segunda-feira, 27 de julho de 2009

DA SÉRIE: LEITURA INEVITÁVEL - DELFIM NETTO

Conseguimos resgatar na Folha de S. Paulo este artigo de ANTONIO DELFIM NETTO, sobre “Entender o PIB”, que é nossa meta visando antecipar hoje, como estaremos em 31/12/09 e 31/12/10.

Há muitos anos sabemos que o "homem comum", com o qual tem de lidar a política econômica, é um ser gregário, altruísta, mais emocional e menos racional do que o frio e calculista "homem econômico". Este é uma conveniente máquina individualista e egoísta, que maximiza seus benefícios e minimiza seus sacrifícios, com a qual a profissão às vezes se diverte na tentativa de entender como funciona o sistema econômico.

Sendo assim, a reação de cada agente econômico às novas informações depende não apenas do seu entendimento mas também do entendimento e da reação dos outros.

Cria-se uma espécie de rede informal e invisível que "coordena" a resposta coletiva. É por isso que existem "ondas" de "otimismo" ou "pessimismo" e o comportamento da sociedade ou é de "rebanho" (quando há certeza sobre o futuro) ou de "manada" (quando o nível de incerteza cresce). Isso mostra a importância de prevenir os agentes econômicos sobre o significado real da informação, de forma que possam sempre relativizá-la dentro do contexto e evitar a resposta exagerada. Para dar um exemplo, tomemos as possíveis informações sobre o comportamento do nosso PIB em 2009.

Costuma-se medir a evolução do PIB comparando crescimento anual entre o mesmo trimestre de dois anos consecutivos, o que evita a influência das variações estacionais. Entre o terceiro trimestre de 2007 e o de 2008, o crescimento anual do PIB foi de 6,8%. Na comparação entre os quartos trimestres, ele caiu dramaticamente para 1,3%. O crescimento anual 2008/ 07 ainda foi de 5,1%. A crise que importamos em setembro de 2008 começa a dar sinais de ceder no início do terceiro trimestre de 2009.

As notícias que teremos no futuro sobre o PIB serão dramáticas, mas estarão refletindo apenas o que já aconteceu.

Suponhamos (não é uma "previsão", mas uma simples hipótese): a) que o PIB do 1º trimestre de 2009 tenha sido 2% inferior ao do 4º trimestre de 2008; b) que no segundo trimestre tenha se mantido no mesmo nível e c) que a partir do 3º trimestre ele cresça, sobre o trimestre anterior, 1% até o fim de 2010. O que revelariam as estatísticas do IBGE? Os números seguintes do crescimento anual de trimeste/trimestre: 1º trimestre 2009/08, -2,4%; 2º trimestre, -3,9%; 3º trimestre, -4,6% e 4º trimestre, zero.

O crescimento anual 2009/08 seria de -2,7%. A boa notícia é que em 2010 ele seria de 3,8%. O ponto importante a destacar é que, quando a dramática "nova" informação do 3º trimestre (queda de 4,6%) for feita, em janeiro de 2010 pelo IBGE, o PIB brasileiro já estaria crescendo 3%!

DA SÉRIE: LEITURA INEVITÁVEL - ENTREVISTA

Para os meus quase dois (milhões) leitores, abaixo uma otimista e esclarecedora entrevista com o colega Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú-Unibanco e ex-diretor do Banco Central (BC), com data de 26/07/09 no ESTADÃO e o título “Juros não voltam para nível pré-crise''. Como é interessante ler uma entrevista que faz o leitor tomar uma aula de conhecimento e até fazer sua oposição ao entrevistado, porém após ter analisado as diversas variáveis do mundo econômico. Este é o tipo de entrevista que temos que ler e guardar. Ao final do ano, vamos comparar as "previsões".

Segundo o ex-diretor do BC, a taxa Selic tende a subir nos próximos anos, mas não deve voltar a ter dois dígitos. Os juros de longo prazo no Brasil estão altos demais porque a taxa de juros real de equilíbrio - aquele que faz com que a economia cresça sem inflação - caiu para o nível de 4% a 5% ao ano e não vai voltar para onde estava antes da crise. Ao contrário de parte do mercado, o Itaú-Unibanco, que tem projeção de inflação abaixo de 4% para 2010, só vê a Selic (taxa básica) subindo de novo em 2011, e mesmo assim de forma moderada.

Mas nem tudo são flores para Goldfajn. Ele critica a política de expansão dos gastos correntes, que mantém o Brasil num ritmo potencial de crescimento de 4% a 4,5%, quando poderia estar entre 6% e 7%, com taxa de juros real perto de 3%. Outra consequência do aumento dos gastos correntes, para ele, é a valorização cambial, que pode levar o real a R$ 1,70 em 2010. O mundo está disposto a financiar o investimento no Brasil e empurra o País a consumir, na visão de Goldfajn. A contrapartida, porém, será o aumento do déficit em conta corrente, algo que, ele prevê, deve provocar forte debate em 2010. O risco são políticas equivocadas para conter a valorização cambial sem mexer na política fiscal, que podem elevar a inflação e os juros. A seguir, a entrevista.

Por que os juros de longo prazo estão tão descolados?

Há várias razões, e uma delas está ligada à visão geral dos juros no mundo. Toda vez que há uma recessão, e desta vez ela é global, os juros caem o suficiente para estimular a economia. Depois, quando a economia já foi estimulada, os juros voltam a subir. Hoje, os juros estão no limite do que podem baixar: zero ou próximo de zero nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. Uma vez que se chega a esse piso, é normal as curvas se inclinarem para cima: a única coisa que pode acontecer daqui em diante é subir. Isso se traduz em vários mercados e, em alguns deles, faz sentido. No caso do Chile, o juro chegou a 0,5%, então a curva mostra que ele vai voltar ao normal.

E o Brasil?

