a nossa, principalmente porque a inflação acelerou-se nos ultimos 12 meses, sangrando o valor real dos salarios e reduzindo o poder aquisitivo dos trabalhadores.
Mas as condições deste ano são especiais por algumas razões que gostaria de trazer á atenção dos leitores deste Blog. A primeira delas – e certamente a mais importante – deriva da conjugação de uma demanda por bens e serviços muito excitada e uma escassez forte de mão de obra em setores importantes da economia. Esta combinação – nos mostra a historia– pode ser perversa em momentos em que os mercados ainda digerem um choque de preços provocado pelo aumento das cotações de produtos primarios nos mercados internacionais. As empresas vão ter muita dificuldades para enfrentar greves e paralizações do trabalho com os compromissos já contratados com seus clientes e as necessidades – inclusive legais – de atende-los.
Ora, os Sindicatos e Centrais Sindicais sabem disto e vão pressionar de forma agressiva os patrões para aceitarem suas reivindicações. Estas certamente vão ter como referencia o aumento já aprovado pelo Congresso de mais de 13% para o salario minimo. Já temos informações pontuais de empresas privadas que estão sendo pressionadas para aceitar esta metrica em suas negociações…
Mas a correção de salarios que se desenha para os proximos meses tem outro efeito macro economico importante no momento que vivemos hoje. Na pratica, se isto acontecer na intensidade que temo vai ocorrer, vamos ter a recomposição pelo pico da massa de salários que, nos ultimos meses, vem sendo corroída pela inflação. Para uma economia que já está aquecida demais em função de numerosos gargalos estruturais que existem hoje, este choque positivo de renda vai provocar uma nova onda de pressões sobre a inflação. As empresas não terão outra saida senão repassar os aumentos salariais para seus preços … Não é demais lembrar ao leitor que os gastos com mão de obra são um dos mais importantes itens na estrutura de custos de uma empresa no Brasil.
Esta situação será particularmente perversa para a industria brasileira que é obrigada a competir no exterior ou sofre o impacto de importações em paises em que este choque de salarios não vai ocorrer. Como o real não vai se desvalorizar por causa destes aumentos salariais – alguem tem alguma duvida sobre isto? – teremos um aumento em dolares igual ao crescimento nominal dos salarios.
Se eu estiver certo nestas previsões – e temo que esteja – vamos ter um nova piora no cenarios da inflação e um novo choque negativo na competitividade da industria brasileira nos proximos meses.
Nestas condições o Banco Central do Brasil não terá outro caminho – se mantiver sua decisão de buscar o centro da meta em 2012 – a seguir senão continuar a aumentar os juros SELIC e/ou apertar mais as restrições ao crescimento do credito ao consumidor.
Salvando o capitalismo dos capitalistas.
Hayek e os preços.
Casa das Garças.
segunda-feira, 30 de maio de 2011
A humilde escolha de Krugman.
Considero admirável um economista prêmio Nobel como o Paul Krugman registrar em seu blog – aqui publicado no ESTADÃO – a sua HUMILDE opinião sobre quem deve ser o novo diretor-gerente do FMI. Confirma o ditado: quanto mais sábio, mais humilde!
Acho que um endosso da minha parte pode ser o beijo da morte – mas, de qualquer maneira, acho que Stan Fischer realmente seria a melhor escolha.
Revelação óbvia: Stan foi meu professor e colega durante muitos anos; assim, é claro, não estou sendo objetivo. Mas, neste caso, as relações pessoais não são a principal questão.
Meu argumento, pelo contrário, é que estamos vivendo um período que exige um pensamento independente, criativo. Um diretor-gerente do FMI que sirva como fachada para os habituais suspeitos, que defenda ideias convencionais em tempos não convencionais, não é isso que precisamos. E é isso que eu temo.
Christine Lagarde é, sob todos os aspectos, uma pessoa admirável, mas não é alguém com opiniões independentes vigorosas em matéria econômica, como é preciso ser. Se ela se tornar a nova diretora-gerente da instituição, espero que seja para o melhor, mas não creio.
Stan, pelo contrário, é um economista de primeira classe, alguém disposto a contestar as opiniões convencionais; uma pessoa que pode examinar o conselho cauteloso e convencional dos comitês, enxergar seus pontos fracos e optar por soluções reais.
Não concordo com tudo o que fez no seu último mandato no FMI – mas ele foi um dirigente extraordinário do Banco de Israel, tendo adotado políticas totalmente inortodoxas quando necessário, com um enorme sucesso.
