sábado, 4 de agosto de 2012

Dilma e Krugman em São Paulo.

Quando setembro chegar agende o dia 14 e encontre Dilma Rousseff e Paul Krugman em São Paulo, num evento da EXAME e patrocínio da VIVO, para discutir o Brasil e as empresas brasileiras no novo cenário mundial. 

E com direito a perguntar: até onde o Estado deve ir na condução da economia?


Política fiscal no Brasil.


Editorial do VALOR de ontem e os velhos desafios para a política fiscal neste ano.  
Acendeu a luz amarela na política fiscal. Dados divulgados nesta semana mostram uma forte queda na arrecadação no primeiro semestre e o aumento nas despesas, indicando que o governo pode ter dificuldade para cumprir a meta de fechar o ano com um superávit primário de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB).

Em junho os números foram ruins. O superávit primário do setor público foi de R$ 2,8 bilhões, um terço do esperado pelo mercado e cerca de 80% inferior ao de igual período de 2011. Decepcionaram tanto o governo central, com superávit primário de R$ 2 bilhões, quanto os governos regionais, que tiveram déficit de R$ 333 milhões, pela primeira vez desde 2000. Nos municípios, houve a antecipação de gastos, que geralmente ocorre em ano de eleição.

No semestre, o superávit primário ficou em R$ 65,7 bilhões, com queda de 16%, dos quais R$ 48,1 bilhões proporcionados pelo governo central. O resultado é equivalente a 3,06% do PIB, praticamente dentro da meta. Mas está em 2,71% em 12 meses, o menor patamar desde janeiro de 2011. A previsão é que será difícil fechar o ano dentro da meta porque a arrecadação está crescendo menos do que as despesas. Afetada pela desaceleração, a arrecadação federal cresceu 8,7% no semestre, totalizando R$ 427,6 bilhões, e as despesas avançaram 12,5% para R$ 379,5 bilhões.

Para complicar, não está havendo neste ano o elevado volume de arrecadações extraordinárias que caracterizaram 2011. Apenas em julho do ano passado o governo contou com uma arrecadação extraordinária de R$ 7,54 bilhões, que se somou aos R$ 6,08 bilhões de junho, permitindo ao governo reforçar o superávit primário em R$ 10 bilhões.

O governo insiste que conseguirá atingir a meta de superávit primário. Se a esperada recuperação da economia se confirmar, cumprir o prometido será mais viável. Mas o governo também conta com apostas menos factíveis. Uma delas é receber R$ 26 bilhões em dividendos das estatais. No primeiro semestre, foram arrecadados apenas R$ 7,95 bilhões em dividendos, o que significa esperar mais do que o dobro disso no segundo semestre. É preciso levar em conta também que as desonerações fiscais anunciadas para estimular a economia devem ter maior impacto nas contas do governo nos próximos meses.

Ao mesmo tempo, o governo está precisando investir mais e incentivar os investimentos privados. No primeiro semestre, os investimentos públicos cresceram 30,7% em comparação com igual período de 2011, totalizando R$ 32,8 bilhões. Mas nada menos do que R$ 25,1 bilhões desse total são restos a pagar, investimentos que deveriam ter sido desembolsados em anos anteriores. O valor ainda inclui R$ 22,5 bilhões em despesas do programa Minha Casa Minha Vida, que, desde meados de 2010, passaram a ser contabilizadas como investimento, mas são, na realidade, subsídios de equalização de taxa de juros.

A situação resgata a discussão a respeito do caráter pró-cíclico da política fiscal, pois a contenção de gastos para se obter o superávit primário prometido pode, em circunstâncias como a atual, aprofundar a desaceleração do nível de atividade ao sacrificar os investimentos. O governo debate a questão desde o fim do ano passado, quando o nível de atividade começou a recuar e alguns setores passaram a defender uma política anticíclica, em que o superávit seria reduzido em momentos de desaceleração; e elevado quando a economia estivesse aquecida.

O núcleo do governo receia, porém, que o rompimento da meta de superávit, definida para garantir a intenção de se reduzir a dívida pública, atrapalhe seu objetivo maior, que é reduzir a taxa básica de juros. Além disso, corroeria a credibilidade da política econômica, pois é um dos seus três pilares, ao lado do câmbio flutuante e da meta de inflação.

O articulista do Valor e professor da PUC/Rio, Márcio Garcia, escreveu artigo nesta semana defendendo uma meta de superávit fiscal estrutural, ajustada pelo ciclo econômico, que seria reduzida em anos ruins e elevada nos bons períodos. Para ele, o ponto principal é garantir que só haverá aumento de gastos com investimentos, e não despesas correntes.

