quarta-feira, 13 de junho de 2012

Uma nova política econômica?


André de Melo Modenesi, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ) e pesquisador do CNPQ - Rui Lyrio Modenesi, ex-professor da Universidade Federal Fluminense e Norberto Montani Martins, mestrando do IE/UFRJ, escreveram no VALOR ECONÔMICO de hoje sobre a atual política econômica. 

Em 1999, foi adotado no Brasil um regime de política econômica fundado no tripé metas de inflação, câmbio flutuante - com alto grau de mobilidade de capitais - e metas de superávit primário. Grosso modo, a política monetária era hierarquicamente superior às demais: a política econômica focou a estabilização dos preços, que caberia exclusivamente à política monetária - por meio de apenas um instrumento, a taxa Selic. O câmbio deveria flutuar, respondendo à política monetária e aos fluxos cambiais. A política fiscal foi coadjuvante: limitou-se a não criar pressões inflacionárias, mantendo-se restritiva. O crescimento ficou em segundo plano.

O conturbado período entre 1999 e 2003 - marcado pelo ataque especulativo de 1999 e por diversas crises, tanto internas quanto externas - ajudou a validar o tripé junto à sociedade. Criou-se um sentimento de medo, uma convenção de que se tratava da única alternativa. Os formadores de opinião repetiam "ad nauseum" a necessidade de continuar fazendo o "dever de casa". Qualquer correção de rota era repelida pelos investidores - nacionais e estrangeiros - que ameaçavam fugir do país. Assim, o mercado financeiro subjugou a gestão da política econômica e limitou drasticamente suas opções. A crise cambial durante a eleição presidencial de 2002 foi exemplo notório.

O tripé foi mantido rigidamente no primeiro mandato de Lula: as metas de inflação e fiscais eram perseguidas rigorosamente. A flutuação cambial - na ausência de controles de capitais - mantinha o câmbio como principal âncora para a inflação. No segundo governo Lula, começa a haver uma parcimoniosa flexibilização, com o resgate de política fiscal contracíclica e algumas medidas de controle cambial. O Banco Central (BC), por seu turno, foi na contramão, tornando o regime de metas de inflação ainda mais rígido. Criou-se patente falta de coordenação entre as principais instâncias da política econômica: a fiscal era expansionista, a monetária restritiva. A reação à crise do supbrime (2008-2009) foi inusitada: o Ministério da Fazenda estimulava a economia, e o BC subia os juros.

A atuação da Fazenda ampliou-se significativamente após a crise, com o uso de medidas anticíclicas. O maior ativismo na política fiscal se manteve após a superação da fase mais aguda da crise. Após 2010, o foco voltou-se para o câmbio. O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi o principal instrumento para coibir a apreciação cambial e a flexibilidade cambial foi limitada por controles à entrada de capitais. O IOF serviu, também, para desestimular a demanda por crédito, atuando em complemento às medidas de contenção da demanda editadas pelo BC.

A Fazenda adotou, ainda, medidas para prevenir a elevação de certos preços. Ressaltam-se as desonerações tributárias e, principalmente, a linha de financiamento para estocagem de etanol para garantir oferta adequada na entressafra - evitando-se importante pressão inflacionária. Finalmente, destaque-se a alteração dos rendimentos da poupança contribuindo, de forma coordenada com o BC, para a queda dos juros. Note-se, entretanto, a indesejável indexação dos rendimentos à Selic, contrária à imperiosa desvinculação dos ativos financeiros em relação à taxa básica de juros.

As mudanças por parte do BC ocorreram a partir de dezembro de 2010. Primeiro foram elevados os compulsórios, para moderar a oferta de crédito. Adicionalmente, foram tomadas medidas macroprudenciais para também conter o crédito. Finalmente, destaca-se a atuação menos conservadora do BC, que se antecipou e, acertadamente, tomou proveito de janela de oportunidade para impor redução menos gradual e parcimoniosa da taxa Selic. Assim, distanciou-se, ainda que limitadamente, do padrão excessivamente conservador que vinha caracterizando a instituição. Exemplo notório desse conservadorismo ficou conhecido como o erro de Meirelles. Apesar do recrudescimento da crise do subprime e dos claros sinais de desaquecimento da economia, a política monetária foi mantida apertada. Além de favorecer uma queda ainda mais drástica da atividade, perdeu-se boa oportunidade de se reduzir a taxa Selic.

Essa nova postura materializou-se em corte, não previsto pelo mercado, de 50 pontos-base na Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de agosto de 2011. O BC contrariou, frontalmente, o "consenso" de mercado, antecipando em cerca de três meses a redução da Selic implícita no swap de DI. O que gerou pesadas perdas para a maioria dos agentes do mercado de DI, que apostava na manutenção dos juros.

Essa decisão fundamentou-se em quadro inflacionário mais benigno, marcado por: ameaça de recrudescimento da crise europeia; arrefecimento da economia doméstica; e reaproximação da inflação ao centro da meta. Além disso, a Fazenda elevou o superávit primário. A intensidade da reação contrária de muitos analistas - ligados ao mercado financeiro, sobretudo - revela a dificuldade de efetivar-se mudança na política econômica, por mais limitada que seja. É reveladora da força da convenção pró-conservadorismo na política monetária. A firmeza do BC diante da saraivada de críticas recebidas também mostra uma nova postura da instituição, marcada por maior independência em relação ao mercado financeiro.

É inegável que no governo Dilma Rousseff houve uma mudança na política econômica. Entretanto, essa alteração, além de incipiente, é parcial e limitada. Por um lado, o tripé foi, essencialmente, mantido. Assim, não se pode falar em profunda reformulação na política econômica. Por outro, verificou-se atuação mais ativa da Fazenda, sobretudo mais coordenada com o BC, no combate à inflação.

O BC, por sua vez, adotou medidas de controle de crédito, complementares à taxa Selic. É uma clara tentativa de diversificação dos instrumentos de política monetária que resulta do reconhecimento, ainda que tácito, de que a Selic tem limitada eficácia no combate à inflação e que, portanto, seu uso é muito custoso. Trata-se de mudança na direção certa e que deveria ser aprofundada.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Política econômica amanteigada.


Em inspirado editorial n’O Estado de S. Paulo de hoje, a atual política econômica e o alerta para o eterno vício brasileiro da reindexação.