De qualquer modo, esta é a minha humilde opinião.
PIB 2011 e 2012.
Leio no UOL que a atividade econômica deve crescer 4,5% este ano e 5% em 2012, estima o governo. O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) para o primeiro trimestre do ano deve ser divulgado nesta sexta-feira, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na publicação "Perspectivas da Economia Brasileira", dirigida a investidores internacionais, o Ministério da Fazenda confirmou a redução de projeções para o PIB real deste ano, de 5% para 4,5%, e para 2012, de 5,5% para 5%.
CBE 2011
domingo, 29 de maio de 2011
Sugestao de leitura.
Nota vermelha.
Que é um prazer ler diariamente ELIANE CANTANHÊDE na FOLHA DE S. PAULO, nao se discute. Mas hoje ela esta genial e resume toda a semana que passou no que realmente é este país. O BRASIL ainda nao da para ser aprovado. Continua com a NOTA VERMELHA.
BRASÍLIA - A melhor declaração da semana passada foi a do presidente americano, Barack Obama, para quem a China, a Índia e o Brasil são emergentes até bem bacanas, mas estão muito longe de fazer frente à hegemonia dos Estados Unidos e do Reino Unido. Alguém há de questionar?
Os Brics (excluídas a Rússia, que não se vê como "emergente", e a África do Sul, que acaba de chegar) de fato vêm fazendo bonito na economia, e as projeções indicam que o furacão China deve ultrapassar os EUA até 2020. Mas hegemonias não se fazem apenas com PIB.
O que a China tem na economia não tem na política e está muito longe de ser uma democracia. Já a Índia é craque em tecnologia, especialmente em informática, mas abriga milhões de miseráveis famintos. E o Brasil caminha com a rapidez de uma lebre para ser a quarta maior economia do mundo e com a morosidade de um cágado para se tornar um país moderno.
Nada poderia ilustrar melhor o estágio brasileiro do que a própria semana em que Obama fez a comparação dos Brics com os EUA: o principal ministro atolado em mais um escândalo; os órgãos do governo se esquivando de apurar; a presidente da República tutelada pelo antecessor; o vice-presidente aos gritos com o chefe da Casa Civil; o Código Florestal em chamas; as idas e vindas do kit anti-homofobia para as escolas.
Na área urbana, um assassino confesso, mas poderoso, foi preso depois de 11 anos de recursos e só deve ficar dois na cadeia. No campo, o assassinato de três líderes rurais: José Cláudio Ribeiro da Silva e sua mulher, Maria do Espírito Santo da Silva, no Pará, e Adelino Ramos, em Rondônia.
Ou seja: há crises e falhas graves no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Não é assim que o Brasil vai conseguir um lugar ao sol e um assento no Conselho Permanente da ONU para ensinar ao mundo o que é paz, justiça e dignidade. Primeiro, precisa fazer a lição de casa.
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Uma mulher na chefia do FMI?
Leio na FOLHA DE S. PAULO em 25/05/2011 que a ministra francesa da Economia, Christine Lagarde, apresentada oficialmente como favorita à sucessão de seu compatriota Dominique Strauss-Kahn à frente do Fundo Monetário Internacional (FMI), anunciou oficialmente nesta quarta-feira sua candidatura e afirmou que deseja obter um "amplo consenso" em torno de seu nome.
"Resolvi apresentar minha candidatura" ao posto, disse a ministra à imprensa, na abertura da cúpula do G8 em Deauville, indicando ter tomado esta decisão "após uma reflexão madura".
"Tomo esta decisão após uma longa reflexão e com a concordância do presidente da República e do primeiro-ministro, que me apóiam totalmente neste processo", indicou Lagarde, referindo-se a Nicolas Sarkozy e François Fillon.
Além disso, destacou, sua intenção é "colher o mais amplo consenso" em torno da candidatura.
Fillon assegurou, posteriormente, que Lagarde é "uma candidatura de qualidade, eficácia, equilíbrio entre feito econômico e solidariedade".
Lagarde foi imediatamente apoiada "plenamente" pelo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, e recebeu o apoio "forte" da Alemanha. Reino Unido e Itália já o haviam dado, inclusive antes de sua apresentação oficial como candidata.
Entretanto, Christine Lagarde, de 55 anos, não quer aparecer como a candidata de um grupo só, num momento em que os países emergentes veem com maus olhos a manutenção de um europeu na chefia da poderosa instituição financeira internacional.
