sábado, 27 de agosto de 2011

O problema de Ben Bernanke


PAUL KRUGMAN, hoje na FOLHA DE S. PAULO, escreve que com o FED intimidado pela oposição para que fique inativo, eh difícil ver um fim para o desastre econômico.   

Investidores aguardavam ansiosamente o discurso de Ben Bernanke na reunião anual do Fed em Jackson Hole.
Eles queriam saber se Bernanke iria anunciar novas políticas capazes de tirar a economia dos Estados Unidos de algo que está parecendo um estado quase permanente de demanda deprimida e desemprego alto.
Eu ficaria muito surpreso se Bernanke propusesse qualquer coisa significativa.
Por que eu não espero muito de Bernanke? Em duas palavras: Rick Perry.
Não quero dizer que Perry, o governador do Texas, esteja pessoalmente funcionando como obstáculo a uma política monetária eficaz. Ainda não, pelo menos.
Estou usando Perry -que ameaçou Bernanke de consequências pessoais graves se implementar uma política expansionista antes da eleição de 2012 - como símbolo da intimidação política que está matando nossa esperança de recuperação.
Sob condições normais, esperaríamos que o Fed injetasse ânimo na economia, reduzindo as taxas de juros.
Mas os juros que o Fed normalmente visa já estão em quase zero. Então o que o Fed pode fazer?
Em 2000 um economista chamado Ben Bernanke apresentou uma série de propostas para uma política no "limite inferior zero". É verdade que o artigo focou o Japão, não os Estados Unidos. Mas os EUA se encontram agora em uma armadilha econômica muito semelhante à japonesa, apenas mais aguda. Por que Bernanke 2011 não está ouvindo os conselhos de Bernanke 2000?
Em 2000, ele sugeriu estimular a economia japonesa com uma série de políticas não convencionais e estava no caminho certo.
Então por que o Fed não segue a agenda que seu próprio presidente recomendou?
No ano passado o Fed chegou a instituir uma política de comprar dívida de longo prazo. Mas enfrentou uma reação política totalmente fora de proporção ao efeito modesto que isso exerceu sobre a economia, reação essa que culminou com a declaração de Rick Perry de que qualquer afrouxamento monetário antes da eleição de 2012 seria "quase uma traição" e que, se Bernanke fosse adiante e o fizesse, "nós aqui no Texas lhe daríamos tratamento brutal".
Imagine a reação que haveria se o Federal Reserve implementasse as outras e possivelmente mais importantes partes da agenda de Bernanke 2000, visando um índice de inflação mais alto e saudando o enfraquecimento do dólar. É certo que haveria uma tempestade política.
Agora você entende por que não previa anúncios de políticas de peso em Jackson Hole. Em 2000, Bernanke acusou o Banco do Japão de sofrer de "paralisia autoinduzida"; bem, agora o Fed está sofrendo de paralisia externamente induzida.
Na prática, ele foi intimidado politicamente para que fique de lado, como mero observador, enquanto a economia estagna.
A oposição política paralisou a política fiscal; ao invés de ajudar a criar empregos, o governo federal está recuando, com desincentivo à produção e ao emprego.
Com o Federal Reserve também intimidado para que fique inativo, é difícil divisar qualquer fim para o desastre econômico em curso

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Churchill e os governos do PT.


LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 68, engenheiro e economista, escreveu hoje na FOLHA DE S. PAULO.

A coluna de hoje lembrando uma imagem que Winston Churchill usava para caracterizar os americanos na primeira metade do século passado: "A sociedade americana sempre acaba fazendo as coisas certas, mas antes disso experimenta todos os caminhos errados que existem".
Lembrei-me dessa imagem ao ler na imprensa duas notícias relativas à privatização de empresas de serviços públicos no governo Dilma: a primeira descreve o bem-sucedido leilão de privatização de um aeroporto na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte; a segunda especula sobre a possível venda, ao setor privado, das distribuidoras de energia elétrica em seis Estados do Norte e do Nordeste e que são controladas hoje pela Eletrobras.
Na solenidade de encerramento do leilão de privatização do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, tivemos até a cena tradicional de "bater o martelo" na Bolsa de Valores de São Paulo. A foto desse ato simbólico nos jornais levava, há alguns anos, os membros do PT à revolta pública nas ruas.
Agora, passou despercebida mesmo entre seus mais radicais militantes. Mas o tempo passa e o Brasil, felizmente -como os Estados Unidos na imagem de Churchill-, também acaba trilhando o caminho correto depois dos erros cometidos.
Agora a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) promete levar adiante a concessão dos aeroportos de Cumbica e de Viracopos, ambos em São Paulo, e de Brasília. Espero sinceramente que prevaleça, daqui para a frente, a máxima caipira que diz que "em porteira que passa um boi passa também uma boiada" e que a privatização dos aeroportos permita que o cidadão tenha mais respeito quando for utilizar os serviços de um aeroporto no Brasil.
No caso das empresas estaduais de distribuição de energia elétrica, várias reportagens no jornal "Valor" trazem um resumo transparente do caos que domina a gestão dessas empresas, depois de dez anos sob o controle da Eletrobras.
Desde 2008, só em conversão de dívidas para com a estatal federal em capital social já foram gastos mais de R$ 5 bilhões. Mesmo com todo esse esforço de redução de dívidas para manter as empresas funcionando, elas já acumulam prejuízo consolidado de mais de R$ 750 milhões.
Esse estado caótico, aliás, levou os auditores dessas empresas a colocar em seus balanços uma nota em que chamam a atenção para um possível colapso operacional em futuro próximo.
Conheço bem esse quadro -principalmente as razões que levaram a essa situação caótica. Durante os anos em que fui presidente do BNDES, coordenei a privatização de várias empresas estaduais de distribuição de energia elétrica e, nesse processo, pude observar que nem sempre a boa gestão era praticada para o bem do povo e do Estado. Por isso, não me emocionam os números revelados finalmente pela Eletrobras.
Uma das empresas em pior situação quando o BNDES implantava esse processo de privatização nos Estados era a Cemar, a distribuidora de energia elétrica no Maranhão.
Nesse feudo da família Sarney, essa empresa estava sob o comando de um filho do ex-presidente da República. Por motivos políticos, a empresa continuou nas mãos do governo estadual e somente em 2004 foi vendida a um grupo privado.
Nesses últimos sete anos, tudo mudou e transcrevo, a seguir, parte do que foi publicado no jornal "Valor": "Dona de um terço do capital da Companhia Energética do Maranhão (Cemar), a Eletrobras pouco dá palpite em sua administração, pois está feliz com o que acontece por lá. Em sete anos, viu a distribuidora sair de um estado falimentar, com serviço que deixava o cidadão maranhense, na média, 60 horas por ano sem luz, para uma situação em que os dividendos pagos já se aproximam de R$ 1 bilhão e a média de horas sem luz caiu para menos de 20".
Espero sinceramente que a presidente Dilma vença a oposição que sindicatos e políticos ainda fazem às privatizações e siga os conselhos de técnicos da Eletrobras e do próprio Ministério de Minas e Energia e leve adiante a venda dessas empresas.