A marolinha foi uma sacada política inteligente do então presidente Lula. Evitou o pânico que retrairia subitamente o consumo. Deu certo por um tempo. Agora as ondas aumentaram. A presidente Dilma Rousseff queixou-se de um tsunami. Algo havia que fazer, mas não muito a ser feito. Adotamos cobertor curto para cobrir santo grande.
O governo quer coisas contraditórias: aliviar alguns impostos e manter a arrecadação. Os escolhidos para ganhar são os que têm lobbies mais fortes, capazes de ameaçar com desastres maiores: mais desemprego, maior frustração ou instabilidade política. A predileta é a indústria automobilística. Nela é sensível a retração do consumo. A ameaça é forte e o lobby, pesado.
O que é melhor, proteger a indústria automobilística ou a de ar-condicionado? A de caminhões ou a de micro-ondas? Numa situação de mercado, todos os produtos são iguais. As preferências dos consumidores é que definirão os vencedores. Na escolha política do governo e das burocracias, alguém diz que é melhor que os carros sejam mais baratos e os refrigerantes e os aparelhos de ar-condicionado, mais caros. Cada um sabe onde lhe aperta o sapato, mas o governo optou por nos dar sapatos com pontos mais apertados e outros mais frouxos.
Voltamos à situação anterior a 1860, quando os pares de sapatos eram simétricos. Os pés direito e esquerdo dos sapatos eram iguais, só que nas pessoas um pé é diferente do outro. Cabia aos usuários deformar os sapatos para adaptá-los ao pé em que quisessem usá-los. Por isso tanta gente tinha bolhas e calos.
As recentes decisões do governo são parecidas. Ajustem seus pés, vocês, que gostam de refrigerantes, micro-ondas e ar-condicionado, porque os impostos desses produtos subirão. Preparem-se os que gostam de automóveis, porque será mais barato comprá-los. Tudo tem consequências que transbordam os limites da decisão. Em troca, uns sentirão mais calor, outros engarrafarão mais as ruas e estradas. Em economia tudo funciona assim: uma decisão tomada aqui repercute lá. Algumas vezes, meses depois.
Quando foi anunciada a decisão de aumentar os impostos dos refrigerantes, o burocrata entrevistado disse que os reajustes serão reavaliados anualmente, em 1.º de outubro, quando os novos valores devem ser anunciados. Sua ressalva foi tão idiota quanto inútil: disse que o fato de o governo elevar os impostos não significa, necessariamente, que produtores e comercializadores tenham de aumentar os preços para os consumidores. Idiota porque o que ele já adiantou é que o governo prevê a inflação em velocidade que demandará uma avaliação anual para aumentar os impostos. Inútil porque, se os produtores sabem que o governo lhes vai apertar o sapato dos impostos, eles repassarão o aperto aos clientes, nos preços. O aspecto mais sério da decisão foi anunciar, com 16 meses de antecedência, que em 1.º de outubro de 2013 o governo anunciará qual vai ser o aumento do imposto.
Foi dada a partida oficial para o vício da reindexação. Ela nunca foi totalmente abandonada, mas estava mais moderada e envergonhada. Escondia-se debaixo das diversas siglas dos índices de preços: IPCA, IGPM, IPA, INPC, ICC, Selic e outras. Não havia um índice de inflação mensal que passasse a mensagem de que todo mundo podia (podia ouvido como devia) aumentar o preço de seus tomates ou microscópios eletrônicos na mesma proporção.
Aumentar impostos para desestimular o consumo é uma política, em geral, fadada ao fracasso. Os produtos valem o que as pessoas querem pagar por eles. Se o imposto for alto, mas o desejo for maior, o consumidor compra mesmo. Já baixar os impostos funciona, porque as pessoas que desejam muito sabem que terão o prazer que querem por um preço mais baixo. A escolha não será entre consumir um ou outro, mas, sim, entre como e em quanto se endividar para comprar o que se quer.
A beleza do mercado é que milhões de pessoas mandam mensagens aos produtores dizendo o que querem comprar e a que preço; e o que não querem pelo preço que produtores estão cobrando. As consequências são inequívocas: sucesso para quem vende o que as pessoas querem pelo preço que elas estão dispostas a pagar e crise ou falência para os produtores ou vendedores que não se ajustam aos desejos dos consumidores.
Quando o governo passa a bulir com essas coisas, começam os desequilíbrios. Mutretas econômicas têm consequências de longo prazo, impossíveis de antecipar ou simular, mesmo nos computadores mais sofisticados.
É claro que os produtores já vão começar a equipar seus departamentos de compras e vendas para ajustar os preços de acordo com o fiat governamental, independentemente dos custos de produção ou dos desejos dos consumidores. Foi dada, de fato, a partida para a indexação. Daqui para a frente, outros setores dirão que querem a mesma coisa para que se possam planejar melhor. Recomeçaremos a ciranda de preços e reaparecerão as maquinetas remarcadoras de etiquetas, em versão mais moderna, para acompanhar a inflação que o governo já decretou que haverá e de quanto será, da perspectiva governamental.
Os preços têm, entretanto, uma capacidade fantástica: andam sempre mais rápido do que os calculadores da inflação. Entre mortos e feridos se salvarão todos, mas as escoriações generalizadas, as fraturas e os danos mais sérios não serão contabilizados. O nome do jogo, a partir dessa decisão, passa a ser outro: vamos escorregar na manteiga, ladeira acima.
Tomara que os historiadores mais inspirados não se esqueçam de chamar os anos vindouros, de consequências previsíveis, mas inevitáveis, de política econômica amanteigada. Só que não tão gostosa quanto os biscoitos homônimos de Petrópolis.

Gasto acima, investimento abaixo.


Editorial do Valor Econômico alerta que gasto cresce acima do PIB, enquanto cai o investimento público.

Basta uma rápida olhada nas contas do Tesouro Nacional relativas ao primeiro quadrimestre deste ano para constatar que o governo está gastando bem mais do que no ano passado. De janeiro a abril deste ano, as despesas do Tesouro cresceram 5,7% acima da expansão estimada da economia, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Fazenda. No mesmo período de 2011, o ritmo era bem mais lento. A despesa total do Tesouro crescia menos do que a economia e até abril do ano passado foi 2,4% menor do que o crescimento nominal do Produto Interno Bruto (PIB).
É um equívoco, portanto, achar que o superávit primário obtido pelo governo federal de janeiro a abril deste ano seja resultado do corte ou de um controle do gasto. Ele resultou principalmente do forte crescimento das receitas. Até agora, o governo Dilma Rousseff só conseguiu controlar o gasto com o funcionalismo público, que caiu 0,24% do PIB nos quatro primeiros meses deste ano, em comparação com igual período do ano passado. Todas as demais despesas correntes cresceram. E muito.
Há, no entanto, um fato que merece atenção. Os investimentos totais feitos pela União (incluindo os três Poderes) nos quatro primeiros meses deste ano atingiram R$ 21,1 bilhões, sendo que, deste total, R$ 7,1 bilhões foram gastos com os subsídios do programa habitacional Minha Casa Minha Vida (MCMV). Embora seja uma típica despesa corrente, a medida provisória 561, editada este ano, oficializou a inclusão dos subsídios do Minha Casa Minha Vida na rubrica de investimentos.
Antes de tudo, é preciso entender o que vem a ser a despesa pública com o MCMV. Como o programa habitacional se destina às faixas da população de mais baixa renda, as moradias produzidas são financiadas com taxas de juros subsidiadas pelo Tesouro. A despesa do Tesouro, portanto, é com a equalização da taxa de juros, nos mesmos moldes daquela praticada com os empréstimos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). No PSI, o BNDES oferece linhas de créditos para investimentos e compras de máquinas e equipamentos com taxas de juros subsidiadas pelo Tesouro.
O governo Dilma resolveu considerar os subsídios concedidos no âmbito do MCMV como investimento, mas não fez o mesmo com os subsídios do PSI que, a rigor, estão muito mais relacionados com investimentos produtivos. O governo também não considerou investimento, por exemplo, os subsídios concedidos à agricultura, que só nos primeiros quatro meses deste ano atingiram R$ 4,1 bilhões, segundo dados do Tesouro. As despesas com subsídios e subvenções são classificadas na Lei nº 4.320, que estabelece normas para a elaboração e controle dos orçamentos, como gastos correntes e não como investimentos.
Essa nova forma de contabilidade do MCMV mascara o que efetivamente ocorreu com os investimentos públicos neste início do ano. Se a despesa com o MCMV for excluída, os investimentos totais da União atingiram apenas R$ 14 bilhões de janeiro a abril. No mesmo período de 2011, os investimentos totais ficaram em R$ 16,4 bilhões. Excluindo a despesa com o MCMV de R$ 1,9 bilhão, o investimento efetivo foi de R$ 14,5 bilhões. Isto significa que os investimentos nos primeiros quatro meses deste ano caíram 3,4% em termos nominais, na comparação com igual período do ano passado.
É importante observar que o investimento público vem caindo desde o início do governo Dilma Rousseff, mesmo com o discurso oficial favorável a privilegiar esse tipo de gasto e das medidas anunciadas para melhorar a gestão pública. Em 2011, a queda em comparação com o ano anterior foi de 0,2 ponto do PIB. Os dados disponíveis mostram que este ano não será diferente. Talvez seja até pior.
Como a presidente Dilma garante que não faltam recursos para os investimentos em infraestrutura de transporte, energia e para o saneamento básico, a conclusão a que se chega é que os gestores públicos não conseguem desatar o grande nó dos entraves burocráticos, constituídos pela demora no licenciamento ambiental, pelas custosas desapropriações necessárias para os projetos de logística, pelos péssimos projetos de engenharia e pela rigidez da lei de licitação.
Fica cada dia mais claro que o Brasil precisa avançar nas concessões dos serviços e obras públicas à iniciativa privada, sem o que a infraestrutura do país não vai melhorar.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