Bem, pode existir uma economia que não estava com os juros no seu equilíbrio, ou na qual o juro de equilíbrio estava caindo, por diversas razões. Nesse caso, o juro não tem de voltar ao nível anterior, mas sim para onde ele chegaria caso a redução gradual do juro de equilíbrio persistisse e não fosse interrompida pela queda brusca ligada ao estímulo para sair da recessão. Em outras palavras, o juro voltaria para um nível mais baixo do que aquele de onde saiu. Assim, para acreditar que o juro do Brasil tem de voltar para perto de onde estava antes da crise, é preciso acreditar que antes da crise ele estava num nível neutro e constante. A minha visão é de que os juros no Brasil estavam e continuam numa tendência de queda. Falo do que se chama juro de equilíbrio, ou juro neutro, aquele que faz com que a economia cresça sem inflação. Houve momentos em que o juro real precisou ser 15%, depois foi caindo para 10%, para 8%, e hoje acho que estamos próximos de 4% ou 5%.

A recessão ajudou o juro de equilíbrio a cair? A gente sabe que o juro neutro em países emergentes converge para níveis normais de forma mais rápida em períodos de recessão do que de boom. Processos desse tipo ocorreram no Chile, no México e na Polônia. Os bancos centrais derrubam os juros para estimular a economia e, na hora de voltar, descobre-se que o juro neutro é menor. Por algum motivo, a recessão parece ser o momento de se dar um empurrão um pouco maior. Isso é difícil de explicar, mas acontece.

Mas os juros no Brasil então não voltam mais? Bem, as possibilidades são de que volte quase totalmente, volte muito pouco, ou volte para um nível intermediário entre esses dois extremos. Eu acho que volta muito pouco. Acho que a Selic poderia ir até 8,25%, se ficar claro um cenário em que a inflação vai para baixo de 4%. O nosso cenário de inflação para o próximo ano é parecido com o do Banco Central, estamos com pouco mais de 3,8%. Acho que, lá para 2011, quando a economia estiver chegando perto de um ritmo de 4,5% e a inflação começar a voltar para a meta de 4,5%, a Selic poderia subir para, quem sabe, 8,75%. O grande teste é que haja um cenário de inflação consistente com o que falei. Se eu estiver certo, e subirem os juros, a inflação cai muito. Se eu estiver errado, e deixarem o juro onde está, a inflação vai acabar subindo.

O que permitiu toda essa queda do juro real de equilíbrio?

São 15 anos de estabilidade, de consistência, que você pode ver nas medidas de risco, como o CDS do Brasil (credit default swap, produto ligado ao risco de crédito dos títulos externos do governo brasileiro), em que estamos hoje abaixo do México e próximos do Chile. Tem o investment grade. E há aquela percepção mais geral de que o Brasil é uma democracia que conseguiu ter políticas econômicas com uma certa continuidade, que sobreviveram a mudanças de ministros e de partidos no governo.

Como o sr. vê a política fiscal brasileira?

Nossa visão é que o superávit primário efetivo vai para 1,5% do PIB, embora o resultado oficial a ser divulgado será de 2,5%, por causa de 0,5% de desconto por conta do Projeto Piloto de Investimentos (PPI) e mais 0,5% do Fundo Soberano. Acho que vai ficar em 1,5% por um tempo, e isso é compatível com um juro real de 4% a 5%, quando se pensa na dinâmica da dívida pública. O que aconteceu é que esse governo usou todo o espaço conquistado nos últimos anos, com a queda dos juros por causa da redução do risco, para aumentar os gastos correntes. Tem uma parte que foi para o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), mas é muito pouco.

E o que o sr. acha do aumento dos gastos correntes?

Considero ruim. Isso se dá em prejuízo de maiores investimentos. A opção por mais gastos correntes significa um crescimento mais moderado. Significa que nosso crescimento, que vai ficar em 4%, 4,5%, poderia subir para 6%, 7%. O juro real poderia cair ainda mais, para perto de 3%. Por outro lado, o mundo vai nos ajudar a investir, mas ao preço de aumentarmos nosso déficit em conta corrente. Esse é outro aspecto dessa política fiscal, o câmbio mais valorizado.

Por quê?

O câmbio apreciado ajuda a importar, ajuda a consumir. Ele faz com que possamos consumir e investir ao mesmo tempo, mas a contrapartida é o aumento do déficit em conta corrente, que é a poupança externa. O mundo está dizendo para não nos preocuparmos porque ele vai financiar o nosso investimento.

Como assim?

Nós somos muito bons de consumir. Se tivéssemos que poupar, aí seria um problema. Nós hoje estamos junto com um grupo de países que inclui China, Índia e Indonésia, que são a coqueluche dos relatórios de bancos de investimento e que têm em comum grandes populações e mercados internos. O mundo está investindo nesses países e empurrando-os a consumir. A nossa diferença é que poupamos menos, então teremos um déficit em conta corrente maior. Outra forma de olhar para isso é constatar que o dólar vai ter de ser mais fraco. Quais são as moedas que vão ficar mais fortes? A grande dúvida do mundo é essa, qual é a contrapartida do dólar fraco. Com Europa e Japão com desempenho econômico fraco, é difícil imaginar como é que as suas moedas vão se apreciar. A China, claramente, tem de ser uma contrapartida, mas tem uma viscosidade lá, eles não deixam, tentam segurar o câmbio desvalorizado, na base de não deixar o mercado funcionar. Já as moedas flutuantes dos países emergentes vão sofrer pressão para se valorizar.

Qual a sua previsão para o câmbio no Brasil?

Acho que o câmbio vai se valorizar um pouco mais do que se espera por aí. Penso que pode fechar este ano em R$ 1,80 e ir na direção de R$ 1,70 lá na frente, no fim do próximo ano. Eu acho isso exatamente porque tenho a impressão de que o Brasil se encaixa muito bem no mundo nesse papel de consumidor que está faltando. Daquele consumidor de última instância.

Isso não vai preocupar os economistas desenvolvimentistas?

Na minha opinião, 2010 vai ser um ano de debate sobre déficit corrente, sobre câmbio apreciado, sobre regime cambial. Acho que não deveria ser feito, mas vai haver muito desejo de mexer um pouquinho na política cambial, de tentar deixar o câmbio mais desvalorizado. Há o risco de nós não aceitarmos a consequência de uma política fiscal mais frouxa, que é o déficit em conta corrente. Aliás, é fácil de resolver. Sobe o superávit primário, que significa poupar mais, e investe esse excesso. Mas o perigo é entrar num processo de tentar evitar um déficit em conta corrente sem mexer na política fiscal, o que acaba batendo na inflação e nos juros. Seria tentar manter o câmbio desvalorizado sem mexer nos fundamentos.