Blindar o superávit anticíclico, garantindo a liberação de gastos apenas para investimentos nos momentos de desaceleração econômica, parece um bom caminho para se aprimorar a ideia. De toda forma, começar com uma ampla discussão com a sociedade pode ser o mais acertado para evitar prejuízos à credibilidade da política econômica.

VEJA.

Nesta semana de mensalões e olimpíadas a vingança não é apenas um sentimento televisivo.    

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Crise e capitalismo de Estado.


No VALOR de hoje, Jorge Arbache escreve sobre a crise e o capitalismo de Estado.     

A "The Economist" publicou um provocativo relatório especial sobre capitalismo de Estado, modelo que, segundo a revista, "combina as forças do Estado com as forças do capitalismo". Desde então, o assunto ganhou atenção mundo afora e tem contribuído para os debates sobre a crise econômica e sobre modelos de desenvolvimento. A crescente influência das economias emergentes na economia mundial e a sua resiliência à crise financeira estariam por detrás do grande interesse pelo assunto. Contrariamente ao dirigismo muitas vezes observado até recentemente em muitos países em desenvolvimento, o capitalismo de Estado se utilizaria, segundo a revista, de instrumentos e métodos de gestão de mercado para atingir seus objetivos. O relatório justifica o foco nas experiências recentes dos países emergentes, notadamente a da China, porque elas "parecem ser cada vez mais a tendência futura".

As manifestações do capitalismo de Estado são variadas e podem ser complexas e sofisticadas, como as políticas públicas de apoio aos conglomerados privados sul-coreanos, ou a montagem de fundos soberanos com crescente influência nos fluxos de capitais e investimentos. Mas as experiências de capitalismo de Estado de países emergentes coexistem com manifestações de forte intervencionismo estatal na economia também nos países desenvolvidos, como no caso da empresa de petróleo estatal norueguesa, Statoil, e das políticas americana e europeia de subsídios ao setor agrícola. As experiências das diferentes vertentes de capitalismo de Estado sugerem haver em comum entre elas uma tensão, em maior ou menor grau, entre pragmatismo e ideologia.

Mais recentemente, as inéditas e massivas intervenções na economia pelos governos dos países no epicentro da crise financeira por meio de "quantitative easing" e "bailouts", por exemplo, têm provocado profundas repercussões na alocação de recursos e formação de preços não apenas no plano doméstico, mas, também, internacional. Essas intervenções, muitas delas oportunistas, são especialmente intrusivas devido ao tamanho dessas economias e ao fato de suas moedas serem reserva de valor internacional, criando e agravando desequilíbrios macroeconômicos internacionais e acentuando as condições já assimétricas de competição.

O emprego de políticas de capitalismo de Estado parece estar se popularizando mundo afora à medida que a crise econômica e as incertezas se agravam. O capitalismo de Estado da China e o fracasso de políticas econômicas ultra-liberais, como algumas perseguidas pelos Estados Unidos até antes da crise, nos ajudam a entender porque um dos prováveis legados dessa crise para os políticos é a lição de que governos não devem limitar os seus papéis na economia.

Embora seja compreensível a atratividade do capitalismo de Estado num contexto de crise econômica, a sua multiplicação em escala global tem implicações deletérias. De fato, parece ser pouco plausível que muitos países possam se beneficiar, simultaneamente, de políticas de capitalismo de Estado devido à falácia da composição e devido às externalidades negativas por elas provocadas, que tendem a desorganizar o sistema econômico, fomentar reações mercantilistas e alimentar tensões políticas entre países. Por isso, é muito provável que a popularização dessas políticas dificulte a recuperação da economia mundial. O emprego de políticas de capitalismo de Estado também suscita questões associadas às escolhas entre interesses nacionais e compromissos internacionais, como os do G-20, com reflexos para a credibilidade do sistema multilateral.

Para que se mitiguem a proliferação do capitalismo de Estado e seus potenciais riscos para o crescimento econômico mundial, será preciso que os países, notadamente Estados Unidos, União Europeia e China, reconheçam a interdependência das políticas micro e macroeconômicas nacionais e seus impactos nos países em desenvolvimento. Será preciso, assim, redobrar os esforços de coordenação de políticas e de gestão de interesses conflitantes. No entanto, experiências como o colapso do Acordo de Doha, crise do Euro e as dificuldades de avanço nos acordos do clima ilustram os desafios de coordenação e de solução de controvérsias em períodos de crise.