"Não sou nem a candidata do Eurogrupo, nem a candidata europeia, nem a candidata francesa", indicou a ministra, afirmando contar com apoios "mais além da Europa".
Os Estados Unidos, cujo aval é crucial, e o Japão, ainda não declararam apoio a nenhuma candidatura.
Tempos estranhos e preocupantes.
Os excelentes técnicos do Banco Central, sob o comando do presidente Alexandre Tombini necessitam demonstrar com eficácia a membros do próprio governo os riscos da inflação ultrapassar a meta estipulada de 4,5% ao ano. A sociedade brasileira possui mecanismos de adaptar-se a uma espiral inflacionária, uma vez ter convivido com essa excrescência por longo tempo. Diante disso, um aumento aqui, outro ali, automaticamente gera-se uma acomodação da população e daí em diante para chegar a uma prejudicial hiperinflação é somente uma questão de tempo.
O assunto inflação deve ser tratado com rigor e com o total apoio da presidente Dilma. Desde a sua posse, por diversas vezes a presidente manifestou a sua posição de combater a inflação a qualquer custo. No entanto, efetivamente na prática não se observa uma postura inflexível perante o perigo do retorno da inflação. Quem foi atingido pelos Planos Cruzado, Cruzeiro, Collor dentre tantos outros, conhece a dificuldade que era conviver com taxas de hiperinflação e teme com a possibilidade do retorno do dragão inflacionário.
A complexidade de manter sob controle a economia brasileira diante de inúmeros e graves problemas não é tarefa simples. Porém, não é com o afrouxamento no combate a uma taxa de inflação superior a meta que o país torna-se seguro. Pelo contrário, a demonstração de fraqueza nesta área aumenta o risco de uma instabilidade econômica que trará seus reflexos sobre toda a sociedade, até na esfera política.
Mesmo diante da crise de 2008 que ainda continua com seus reflexos em diversos países, não é, por exemplo, porque contabilizamos mais de US$ 300 milhões em reserva e a taxa de desemprego encontra-se em 6% - quase atingindo o nível de pleno emprego, que a área econômica do governo pode sentir-se confortável e segura que nada poderá prejudicar o Brasil.
É desconcertante que vejamos o governo interferir na saída do competente Roger Agnelli da Vale, continuar sem observar com austeridade a Lei de Responsabilidade Fiscal, buscar controlar a cotação do dólar e até mesmo não admitir como positivo o aumento na taxa básica de juros aprovada pelo Copom. Indicadores do mercado e do próprio governo projetam um aumento do PIB no primeiro trimestre deste ano entre 0,9% a 1,5%. O perigo é que a desaceleração que deveria frear a inflação não aconteceu, o que faz também com que seja estimada em quase 7% a taxa de inflação acumulada nos últimos 12 meses.
Isso demonstra que as medidas macroprudenciais do governo não estão em sintonia com a economia de mercado, ou seja, com o mundo real. Supor que por termos reservas nunca antes acumuladas neste país é fator seguro contra riscos econômicos é primário. Que aconteceria se os investimentos diretos estrangeiros deixassem de ingressar no país – somente em abril US$ 5,5 bilhões -, e o governo por pressão política optasse por manter baixa a taxa básica de juros? Os sólidos fundamentos da economia brasileira não estão assim tão fortes para que ocorrências dessa natureza não causem prejuízo ao país.
Recém eleita presidente, com uma base de apoio parlamentar elevada (mas que na hora de uma votação complexa transforma-se em geléia) e com amplo apoio popular, é o momento certo para o governo realizar reformas. Nesse caso, reformas que transformem este Brasil burocrático, ineficiente nos gastos, arrecadador voraz, indeciso economicamente, com um baixo nível educacional, sem investimentos em infraestrutura básica. O Brasil precisa ter um perfil que busque colocar o estado em funções básicas, que não possam ser preenchidas pela iniciativa privada, visando ser, de fato, uma potência econômica e não um mero ator coadjuvante ao acreditar poder sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas sem cair no ridículo.
Brasil e China ou Brasil x China?
Leio no blog RADAR ECONÔMICO interessante notícia:
Luiz Fernando de Paula*, colaborador do Radar Econômico, chama atenção para editorial publicado ontem (quarta-feira, 24) no jornal “Financial Times”, que pode ter passado despercebido por muitos brasileiros porque no mesmo dia o diário abordou também os problemas envolvendo o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.