Será que esse risco também pode ser parte da explicação para os juros de longo prazo mais altos?

Sim, também é, embora eu tenha a impressão de que aquela questão global que eu mencionei é muito relevante.

domingo, 26 de julho de 2009

A ECONOMIA SEGUNDO O IPEA

É muito bom o texto abaixo por envolver as diversas variáveis econômicas que afetam no resultado do PIB, bem como o conhecimento do que pensa o "polêmico" colega MARCIO POCHMANN, do nosso INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA - IPEA. Reconheço que o texto, matéria divulgada em entrevista ao portal UOL é longo, mas quem não gosta de ler sobre Economia, indiferente se concorda ou não com o assunto, até para conseguir debater de uma outra forma?
MEDIDAS MAIS OUSADAS CONTRA A CRISE
"Apesar da crise, o Brasil não deverá ter uma recessão drástica, como verificada em outros países, em razão de várias políticas anticíclicas adotadas, como redução de impostos, de juros, aumento do salário mínimo, do Bolso Família, que não foram adotadas em outras crises. Por outro lado, por que o Brasil teve recessão na virada do ano, ao contrário da Índia, da China? Lá, se tomaram medidas com maior fôlego, mais ousadas. Por isso, acreditamos que o Brasil, para sair da crise, para aproveitar as oportunidades que a crise oferece - porque frente à decadência dos Estados Unidos, há espaço para países liderarem outro tipo de desenvolvimento -, precisamos ter ações. Temos um grupo estudando a ação de empresas nacionais com interesse de se tornarem empresas globais. Na China e na Índia, há um espaço brutal de compra de ativos nos Estados Unidos. Nós estamos sendo pouco ativos nesse sentido. O Brasil poderia ter um pacto dos governos estaduais e do federal para redução do ICMS em setores intensivos em mão-de-obra e de consumo."
VAMOS PAGAR PREÇO ALTO?
"Aqueles que têm uma visão mais ideológica, assentada em modelos estáticos, veem que a dívida cresceu e que as futuras gerações vão pagar. Outros acham que o Estado pode aumentar essa dívida, para criar um colchão de proteção da economia, depois a economia volta a crescer e essa dívida relativamente cai. É um debate feito pelos republicanos anos 1930. Depois da guerra a economia americana voltou a crescer, essa relativamente ao PIB caiu."
RECUPERAÇÃO DAS EXPECTATIVAS
"O indicador do mês de junho aponta uma recuperação das expectativas para os próximos 12 meses. Essa recuperação se fundamenta sobretudo no que diz respeito à melhora das contas nacionais. Há uma visão relativamente otimista para a recuperação do PIB. Até o mês de maio o setor produtivo vinha com uma perspectiva de PIB próximo de zero e agora já há sinais de uma recuperação. E essa recuperação vem sendo mais entusiasmaticamente elevada pela indústria e pela agropecuária, ao contrário do setor de serviços, que reduziu suas expectativas. "
SEM GRANDE IMPACTO NO EMPREGO
"Por outro lado, o sensor aponta que a recuperação econômica deverá ser orientada pela recuperação da capacidade produtiva, recuperando as margens de lucro, sem grande impacto no emprego. Essa recuperação se dará, possivelmente, através dos ganhos de produtividade."
APREENSÃO
"Embora o indicador esteja no quadrante de apreensão, ela é menor do que anteriormente se apresentava. Apreensão, no nosso modo de ver, indica ainda dúvidas em relação ao comportamento da economia para os próximos 12 meses, mas essas dúvidas estão sendo amenizadas, especialmente porque essa apreensão se dava no quadro de recessão do final do ano passado e início deste ano, e fortemente estimulado pela indústria e pelo que estava acontecendo no Sul e Sudeste do Brasil. Hoje as regiões Sul e Sudeste estão mais animadas em relação à possibilidade de crescimento da economia, enquanto as regiões Norte e Nordeste reduziram um pouco sua expectativa de expansão, o que mostra que a crise ainda está tendo efeitos importantes na região Norte e Nordeste, tendo em vista que há uma saída mais rápida da crise nas regiões Sul e Sudeste."
A RECESSÃO ACABOU?
"Se analisarmos a composição do PIB brasileiro, vamos verificar que a recessão que tivemos de outubro a março foi uma recessão fortemente industrial. A queda acumulada da indústria brasileira, de quase 12%, foi praticamente equivalente à de países industriais, o que mostra que o Brasil hoje tem um setor industrial integrado ao comportamento econômico do mundo. O mesmo não pode ser dito do setor agropecuário e de serviços."
DECISÕES ERRADAS NA TAXA DE JUROS
"Acontece que este período de queda drástica teve a ver não apenas com a recessão econômica internacional, mas também com decisões tomadas aqui no Brasil. A nosso modo de ver, por exemplo, o impacto da elevação dos juros no primeiro semestre do ano de 2008 trouxe conseqüências negativas para o setor produtivo no último trimestre de 2008, porque a elevação ou redução da taxa de juros não têm efeito imediato na economia."
AJUSTE NOS ESTOQUES
"Outra razão que contribuiu para a queda significativa do PIB foi o ajuste de estoques. Decisões tomadas especialmente pelas grandes empresas de ajustar seu estoque permitiu que houvesse uma redução do emprego drástica e da produção. Dados deste ano já apontam para uma reorganização da indústria para atender não apenas o mercado interno, mas também o externo. Inegavelmente, temos uma economia se recuperando mais para o lado do mercado interno. Mas não há dúvida de que, enquanto a economia internacional não se recuperar plenamente, o Brasil sofre com os impactos decorrentes do seu comércio internacional. "