Como as políticas de capitalismo de Estado têm significativos impactos adversos na economia brasileira, incluindo valorização cambial, especulação com preços de ativos e barreiras ao comércio e ao investimento, torna-se necessário o emprego de estratégias de desenvolvimento e de inserção internacional que busquem mitigar esses impactos. Tais estratégias deveriam levar em conta a combinação dos benefícios do comércio com os das políticas públicas de promoção da indústria conciliada com o desenvolvimento e a exploração das vantagens produtivas e competitivas nacionais. Deveriam, também, reconhecer as relações entre comércio e variáveis macroeconômicas como câmbio, juros e política fiscal e seus impactos na indústria e no comércio, buscar o reconhecimento internacional dos impactos dos grandes desequilíbrios macroeconômicos e das políticas de outros países na economia brasileira, e intensificar esforços indutores do aumento da competitividade através da redução dos custos de produção e aumento da produtividade e dos investimentos em capital humano e inovação.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Política fiscal no Estadão e no Estadão.


Editorial do ESTADÃO de hoje informa que as contas fiscais pioram com estagnação e mais gastos.  

No primeiro semestre, a estagnação da economia afetou as contas consolidadas do setor público (União, Estados, municípios, estatais e Banco Central), divulgadas ontem. O governo central contribuiu negativamente para o resultado, pois, enquanto as despesas cresceram 12,5% em relação ao primeiro semestre de 2011, as receitas totais aumentaram apenas 8,7%.

Os dados do superávit primário (resultado das contas, menos juros) foram insatisfatórios: em junho, o saldo foi apenas de R$ 2,79 bilhões, bem abaixo das expectativas dos agentes econômicos; e, no semestre, atingiu R$ 65,6 bilhões (3,06% do PIB), muito inferior aos R$ 78,1 bilhões (3,9% do PIB), do mesmo período do ano passado.

O efeito da queda dos juros básicos nas contas governamentais ainda é restrito. A Selic saiu de 12,5% ao ano, em julho de 2011, para 8% ao ano, no mês passado, ou seja, caiu 36%, mas, dada a estrutura da dívida mobiliária, a conta de juros foi reduzida de apenas 7% em relação ao primeiro semestre do ano passado. Em parte, essa conta foi influenciada pelas dívidas de Estados e municípios, que são corrigidas pelo IGP-DI, mais pressionado no segundo trimestre.

O governo espera uma melhoria da economia, até o final do ano, mas, mesmo que essa hipótese se confirme, o efeito positivo sobre as contas fiscais não será imediato, com maior impacto no ano que vem.
Até junho a receita de tributos vinha evoluindo em ritmo inferior ao esperado, como já reconheceu a Secretaria da Receita Federal. O mesmo parece estar ocorrendo com a arrecadação previdenciária, que vinha ajudando a sustentar o patamar da arrecadação federal, como mostraram dados do Ministério da Previdência relativos ao primeiro semestre.

As contas fiscais de junho foram influenciadas negativamente pelo efeito estatístico do recolhimento excepcional do Refis da Crise, em junho de 2011. Ainda assim, provavelmente será tarefa mais difícil do que preveem as autoridades atingir as metas de superávit primário deste ano, num momento em que o Tesouro promete mais recursos para os Estados e promove desonerações fiscais.

Afinal, a área fiscal ganhou mais relevância para o equilíbrio macroeconômico - e, assim, para o controle da inflação -, na medida da perda relativa de importância da política de juros e do regime de metas de inflação.

Se as pressões sobre os preços visíveis nos últimos dias se confirmarem, a política fiscal exigirá ainda mais atenção, por fragilidades tanto no longo como no curto prazo.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Desindustrialização: O Que Fazer?


Li esta matéria na FOLHA de hoje e recordei logo do Professor Carlos Pio e a sua crítica ao modelo protecionista a determinados setores da economia. E como ficam os setores aparentemente mais fracos?  

Depois de se dedicar a debates como o combate à inflação, o economista Edmar Bacha, 70, quer saber por que a indústria brasileira está encolhendo.
Um dos formuladores do Plano Real, Bacha reuniu 35 especialistas para ir além da explicação câmbio & juros, que, segundo diz, não são o problema verdadeiro.
O resultado será publicado no livro "Desindustrialização: O Que Fazer?", organizado com a também economista Mônica de Bolle. Nesta entrevista, Bacha antecipa à Folha parte do diagnóstico sobre a desindustrizalização.
Quando o Brasil começou a se desindustrializar?
De 1980 até 2004/2005, houve um processo paulatino de perda da participação da indústria no PIB. E isso não preocupa.
Porque, quando se comparava o Brasil com outros países, a participação da indústria era muito maior. Havia um excesso de indústria. O que discutimos é o que ocorre a partir de 2005, com especial preocupação a partir de 2010.