O editorial, coluna que expressa a opinião do jornal, diz que o problema entre Brasil e China se agravou por conta da manipulação do câmbio e por barreiras comerciais, duas práticas do governo chinês que atrapalham o País.
Escreve Luiz Fernando de Paula:
“Editorial de ontem da jornal britânico “Financial Times” analisa a complexa relação econômica entre Brasil e China e merece atenção.
Por um lado, há forte complementaridade entre as duas economias: a China é grande importadora de commodities e exportadora de capitais; Brasil é grande exportador de commodities e importador de capitais externos.
Contudo, nem tudo são rosas: a participação de commodities no total das exportações brasileiras mais que dobrou nos últimos dez anos, alcançando quase a metade da pauta de exportações do país, ao mesmo tempo que a participação de manufaturados vem caindo.
O problema tem se agravado em relação a China por dois fatores: a política massiva de intervenção cambial chinesa para manter seu câmbio mais ou menos estável; as barreiras existentes no mercado chinês que dificultam exportações brasileiras, inclusive nas competitivas exportações agrícolas.
Não é para menos que, das 144 investigações anti-dumping que o Brasil lançou no fim de 2010, 50 são contra a China. Enfim, são questões importantes a serem avaliadas na complexa geopolítica Brasil-China.”
Leia o editorial no site do “Financial Times”
* Luiz Fernando de Paula é professor de Economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pesquisador do CNPq e presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB). É autor, entre outros, do livro “Financial Liberalization and Economic Performance: Brazil at the crossroads” (Routledge, 2011). Blog da Associação Keynesiana Brasileira (AKB): http://associacaokeynesiana.wordpress.com
Origens da crise, falsas e reais by Krugman.
No ESTADÃO, em 23/05/2011, leio Paul Krugman escrevendo sobre “origens da crise, falsas e reais”.
Nestes últimos dias não dediquei muito tempo a tratar das origens da crise financeira; neste exato momento a questão mais abrasadora é o que vem em seguida. Mas a história é um campo de batalha e os costumeiros suspeitos estão se esforçando para reescrever essa história em seu próprio interesse.
Na verdade, para muitas pessoas isso já foi feito: já existe uma ortodoxia de direita no sentido de que Fannie e Freddie é que causaram a bolha imobiliária e sua explosão. Tudo foi culpa do governo!
E de onde partiu essa ideia? Bem, como se verificou, boa parte das alegações tiveram por base publicações de Edward Pinto da AEI, que afirma que Fannie e Freddie detinham uma grande porcentagem das “hipotecas subprime e outras de alto risco” – uma afirmação que, às vezes em discussões casuais, é transformada numa acusação, de que F&F detinham uma grande fração das hipotecas suprime.
Portanto é bom que Mike Konczal nos lembre que a definição de Edward Pinto de hipotecas “do tipo subprime” foi algo que ele criou – e o que acabou se verificando é que as suas supostas categorias de alto risco não tinham, absolutamente, tanto risco e que na verdade elas se assemelhavam mais a uma hipoteca tradicional do que uma verdadeira real suprime.
O documento do qual tirei o diagrama acima, de David Min, deixa claro que os empréstimos feitos por Fannie-Freddie comportavam muito menos risco do que aqueles originados no setor privado – e em particular que os títulos lastreados em hipotecas emitidos por instituições privadas que, essencialmente, não eram regulamentados, implicavam muito mais risco do que qualquer coisa que o governo estava promovendo.
Em resumo, a afirmação de que “o governo é que fez isso” está baseada em dados totalmente errôneos e é difícil ler esta história sem acreditar que esses dados foram deliberadamente arquitetados de modo a nos confundir.
FIM DO RESPEITO A VIDA?
Duas lideranças no estado do Pará que lutavam contra a devastação da floresta amazônica foram mortas em emboscada, tendo um deles tido a orelha arrancada. O comentário geral é que foram mortos por denunciar o desmatamento na mata. A Câmara dos Deputados aprovou o Código Florestal que protege os que desmatam a Amazônia e, no mesmo momento, vaiou os dois mortos de Nova Ipixuna-PA. É muito triste e causa vergonha morar num país que convive com esses fatos e não é tomado por uma legítima indignação. Afinal, que país é este? Um mundo sem lei e sem respeito ao homem e ao meio ambiente? Voltamos à idade da pedra lascada? Até quando seremos coniventes com este estado de coisa? E ainda teremos que aceitar um Belo Monte transformar-se numa desgraça ambiental. É o fim do pouco que restava de respeito ao homem e ao planeta aqui nesta região paraense.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Desindexar a economia.