Seminário de Economia.


Economistas e ex-integrantes do governo FHC debateram no seminário “Transição Incompleta e Dilemas da (Macro)Economia Brasileira”. Hoje no ESTADÃO.


A crise internacional evidenciou o fato de que a política de bem estar social, adotada pelos países europeus e almejada pelo Brasil, chegou ao seu limite. O ônus de oferecer serviços de educação, saúde, transporte e segurança apostando em um Estado capaz de socializar perdas e acomodar conquistas é o elevado nível de endividamento público.

Esse é o consenso a que chegaram economistas e ex-integrantes do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que participaram nesta quinta-feira, 25, do seminário Transição Incompleta e Dilemas da (Macro)Economia Brasileira, realizado na capital paulista pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) e BM&FBovespa.

Para o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, a crise do mundo desenvolvido levou a um processo de reavaliação dessa política, cuja implementação vem sendo desejada há décadas pelos países emergentes. "Hoje estamos em um processo de recente reavaliação. Os países estão ou fora das possibilidades dos gastos do setor público ou fora do limite que a população, pelo menos a que paga impostos, aceita como necessário ou razoável para prover os serviços esperados", afirmou.

Na avaliação de Malan, o Brasil, que tomou esse modelo como referência, precisa discutir os impactos dessa política sobre as contas públicas. Isso porque as tentativas de elevar impostos de forma continuada, conforme fizeram os países europeus, afetam negativamente o investimento e o crescimento econômico, destacou Malan. "O País hoje tem a mais alta proporção de gasto público em relação ao PIB comparada a qualquer país em desenvolvimento, mais alta que muitos países desenvolvidos. O Brasil também tem hoje a mais alta carga tributária entre todos os países em desenvolvimento, também mais alta que muitos países desenvolvidos. Essa discussão engatinha entre nós, mas precisa ser aprofundada", disse.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o Brasil vive um momento em que precisa de ideias novas e deve retomar a agenda de reformas estruturais. Isso, na avaliação dele, é o que pode garantir o crescimento econômico a médio e longo prazo. Questionado se concorda com a avaliação de Malan, de que o modelo de bem estar social está se esgotando, o ex-presidente concordou, mas ponderou que ninguém pode pensar o Brasil sem uma política social ativa. "Malan está dizendo que temos que tomar cuidado porque lá na Europa chegou-se a um momento em que ‘desbalançou’. Veja o que aconteceu na Espanha, com déficit público elevadíssimo. Isso pode chegar aqui, se nós não tivermos cuidado", afirmou. "Se quisermos preservar a possibilidade de ter uma política social ativa, temos que olhar para isso."

FHC ressaltou que o Brasil não está imune à crise. "Tudo que está acontecendo de positivo agora pode se perder se não nos preparamos para o que vai acontecer pelo mundo", afirmou. "Todos aqui concordam que a crise global que nós estamos vivendo é grande. Ela começou em 2008 e continua, e a ideia de que o Brasil é uma ilha isolada que não pode ser alcançada está equivocada. Temos de ter já uma previsão do futuro, e isso implica em retomar uma agenda de reformas."

O economista Andre Lara Resende, ex-diretor do Banco Central e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, criticou a adoção da política clássica keynesiana desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que permaneceu com a presidente Dilma Rousseff. Na avaliação dele, o Brasil perdeu a oportunidade de implementar políticas econômicas que pudessem levar à redução da taxa de juros e a um maior crescimento econômico. Segundo ele, isso é fruto de um processo de transição e estabilização econômica inacabados. "A inflação foi resolvida, mas ela é apenas um sintoma. A raiz do problema é a incompatibilidade de ações. E as pressões na economia brasileira são as mesmas de sempre", disse, em referência ao excesso de gasto público, que tem como consequência uma alta na inflação e, por conseguinte, a necessidade de uma taxa de juros elevada.

Sobre essa questão, Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio da Rio Bravo Investimentos, foi enfático. "A dívida de hoje são os impostos de amanhã", afirmou, citando que o custo anual da rolagem da dívida brasileira corresponde a 17% do PIB. Para Franco, os problemas que têm levado à crise nas economias centrais não estão muito distantes do País. Ele pôs em dúvida a capacidade de o governo federal entregar o prometido corte de gastos destinado a amenizar os impactos da crise na economia, e, ao mesmo tempo, manter a base de apoio unida no Congresso. "Estamos perdendo uma grande oportunidade de cumprir uma agenda que traria a taxa de juros para patamares normais", alertou.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

The World's 100 Most Powerful Women: DILMA 3ª


Dilma Rousseff made news when she was elected to lead Latin America's largest economy in October, but in many ways the election result was not a surprise. As the first female Chief of Staff under reformist President Lula da Silva, appointed in 2005, she was widely expected to be his successor. It is her rise to that post that is remarkable. Involved in Latin America's radical labor politics, Rousseff was jailed for two years. In 2001, when she was appointed Minister of Energy, Rousseff began to alter her views towards a more a pragmatic and capitalist approach. Today she is battling a rebellious National Congress threatening to halt her agenda and Brazil's economic boom. Outside politics, Rousseff is an avid theater fan, particularly classical Greek drama and opera.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Brasil precisa manter a solidez fiscal diante da crise.