CRISE DE LONGA DURAÇÃO
"Não dá para dizer que o Brasil saiu da recessão e não pode encontrar uma situação de piora mais à frente. Porque também partimos do pressuposto de que a crise é de longa duração. Veja a experiência do Japão, que permaneceu nos anos 1990 num período largo de baixo dinamismo e num quadro recessivo, os Estados Unidos deverão ter muito tempo de ajuste, a economia internacional terá percalços nos próximos anos e pode ter conseqüências para o Brasil. Preferimos avaliar que estão saindo daquela queda do final do ano passado, mas isso não significa dizer que estamos entrando num céu de brigadeiro e que não poderemos ter, mais à frente, algum tropeço."
TAXA DE JUROS
"Cometeram-se dois erros no nosso modo de ver na política monetária. Primeiro, pela elevação da taxa de juros em 2008, que no nosso modo de ver não se justificou porque não estávamos diante de uma inflação de demanda. O consumo interno não estava tão expressivo, superior à capacidade de produção. Sobretudo porque foi um período de expansão dos investimentos muito intenso. Se a gente comparar o que estava ocorrendo do final de 2004 até o primeiro semestre de 2008, foi um ciclo de expansão dos investimentos que somente pode ser comparado ao que ocorria no Brasil nos anos 70. Do final dos anos 70 para cá, nós nunca tivemos no Brasil tantos anos com expansão tão rápida dos investimentos. O segundo equívoco do BC foi não ter reduzido a taxa de juros mais rapidamente quando o Brasil é contaminado pela crise, final de setembro e início de outubro. O BC demorou muito para tomar uma decisão de taxa de juros."
TERCEIRO ERRO
"Esperamos que o BC não cometa um terceiro erro de interromper a queda da taxa de juros que imaginamos ser necessária ao longo do ano, com quedas bastante significativas para o Brasil. Acreditamos que o Brasil pode reduzir mais sua taxa de juros nominal. Se a gente olhar outros países, frente à crise, parte significativa dos países opera taxas de juros reais negativas, abaixo da inflação.Seria uma contribuição necessária para que o Brasil saísse mais rápido da crise e ao mesmo tempo municiasse melhor o orçamento público com juros em queda, facilitando o estímulo a outros setores da atividade econômica e desoneração fiscal.
IPEA x BC
"Desde que assumimos o Ipea, nossa perspectiva foi oferecer as diferentes visões que podem ser calcados no estudo técnico. Dissemos no discurso de posse que o papel do Ipea não é organizar o consenso para o governo, dizer o que o governo deveria fazer, mas organizar o dissenso. Mostrar para o governo, para o poder Legislativo, para o Judiciário e para a sociedade que há visões distintas, há alternativas, nunca há apenas uma decisão a ser tomada. Esse é o papel que se espera de um organismo técnico como o Ipea. Ao mesmo tempo, por exemplo, fazemos projeções e erramos, como outras instituições erram. Mas, ao contrário de outras instituições, procuramos entender por que erramos, analisar os erros, oferecer para a sociedade, porque se trata de uma instituição pública."
DESLIGAMENTO DE PESQUISADORES
"De fato, alguns comentaristas fizeram a vinculação de decisões administrativas como essas e outras teriam a ver com um alinhamento ideológico da instituição. Evidentemente não procede. Os quatro colegas [foram afastados] por questões distintas. Estamos falando de duas pessoas aposentadas que se mantinham na instituição e nós fomos alertados pela procuradoria da instituição da ilegalidade da situação. Estávamos cometendo uma ilegalidade em ter dois colegas, excelentes colegas, diga-se de passagem, mas não tínhamos mecanismos legais para que eles continuassem fazendo o trabalho que deve ser feito. Os outros dois colegas pertenciam ao quadro do BNDES, estavam lá como fruto de um convênio que se extinguiu em dezembro de 2007."
TRABALHOS
"As publicações do Ipea, de agosto do ano passado para cá, foram multiplicadas por dez. Ampliamos drasticamente nossa capacidade de produção técnica. Nosso diretor de macroeconomia, João Sicsú, por exemplo, foi um dos organizadores de uma série de publicações, e uma delas retrata as visões do desenvolvimento, e tem personalidades das mais diferentes, de Maílson da Nóbrega a Maria da Conceição Tavares. Estamos prestes a publicar um estudo independente, que analisa 30 políticas públicas do governo, e muitas vezes o governo não se sente bem com as posições que temos evidenciado."
LONGO PRAZO
"Antes de 2007, o Ipea estava muito mais focado na produção de estudos de curto prazo e de avaliação de algumas políticas. Nós ampliamos as avaliações para as principais políticas públicas e passamos a entrar em áreas em que não tínhamos muito o que dizer, o que foi resultado de um concurso público que fizemos agora. O Ipea passa a ter uma diretoria de assuntos internacionais. A mesma coisa em relação a democracia, Estado, instituições, tema sobre os quais não tínhamos grande quantidade de técnicos. Nós ampliamos as áreas analisadas, não abandonamos o curto prazo, mas estamos orientando a instituição para tratar de temáticas de longo prazo. Infelizmente, nas décadas de 1980 e 1990, o Brasil ficou muito prisioneiro do curto prazo."