PIB é uma medida incompleta e até enganosa da riqueza.


Entrevista na FOLHA DE S. PAULO do economista e professor da USP Ricardo Abramovay, que lança, durante a conferência Rio+20, seu novo livro, "Muito Além da Economia Verde", pela Editora Planeta Sustentável.

Em seu livro, o sr. coloca a questão dos limites dos ecossistemas. Em que áreas isso está mais evidente?
Ricardo Abramovay - Os trabalhos internacionais sobre limites, sobretudo do Johan Rockström [professor da Universidade de Estocolomo], bem como vários documentos da ONU, mostram que já ultrapassamos fronteiras ecossistêmicas.
Isso ameaça a vida em três áreas: mudanças climáticas, biodiversidade e ciclo do nitrogênio [importante para dejetos e fertilizantes, por exemplo], o que é muito preocupante para países de produção agrícola como o Brasil. As perspectivas de crescimento no uso de materiais, minérios e combustíveis também preocupam.

Há chance de avançarmos em um novo sistema econômico, que leve em conta esse esgotamento dos recursos?
Um dos resultados factíveis da Rio+20 será reconhecer que o PIB é uma medida errada sobre o modo como as sociedades usam os recursos para seu desenvolvimento.
O PIB não é só incompleto. Ele é incapaz de distinguir aquilo que produz bem-estar daquilo que produz mal-estar para as pessoas. Os ganhos de eficiência no uso de materiais e energia decorrentes do progresso tecnológico têm seu papel, mas é óbvio que não vai dar para fazer frente à pressão por crescimento.

A noção de "economia verde" proposta pela ONU responde a esse desafio?
Continuar com o "business as usual" e tentar "esverdear" setores que utilizam mal os recursos naturais, como o setor automobilístico, de petróleo e a agroindústria, não é uma opção. A economia global terá de se reinventar, pois já não basta gerar empregos, pagar impostos e criar produtos e serviços. A nova economia terá de prover bem-estar às pessoas, para que o futuro não seja espartano por causa dos limites do planeta.

Qual seria o primeiro passo no sentido de sair do paradigma do crescimento econômico para outro modelo?
Um passo que está sendo dado é a produção de conhecimento. Nós sabemos que estamos diante de uma situação grave. Há um crescimento populacional imenso, de 80 milhões de pessoas por ano, e o consumo também cresce. A questão é como fazer esse conhecimento sobre os limites do planeta entrar nas empresas e entidades governamentais.
São transformações que terão de emergir de novas coalizões sociais. Outro passo seria um consenso internacional de que precisamos incorporar ao sistema de preços os danos que o sistema econômico provoca na sociedade e nos ecossistemas. O mundo subsidia os combustíveis fósseis seis vezes mais do que as energias renováveis.

O Brasil, pode prescindir do crescimento econômico?
O Brasil ainda precisa de crescimento econômico, mas esse crescimento não pode ser nos moldes tradicionais, alavancado por setores como indústria automobilística e agronegócio. Precisamos de mais hospitais, escolas, transporte coletivo, saneamento. Isso exige atividade econômica, que vai se expressar em crescimento. O que não podemos é continuar estimulando setores que fazem mau uso dos recursos naturais. 

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Casa do Saber - Rio de Janeiro.


O convidado é o diretor de teatro e novelas, Moacyr Goés, é o palestrante do mês de junho do ciclo Liberdades promovido pelo Instituto Millenium. Na palestra, que tem o tema “Liberdade e servidão consentida”, Goés falará sobre a lacuna que separa o processo criativo do mercado. Uma das questões do debate será a influência do mercado sobre a arte e vice-versa. O evento acontece na próxima segunda-feira, 4 de junho, na Casa do Saber, no Rio de Janeiro.

O ciclo Liberdades teve inicio em abril, com a palestra do jornalista e escritor Guilherme Fiuza. O segundo encontro aconteceu no dia 7 de maio com o advogado e procurador do Estado, Gustavo Binenbojm, que abordou a “Liberdade Jurídica”.

Inscreva-se respondendo esse e-mail com seu nome completo. Você também pode enviar o nome de seus amigos que também tenham interesse em assistir à palestra.

Serviço
Ciclo Liberdades
Local: Casa do Saber – Avenida Epitácio Pessoa, 1.164 – Lagoa Rio de Janeiro
Horário: 18h
Informações:             (21) 2227-2237       ou www.imil.org.br

O desarme da política monetária cria sério risco.


Editorial de hoje do ESTADÃO bastante preocupado com o rumo da atual política monetária. 

Embora a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de fixar a mais baixa taxa Selic na história do organismo (8,5%) não tenha surpreendido o mercado, que a previa, ela merece reflexões.

O comunicado final da reunião voltou a repetir o anterior, mas é justamente isso que traz apreensão. O comunicado considera que, "neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação" e acrescenta que, "até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária". Note-se que as duas afirmações são acompanhadas por duas condicionantes: "neste momento" e "até agora". Falta, portanto, explicitar o que poderia introduzir mudanças no quadro atual.

Os riscos de uma mudança da trajetória da inflação são, certamente, vinculados ao efeito que poderia ter uma desvalorização significativa da taxa cambial. Até agora, a causa principal da desvalorização tem sido o voluntarismo do governo, com medidas restritivas sobre a entrada de divisas estrangeiras. É necessário saber que a desvalorização poderia tomar uma dimensão maior se, de repente, o fluxo de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) caísse fortemente e se a captação de recursos no exterior secasse. Neste caso, o déficit das transações correntes não sendo mais coberto por fluxos financeiros, poderíamos assistir a uma magna desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar, o que, numa economia fortemente dependente da importação, não deixaria de ser transmitida aos preços. Basta pensar no efeito que teria em nossa economia um reajuste grande do preço da gasolina.