Muito bom o editorial de hoje do VALOR ECONÔMICO. Uma leitura imperdível.

O agravamento da crise internacional, nas últimas semanas, encontra o Brasil em situação confortável na área fiscal. Enquanto vários países da zona do euro se debatem em meio a um elevado endividamento que ameaça a saúde do sistema bancário e pode jogar as economias centrais em recessão, a dívida líquida do setor público brasileiro segue em trajetória de queda, devendo ficar abaixo de 40% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Mesmo considerando o endividamento bruto total, que alcançou 56% do PIB em junho, de acordo com dados do Banco Central (BC), o Brasil ainda está em patamar bem inferior ao dos países europeus, Estados Unidos e Japão.

É importante ressaltar que a dívida bruta talvez não seja o melhor critério para avaliar a trajetória do endividamento brasileiro como indicador de solvência pois parte considerável dela é a contrapartida das reservas internacionais. Ao comprar moeda estrangeira para compor as reservas, o BC despeja reais na economia em grande quantidade e precisa, no momento seguinte, colocar títulos no mercado para enxugar o meio circulante, evitando, assim, os efeitos inflacionários de um excesso de liquidez. O BC realiza esse movimento por meio das chamadas operações compromissadas, em que ele oferece títulos com a garantia de recompra. Esses títulos são contabilizados na dívida bruta.

Não há, hoje, qualquer dúvida entre os analistas e os investidores sobre a solvência do setor público brasileiro. No quadro atual, a política fiscal do país deve ser entendida na dimensão em que ela é tratada em qualquer livro texto de economia, ou seja, como um instrumento de expansão ou de contração da demanda agregada. Os economistas já demonstraram que, para manter a dívida pública líquida na trajetória de queda, não é necessário o esforço fiscal que está sendo feito este ano pelo governo. Um superávit primário menor seria suficiente para manter a dívida em queda como proporção do produto.

A meta de superávit primário do setor público que será alcançada este ano, em torno de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), é uma contribuição da política fiscal para o controle da demanda agregada e, por conseguinte, da inflação. Esta foi a mudança na política econômica feita pela presidente Dilma Rousseff.

Durante o governo Lula - principalmente no segundo mandato do ex-presidente - a política fiscal esteve em conflito com a política monetária. Enquanto o Banco Central elevava a taxa de juros para controlar a inflação, o Ministério da Fazenda aumentava as despesas públicas. Esta situação se agravou em 2010, quando o governo Lula chegou a usar uma parcela da receita do petróleo do pré-sal, que sequer foi extraído, para garantir os gastos públicos. Tal distorção - o conflito entre as políticas monetária e fiscal - marcou o governo anterior.

Dilma assumiu a presidência em meio a fortes pressões inflacionárias herdadas da gestão anterior. Para enfrentar esse quadro adverso, ela buscou um equilíbrio entre as políticas fiscal e monetária. Com essa estratégia, Dilma procurou reduzir o peso da taxa de juros no controle da inflação. Para obter esse equilíbrio, o governo programou um ajuste fiscal de R$ 50 bilhões, que está sendo executado com rigor. No primeiro semestre, o governo federal já havia cumpriu 68,7% de sua meta fiscal para todo o ano.

A dosagem de política fiscal e monetária adotada pelo governo Dilma tem se mostrado eficaz, pois há sinais consistentes de que a inflação convergirá para o centro da meta - de 4,5% - no próximo ano. Na semana passada, o presidente do BC, Alexandre Tombini, chegou a projetar uma queda de 2 pontos percentuais da inflação acumulada em doze meses, no período que vai de setembro a abril do próximo ano.

Se as previsões de Tombini se confirmarem, a inflação estará em torno de 4,8% ao fim do primeiro quadrimestre de 2012. Com isso, o equilíbrio entre as políticas fiscal e monetária poderá registrar o seu primeiro sucesso.

A crise internacional, cujos desdobramentos ainda são de difícil previsão, poderá levar o mundo a uma nova recessão. Se isso vier a ocorrer, o crescimento econômico do Brasil também será afetado. Nessa situação, a melhor alternativa do governo é manter uma política fiscal forte e fazer os estímulos necessários à atividade econômica por meio da política monetária, com o corte dos juros.

domingo, 21 de agosto de 2011

Marx estava certo (e errado).

Sérgio Malbergier escreveu este provocativo artigo na FOLHA, que não podemos deixar de ler. 

Crises podem ser supervalorizadas, ainda mais numa era de noticiário histérico e ubíquo e de mercados histéricos e ubíquos.


Há em curso uma história econômica maior (e melhor) do que a implosão da bolha de consumo e bem-estar dos países ricos, que é a emancipação econômica de bilhões de cidadãos do chamado mundo emergente.

Quanto mais o segundo ato da crise econômica global se desenvolve, mais claro fica que ela é uma crise econômica do Hemisfério Norte. Os países do Sul já saíram da crise há muito tempo. O processo de inclusão socioeconômica das massas desses países se mostrou resistente ao empobrecimento dos ricos.


Nos EUA e na Europa Ocidental, o estouro da grande bolha de prosperidade (via crédito, nos EUA; via benefícios socioeconômicos, na Europa), ainda causará muita agonia. Suas empresas, instituições e cidadãos se sentem inseguros e pessimistas quanto ao futuro, o que é mortal para os negócios, mesmo que se tenha o melhor ambiente de negócios do mundo.

Nos EUA, pátria do consumo, as vendas de carros neste ano devem ser quase 30% menores do que em 2001. O mercado imobiliário do país voltou a afundar, e nunca tantos americanos dependeram da ajuda do governo para comprar alimentos.


Corta para o Brasil, que tem um ambiente de negócios muito pior que o dos EUA, mas onde a confiança é a maior da história, as vendas de carros batem recordes, o mercado imobiliário atinge picos nunca vistos e a procura por programas como o Bolsa-família cai com o aumento do emprego e da renda.

São dinâmicas completamente diferentes. De um lado, EUA, Europa e Japão atordoados pelo estouro da bolha de prosperidade. Do outro, Brasil, China, Índia, Indonésia, Turquia, Angola, Colômbia, Peru, etc., países que depois de anos de liberalização e avanços macroeconômicos vivem processos sólidos de desenvolvimento.