Editorial da FOLHA DE S. PAULO nesta data comenta sobre: DESINDEXAR A ECONOMIA:
Pela primeira vez desde o pico inflacionário do início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o tema da indexação volta com força ao debate da política econômica. A memória inflacionária no Brasil está viva, mais do que se imagina.
A lista dos preços indexados é enorme. Pedágios, escolas, luz, água, esgoto, telefonia, transporte público, aluguel e medicamentos, entre outros, são direta ou indiretamente reajustados de acordo com a inflação passada. Inflação antiga realimenta a futura.
A taxa cheia nos 12 meses encerrados em abril foi de 6,5%. Já os preços dos serviços subiram 8,6%. O grupo aluguel, educação, condomínio, empregados domésticos avançou 9,3%. Desindexar os preços é mais fácil em momentos de inflação baixa. Como nada se fez nos últimos anos, agora é preciso recuperar o tempo perdido, mas sem afrontar contratos nem impor a vontade do governo ao setor privado.
O primeiro passo certamente é controlar a inflação e trazê-la de volta ao centro da meta, 4,5%. É preciso dar garantias de que isso ocorrerá em 2012, pois, do contrário, qualquer esforço de desindexação carecerá de credibilidade. No médio prazo, um compromisso de redução gradual da meta de inflação ajudaria nesse objetivo.
Também é preciso atenção às questões setoriais. Os contratos de concessões públicas deveriam ser corrigidos não de acordo com o IGP (Índice Geral de Preços), mas segundo planilhas de custo e rentabilidade. A dificuldade é que só na renovação das concessões as regras podem ser alteradas, o que demandará muito tempo.
Além disso, o IGP é um mau indexador. Sua composição confere peso de 60% aos preços no atacado, que sofrem impacto direto da taxa de câmbio e da cotação de commodities. Este peso foi definido décadas atrás e não guarda mais correlação com a estrutura atual da economia. Acabar com o IGP é uma ideia a considerar.
Por fim, o ciclo da indexação se fecha com as empresas: o aumento sincronizado de preços importantes, como salários, matérias-primas e logística, acaba por impor uma cultura indesejável de repasse para o consumidor.
Romper tal ciclo demanda, além do esforço de desindexação, uma agenda de desoneração tributária focalizada, melhoria logística e redução de custos, para gerar mais competição e eficiência.
domingo, 22 de maio de 2011
A renovacao capitalista.
O capitalismo de livre mercado melhora o padrao de vida da populacao. Desde que ADAM SMITH publicou em 1776 o seu famoso livro A riqueza das nacoes, a nocao da mao invisivel que dirige a economia continua atual, mesmo com as crises inerentes ao sistema.
É passada a hora de tentar um retorno ao Estado centralizador e determinante do que a sociedade deve fazer. Como escreveu John Stuart Mill em 1848, ”O laissez-faire, em suma, deveria ser a pratica geral. Todo desvio dele, a não ser que um bem maior o exija, representa um certo mal.”
Delírios brasileiros.
Folha entrevista Luiz Carlos Mendonca de Barros.
A competente ELEONORA DE LUCENA, da FOLHA DE S. PAULO entrevista neste domingo o sempre influente economista LUIZ CARLOS MENDONCA DE BARROS.
Ex-ministro tucano, Luiz Carlos Mendonça de Barros, 68, traça diferenças entre Lula e Dilma. Conclui que a atual política econômica está mais à esquerda. Nesta entrevista, fala de inflação e sugere redução no crescimento.
Também advoga a implantação de quarentena para o capital externo.
Para Mendonça, as finanças vão ficar menos confiantes no governo se o ministro Antônio Palocci (Casa Civil) cair. Executor de boa parte da privatização nos anos FHC, avalia que o PSDB é hoje um partido mais medíocre.
Folha - Quais são as diferenças ente Dilma e Lula?
Luiz Carlos Mendonça de Barros - A economia de Lula era continuidade da de FHC. Quando a inflação ameaçava subir, o BC aumentava juros. Está claro que Dilma mexeu nessa lógica.
O pessoal da Unicamp passou a ter papel de formulador de política. O Banco Central de [Henrique] Meirelles tinha uma linha mais liberal, de gente do mercado financeiro. O BC de Dilma é formado por burocratas.