NOVOS PESQUISADORES TODOS EM BRASÍLIA
"Porque foram alocados em Brasília? Na verdade, não houve um alocação definitiva. O edital do concurso estabeleceu que durante o estágio comprovatório os novos pesquisadores deveriam permanecer em Brasília. Depois de encerrado esse estágio, eles podem ser alocados em outras áreas, como Rio de Janeiro, ou na perspectiva que trabalhamos, em escritórios regionais do Ipea. A gente considerou que esses colegas novos passassem em Brasília para ter uma visão da formação de quadros para poderem ser alocados em qualquer lugar do Brasil."
ESTRUTURA TRIBUTÁRIA
"Entendemos que o setor terciário é portador de novas fontes de riqueza, que a gente chama de 'riqueza imaterial'. Na nossa visão, essas novas fontes de riqueza não estão sendo tributadas de forma adequada. Previamente, estamos fazendo um estudo mais esclarecedor a respeito disso. É preciso rever a estrutura tributária deste país. A estrutura tributária que temos hoje é herdeira da economia material, da economia agrícola, agropecuária e industrial. A economia de serviços não tem uma boa estrutura tributária, não só no Brasil, mas no mundo todo. Isso não significa abandonar impostos nos outros setores. Temos de encontrar uma estrutura tributária que dialogue com o futuro."
IMPOSTO SOBRE OS POBRES
"O sistema tributário hoje onera demasiadamente o consumo, pouco a propriedade, pouco a renda. O Imposto Territorial Rural já chegou a representar, por exemplo, nos anos 1950, 6% da arrecadação, hoje é irrisório. Ademais das várias ineficiências, o sistema tributário onera demasiadamente os pobres. A cada 2 reais que as pessoas de baixa renda recebe, 1 ela transfere para o governo. Não há razão para isso."
CARGA TRIBUTÁRIA
"O aumento da carga tributária nos anos 1980 e 1990 se deu, basicamente, para pagar custo da dívida e as transferências, em programas como o Bolsa Família e o sistema previdenciária. Aquilo que o Estado tem para gastar em educação, saúde e habitação é praticamente 1 real em cada 3 arrecadados, o que parece ser uma situação muito estranha para um país que tem tanta desigualdade e depende ainda tanto do Estado como é o caso brasileiro."
ESTRUTURA TRIBUTÁRIA
"Entendemos que o setor terceário é portador de novas fontes de riqueza, que a gente chama de 'riqueza imaterial'. Na nossa visão, essas novas fontes de riqueza não estãop sendo tributadas de forma adequada. Previamente, estamos fazendo um estudo mais esclarecedor a respeito disso. É preciso rever a estrutura tributária deste país. A estrutura tributária que temos hoje é herdeira da economia material, da economia agrícola, agropecuária e industrial. A economia de serviços não tem uma boa estrutura tributária, não só no Brasil, mas no mundo todo. Isso não significa abandonar impostos nos outros setores. Temos de encontrar uma estrutura tributária que dialogue com o futuro."
IMPOSTO SOBRE OS POBRES
"O sistema tributário hoje onera demasiadamente o consumo, pouco a propriedade, pouco a renda. O Imposto Terrotorial Rural já chegou a representar, por exemplo, nos anos 1950, 6% da arrecadação, hoje é irrisório. Ademais das várias ineficiências, o sistema tributário onera demasiadamente os pobres. A cada 2 reais que as pessoas de baixa renda recebe, 1 ela transfere para o governo. Não há razão para isso."
CARGA TRIBUTÁRIA
"O aumento da carga tributária nos anos 1980 e 1990 se deu, basicamente, para pagar custo da dívida e as transferências, em programas como o Bolsa Família e o sistema previdenciária. Aquilo que o Estado tem para gastar em educação, saúde e habitação é praticamente 1 real em cada 3 arrecadados, o que parece ser uma situação muito estranha para um país que tem tanta desigualdade e depende ainda tanto do Estado como é o caso brasileiro."
BOLSA FAMÍLIA
"Nossas pesquisas mostram que desde 2004 vem caindo a desigualdade da renda pessoal. Dentro do Ipea, há diferentes interpretações. Há quem coloque a ênfase em programas como o Bolsa Família, por ser uma transferência focada nos fundamentalmente pobres. Há outros que avaliam que, além do Bolsa Família, o que tem tido um impacto forte é o sistema previdenciário, acompanhado do aumento do salário mínimo. Qual é o seu limite? Praticamente, estamos aproveitando todo o potencial do Bolsa Família na redução da desigualdade. A pobreza foi reduzida desde outubro para cá, apesar da crise. Analisando as razão, foi que nós temos hoje 35% da população protegida, de alguma forma, por programas de transferência de renda, seja o Bolsa Família, o Seguro Desemprego ou outro. Agora, analisando a evolução do índice de Gini, a gente percebe que o ritmo da desigualdade, percebemos que a queda desacelerou. Nós precisamos ter um papel mais ativo, por isso achamos que a tributação deve ter um papel mais importante na redução das desigualdades."
PROPRIEDADE QUASE NÃO É TRIBUTADA
"Simplificando, o sistema tributário no Brasil é bom para quem é rico e muito bom para quem tem propriedade. Vamos divulgar vários estudos sobre tributação, um deles é sobre IPTU. No Brasil, de maneira geral, os moradores de favela pagar mais, proporcionalmente a sua renda, mais do que quem mora em mansão.