O Copom assinala que, até agora, a contribuição do setor externo tem tido efeito desinflacionário. Uma retomada da atividade em países como os Estados Unidos e a China poderia mudar totalmente esse panorama. A recuperação norte-americana pode se acelerar com o fim da campanha eleitoral e a China pode ter sucesso na sua tentativa de dar novo impulso ao seu mercado interno. Nesses dois casos, poderá ocorrer uma alta dos preços das commodities, com repercussão sobre a nossa taxa de inflação.

Assim, ao verificarmos que a nova política monetária até agora não teve efeitos sobre a atividade econômica - como comprovam os dados sobre a produção industrial de abril, divulgados ontem - e que não estamos conseguindo realizar o mínimo de investimentos públicos necessários como base para o crescimento, podemos nos preocupar com o desarme atual da política monetária.

Economia em Belém.




O centenário da Crise da Borracha na Amazônia será o tema principal da sexta edição do Encontro de Entidades de Economistas da Região Norte (ENAM), que acontecerá de 6 a 8 de junho de 2012, em Belém. O evento com o tema “1912 – 2012 Cem Anos da Crise da Borracha: Do Retrospecto ao Prospecto” tem como público-alvo profissionais e estudantes de economia, gestores e servidores públicos, empresários, vestibulandos e demais interessados.

Durante o evento serão debatidos temas como: os grandes projetos energéticos e o desenvolvimento na Amazônia, os grandes projetos na Amazônia e seus impactos no desenvolvimento regional, infraestrutura, transporte e logística na Amazônia, a questão da produção do conhecimento regional e a biodiversidade, dentre outros.

O VI ENAM está sendo promovido pelo Conselho Regional de Economia do Estado do Pará (CORECON-PA), em parceria com o Conselho Federal de Economia (COFECON) e com os Conselhos Regionais do Norte.

As inscrições para participar do VI ENAM poderão ser efetuadas, através dos e-mails: astec@coreconpara.org.br ou ascom@coreconpara.org.br ou na sede da Casa do Economista, localizada na Rua Jerônimo Pimentel, 918. Inscrição: 1 kg de alimento não perecível. Mais informações: (91) 3223-1988 ou (91) 3222-6917

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Projeções para o PIB caem mais com economia fraca


No Valor, em 22/5/12, notícia sobre o PIB brasileiro. Recebi o texto do grupo de Economia Política.

Já não há mais dúvida de que o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, a ser anunciado no início do próximo mês, não será nada animador. A economia está devagar e são poucas as chances de o crescimento deste ano superar em muito os fracos 2,7% de 2011.

Uma previsão desse cenário nada auspicioso foi vislumbrada no comportamento do Índice de Atividade Econômica do Banco Central, chamado de IBC-Br, divulgado sexta-feira, que assustou até os mais pessimistas. Concebido como indicador antecedente do PIB, o IBC-Br caiu 0,35% em março em relação a fevereiro, a terceira queda consecutiva, acumulando crescimento de apenas 0,15% no primeiro trimestre em relação ao último trimestre de 2011 na série com ajustes sazonais; e de 1,06% frente a igual período de 2011, sem ajuste.

Espera-se que o PIB do primeiro trimestre seja um pouco melhor, mostrando expansão de 0,3% a 0,4%, mas não o suficiente para sustentar a meta do governo de que a economia cresça 4,5% neste ano nem a do Banco Central, de 3,5%. Até o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está mais conformado e já admite que um crescimento igual ao de 2011, de 2,7%, já seria "muito bom". No mercado financeiro, há consultorias esperado índices ainda menores.

O primeiro sinal de alerta foi o comportamento da produção industrial, que diminuiu 3% no primeiro trimestre em comparação com igual período de 2011, com retração em 15 dos 27 setores industriais pesquisados. A maior queda foi na fabricação de veículos automotores, que recuou 20,4% em comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Na comparação anual, também diminuiu a produção de máquinas e materiais elétricos (12,1%), material eletrônico e equipamentos de comunicações (13,1%), máquinas para escritório e equipamentos de informática (12,7%), borracha e plástico (5,1%), têxtil (7,5%) e vestuário e acessórios (14,1%).

O setor de veículos voltou a convencer o governo de que precisava de ajuda, com estoques equivalentes a 43 dias de vendas no fim de abril e queda de 3,4% das vendas no primeiro quadrimestre. Ainda ontem foram anunciadas medidas de estímulo. Apesar da arrecadação inferior à esperada neste início de ano, o governo reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de automóveis e utilitários e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) do crédito para pessoas físicas. Além disso, diminuiu o recolhimento compulsório dos bancos para aumentar a oferta de financiamento para aquisição de veículos.

Já as vendas no varejo começaram o ano bem, graças às medidas de estímulo do governo ao setor de eletrodomésticos da linha branca e móveis e ao aumento da renda das famílias. O chamado varejo restrito, excluído o desempenho de automóveis, peças e material de construção, cresceu 0,2% em março em relação a fevereiro e 4% em comparação com o último trimestre de 2011. A principal sustentação do consumo das famílias está no ganho real de renda, que cresceu 5,6% em março em comparação com igual mês de 2011, uma vez que a oferta de crédito está contida pela inadimplência e endividamento elevados. Já o varejo ampliado teve aumento de 0,6% entre março e fevereiro, graças ao desempenho do setor de material de construção, que neutralizou a queda de 1,4% das vendas de veículos no mês e de 0,3% no trimestre.

A massa salarial, combinação de variação do nível de emprego com a renda real, cresceu 6,2% acima da inflação nas seis principais regiões metropolitanas no primeiro trimestre em comparação com igual período de 2011. O que explica essa expansão em um momento em que a economia rateia é o aumento do salário mínimo e da remuneração de trabalhadores de setores que não sofrem a concorrência externa, como a construção civil.

Esperava-se que a economia se recuperasse a partir do segundo trimestre. No entanto, o recrudescimento da crise na zona do euro não autoriza maiores expectativas. A piora na região, com a cada vez mais provável saída da Grécia, e a falta de consenso entre os líderes mundiais entre estimular o crescimento da economia ou fazer pé firme na austeridade vai repercutir no resto do mundo. A crise internacional vai prejudicar a expansão das exportações brasileiras, especialmente de manufaturados, e, se for muito intensa, corta a oferta de crédito, como aconteceu em 2008. Com reservas internacionais elevadas e um sistema financeiro relativamente sólido, o Brasil está preparado para aguentar a onda de choque. Além disso, tem espaço para cortar mais os juros - e tudo indica que irá fazer isso. Mas não há como passar incólume a esse novo solavanco.

terça-feira, 22 de maio de 2012

O necessário equilíbrio.


Antonio Delfim Netto, hoje no Valor Econômico e a sua visão do “programa nacional” brasileiro. 

Neste momento de incerteza em que parece que o país não tem rumo, que parece viver de pequenos expedientes e no qual se exige um "coerente programa nacional em que o Brasil explicite com clareza o que quer de si mesmo", é bom lembrar que ele existe. A Constituição tem, ínsita, uma linha de desenvolvimento político, social e econômico que, com as dificuldades naturais, vem sendo seguida. Afinal, que tipo de sociedade os brasileiros escolheram para viver através dos seus constituintes? Não é coisa fácil de definir porque a Constituição é extremamente analítica, mas podemos definir o seu "espírito original" em três grandes vetores:

1) uma sociedade republicana em que todo cidadão, independente de sua origem, cor, credo, gênero, educação ou patrimônio, obedecerá à mesma lei, à qual se submeterá, inclusive, o Estado; 2) uma sociedade democrática, controlada pelo sufrágio universal com voto secreto, amplo e irrestrito no qual, em princípio, quem vota pode também ser votado; 3) um Estado forte, mas constitucionalmente controlado, que garanta o funcionamento de uma sociedade aberta, onde os indivíduos têm plena liberdade para iniciativa lícita e podem apropriar-se dos seus benefícios; com poder para regular a organização econômica que sustenta o uso dos mercados na alocação de bens e serviços; e com poder para ir ampliando a construção de uma sociedade onde cada vez mais adquire significado concreto a igualdade de oportunidades. É preciso dizer que diante desse programa civilizatório não há a menor dicotomia entre Estado e mercado.