Existe uma visão de que o BC era sempre capturado pelas finanças.
Não era capturado. O BC reproduzia a leitura que o mercado financeiro tem da política econômica.
E agora não mais?
Não. Há diferença de comportamento. É muito difícil para um burocrata ir contra a hierarquia. Com Lula, havia um conflito entre BC e Fazenda. Quem ganhava era o BC.
Houve uma inversão. A política econômica é conduzida por [Guido] Mantega. No sistema de metas, está se levando em consideração o custo para o crescimento. E usam outros instrumentos além dos juros, como as medidas macroprudenciais.
O mercado financeiro está insatisfeito?
Quer acreditar que não mudou nada. Está num período de grandes incertezas.
O mercado está sendo prejudicado?
Não, mas muda a forma de trabalhar. O mercado detesta mudança. O governo Dilma -e daí a importância da questão do Palocci- tem uma irracionalidade. Tem um lado que aparentemente é dominante e que tem uma leitura diferente da de Lula. E o Palocci é um sinal de que a racionalidade anterior não está abandonada.
O sr. acha que ele vai ficar?
Não sei. A Bolsa caiu, o dólar subiu. É porque tem uma insegurança latente. Se Palocci sair, vai ter um efeito importante sobre expectativas. Vai ficar menos confiante na política do governo. É importante mostrar que Dilma tem política diferente.
É mais à esquerda?
O pensamento econômico do governo Dilma é mais à esquerda do que na época de Lula. Tem uma ideia de intervenção mais forte do Estado.
Com Lula havia um certo conflito. A macroeconomia era bem ortodoxa, mas o Estado intervinha. Com Dilma aumentou essa contradição.
Ela é mais ideológica. Não percebeu a herança maldita de Lula. O crescimento do consumo foi forte e não foi acompanhado pelo investimento produtivo. Entraremos num período em que a inflação vai cair porque tem deflação nas commodities.
O país pode se desamarrar do sistema de metas de inflação?
Não, porque é preciso uma referência. Sou a favor de um sistema de metas que leve o custo da convergência da inflação em consideração. Mas fazer isso agora é complicado. Bagunça as expectativas.
É preciso reduzir o crescimento agora?
Não há dúvida. O aspecto mais preocupante é o mercado de trabalho. No início de Lula o desemprego era de 12%. Hoje é de 6%. Isso faz uma diferença brutal.
Com essa concentração de renda, o salário tem que ser sempre o vilão?
Exatamente porque há concentração de renda é que os salários viram problema. Todo o aumento vira consumo. Há uma capacidade limitada de produzir. A alta de consumo em Lula ocorreu com oferta sobrando. Dilma não tem essa folga. Se a economia crescer na mesma velocidade vai pressionar custos, e a inflação vai subir.
E o câmbio?
O Brasil virou um país desejado por todos. Cerca de 80% do dinheiro que chega é para comprar bens. O real é uma moeda confiável. Evidente que tem um componente de juro, mas não é o principal. O governo precisa rever a agenda de problemas.
E o que estaria no topo dessa nova agenda?
A inflação, porque vai virar problema político. Se não resolver, vai bater na popularidade. Mas o primeiro item é o excesso de entrada de capital estrangeiro de investimento. Não é especulativo. Portanto não adianta pôr IOF de um ano.
O sr. faria uma quarentena?
Eu faria uma quarentena mesmo. O dinheiro entra, fica seis meses, um ano, e depois é liberado. O dinheiro de investimento permite que se tenha isso. A entrada de capital externo para investimento é boa. Mas, se não tiver uma dosagem, vira coisa ruim via câmbio.
O que o sr. faria diferente?
Tentaria moderar essa entrada de capital. O Brasil tem hoje uma agenda de problemas derivados do sucesso. A inflação é a ponta do iceberg desses desequilíbrios todos. Por exemplo: qual é o problema de privatizar os aeroportos no Brasil? O único problema é o político. Como Lula venceu fazendo da privatização um demônio, Dilma está com dificuldade e não resolve o problema.
O sr. faria diferente a privatização hoje?
Tem erros na privatização. Por que o pedágio em SP é caro? Porque, na época, Mario Covas quis arrecadar. Ganhava quem pagasse mais. Isso é um absurdo. Porque o concessionário cobra do usuário. O Serra ainda insistiu nesse erro no Rodoanel. Agora mudou. O leilão é feito em cima do menor custo de pedágio.