É um tremendo rearranjo geoeconômico que terá conseqüências geopolíticas e culturais muito maiores do que conseguimos vislumbrar hoje.

Na edição 2011 das Maiores Ideias do Ano da prestigiosa revista americana "The Atlantic", a primeira da lista é a emergência da classe média dos emergentes.

Gillian Tett, a editora do "Financial Times" que tratou do tema, escreveu esperançosa que países como Brasil, China e Índia, que antes contribuíam com "choque de oferta" na economia mundial, ao produzir produtos mais baratos, agora, com suas massas consumidoras, podem fornecer um "choque de demanda" capaz de reativar as economias do Norte.

Diz muito de nossos tempos que consumidores como o brasileiro, o indiano ou o chinês possam ser vistos como a salvação das economias de Europa e EUA.

O otimismo aqui no Sul, estampado em quase todos os rostos brasileiros, é o oposto do pessimismo do Norte, cujo porta-voz melhor talvez seja o economista Nouriel Roubini, apelidado de Mister Apocalipse e que previu com antecedência de anos o estouro da bolha de crédito imobiliário e suas consequências.

Roubini anda tão pessimista que disse ao wsj.com que Karl Marx pode ao final estar certo sobre o capitalismo. Como?

Para Roubini, o brutal processo de desalavancagem, que reduz gastos públicos e privados, cria governos zumbis, consumidores zumbis, lares zumbis. Nos últimos anos, disse ele, houve enorme redistribuição de riqueza do trabalho para o capital, dos salários para os lucros. E como as empresas gastam proporcionalmente menos do que os lares, essa concentração reduz a demanda e ameaça a economia.

"Marx estava certo. Em algum ponto, o capitalismo pode se autodestruir. Não se pode continuar transferindo renda do trabalho para o capital sem gerar excesso de capacidade e falta de demanda agregada. Foi isso o que aconteceu. Pensávamos que os mercados funcionavam bem. Eles não estão funcionando. A empresa, para sobreviver e prosperar, pode reprimir gastos trabalhistas cada vez mais, mas os gastos trabalhistas são a renda e o consumo das pessoas. Por isso é um processo autodestrutivo", explicou (provocou) o professor Roubini.

Marx pode estar certo em algumas coisas e errado em outras. Mas é preciso notar que, se é a crise do capitalismo que traz estagnação ao Hemisfério Norte, é o sucesso do capitalismo que traz prosperidade para o Sul.

O capitalismo está condenado?


NOURIEL ROUBINI é presidente da Roubini Global Economics, professor da Escola Stern de Administração de Empresas (Universidade de Nova York) e coautor do livro "Crisis Economics", hoje na FOLHA DE S. PAULO. 

A imensa instabilidade e a correção acentuada nos preços das ações que vêm varrendo os mercados mundiais sinalizam que as economias mais avançadas estão à beira de uma recessão de duplo mergulho. 
Uma crise econômica e financeira causada pela dívida excessiva do setor privado resultou em endividamento pesado do setor público, em razão das medidas tomadas para impedir uma Grande Depressão 2.0. 
Mas a recuperação subsequente vem sendo anêmica e fica abaixo dos padrões usuais na maioria das economias avançadas, em consequência do doloroso processo de redução das dívidas privadas. 
Agora, uma combinação entre preços elevados para petróleo e commodities, tumultos no Oriente Médio, o terremoto/tsunami no Japão, as crises da zona do euro e os problemas fiscais dos Estados Unidos (que acabam de ter seus títulos de dívida rebaixados) resultou em alta acentuada na aversão a riscos. 
Economicamente, os EUA, a zona do euro, o Reino Unido e o Japão funcionam em marcha lenta. 
Mesmo os mercados emergentes de crescimento rápido e as economias avançadas cujo foco são exportações que dependem desses mercados (Alemanha e Austrália) estão vivendo severa desaceleração. 
Até o ano passado, as autoridades econômicas sempre se provaram capazes de tirar um coelho da cartola e reflacionar os preços dos ativos, deflagrando uma recuperação econômica. 
Estímulo fiscal, taxas de juros próximas de zero, duas rodadas de "relaxamento quantitativo", esforços de contenção das más dívidas e trilhões de dólares em resgates e injeções de liquidez para bancos e instituições financeiras: as autoridades já tentaram tudo isso, mas agora os coelhos parecem ter acabado. 
A política fiscal no momento causa arrasto para o crescimento econômico tanto na zona do euro como no Reino Unido. 
Mesmo nos Estados Unidos, os governos estaduais e locais, e agora o governo federal, cortam gastos e reduzem transferências. Em breve, estarão elevando impostos. 
Outra rodada de resgates aos bancos é politicamente inaceitável e economicamente inviável. 
A maioria dos governos, especialmente na Europa, está em situação tão precária que não é possível bancar resgates. O grau de risco de seus títulos vem até alimentando preocupações sobre a saúde dos bancos europeus, que detêm o maior volume desses papéis hoje precários. 
E a política monetária tampouco pode ajudar. O relaxamento quantitativo fica limitado pela inflação acima da meta na zona do euro e no Reino Unido. O Federal Reserve provavelmente iniciará uma terceira rodada de relaxamento quantitativo (QE3), mas ela virá tarde demais e em montante insuficiente. 
Os US$ 600 bilhões do QE2, em 2010, e mais US$ 1 trilhão em cortes de impostos e transferências de renda aos cidadãos mal produziram crescimento anualizado de 3% durante apenas um trimestre. 
Em seguida, o crescimento caiu para menos de 1% no primeiro semestre de 2011. O QE3 será muito menor e fará menos para reflacionar os preços dos ativos e restaurar o crescimento. 
Depreciação cambial não é uma alternativa viável para todas as economias avançadas: todas elas precisam de moedas mais fracas e de melhores balanças comerciais a fim de restaurar o crescimento, mas não é possível que todas as obtenham ao mesmo tempo. 
Por isso, depender das taxas de câmbio para influenciar a balança comercial é um jogo em que a vantagem de alguns resultará em desvantagem para outros. 
Portanto, temos guerras cambiais no horizonte -Japão e Suíça já travam as primeiras batalhas para enfraquecer suas taxas de câmbio. 
Com o tempo, as economias avançadas terão de investir em capital humano, capacitação profissional e redes de segurança social, a fim de elevar a produtividade e permitir que os trabalhadores concorram, sejam flexíveis e prosperem. 
A alternativa -como vimos nos anos 1930- será estagnação infinda, depressão, guerras cambiais e de comércio, controles de capital, crise financeira, bancarrotas nacionais e imensa instabilidade social e política. 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

VEJA entrevista o Nobel EDWARD PRESCOTT.