DA SÉRIE: LEITURA INEVITÁVEL

Direto da Folha de S. Paulo, a visão sempre inteligente do colega LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, no artigo "Além dos números tradicionais", uma aula de Economia em poucas palavras.
Os analistas contam com dados semanais para acompanhar a dinâmica da economia brasileira. O Brasil é o país das estatísticas econômicas. Em minhas conversas, sempre dou o exemplo das informações sobre o nosso comércio exterior, disponíveis todas as segundas-feiras. Nos Estados Unidos, é preciso esperar dois meses para ter acesso aos números mensais de importação e de exportação.
Essa abundância de dados é uma herança de épocas passadas, quando olhávamos para os dados econômicos como quem acompanha os sinais vitais de um paciente preso a uma UTI sofisticada.
Estou convencido de que informações em excesso atrapalham o trabalho dos economistas. Afogados em uma floresta de dados, perdem a visão geral e não acompanham as evoluções de prazo mais longo do tecido econômico. Na Quest Investimentos, onde exerço minha profissão com gosto e empenho, procuro evitar essa armadilha reservando boa parte do meu tempo para acompanhar os movimentos de mais longo prazo, muitas vezes pouco visíveis. Com essa posição, consigo ler de forma diferente várias informações a que tenho acesso no dia a dia.
Na semana passada, ao acompanhar o noticiário diário de várias agências de notícias, deparei-me com a informação de que o volume de títulos privados de crédito em circulação no Brasil igualou o de títulos públicos. Confesso que levei um choque. Uma das características marcantes de nosso mercado financeiro sempre foi a insaciável absorção de recursos financeiros pelo governo federal, ficando o setor privado de lado. Os economistas chamam isso de "crowding out".
Com minha atenção voltada para essa informação, pedi a Marina Santos, que trabalha comigo, que consolidasse os dados. O resultado foi impressionante. Em dezembro de 2002, o volume de títulos de crédito de responsabilidade do Tesouro no mercado brasileiro - sem contar os emitidos no exterior - era sete vezes maior do que o emitido por empresas privadas.
Pois em maio deste ano essa relação tinha caído para 1,14 vez. Essa mesma comparação, usando como medida de crédito privado o total de crédito bancário mais os títulos negociados no mercado de capitais, nos mostra o mesmo comportamento: a relação caiu de 2,1 em dezembro de 2002 para apenas 0,8 em maio deste ano.
Outra forma de olhar esses números é considerar a taxa de crescimento de cada um. No caso da dívida pública, tivemos um crescimento anual de 5% nesse período; já a dívida privada (crédito bancário mais os papéis emitidos no mercado de capitais) aumentou à taxa de 24% ao ano, velocidade muito superior à do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nominal.
Esses números mostram um fenômeno pouco destacado no debate de hoje: o tamanho relativo do setor público reduziu-se de forma importante desde a época das privatizações. O aumento no volume de crédito ao setor privado mostra o extraordinário dinamismo da economia brasileira. A guinada conservadora do governo Lula na economia e a bonança mundial permitiram ao setor privado crescer muito mais do que a área estatal.
Esse fenômeno seria ainda mais vibrante se o governo tivesse aproveitado esse bom momento para: 1) exigir do Estado brasileiro um aumento de sua produtividade; e 2) reformar as regras de funcionamento de setores importantes como estradas, ferrovias e portos. Mas, pelo menos, deixamos para trás o aleijão de muitas décadas que era o governo expulsando o setor privado dos mercados de crédito.

A ECONOMIA AMERICA E A ELEIÇÃO BRASILEIRA EM 2010

Gosto de postar o próprio texto em sua íntegra para facilitar sua leitura, sem que o leitor tenha a necessidade de ir a outro local para lê-lo. Abaixo, direto do VALOR, uma mensagem que precisamos avaliar, considerando como vem sendo conduzida a política econômica brasileira hoje e o que vem para 2010.
Os alertas de Bernanke

Os juros americanos vão continuar baixos por longo tempo e novas medidas de apoio à recuperação econômica poderão ser tomadas pelo Federal Reserve (Fed). Mas, apesar disso, já é tempo de se pensar numa estratégia para a fase seguinte, quando será preciso desmontar as medidas de combate à recessão. As duas mensagens foram transmitidas pelo presidente do Fed, Ben Bernanke, em depoimentos na Câmara e no Senado, em Washington. O governo brasileiro deveria prestar atenção principalmente à segunda mensagem, porque todo o mundo será afetado quando a política de juros próximos de zero chegar ao fim na maior potência econômica do mundo.

As perspectivas da economia americana parecem estar melhorando, mas a recuperação será lenta e o desemprego permanecerá elevado por muito tempo, segundo Bernanke. Os consumidores ainda estão muito endividados e os preços dos imóveis - apesar de algum aumento recente - permanecem muito baixos. O consumo, portanto, só voltará a crescer muito devagar e a lentidão deverá estender-se pelo próximo ano, advertiu o presidente do Fed. O aviso vale também para os demais países: com os consumidores retraídos ainda por muito tempo, as importações americanas deverão crescer também lentamente. Durante anos, o consumo nos Estados Unidos foi um dos principais motores da economia mundial. Esse motor, pela avaliação dos economistas do Fed, reproduzida nos depoimentos de Bernanke, deverá continuar em marcha lenta pelo menos até o fim do próximo ano. Não há, por enquanto, sinal de pressões inflacionárias e esse quadro, de acordo com o presidente do Fed, não mudará antes de uma firme reativação da economia. Por longo tempo o objetivo da política monetária continuará sendo o fortalecimento da atividade econômica. Quando for preciso mudar, o aperto da política deverá ser gradual e o Fed, segundo Bernanke, dispõe dos instrumentos para promover a reorientação. Mas a próxima etapa não vai depender apenas da autoridade monetária. Também é preciso, de acordo com o presidente do Fed, pensar desde já em como desmontar os enormes incentivos fiscais concedidos pelo Tesouro desde o agravamento da crise, nos meses finais do ano passado. Isso é tarefa não só para o Executivo, mas também para o Congresso, porque os parlamentares têm uma importante participação no desenho do orçamento federal. "Se não demonstrarmos um firme compromisso com a estabilidade fiscal, correremos o risco de não ter nem estabilidade financeira nem crescimento econômico durável", advertiu Bernanke durante o depoimento na Câmara de Representantes. Esta advertência contém mais do que as palavras expressam: se Executivo e Congresso não fizerem sua parte, cuidando da arrumação do orçamento, o Fed terá muito mais trabalho para neutralizar o efeito inflacionário das medidas tomadas contra a recessão. Na melhor hipótese, portanto, o Tesouro cuidará de sua parte e começará a desmontar no momento adequado os incentivos ao consumo e a vários setores produtivos. Isso facilitará a transição, mas, ainda assim, sobrará um enorme endividamento, se o déficit fiscal atingir os níveis previstos para este ano e para o próximo, em torno de US$ 1,8 trilhão no exercício fiscal de 2009 e de US$ 1,2 trilhão no seguinte. Será preciso rolar uma dívida bem maior que a dos anos anteriores à crise e isso pressionará, provavelmente, os juros correntes no mercado. Ao mesmo tempo, o aperto da política monetária, mesmo gradual, também contribuirá para encarecer o crédito. O efeito será pior se o ajuste fiscal for deixado para mais tarde. A dívida pública e a evolução dos juros americanos serão assuntos importantes para quem vencer a eleição presidencial do Brasil. Se o sucessor do presidente Lula herdar um orçamento em estado razoável, poderá atravessar o ajuste pós-crise sem maior dificuldade. Se precisar correr atrás de financiamento, terá um difícil início de governo. Se o presidente Lula continuar aumentando os gastos para ganhar a eleição, deixará um legado incômodo para seu sucessor - e para o País.