O modelo de privatização do PT então foi melhor do que o do PSDB?
Nesse caso é melhor. O erro do PT foi fixar um pedágio muito menor do que deveria ser. Aí a qualidade do serviço... A privatização terá que ser revista porque ninguém é perfeito.
No caso da telefonia, a tarifa não é muito alta, uma das mais caras do mundo?
Por causa de imposto. A parte que sobra para o concessionário é uma das mais baixas do mundo porque tem concorrência. Basta olhar a propaganda na TV.
Mas não houve a competição prevista. As teles divididas se uniram na Oi, e em SP é quase só Telefônica, não?
Isso na telefonia fixa. Porque tem um problema técnico. Não é econômico fazer dois sistemas de cabo numa região. Não se sabia disso na época. Mas o telefone no Brasil é celular. É caro porque metade da tarifa é imposto.
E a crise do PSDB?
O PSDB sofre uma mudança de líderes que não têm a visão estratégica dos que ficaram para trás. É um partido mais medíocre. Tem o azar de ser oposição num momento em que a população está satisfeita. A maior contribuição do Lula foi transformar o PT num partido burguês igual aos outros.
O sr. concorda que ex-ministro é valorizado pelo mercado?
Precisa ter algum talento. Político é paparicado em qualquer lugar no mundo. Nos EUA há uma forma mais transparente, clara. O lobby é registrado. Deveria ter isso aqui.
Palocci não está muito enfraquecido?
Prefiro olhar de longe. Eu já passei por isso. A imprensa às vezes é injusta.
sábado, 21 de maio de 2011
A INFLAÇÃO DE MIRIAM LEITÃO.
ÉRICA FRAGA na FOLHA DE S. PAULO de hoje, resenha o novo livro de MIRIAM LEITAO, já divulgado aqui neste blog.
Festa de casamento em meio a desabastecimento de comida. Compra do primeiro carro zero do casal ameaçada por criação de depósito compulsório sobre vendas de automóveis. Já com uma filha pequena, falência da família após confisco da poupança.
Todos esses percalços marcaram a vida da professora Edilene Janjar. Não se trata de obra de ficção. Como milhões de brasileiros, Edilene, do Rio Grande do Sul, e sua família foram vítimas da inflação que dominou a economia brasileira por décadas e das desastrosas tentativas de sucessivos governos para combatê-la.
Em meio a tantos percalços, a professora até teve sorte, conseguiu se reerguer. Outras famílias sofreram perdas irreparáveis. O pai da ex-jogadora de vôlei Ana Moser morreu de depressão anos depois de ir à falência por conta do congelamento arbitrário das aplicações financeiras promovido pelo Plano Collor.
As histórias da desconhecida Edilene e da famosa Ana são narradas no livro "Saga Brasileira, a Longa Luta de um Povo por sua Moeda", de Miriam Leitão, jornalista e colunista de economia do jornal "O Globo".
Com farto material de bastidores e pesquisa, o livro vai dos primeiros surtos de altas de preços no Brasil, ainda no século 19, ao descontrole inflacionário do fim da década de 80 e início dos anos 90.
Atravessa o Plano Real e conta os esforços após o sucesso inicial de debelar a inflação para manter a estabilização da moeda. Os vários casos dos personagens que Miriam usa para ilustrar os fatos fazem a ponte entre história econômica e vida real.
Mesmo para quem viveu as décadas de escalada inflacionária, o livro traz bastidores interessantes. Exemplos, como o diálogo a seguir, mostram a difícil interação entre técnicos e políticos, que prolongou o drama da inflação: "Presidente, não existe nada mais popular do que acabar com a inflação, por isso agora é preciso cortar gastos para manter a inflação baixa", argumentou o economista Persio Arida, em maio de 1986. "Você é muito moço, Persio. Um dia vai entender. O povo quer obras, quer gastos, é isso que o povo quer", disse o presidente José Sarney.
Arida, oriundo do chamado grupo da PUC-Rio, foi um dos mentores do plano que finalmente levou ao início da estabilidade em 1994. Mas havia participado antes -com outros economistas da PUC-Rio- do Plano Cruzado, elaborado durante o governo Sarney.
A impopularidade de Sarney no fim do seu mandato subiu por conta do fracasso do Plano Cruzado e pelo descontrole inflacionário. A população não queria gastos. A obsessão nacional era se livrar da inflação.