Para entender porque os economistas podem ser úteis, não no estabelecimento desse objetivo, mas na facilitação da sua realização é preciso reconhecer que a condição preliminar para atingi-los é o aumento da produtividade do trabalho, que encolhe o tempo necessário do homem para construir sua sobrevivência física e expande o tempo disponível para que ele conquiste a sua humanidade. O desenvolvimento é apenas o instrumento que, eventualmente, tornará possível ao homem realizar-se plenamente.

O problema é que, por maior que sejam nossos desejos e por melhor que sejam as "instruções" da Constituição para a construção do nosso processo civilizatório, há realidades físicas que obstruem a sua marcha e decisões políticas que podem acelerá-la ou retardá-la. Para entender isso observe-se o gráfico abaixo, já publicado nesta coluna uma meia dúzia de vezes, ao longo dos últimos 12 anos. Numa simplificação radical ele revela a essência do processo de desenvolvimento numa economia fechada. Da população total (N) extraímos a população economicamente ativa (com seu nível de educação e saúde) e, dela, a Força de Trabalho (L), os que podem e querem trabalhar. Esses, usando o Estoque de Capital (K), que é trabalho do passado congelado na forma de infraestrutura, máquinas etc. produzem o PIB. É fato empírico bem comprovado que a "produtividade" da combinação do capital (K) com o trabalho (L) depende, dentro de certos limites da intensidade da relação entre eles (K/L), ou seja, da quantidade de capital (K) de que dispõe cada unidade da mão de obra (L).

Trata-se, obviamente, de uma metáfora não mensurável que permite entender que o tamanho do PIB depende do estoque de capital (K), da disponibilidade do trabalho (L) e da sua "produtividade" (K/L). A velocidade do processo é determinada pelo ritmo de crescimento do capital com relação ao do trabalho. Há, portanto, uma clara relação entre o ritmo possível do consumo e a velocidade desejada de crescimento.

Até aqui o processo é puramente físico e a economia tem muita coisa útil para dizer e ensinar sobre ele. Uma vez produzido, entretanto, a distribuição do PIB entre o consumo que volta para a população (N) e o investimento que retorna ao estoque de capital (K) para repor o capital consumido na produção (depreciação) e aumentá-lo, é um processo político. Nas democracias ele é resolvido nas urnas. Nos regimes autoritários pelo arbítrio, fora do alcance da economia e dos economistas. O que esses podem fazer é apontar os inevitáveis resultados práticos das escolhas políticas e o nível de sua coerência no longo prazo com os objetivos estabelecidos pela sociedade.

Não é preciso ser um físico quântico para compreender que sem um equilíbrio entre o consumo e o investimento, o sistema não tem energia para se manter funcionando adequadamente. Quando há ênfase exagerada no consumo (como no Brasil) ou no investimento (como na China) o sistema perde funcionalidade no longo prazo. Chega a hora de mudar. O Brasil precisa dar ênfase ao investimento e às exportações sem recuar na inserção social. A China precisa reduzir os investimentos e a exportação para dar ênfase ao consumo.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Maria da Conceição Tavares - a Economista.


Palácio do Planalto, 17 de maio de 2012
Eu queria primeiro, rompendo o protocolo, e peço perdão ao senador José Sarney, para cumprimentar do fundo do meu coração a professora doutora Maria da Conceição Tavares.
Cumprimento o senador José Sarney, presidente do Senado,
As senhoras e os senhores ministros de Estado, aqui cumprimentando o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, o ministro Guido Mantega, da Fazenda; o ministro Aloizio Mercadante, da Educação; Ana de Holanda, da Cultura; Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio [Exterior]; Miriam Belchior, do Planejamento, Orçamento e Gestão; Pepe Vargas, do Desenvolvimento Agrário; Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral; José Elito, do Gabinete de Segurança Institucional; Luís Inácio Adams, da Advocacia-Geral da União; Ideli Salvatti, da Secretaria de Relações Institucionais; Helena Chagas, da Secretaria de Comunicação Social; Eleonora Menicucci, da Secretaria de Política para as Mulheres.
Cumprimento o nosso querido ex-senador, ex-ministro, ex-governador Waldir Pires,
Senhor Glaucius Oliva, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
Senhoras e senhores embaixadores credenciados no meu governo,
Senhoras e senhores senadores Marta Suplicy e Eduardo Suplicy,
Senhores deputados federais Alessandro Molon e Newton Lima,
Senhor Américo Fialdini Júnior, presidente da Fundação Conrado Wessel,
Almirante de esquadra Julio Soares de Moura Neto, comandante da Marinha do Brasil que copatrocina este prêmio com o CNPq e a Fundação Conrado Wessel,      
Senhoras e senhores reitores,
Doutor Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências, por intermédio de quem cumprimento todos os dirigentes de centros de pesquisa, fundações, sociedades, associações acadêmicas, científicas e tecnológicas,
E senhores jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas.
Este é um discurso de uma discípula para uma mestra, com muito orgulho e muito carinho. Orgulho por presidir esta cerimônia, que concede o maior e mais importante prêmio científico do Brasil – o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia – à professora Maria da Conceição Tavares, por sua imensa generosidade, por sua grande inteligência, seus méritos intelectuais, sua extraordinária dedicação à formação de várias gerações de brasileiros e brasileiras - de economistas, sim, mas de pessoas comprometidas com o país.
Carinho por homenagear minha mestra, que eu sou testemunha de seu compromisso com o Brasil, com o desenvolvimento do nosso país, com o desenvolvimento da América Latina. Compromisso que sempre cumpriu, tratando economia como ela deve ser tratada, como economia política.
Falo como aluna que fui da professora Maria da Conceição Tavares, com quem aprendi muito e continuo aprendendo com sua integridade, sua competência, sua firmeza de princípios. Aluna que a teve e tem como referência em todos estes anos, inclusive, hoje, em minhas tarefas como a primeira mulher a exercer a Presidência da República no Brasil.
Nessa plateia repleta de alunos da professora Maria da Conceição, sei que encontro ressonância ao afirmar que não houve momento importante na história do nosso país, das nossas gerações nas últimas décadas em que não contássemos com a palavra da nossa professora. Muitas vezes, com a sua palavra crítica, que nós recebemos sempre com uma certa humildade, porque aprendemos a respeitar a capacidade crítica e o compromisso que Maria da Conceição tem com os rumos e os destinos do país. Respeitar o seu ardor entusiasmado, sua posição firme sempre formulando posições voltadas para o bem-estar do nosso povo, para a soberania do nosso país, e pelo desenvolvimento do nosso Brasil.
O ministro Raupp e o representante da Fundação Conrado Wessel fizeram um perfil da nossa querida professora Maria da Conceição Tavares. Acho que a melhor síntese é que a Maria da Conceição carrega a nação brasileira na sua trajetória acadêmica. Mas eu queria acrescentar na sua trajetória pessoal e política.
Ela sempre carregou... ela sempre carregou esse compromisso com o Brasil e com o seu povo. E por isso, esta homenagem é simbólica. Simbólica porque também o Almirante Álvaro Alberto deu a sua contribuição nesse sentido da construção de um país soberano. E simbólica porque o Brasil vive, hoje, ou vive nos últimos anos, nós últimos nove, dez anos, um ponto de mutação na história do seu desenvolvimento. E para a história desse desenvolvimento e para o desenvolvimento foi necessário que nós tivéssemos compreensões, compromissos, idéias e tivéssemos, de uma forma ou de outra, o mapa do caminho.
Nessa questão do mapa do caminho, a nossa professora Maria da Conceição Tavares deu grandes contribuições. Nós, hoje, não admitimos mais a possibilidade de construir um país forte e rico dissociado de melhorias nas condições de vida de nossa população, nem tão pouco acreditamos mais na delegação da condução de nosso crescimento exclusivamente às forças de autorregulação do mercado – crença, aliás, que Maria da Conceição Tavares sempre corretamente criticou.       
Não acreditamos mais que nós poderíamos nos desenvolver sem nos libertar das amarras que nos prendiam a interesses nacionais em outras regiões do mundo.
Hoje, nós vivemos uma grande transformação. Uma benigna subordinação da lógica econômica à agenda dos valores indissociáveis da democracia e da inclusão social.     
Sabemos que, nos últimos anos, criamos uma série de políticas. Temos hoje ainda alguns entraves a romper, e, magistralmente, a nossa querida Maria da Conceição Tavares sempre manifesta, de uma forma bastante enfática, para mim pelo menos, quais são esses entraves, e como é urgente rompê-los.
Eu agradeço essa sistemática colaboração que eu tenho na minha querida mestra e professora.
Por isso, eu quero dizer para vocês que eu estou hoje, aqui, extremamente orgulhosa, porque posso participar dessa homenagem, que é mais do que uma homenagem, é uma celebração de uma vida digna, ética, de uma vida comprometida com os interesses do nosso país.
Talvez, a Maria da Conceição Tavares seja a mais brasileira de todos nós, porque ela é brasileira por opção. Ela tem, na sua trajetória, um imenso compromisso com o nosso país, por isso, ela já merecia muitos prêmios, além deste que nós estamos aqui dando a ela.
Este prêmio significa uma justiça e um reconhecimento de toda a sua orientação, que influenciou várias gerações de estudantes e de profissionais brasileiros. Reconhece a contribuição inestimável de nossa professora Maria da Conceição Tavares ao nosso país, por meio de obstinada e vitoriosa militância política institucional.
Por isso, eu queria dizer que a Maria da Conceição Tavares é brasileira de coração, de mente e de desígnio. À minha mestra, mais uma vez, com muito carinho.   
Dilma Rousseff