Hoje na VEJA, entrevista com o Nobel EDWARD PRESCOTT.

Os Estados Unidos correm o risco de enfrentar uma “década perdida” se reformas urgentes não forem colocadas em andamento. O alerta é do economista e matemático norte-americano Edward Prescott, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2004 e conselheiro do banco central dos EUA (Fed).
Prescott defende que o presidente americano, Barack Obama, diminua gastos e impostos, além de relaxar a regulação nos mercados. Ele também argumentou que a Casa Branca tem de eliminar o que classifica como subsídios “ineficientes”, como aqueles concedidos aos produtores americanos de etanol feito de milho. “O etanol brasileiro é muito mais barato”, afirma.
O conselheiro do Fed declarou apoio às medidas tomadas pela instituição no combate à inflação, mas criticou a política de resgatar antecipadamente títulos do Tesouro americano com o objetivo de injetar liquidez na economia – prática que ficou conhecida como “afrouxamento quantitativo” (QE, do inglês quantitative easing) “Eram somente subsídios disfarçados”, afirma.
O economista rechaça a visão de que esse afrouxamento teria colaborado para valorizar as moedas nos países emergentes. Na avaliação dele, a apreciação ocorreu em função do crescimento rápido dessas economias. Edward Prescott visita o Brasil nesta semana. Ele conversou com o site de VEJA no evento “Economia global: riscos e oportunidades”, realizado pelo Principal Financial Group.

O senhor tem se destacado como um crítico contumaz das escolhas realizadas pelo governo Barack Obama. Por que?
Tenho sido crítico assim porque tenho uma convicção: o que acontece num determinado país depende muito mais do que seus governantes fazem do que de fatores externos. Só algumas partes do mundo estão muito mal atualmente. Canadá, México, América Latina, o norte da Europa, a China e a Índia vão muito bem. Os Estados Unidos foram tão bem por tanto tempo que as pessoas enjoaram e quiseram mudanças (risos). Por isso, houve uma grande guinada na composição dos legisladores no Congresso, particularmente no Senado. Nos últimos dois anos, a economia americana vai muito mal por absoluta culpa de nossos governantes. Corremos o risco de enfrentar uma “década perdida” de crescimento, como aconteceu no Japão nos anos 90, se reformas urgentes não forem feitas.

A administração Obama poderia fazer mais para estimular o crescimento e não correr o risco de perder uma década?
Já seria bom se o presidente fizesse menos, isto é, parasse de bloquear o crescimento. Os gastos da administração Obama, por exemplo, são assustadores e têm de ser contidos. Precisamos de menos regulação nos mercados, mais competição e menos subsídios a ineficiências. Os subsídios aos produtores de etanol de milho são um exemplo. Eles mantiveram por muito tempo o álcool brasileiro de fora do jogo no mercado americano. E o etanol brasileiro, produzido de cana-de-açúcar, é muito mais barato. Subsídios são ruins. O Japão e a Itália fizeram o mesmo e perderam uma década. Precisamos discutir já as reformas necessárias e chegar a um consenso sobre como implementá-las.

Há um problema diante desta tarefa: o antagonismo político piorou muito nos EUA. O acordo de último minuto sobre o aumento do teto da dívida foi um claro exemplo disso. Considerando esse ambiente, como facilitar o consenso para adoção de reformas?
Esse antagonismo não é novidade. Nos Estados Unidos, sempre existiram dois grupos: um que quer aumentar os gastos públicos e ter mais distribuição de renda; e outro que quer cortar despesas e impostos. A divisão só ganhou mais publicidade desta vez. Houve debates como esse nas presidências de Nixon, Carter, Reagan e Clinton. A questão é o que vai acontecer com os gastos e os impostos. Os tributos no país já estão em um nível muito alto historicamente. Veja Singapura. O governo deles gasta um quarto menos com o sistema de saúde, o que é muito melhor. O presidente Obama está tentando implantar nos EUA um estado de bem-estar social, mas  já ficou demonstrado, pelo exemplo da Europa, que isso não funciona.
De qualquer forma, respondendo a sua pergunta, a execução das reformas dependerá muito das próximas eleições, sobretudo no Senado. É possível que ocorram mudanças. Os congressistas e a Casa Branca têm de encontrar um jeito de sair dessa situação. Contudo, coisas boas podem acontecer mesmo antes da implementação das reformas porque são as expectativas que determinam as decisões das pessoas.

O BC americano manteve as taxas de juros perto de zero por muito tempo e, na semana passada, decidiu estender esses baixos valores até 2013. Essa ferramenta aparentemente não está tendo o efeito esperado para estimular a economia. Como o senhor avalia a atuação do Fed na crise?
As autoridades do Fed determinam o nível de preços da economia e eles têm feito um bom trabalho. Tivemos uma inflação de aproximadamente 2% em doze meses, que está estável em relação à meta. Sou contrário, no entanto, a essa estratégia de se comprometer por tanto tempo com taxas de juros baixas. Não podemos nos esquecer de que o quadro inflacionário simplesmente pode mudar. A credibilidade do governo e dos bancos centrais depende de uma inflação previsivelmente baixa. E também da capacidade de lidar com crises. Quando todos ficam com medo, os empréstimos congelam, como em setembro de 2008. Naquela época, o Fed acertou em promover uma grande liquidez e evitou uma crise muito maior, que poderia ter acabado com a economia real, como a crise 1929.