O livro mostra, no entanto, que até os governos que fracassaram em derrubá-la deram alguma contribuição para colocar ordem na bagunçada economia brasileira. O fortalecimento do Banco Central, a criação do Tesouro Nacional e o início de abertura da economia são exemplos de passos que ajudaram a construir a estabilidade. Como diz a autora no livro: "Quem hoje se aflige, com razão, pelo muito que falta fazer não tem ideia de como o Brasil já foi".
SAGA BRASILEIRA, A LONGA LUTA DE UM POVO POR SUA MOEDA
AUTOR Miriam Leitão
EDITORA Record
QUANTO R$ 49,90 (476 págs.)
Bem-vinda mudança de discurso .
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 68, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso) e escreveu especialmente para a FOLHA DE S. PAULO o artigo abaixo.
"A inflação brasileira está sendo afetada pelo mercado de trabalho apertado e pelo setor de serviços. Mercados emergentes com as economias aquecidas, como Brasil, Índia e China, correm o risco de ter a inflação provocada pelo aumento dos preços das commodities espalhando-se por outras áreas."
Fiquei surpreso com essas declarações do ministro Mantega ao navegar na internet ontem pela manhã, como faço todos os dias. Como sabe o leitor da Folha, há algum tempo tenho feito essa mesma leitura da inflação brasileira. Finalmente, parece que o ministro da Fazenda deixou de lado seu discurso de que a aceleração da inflação, neste início do governo da presidente Dilma, devia-se apenas a fatores externos, principalmente o aumento dos preços em dólares dos produtos primários.
O fato de reconhecer que as condições do mercado de trabalho e o descompasso entre demanda e oferta no setor de serviços também estão afetando a dinâmica da inflação é um grande e desejável passo do ministro. Parece-me ser crível que essa mudança de posição seja também endossada pela presidente Dilma, o que aumenta o espaço para que a inflação seja combatida como se deve daqui para a frente.
Para ficar ainda mais confiante nessas afirmações, gostaria de ouvir, das vozes mais representativas do Palácio do Planalto, o reconhecimento de que o crescimento da economia vai ter de ser reduzido dos níveis atuais. Mas temo que isso seria exigir demais de um governo do PT.
O Banco Central divulgou nesta semana sua projeção de crescimento do PIB no mês de março passado, o que permitiu aos analistas estimar, para o primeiro trimestre do ano, aumento da ordem de 6,5% e reforçou as apostas de crescimento de 4,5% para 2011.
Esse cenário é totalmente incompatível com a estratégia de trazer a inflação para o centro da meta do Copom ao longo de 2012 com gradualismo e sem matar a galinha dos ovos de ouro do consumo, para usar uma imagem do próprio ministro Mantega.
Para que essa convergência ocorra, será preciso esfriar ainda mais a economia, fazendo com que a demanda e a oferta em mercados importantes se aproximem e reduzam o poder de preços dos agentes econômicos.
Nos próximos dois ou três meses, os índices de inflação serão influenciados pela queda vigorosa dos preços de produtos importantes, como alimentos, álcool e gasolina.
Para junho e julho estão previstas taxas de inflação bastante baixas, negativas até se nada atrapalhar o comportamento da natureza nesse período. Mas, passado esse período de bonança consentida, as taxas de inflação vão voltar a se acelerar e as projeções que o mercado vai construir para 2012 podem deixar o BC -e o Copom- em saia justa.
Aparentemente, toda a equipe do governo -como fez o ministro Mantega- está mais atenta às verdadeiras causas do aumento da inflação e à necessidade de uma ação mais efetiva.
O próprio BC vem emitindo sinais de que pode levar o processo de aumento dos juros mais longe do que havia previsto no começo do ano. O reconhecimento das causas internas da inflação é um passo importante na direção de seu enfrentamento exitoso, mas não é tudo.
O sucesso vai estar associado também às doses dos instrumentos que serão usados para desaquecer a economia, enquanto os investimentos e a mobilização de novos contingentes de trabalhadores maturam. Como tenho dito, não serão as gotinhas de Weleda -nome carinhoso que tenho dado para as chamadas medidas macroprudenciais- que nos farão chegar a 2012 com um quadro mais equilibrado de oferta e de procura nos mercados não afetados por importações.
Será preciso reforçar ainda mais o controle da expansão do crédito ao consumo, pois, em um ambiente de crescimento dos salários e do emprego, ajudado ainda pela megacorreção do salário mínimo do próximo ano, essa pode ser uma alavanca muito poderosa de crescimento.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
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