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Além da euforia.


Prêmio Kluge ao FHC.



Leio na FOLHA que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, 80, venceu o prêmio Kluge, concedido pela Biblioteca do Congresso dos EUA a personalidades que se destacam pela produção acadêmica na área das ciências humanas não contempladas pelo Nobel.

A premiação, de US$ 1 milhão, destaca o papel de FHC "na transformação do Brasil de uma ditadura militar com alta inflação em uma democracia includente, com forte crescimento econômico".

O ex-presidente afirmou à Folha ter recebido o prêmio com "alegria e surpresa". "Reconhecer uma obra cientifica produzida na América Latina não é usual", disse.

Ele credita a escolha a sua produção "inovadora". "Nunca fui exclusivamente sociólogo, cientista político ou economista. Fiz uma ligação entre várias áreas, uma produção de ciência social no seu conjunto. Isso me ajudou também a ter uma visão mais integral na vida pública."

FHC lembrou da importância dos que trabalharam com ele e reconheceu que a escolha "tem a ver também com o Brasil estar em evidência".

Presidente da República pelo PSDB de 1995 a 2002, FHC é formado em sociologia pela USP, onde se tornou professor em 1952. Com o golpe militar de 1964, exilou-se no Chile e na França. Retornou ao Brasil quatro anos depois.

Atuou no Cepal (Comissão Econômica para a América Latina) e produziu obras como "Dependência e Desenvolvimento na América Latina", ao lado do sociólogo chileno Enzo Faletto, e "Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional".

A entrega da premiação, que existe desde 2000, será em 10 de julho, em Washington.

FHC no EL PAÍS.