Como o senhor avalia os resultados da estratégia de antecipar o pagamento de títulos do Tesouro para injetar liquidez na economia?
Esse afrouxamento monetário foi só uma forma de conceder subsídios disfarçados. Não foi uma estratégia boa. Aconteceu por razões políticas. Ao menos, não prejudicou os Estados Unidos em nada.

Mas prejudicaram o resto do mundo, não? A política monetária frouxa dos EUA não acabou colaborando para a valorização das moedas nos países emergentes?
Eu entendo que o real, assim como outras moedas de emergentes, valorizou-se muito em relação ao dólar. Entretanto, se o Brasil está em trajetória vertiginosa de crescimento, a moeda vai se valorizar de qualquer forma. Já aconteceu no Canadá, na Austrália. Não tem nada a ver com a política monetária americana.

Qual é a probabilidade de uma nova rodada de afrouxamento monetário?
Improvável. O governo tem tentado diminuir a dívida. Não soube de nenhuma estratégia para um novo QE.

Nas últimas semanas, tem havido uma onda de aversão ao risco nos mercados globais por conta da quebra de expectativas em relação à Europa e aos Estados Unidos. O senhor veio ao Brasil, não somente para falar dos riscos, mas também de oportunidades. Quais seriam?
As bolsas estão voláteis, mas historicamente elas registram muito mais ganhos no longo prazo que títulos de dívida ou poupança. Os mercados estão muito abaixo de seu valor fundamental – por isso as chances de que subam são maiores. No curto prazo, é imprevisível. É claro que há riscos. Contudo, no longo prazo, é esse o lugar para estar.

Dilma na The Economist desta semana.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Professora Eliana Cardoso - parabéns!


A Professora Eliana Cardoso é homenageada pelo CORECON-SP com Comenda Ministro Mário Henrique Simonsen, comemorativa aos 60 anos de criação da profissão de Economista. 

A comenda tem por finalidade agraciar personalidades da categoria, que tenham se destacado por suas atividades no ramo das Ciências Econômicas e prestado relevantes serviços à Economia e à sociedade.

A comenda será entregue oficialmente no dia 19 de agosto, às 19h00, durante Sessão Solene que se realizará na Câmara Municipal de São Paulo, em celebração ao Dia do Economista.

Capitalismo condenado?


O inteligente Carlos Alberto Sardenberg, hoje no O GLOBO, escreve sobre “CAPITALISMO CONDENADO?”

O pensamento de esquerda, em baixa desde a queda do Muro de Berlim, ganhou alento com a falência do banco Lehman Brothers, o epicentro do colapso financeiro de 2008. Quem sabe a quebra de uma poderosa instituição de Wall Street fosse para o capitalismo o mesmo símbolo que a derrubada dos primeiros tijolos do Muro foi para o socialismo.

Passaram-se os meses, e o mundo, capitalista, não acabou. A crise não foi brincadeira, mas já no segundo semestre de 2009 apareciam os sinais de recuperação. Na virada de 2010 para 2011, parecia uma festa. Forte crescimento no mundo emergente, boa retomada nos EUA e na Alemanha. Aí, a história virou de novo.

A crise não acabara e se manifestava de outras maneiras ainda mais complicadas. Nesse clima aparece na imprensa internacional o artigo de Nouriel Roubini, "O capitalismo está condenado?", e ainda por cima com o destaque para esta observação: Marx estava certo quando disse que "a globalização, a louca intermediação financeira e a redistribuição de riqueza do trabalho para o capital poderiam levar o capitalismo à autodestruição". (Essa era a chamada, por exemplo, na revista eletrônica Slate.)

O economista Roubini não é socialista, muito menos marxista. É um teórico e intérprete do capitalismo, que traz a fama de ter previsto o colapso de 2008. Ora, se ele está dizendo que o sistema está "condenado", a coisa é séria.

A esquerda se animou de novo, os conservadores se assustaram. O que viria por aí? - perguntaram-se todos.
O começo do artigo acentua a inquietação. Roubini descreve uma crise que não tem saída. Resumindo, o sentido do texto é o seguinte: há diversos problemas gravíssimos, para os quais as soluções são inviáveis ou por razões econômicas ou políticas.

O ambiente social já mostra esse beco sem saída. As manifestações populares que pipocam por toda parte, diz Roubini, são movidas "pelas mesmas tensões e temas: crescente desigualdade, pobreza, desemprego e desesperança" - fantasmas que assombram o mundo.

Que fazer? Já se vê um novo mundo?
Não, Roubini não entrega isso. Para começar, a citação de Marx é relativizada. O pensador alemão não estava propriamente certo na previsão de fim do capitalismo, mas "parecia estar parcialmente certo". E, ainda assim, vem outra ressalva: "Sua visão de que o socialismo poderia ser melhor provou-se equivocada."

Em seguida, Roubini dá o tiro final nas esperanças da esquerda. A questão central hoje, diz ele, é "encontrar o correto equilíbrio entre mercado e a provisão dos bens públicos", para que as economias de mercado operem "como deveriam e como podem".

Para ele, tanto o modelo anglo-saxão - "laissez-faire e economia vudu" - quanto o europeu continental - "estado do bem-estar sustentado por déficits" - estão quebrados.

O economista sugere o caminho alternativo - e aqui a coisa não é decepcionante apenas para a esquerda. Vem uma relação de políticas em torno das quais há consensos, se excluída a extrema direita, e que vêm sendo tentadas por toda parte.

Reparem as propostas:
. estímulo fiscal (gasto público ou isenção de impostos) para investimentos produtivos em infraestrutura, de modo a gerar empregos;
. taxação progressiva, os mais ricos pagando mais impostos;
. estímulo fiscal de curto prazo e ajuste fiscal (corte de gastos e aumento de impostos) de médio e longo prazo;
. autoridades monetárias garantindo empréstimos de última instância para evitar corridas contra bancos;
. redução da dívida para famílias e outros agentes econômicos insolventes;
. estrita supervisão e regulamentação do sistema financeiro;
. desmantelar oligopólios e os bancos "muito-grandes-para-quebrar";
. países ricos precisam investir em capital humano, conhecimento e redes de segurança social.