ECONOMIA - PREOCUPAÇÃO COM O DÓLAR

Direto da Folha de S. Paulo, um assunto que estou acompanhando e tentando prever hoje o seu valor em 31/12/09.
A desvalorização do dólar comercial ante o real no acumulado de 2009 é a maior da história se comparada ao mesmo período dos anos anteriores, segundo a consultoria Economática.
De acordo com a consultoria, a cotação de venda para a Ptax, a taxa média de câmbio calculada pelo Banco Central, recuou 18,52% até anteontem.
Segundo a Economática, a maior desvalorização desde então havia sido em 2003, quando, até o dia 21 de julho, a moeda havia recuado 18,23%, ou 0,19 ponto percentual a menos que neste ano.
O recuo acumulado do dólar durante o governo Lula é o maior entre as principais economias latino-americanas (México, Venezuela, Colômbia, Chile, Peru, Argentina e Brasil) para o mesmo período: 46,1%

TAXA BÁSICA DE JUROS - SELIC - ENTREVISTA

Abaixo, trechos da entrevista com o colega Ricardo Carneiro, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), realizada pela Folha de S. Paulo.

Para ele, agora que a taxa Selic está em 8,75% ao ano, os juros brasileiros se aproximam de um patamar "razoável" e deixam de ser o principal obstáculo para o desenvolvimento do país.

FOLHA - Como o senhor avalia a atuação do BC nesta crise, no que diz respeito à administração da taxa de juros?
RICARDO CARNEIRO - Houve progressos, claro. O Copom tem agido corretamente desde janeiro. Antes, fez várias barbeiragens, como responder com aumento de juros a choques de oferta de matérias-primas - e isso ainda em 2008, quando a crise estava claramente anunciada.

FOLHA - Existe um limite para a redução dos juros no Brasil?
CARNEIRO - Como é uma economia aberta, isso não depende só do país. Deve haver um equilíbrio entre as taxas internas e as que são cobradas do Brasil no exterior, o que, em última análise, depende do risco soberano. Uma taxa real [descontando a inflação] de 4% ao ano parece bastante razoável. Abaixo disso, poderia provocar uma saída de capitais.

FOLHA - Será que, com a esperada recuperação da economia no segundo semestre, pode haver algum repique inflacionário que obrigue o Banco Central a voltar a subir a Selic?
CARNEIRO - Acho difícil, porque o nível de utilização da capacidade instalada está bastante baixo. Depende também de uma retomada dos investimentos, caso a demanda cresça muito rapidamente, mas a inflação não é um problema que esteja no horizonte. Aliás, no nível em que se encontra atualmente, a taxa de juros também deixou de ser o pior problema da economia brasileira. A taxa que está errada é a de câmbio. Cometeu-se um grande equívoco quando se permitiu que chegasse aonde está agora. A desvalorização que aconteceu neste ano é a maior da história recente do país.

FOLHA - Se os juros não são um empecilho, então o que está impedindo as empresas de investir são a demanda interna e a taxa de câmbio, que prejudica as vendas para o exterior?
CARNEIRO - Quando se fala em demanda, há três categorias importantes. O consumo das famílias, os gastos do governo e as exportações. A primeira é mais fácil de recuperar e a outra se manteve; já as vendas externas caíram muito, e o câmbio atual tira o seu dinamismo. É grave. Estamos perdendo mercado para a China até na América do Sul, onde sempre fomos fortes, e o ritmo de importação está se acelerando.

sábado, 25 de julho de 2009

ECONOMIA EM CRISE E DUAS MALAS EXTRAS

Além da economia continuar nesta crise mundial (porém, bravamente resistindo e certa da vitória), ainda temos que acompanhar DOIS complexos assuntos que, cada qual à sua maneira, conseguem adiar o retorno aos bons tempos.
Com vocês, direto do Diário do Nordeste, da nossa Fortaleza-CE, o mestre SINFRÔNIO.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

TAXA BÁSICA DE JUROS - SELIC

Conforme tínhamos postado anteriormente à reunião do COPOM, restou confirmada a taxa de juros (SELIC) para 8,75% ao ano.
E, adiantando o assunto, sem alterações substanciais até o final do ano.
Sem apostas, pois, afinal, tudo pode mudar para não mudar nada.
E 2010 vem com tudo e mais alguma coisa...

DINHEIRO - TODOS QUEREM MAIS

Niall Ferguson está fabuloso em seu "A ASCENSÃO DO DINHEIRO - A história financeira do mundo". Vale a pena o investimento de $$$ na compra do livro. Está tudo lá, apesar de ter sido concluido e publicado nos Estados Unidos em junho de 2008 e agora, em julho de 2009, no Brasil.
Gostei demais de ler que "o dinheiro é a raiz da maior parte do progresso" - "a ascensão do dinheiro tem sido essencial para a ascensão do homem" - "atrás de cada fenômeno histórico grandioso existe um segredo financeiro" e a minha preferida "MAIS CEDO OU MAIS TARDE, TODAS AS BOLHAS EXPLODEM".
E números fantásticos, tais como que, em 2007, a receita líquida de US$ 46 bilhões do GOLDMAN SACHS excedeu o PIB de mais de UMA CENTENA de países.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

BANCO CENTRAL: PREVISÃO TAXA DE JUROS

Após consulta às cartas e leituras de longos relatórios, estimamos que a reunião do Comitê de Política Monetária - COPOM do BANCO CENTRAL dias 21 e 22/07/09 reduzirá a taxa básica de juros - SELIC em até 0,50 p.p., alterando dos atuais 9,25% ao ano, para algo próximo a 8,75% ao ano.
A conferir, na próxima quarta-feira. (Desta vez, não apostamos).