El expresidente brasileño, Fernando Henrique Cardoso (Río de Janeiro, 1931), acaba de recibir el premio John W. Kluge concedido por la Biblioteca del Congreso de EE UU. El galardón, dotado de un millón de dólares, representa el reconocimiento a la obra de académicos y eruditos cuyas disciplinas de estudio no entran en la órbita de los Nobel, como la psicología, la sociología o la antropología. En el caso de Cardoso, el fallo valora que en 1969 el brasileño sentara las bases del concepto "globalización" en un celebérrimo ensayo cuya autoría compartió con el chileno Enzo Falleto. Nada más conocer la concesión del galardón, Cardoso conversó con EL PAÍS. "Sorprendente", fue la primera palabra que salió de su boca.
Pregunta. ¿Cómo ha recibido la noticia del premio?
Respuesta. Con satisfacción, porque el premio se me ha dado por mi obra intelectual, pero simultáneamente es un premio que también valora las consecuencias que esa obra puede haber tenido en la sociedad. En mi caso, soy académico pero también fui presidente de la República, y siempre suele haber una cierta confusión sobre mi trabajo. Se me ha dado el premio por la contribución académica y por la coherencia de haber mantenido vivos los valores de mi obra. Además, es raro que este premio se haya concedido a un académico latinoamericano.
P. ¿Es el mayor de los reconocimientos que ha recibido?
R. Internacionalmente y con relación a mi obra académica, sí. He sido investido Doctor Honoris Causa en varios países, como España, Inglaterra, Francia o Alemania, pero esto es distinto.
P. ¿Siente que a sus 80 años aun tiene cosas que aportar al debate social y político?
R. Creo que con mi experiencia y mi entrenamiento académico aun puedo continuar activo. Pertenezco al grupo Global Elders fundado por [Nelson] Mandela, que intenta solventar situaciones de conflicto, por ejemplo como las de Sudan o Israel y Palestina. También sigo activo en otros sectores, como las discusiones sobre la gobernanza global o la búsqueda de políticas antidroga que no sean represivas como la actual.
P. El jurado del premio estima que el ensayo firmado en 1969 por usted junto al chileno Enzo Falleto fue visionario y que se adelantó al concepto "globalización". ¿En aquella época ya pensaba usted en las estructuras propias de lo que hoy conocemos como mundo globalizado?
R. No era totalmente consciente. Fíjese, cuando escribimos aquel ensayo aun ni se usaba el concepto "multinacional". Falleto y yo, sin darnos mucha cuenta, estábamos describiendo el comienzo de la globalización, y nos referíamos a ella hablando de interdependencia. La discusión entonces giraba en torno a si países interdependientes podrían progresar. La mayoría de los académicos pensaba que no. Nosotros pensábamos lo contrario, siempre y cuando las relaciones asimétricas no generasen un estancamiento. Establecimos que había varios caminos hacia la integración dependiendo de las condiciones de cada país, no solo económicas, sino también sociales o políticas. Y subrayamos que el economicismo vigente no tenia en cuenta esos factores político y social para definir las pautas de integración del mundo global.
P. ¿Brasil va todo lo bien que se cree?
R. Brasil ha logrado tener una determinada autonomía de decisiones en el proceso global. Ahora podemos progresar razonablemente, más aun con la presencia de China. La demanda de materias primas es una enorme ventaja para Brasil. La continuidad de este proceso depende de las decisiones que tomemos los brasileños, depende de nuestra visión estratégica para avanzar en temas clave como infraestructuras, educación o matriz energética. El tema que más me preocupa es que tras una buena gestión de la economía y de la productividad del país, ahora toca crear valores para alcanzar una sociedad mejor y mas decente, con mas igualdad, menos corrupción y mas acceso a lo público. No solo podemos pensar en economía. Este es nuestro gran desafío.
P. Habla usted de corrupción, una de las grandes cuentas pendientes en Brasil. ¿La presidenta Dilma Rousseff está haciendo algo para acabar con esta lacra?
R. Los medios de comunicación son los que tienen un papel mas activo. Pero también es indudable que la presidenta no trata de esconder el problema y cuando salta algún caso de corrupción no defiende a los acusados. Quiere que se vayan, lo cual es importante.
P. Llevamos varios años oyendo hablar del milagro brasileño y para buena parte del mundo el protagonista de ese milagro es el expresidente Lula da Silva. Otras voces, sin embargo, le señalan a usted como el precursor de la política económica e incluso del programa Bolsa Familia que tantos laureles le han granjeado al presidente Lula.
R. Esas voces son las que conocen la historia, los fundamentos de la situación actual. Se han hecho muchas cosas durante el Gobierno de Lula, pero en mi Gobierno logramos estabilizar la economía, acabamos con la inflación y modernizar el aparato estatal. Privatizamos, pero sin exagerar. Creamos agencias reguladoras y preparamos el país para el mundo contemporáneo. Impulsamos el aumento continuado de los salarios mínimos. El presidente Lula profundizó en todo esto, aunque años antes se opusiera a todo lo que hicimos. Se puede decir que yo empecé y el continuó.
P. ¿Que tal lo está haciendo la sucesora de Lula?
R. Personalmente le tengo consideración. Creo que es una persona integra, aunque le ha tocado un momento mas difícil que el del presidente Lula, como también fue mi caso. Tendrá que tomar medidas rápidas y de fondo. Lula gobernó en condiciones favorables, y no es el caso de ella. Como brasileño espero que las cosas le vayan bien.
P. Usted fue victima de una dictadura militar que lo mantuvo en el exilio. ¿Cree que la Comisión de la Verdad recién instaurada en Brasil debe tener un alcance limitado, como parece ser el caso, o piensa que se debería ir mas lejos y juzgar a los responsables, como se ha hecho en Argentina?
R. Es una cuestión delicada porque en verdad aquí hubo una especie de derrumbe de los militares. Aquí la transición fue mas parecida a la española, mas lenta, sin la sensación de que hubo ganadores y perdedores. Se hizo una ley de amnistía. Creo que la decisión de la presidenta Rousseff de crear una comisión que no sea revanchista es adecuada.
P. ¿Cree usted que en Brasil se está primando el desarrollo económico frente a la protección del medioambiente?
R. Soy muy ambientalista. No se debe reemplazar la cuestión ambiental por un desarrollo sin trabas. Si estuviera en lugar de la presidenta Rousseff, vetaría algunas partes del Código Forestal aprobado en el Congreso. El Senado había alcanzado un buen equilibrio entre la preservación ambiental y una explotación agrícola razonable. No tiene ningún sentido hacer concesiones en zonas de selva amazónica y creo que hay que ser irreductibles en este asunto.
P. ¿Cree usted que aún es posible un bloque latinoamericano sólido?
R. Si se compara con la época en la que yo goberné, la realidad es que hay menos unión, nos hemos dispersado más. En el Mercosur no se ha avanzado, sino que existen nuevas barreras arancelarias

Taxa zero: vamos comprar?


Os grandes bancos privados, a exemplo do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, estão reduzindo as taxas de juros cobradas quando de seus empréstimos e financiamentos.

É saudável que isso ocorra, porém alguma coisa deveria ser feita com relação a alertar os clientes para o risco que elevadas dívidas provocam no devedor. O brasileiro é um consumidor por natureza, que o digam as lojas localizadas em Nova York,  Miami ou na José Paulino e Oscar Freire. 

O aquecimento do consumo é muito bom, principalmente em ano eleitoral. Porém, ser prudente e respeitar a inflação na sua meta, também não faz mal a ninguém. É preferível um PIB realista, do que números inflados por alguma espécie de bolha. 

O Getúlio do Neto.



Sou fiel leitor do conterrâneo, o cearense Lira Neto, excepcional biógrafo do presidente Castello Branco, do escritor José de Alencar, da cantora Maysa e do Padre Cícero Romão Batista.

Diante disso, aguardo o sucesso que será a trilogia sobre o presidente GETÚLIO VARGAS, cujo primeiro livro será lançado dia 11 próximo.

Altamente recomendável, sem restrição.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Delfim explica a nova poupança.


O texto do professor Antonio Delfim Netto hoje na FOLHA é tão didático e esclarecedor que não posso deixar de postar para os meus dois fiéis leitores. Pura utilidade pública. 

A mudança no regime da caderneta de poupança facilitará não apenas o objetivo de trazer a taxa de juro real do Brasil ao nível internacional mas também a vida das famílias que encontram naquele instrumento o refúgio seguro, líquido e certo.

Para entender isso, lembremos que elas abrigam quase 100 milhões de depositantes, 98% dos quais têm poupança inferior a R$ 50 mil, num montante total que em março de 2012 atingia R$ 429 bilhões.

Suponhamos uma família que tem um depósito de R$ 2.000 para atender a uma emergência, pelo qual ela recebe 6,37% ao ano (R$ 128) correspondentes ao juro acumulado mensal de 0,5% (6,17%) somado à Taxa de Referência fixada pelo BC (0,2%).

Suponhamos ainda que essa mesma família tenha uma dívida de R$ 1.000 mantida constante durante todo o ano e pela qual um credor altruísta cobre apenas um juro de 2,84% ao mês (40% ao ano), ou seja R$ 400. Qual é o resultado dessa conta sobre os rendimentos da família? Ela recebe de juros R$ 128 e paga de juros R$ 400. Logo, sua conta de juros é negativa em R$ 272.

Suponhamos, agora, que a taxa Selic, que está hoje em 9%, seja reduzida para 7,5% e permaneça neste nível durante um ano. O que acontecerá com o rendimento da poupança da família?

Com relação ao depósito já feito de R$ 2.000, absolutamente nada! Ele continuará a receber os mesmos R$ 128, com as mesmas garantias. Apenas os eventuais novos depósitos (a nova caderneta) serão creditados pela nova regra (70% da Selic + TR) à taxa de juro de 5,45% ao ano.

Qual a diferença de rendimento anual de R$ 2.000 produzido pela mudança? Na caderneta velha, ele recebe R$ 128. Na nova, R$ 109, ou seja, uma diferença de R$ 19.