Reparem: não tem nenhuma proposta para fechamento do comércio internacional, manipulação de moedas, avanço do Estado na economia, controle dos capitais privados, nacionalismos, etc.
Ao contrário, as sugestões cabem perfeitamente no pensamento clássico. Claro, a direita americana não aceita qualquer aumento de imposto, nem mais gasto público.

Mas é exceção. O governo conservador eleva impostos na Inglaterra, assim como na Alemanha. Não que sejam políticas unânimes e de fácil implementação. Sempre haverá o debate sobre quem deve pagar mais impostos e onde o governo gastará mais. Além disso, a coisa é localizada. Propor aumento de impostos faz sentido no México, onde a carga tributária é baixa. Já no Brasil...

O título original do artigo de Roubini diz "Is Capitalism Doomed?" - palavra esta que pode ser traduzida por "condenado", como fizemos, ou por "amaldiçoado". "Condenado" sugere que está acabado. Já um sistema pode ser "amaldiçoado" e continuar vivo. Deve ser isso. Maldito capitalismo, mas ainda não se inventou nada melhor.

Previsões econômicas.


O Estado de S. Paulo entrevistou hoje a economista Monica Baumgarten de Bolle, da Galanto Consultoria conforme abaixo:


Apesar do agravamento do cenário internacional, Monica Baumgarten de Bolle, economista-chefe da Galanto Consultoria, não acredita em desaceleração profunda da economia brasileira neste ano.


Como vê a queda do IBC-BR?
Está em linha com os últimos dados da atividade no Brasil, que já têm vindo muito ruins. Não há desaceleração forte das vendas no varejo, mas já tem alguma. Além disso, o último mês foi marcado pelo agravamento do quadro internacional. Acho que o recuo do IBC-Br é um reflexo de todas essas coisas, mas não acho que aponte para desaceleração mais grave, como em 2008. Agora a desaceleração é decorrência das medidas mais restritivas, da aceleração da inflação e do quadro global mais conturbado.


Diante disso, você refaz sua previsão para o PIB de 2011?
Não, porque meus cenários estavam sempre entre 3,5% e 4%. O IBC-Br continua perfeitamente condizente com esse cenário.


O recuo já era esperado?
Eu já esperava crescimento mais baixo por causa das medidas do governo. Por outro lado, meu cenário para a política mundial sempre foi pior do que as pessoas trabalhavam porque esse problema que o mundo está enfrentando, particularmente as economias avançadas, é um problema de dívidas elevadas, muito difícil de resolver. O que está acontecendo é mais preocupante do que imaginávamos. Nesse contexto, não conseguia ver como o Brasil ia crescer 4,5% ou até 5%, que era a projeção do próprio governo no início do ano.

As melhores universidades do mundo.

A universidade Jiao Tong de Shangai, na China, divulgou uma lista com as 500 melhores universidades do mundo. O ranking é feito desde 2003 e leva em conta seis indicadores, entre eles o número de professores e alunos que ganharam prêmios Nobel e outros prêmios em ciências e economia, menções a seus pesquisadores e artigos publicados em jornais científicos. Abaixo as 10 melhores do mundo. Do Brasil, a USP obtém a melhor colocação entre o 102º e 0 150º  


1Harvard UniversityEstados Unidos1100.0
2Stanford UniversityEstados Unidos272.6
3Massachusetts Institute of Technology (MIT)Estados Unidos372.0
4University of California, BerkeleyEstados Unidos471.9
5University of CambridgeReino Unido170.0
6California Institute of TechnologyEstados Unidos564.7
7Princeton UniversityEstados Unidos661.2
8Columbia UniversityEstados Unidos760.4
9University of ChicagoEstados Unidos857.5
10University of OxfordReino Unido256.4

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

7.000.000.000

Até o final deste ano seremos sete bilhões de habitantes neste planeta selvagem. Considerando que em favelas cariocas, subúrbios europeus, tribos africanas ou megalópoles asiáticas, há evidência empírica de alta correlação entre maior escolaridade e menor número de filhos, precisamos estudar somente até determinada hora da noite, senão ficará difícil chegarmos aos 7.000.000.001.  

EUA e a crise.


ANTONIO DELFIM NETTO, hoje na FOLHA DE S. PAULO, escreve sobre os  EUA e a crise.



Acabam de ser publicadas as estimativas corrigidas do crescimento real do PIB dos EUA (medido a preços constantes de 2005) e que dão uma visão mais realista do que aconteceu à economia americana nos últimos quatro anos (2º trim. 2011/2º trim. 2008).


Ela apenas retornou ao nível em que se encontrava no 2º trimestre de 2007! Há quatro anos o PIB está estagnado. Como a população cresceu, isso significa que o PIB per capita diminuiu. Considerando que em condições normais de pressão e temperatura o PIB real americano cresce à taxa de 2% ao ano, a flutuação dos últimos quatro anos representa qualquer coisa entre 10% e 15% de um PIB anual (mais ou menos um PIB anual do Brasil) que potencialmente deixou de ser produzido pela disfuncionalidade do sistema financeiro.



As consequências sobre o endividamento interno foram importantes. De um lado, pela redução da receita e, de outro, pelo aumento das despesas com o desemprego. Paralelamente, aumentou a desigualdade na distribuição de renda, o que acentuou o mal-estar da sociedade com relação ao presidente Obama.


É cada vez mais evidente que as políticas monetária e fiscal foram incapazes de cooptar a confiança do setor privado, de forma que seus efeitos sobre a recuperação do consumo e ampliação dos investimentos têm sido pífios.


Basta dizer que as empresas não financeiras têm em caixa qualquer coisa como US$ 1,5 trilhão a US$ 2 trilhões aplicados em papéis do Tesouro americano. Por que não investem? Porque continuam a desconfiar do presidente Obama e não têm certeza de que encontrarão demanda no futuro.



Enquanto isso, o crescimento do consumo é inibido por um desemprego total ou parcial de mais de 25 milhões de pessoas, que continuam assustadas com o comportamento do mercado de trabalho, especialmente na construção civil.


Deveria ser claro que o problema só poderá ser resolvido com um aumento da demanda privada que até agora não tem respondido aos imensos estímulos monetários e fiscais.