O HOMEM NO MUNDO DA LUA

Como não é sempre que o espécie Homo Sapiens pisa na LUA, este blog comemora os 40 anos desse fantástico evento. Afinal, dia 20 de julho de 1969 é, e sempre será, uma grande data.
Direto do blog do Noblat, a imagem acima demonstra a beleza deste planeta vista do módulo lunar há 40 anos. Finalmente, a terra é AZUL.

sábado, 18 de julho de 2009

ECONOMIA 2009 COM NOURIEL ROUBINI

Para o colega NOURIEL ROUBINI, um dos poucos que previu a atual crise, direto do GLOBO:

- Há luz no fim do túnel. E, pela primeira vez, não é a de um trem (na direção contrária) - disse ROUBINI em teleconferência em Nova York promovida pelo governo chileno. - O pior ficou para trás em termos de condições econômicas e financeiras.

É o que também torcemos. E que venha 2010...

DICA DE LIVRO - ECONOMIA COM NIALL FERGUSON

O historiador NIALL FERGUSON, Professor de Harvard e pesquisador de Oxford e Stanford é também um polemista. De perfil conservador, argumenta que impérios podem ser benéficos para a humanidade, tese que defendeu em "Empire", sobre a Inglaterra, e em "Colossus", sobre os EUA. Suas obras costumam ser transformadas em séries de televisão, como aconteceu também com "A Ascensão do Dinheiro", que foi ao ar no Reino Unido. O livro que fez decolar a sua carreira internacional, chamado "The Pity of War", de 1998, trata da Primeira Guerra Mundial.

É justamente o entrelaçamento eficaz entre história econômica e política que o alçou à fama mundial: ele foi eleito em 2004 uma das cem pessoas mais influentes do mundo pela revista americana "Time Para ele "Por trás de todos os grandes eventos da história humana, existe uma história financeira". Neste mês está lançando no BRASIL o seu livro “A ascensão do dinheiro”. Em entrevista a FOLHA, vejam o detalhe de uma resposta .

FOLHA - O senhor cria a "Chimérica" no seu livro, o que é isso?
FERGUSON - Meu argumento é que, para entender a economia mundial, é necessário entender a relação entre a China e a América [EUA]. A China exportadora, a América importadora. A China poupadora, a América gastadora. Essa relação esteve no centro da economia global nos últimos dez anos, e o interessante é perguntar se a crise levará ao fim da "Chimérica". A China tem reclamado cada vez mais do modo como os EUA lidam com a crise.

DA SÉRIE: LEITURA INEVITÁVEL

A coluna na FOLHA do colega PAULO RABELLO DE CASTRO, sempre é daquelas que provocam reflexão e instigam o leitor a conhecer melhor a economia. E neste excelente texto, tem muito a ver com o nosso bolso $$$$. Se a Bíblia registra os dez mandamentos de DEUS, aqui temos também os dez mandamentos do mau imposto. A leitura é até cômica, se o assunto não fosse trágico. Boa leitura a todos.

"RECORDE , CARGA FISCAL CHEGA A 36% do PIB." Com essa manchete, a Folha mostrou, na quarta passada, que chegamos em 2008 à marca oficial dos 36% de peso do Estado nas costas do cidadão. Agora o governo abocanha mais de quatro meses da renda anual dos brasileiros! Nenhuma justificativa plausível existe para descompasso tão gritante entre receita e contraprestação de serviços do governo. Fica claro que uma parcela privilegiada da população já se apropriou da máquina do Estado em proveito próprio.

No livro "Tributos no Brasil: Auge, Declínio e Reforma" (2008), com Ives Gandra Martins e Rogério Gandra, e mais uma dezena de notáveis especialistas, mostramos, mais uma vez, quanto o sistema tributário brasileiro inviabiliza o país como nação justa e madura em nosso patriótico imaginário.

Em alerta contra o continuado desperdício de oportunidades, publico hoje este decálogo da tragédia tributária nacional -para ressaltar que o Brasil não é mais aquela "Belíndia" (mistura de Bélgica com Índia, criação de Edmar Bacha), mas virou "In-gana" - na perspicaz paródia de Delfim Netto -, que assim define o país como sendo metade Inglaterra, pelo nível dos impostos que cobra, e metade Gana (com as devidas desculpas aos ganenses), pela qualidade da contrapartida em serviços do Estado.

Eis o decálogo do mau imposto em "In-gana".

1) "Aqui os pobres pagam o dobro dos ricos." Provado por pesquisas diversas (Fipe, Ipea etc.) que a carga tributária é tão mais pesada quanto menor for seu salário!

2) "No Brasil, para tributar basta flagrar alguém trabalhando." É o único país que pune o trabalho e, especialmente, crucifica a industrialização, via IPI, imposto canalha que Lula sabiamente vem reduzindo. O homem sabe das coisas!

3) "Em "In-gana", só metade da carga fiscal financia os serviços do Estado; a outra metade é -toda ela- para repartir entre juros e aposentadorias!"

4) "Aqui, qualquer reforma tributária será sempre para elevar a carga fiscal, portanto, cuidado com a próxima." Vide a última mudança de alíquotas do PIS e da Cofins, que elevou a carga desses tributos.

5) "O custo administrativo de estar em dia com o fisco no Brasil é provavelmente o mais alto do mundo." Aqui, via de regra, o contribuinte é quem está errado.

6) "Nossa carga tributária recorde corresponde a uma ineficiência previdenciária recorde." Gastamos 12% do PIB para ter uma das previdências menos justas do mundo.

7) "Nos últimos 15 anos (Plano Real), a carga tributária financiou uma conta de juros do tamanho da própria dívida pública original." É o peso financeiro dos políticos.

8) "Com uma crescente carga fiscal, nem o governo investe nem deixa o setor privado investir." O setor público elimina, via tributação, mais de 60% da capacidade de investimento anual do setor privado, assim que essa intenção brota na renda pessoal e, via lucro, nos balanços das empresas.

9) "Contradição: com uma carga fiscal mais baixa (máximo de 30% do PIB), o Brasil poderia crescer o dobro (6% ao ano) até 2020 e arrecadaria o mesmo volume de tributos para o Estado."

10) "O atual regime tributário não permitirá ao Brasil ser líder, nem mesmo dos países vizinhos, quanto menos se projetar na cena mundial." Enquanto perdurar o atual arranjo político e tributário, é melhor para "In-gana" continuar investindo apenas no futebol.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...