A aritmética "terrorista" dirá à família que ela perdeu 14,8% do seu rendimento (R$ 19/R$ 128), exatamente o oposto do que sentirá no bolso no fim do ano, se o credor altruísta tiver de reduzir a sua modesta taxa de juros de 2,84% ao mês (40% ao ano) para 2,21% (30% ao ano) -o que, no fundo, é o objetivo da política do governo quando insiste em pressionar as taxas de juros.

O resultado é simples. Com seu "estoque" de R$ 2.000 na caderneta velha, ele continuará a receber R$ 128, mas o juro da sua dívida cairá, se a política econômica tiver sucesso, digamos, de 40% para 30% ao ano.

Qual o resultado final para a família? Ela economizará R$ 100 no pagamento dos juros, que poderá depositar na caderneta nova ou, eventualmente, ampliar o seu consumo!

Repetindo Pascal, podemos dizer que, "nesses tempos, a verdade é tão obscura e a mentira tão bem estabelecida que não a enxergaremos a menos que nos esforcemos muito". 

domingo, 6 de maio de 2012

Pará: uma dádiva divina.

Hoje a Folha publica matéria sobre o estado do Para. Pelo menos, desta vez, o assunto é bom para nós.


AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A PARAGOMINAS (PA)
O Pará será em cinco anos a nova Minas Gerais brasileira. É quando o Estado deve assumir a liderança da produção nacional de minérios.
Hoje, Minas Gerais produz 40% dos minerais extraídos no país, e o Pará, 20%.
Mas o fluxo de investimentos previstos para os próximos quatro anos deve dar novo impulso à produção no Estado, proporcionando escala sem precedentes à sua indústria mineral.
Dados do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração) indicam que só o Pará vai receber US$ 41 bilhões em novos recursos até 2016.
Desse total, US$ 24 bilhões serão aplicados apenas na exploração mineral, do ferro ao cobre, do níquel ao ouro, da bauxita à cassiterita.
Minerais nobres, como paládio e platina, também fazem parte dessa lista.
DÁDIVA GEOLÓGICA
Geólogos classificam o Pará como "uma dádiva divina". Mas o acaso, que começou há mais de 2 bilhões de anos, fez do Estado a maior região do mundo em variedade mineral. Uma riqueza, porém, que nem o governo do Pará sabe quantificar.
"Há cerca de mil mineradoras atuando no Pará. Conhecemos, no máximo, 50. Há um total desconhecimento sobre o que está acontecendo em termos de exploração no Estado", diz David Leal, secretário de Mineração.
O Estado também reconhece que o Pará pode, pela falta de política, de logística, de fiscalização e de organização da gestão pública, estar sendo saqueado em milhões ou até bilhões de reais.
Sobre o que é controlado, o Estado registrou um salto relevante entre 2010 e 2011. Os royalties gerados na exploração renderam quase R$ 150 milhões a mais em um ano, ao saltarem de R$ 315 milhões para R$ 462 milhões.
A indústria da mineração exportou, só em matéria-prima, US$ 13,7 bilhões em 2011. Cifra que entrou no Brasil e ajudou o país a engordar o saldo da balança comercial.
Só a mineração paraense exportou o equivalente a 44% do superavit total do país, de US$ 29 bilhões em 2011.
E mais projetos para exportação estão a caminho.
A Hydro Brasil, empresa que assumiu a mina de bauxita da Vale, em Paragominas, vai investir US$ 1 bilhão para aumentar de 10 milhões para 15 milhões de toneladas a capacidade de produção da mina. O projeto também vai viabilizar uma nova refinaria de alumina, em Barcarena.

DO ENVIADO A PARAGOMINAS (PA)
Nada se parece com aquele passado obscuro e violento. As calçadas de pedra, a ponte de madeira, as imensas rochas de bauxita postas às margens do belo lago artificial, a infância que brinca ao invés de trabalhar.
O parque linear, que será entregue à população neste mês, deve se transformar num símbolo da mudança que essa cidade paraense, de 100 mil habitantes, vive.
Paragominas já foi a capital do desmatamento. Vista como um "faroeste", a cidade de 47 anos, que surgiu às margens da rodovia Belém-Brasília, converteu-se em "município verde" -um exemplo que virou modelo replicado pelo Estado do Pará.
Vencedora do 9º Prêmio Chico Mendes, para iniciativas ambientais, Paragominas viveu o inferno.
Ali mesmo, às margens da Belém-Brasília, ponto de parada de caminhoneiros, havia de tudo. De prostituição a pistolagem, de trabalho infantil a mendicância.
IPTU E EDUCAÇÃO
A cidade zerou o analfabetismo de adultos ao conceder desconto de 50% do IPTU para quem fosse estudar.
O desmatamento cessou. Quarenta serrarias engoliam 300 quilômetros quadrados de floresta por ano. Hoje, menos de 1,5 quilômetro quadrado é desmatado. Paragominas deixou a lista de desmatadores do governo federal.
A criançada agora se ocupa em projetos sociais, bancados com recursos públicos e da mineração de bauxita. A Hydro já gastou R$ 85 milhões em escolas, em hospitais e no saneamento.
O dinheiro dos royalties rende à cidade cerca de R$ 900 mil por mês.
"Esse dinheiro não entra no custeio da prefeitura. É para investimento. Uma lei determina também que em cinco anos parte do recurso comece a ser gasta no desenvolvimento de outras atividades econômicas que substituirão a mineração", afirma o prefeito de Paragominas, Adnam Demarchki (PSDB).
A exploração ilegal da madeira é passado. Crescem o reflorestamento e a produção de grãos e indústrias, como a fábrica de ração e um frigorífico de pequenos animais.
"A cidade de Paragominas é um caso raro de gestão pública no Brasil", diz Geraldo Brittes, diretor da Hydro. (AB)


DO ENVIADO A PARAGOMINAS (PA)
Grande fornecedor mundial de matéria-prima, o Estado do Pará acredita que as grandes hidrelétricas, como as usinas de Belo Monte e do Complexo Tapajós, podem gerar energia suficiente para sustentar a indústria de transformação do minério.
"O Estado ainda é um mero exportador de matéria-prima e isso internaliza pouca riqueza", diz David Leal, secretário de mineração.
O Pará quer minério de ferro virando aço, bauxita convertendo-se em alumínio, e concentrado de cobre, em cabo de energia.
Em Barcarena, a 80 quilômetro de Belém, um grande complexo industrial já processa minérios, como a bauxita, na Alunorte, ou o caulim, na Imirys Rio Capim.
A Vale tem o projeto da Alpa, uma siderúrgica em Marabá. Parte do minério de ferro que será processado nessa siderúrgica deve sair da Serra Sul, a nova mega mina da Vale em Carajás.
Leal narra uma conversa recente com executivos canadenses que vão retomar a produção de ouro em Serra Pelada. O subproduto da exploração é um concentrado um bocado valioso. Contém paládio e platina e será exportado e processado fora do país.
"Questionei o executivo sobre por que isso não é processado aqui. Se for problema de incentivo, o Pará dá."
Não é por acaso essa oferta. A mineração ainda é uma atividade que melhora a vida de quem está ao lado do projeto, não da população.
O Pará aprovou uma lei que exige o cadastro das mineradoras, além do pagamento de uma taxa. Serão R$ 800 milhões por ano, quase o dobro dos royalties. O dinheiro, diz o governo, vai ajudar o Estado a montar uma política definitiva. (AB)


A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...