A resposta não é "mais do mesmo", mas entender por que não funcionou. Em nossa opinião, porque: 1º) o comportamento de Obama foi hostil com o setor real da economia no início de sua administração; 2º) ele foi submisso e leniente em relação ao setor financeiro, que precisava mesmo ser preservado, mas não os seus agentes mais conspícuos e 3º) gastou o enorme patrimônio político do "we can" com programas necessários, mas discutíveis, em lugar de utilizá-lo cooptando e dando confiança ao setor privado para reduzir o desemprego.


O problema dos EUA não é econômico: é a falta de confiança da sociedade na ação do Executivo e do Legislativo.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Taxa de juros.


Neste agitado mundo econômico, a FOLHA DE S. PAULO de hoje traz breve matéria sobre um seminário na Fundação Getúlio Vargas, onde economistas desenvolvimentistas discutiram juros e recomendaram cautela para baixá-los.


Contumazes defensores da redução dos juros, economistas chamados "desenvolvimentistas" dizem que o governo pode aproveitar a crise econômica internacional para baixar taxas, mas que não deve fazê-lo imediatamente.


O professor Yoshiaki Nakano argumenta que ainda há pressões inflacionárias e, por isso, não se pode cortar logo os juros. "Mas [a crise] pode ser uma boa oportunidade", diz.


Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, é preciso agir com cautela, mas acredita que o corte será feito. Não agora, mas em breve.
"Se tiver outra rodada de incentivos nos EUA, haverá nova pressão no câmbio. Como o governo [brasileiro] vai manter uma taxa de juros como essa?", questiona Belluzzo, para quem isso provocaria pressão ainda maior de valorização do real.


Já o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira disse que o governo "não parece que vai resolver isso", referindo-se à valorização do real. "Estão empurrando o problema com a barriga", diz.

Um ajuste fiscal convencional.


Também recebo do Professor Carlos Pio, artigo do FABIO GIAMBIAGI, publicado no O GLOBO de hoje, sobre UM AJUSTE FISCAL CONVENCIONAL.


Divulgados os dados fiscais do primeiro semestre, é uma ocasião propícia para fazer uma análise do ajuste em curso, para avaliar até que ponto ele segue os cânones do que se pretendia implementar por ocasião do anúncio dos cortes em fevereiro ou se, pelo contrário, a realidade está se configurando distinta em relação aos planos oficiais.


Os dados sugerem que a sábia sentença de Churchill, de que "jamais se deve colocar um princípio em pedestal tão alto que não se possa abaixá-lo um pouco para se adaptar às circunstâncias", mais uma vez terá mostrado a sua validade. Recapitulemos o cenário existente no começo do ano: na ocasião, alegava-se que seria necessário um ajustamento fiscal, mas que ele seria diferente dos ajustes praticados em outras ocasiões, por governos associados a uma orientação supostamente mais liberal, uma vez que o investimento não seria cortado.


Havia quatro coisas que causavam certa espécie em tal conjunto de informações. A primeira era o erro de diagnóstico: até as pedras da rua sabem que antes de 1999 não havia ajuste fiscal e os dados da União, no site da STN, no item "Balanço orçamentário", provam que o investimento da União na média dos 4 anos 1999/2002 foi de 0,83% do PIB, contra uma média de 0,74% do PIB nos 4 anos 1995/1998. O mesmo critério, aliás, devido ao colapso do investimento em 2003, mostra que nos primeiros quatro anos do Governo Lula tal variável diminuiu para 0,64% do PIB. Em outras palavras, quem "arrochou" o investimento em relação ao governo anterior foi o Governo Lula I, e não o Governo FHC II.


A segunda causa de perplexidade acerca da racionalidade da retórica pró-ajuste adotada no começo de 2011 era o pano de fundo político. Discursos em defesa de "colocar ordem na casa" são habituais em começo de governo, quando a antiga oposição assume o poder, mas são pouco frequentes na presença de governos de continuidade, como é o caso da administração atual em relação à anterior.


A terceira causa de inadequação lógica na formulação do ajuste era o contexto em que isso se dava. Quadros de ajuste são defensáveis, mesmo se o governo é de continuidade, quando há um fenômeno novo em pauta. Às vezes um governo promete algo e depois se vê em dificuldades para cumprir as promessas, porque o quadro muda. Acontece nas melhores famílias. Nesse caso, basta explicar, pois o cidadão em geral entende que a viabilidade das propostas depende das condições de contexto. Ocorre que o quadro que estávamos vivenciando no começo de 2011 não diferia daquele que era viável imaginar por ocasião da campanha eleitoral de 2010. Cada um pode ter as preferências políticas que quiser, mas precisamos todos respeitar a lógica. Sendo o contexto de 2011, em que se tomaram as medidas, previsível à luz do cenário de dificuldades imaginado por dez entre dez analistas em 2010, de duas uma: ou as promessas de campanha eram viáveis - e nesse caso o ajuste seria desnecessário - ou o ajuste seria necessário, e nesse caso prometeu-se ao eleitorado ano passado um produto que não poderia ser entregue. Diga-se, a bem da verdade, que a mesma crítica cabe também à oposição, com sua proposta de aumentar o salário mínimo para R$600.


A quarta causa de desconforto é em relação ao futuro. O ajuste foi apresentado como uma forma de preservar a saúde fiscal do país para poder acelerar o ritmo de gasto em investimento no futuro. Ora, ou o aumento já contratado do gasto corrente para 2012, devido ao salto do salário mínimo em janeiro do ano que vem, vai fazer do aumento do investimento futuro mais uma promessa inexequível, ou, para que o investimento depois aumente, haverá na virada da esquina uma piora do resultado primário. Nesse caso, porém, o ajuste de 2011 acabaria daqui a cinco meses...


O fato, quando se olha para os números, é que no primeiro semestre as despesas de investimento caíram 5% em termos reais, e as despesas correntes aumentaram 5%, também em termos reais, usando o IPCA como deflator. Não houve corte algum do gasto agregado, que aumentou 4% reais. Estamos diante de um ajuste convencional: mais carga tributária na veia - a receita aumentou 13% reais! - e redução do investimento. Em outros tempos, dir-se-ia, trata-se de um ajuste "nos moldes do FMI"...

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...