O que mudou?
A partir de 2005, o Brasil foi beneficiado por uma enorme entrada de dólares, provinda da melhoria dos preços das commodities que o Brasil exporta e de uma entrada muito forte de capitais. É uma grande bonança externa. E o efeito colateral dessa bonança é a desindustrialização.

É como uma doença?
Eu não acho que, necessariamente, seja uma doença. Você apenas alterou o padrão de produção da economia. Não tem ninguém doente. Veja o Brasil de hoje. A mão de obra está muito bem, superempregada e com salários muito altos, como nunca teve. Só quem não está empregando é a indústria. A indústria realmente vai mal, mas o Brasil vai muito bem.

Mas economistas sustentam que o crescimento está travado porque o setor industrial está em crise.
A economia está em pleno emprego. Por que a popularidade da Dilma está tão alta? Do ponto de vista do bem-estar, as pessoas estão muito bem. Há um problema que a economia não cresce. Mas o estrangulamento do crescimento ocorre porque os investimentos dos setores competitivos estão travados.

Que setores poderiam crescer e estão parados?
A construção civil, todo o complexo agromineroindustrial. Mas esses setores dependem muito de infraestrutura, e o que ocorre é que estamos travados por falta de infraestrutura, por falta de mão de obra qualificada.

Não vale a pena o governo tentar recuperar a indústria?
Não através do protecionismo, do crédito subsidiado, nem de medidas pontuais.
Estamos falando de recuperar a capacidade de concorrer e de termos uma indústria produtiva. Afora imposto, e de fato os impostos são extremamente elevados, uma das maiores travas para recriar a indústria é a política do conteúdo nacional.
O governo, em vez de resolver, está ampliando. Eu sou a favor de acabar com a política de conteúdo nacional.

Mas o governo diz querer incentivar produtores locais.
É uma política míope, que resolve o problema localizado à custa de criar danos maiores para a economia.
No pré-sal, por exemplo, a consequência dessa política, será que a gente não vai chegar ao pré-sal. Pergunta ao Carlos Ghosn, da Renault, por que ele não produz carro de boa qualidade no Brasil.
Tendo que comprar tudo aqui dentro não dá. Protegem a indústria de componentes para criar o que chamam de "densificação da estrutura produtiva". O que é preciso é se integrar às cadeias produtivas internacionais.

Como?
Não tem que fazer todas as partes do produto aqui. O comércio internacional é crescentemente intrafirmas -multinacionais exportando para elas mesmas-, intrassetorial -exporta-se seda e importa-se algodão- e intraproduto -cada componente é feito num local e a montagem é feita noutro.
É assim que a Ásia está se estruturando e é assim que o México está crescendo.

Qual o efeito para o Brasil?
Aqui, esse suposto nacionalismo fez com o Brasil se tornasse o país mais colonizado do mundo. A participação de multinacionais no PIB é extraordinariamente elevada. E por que elas não exportam? Porque é caro produzir aqui. E por que é caro? Porque têm que comprar tudo aqui dentro, não podem se integrar mundialmente, não podem fazer o que fazem na China. A gente não deixa.

Mas a China também paga salários mais baixos.
A indústria concorre com a natureza, e ela é pródiga. Portanto, nosso ponto de partida é mais alto. Somos como nos EUA. Eles sempre foram um país de salários elevados, têm agricultura e mineração pujante e conseguiram desenvolver sua indústria.
Mas eles também estão buscando retomar as indústrias que perderam.
A desindustrialização não é só brasileira. O mundo inteiro, exceto a China, está se desindustrializando. É como se de repente descobrissem a existência de Marte. A China é como se fosse Marte. Estava fechada, com um terço da população mundial, e agora se abriu. Temos que arrumar um lugar para ela.

Mas, se é um fenômeno mundial, por que o Brasil deveria atuar? E como teria êxito?
Não estamos dizendo para deixar a indústria cair. No Brasil, há um problema específico, a participação da indústria no PIB está caindo mais do que em outros países. Não é que não tenhamos que nos mexer. Ao contrário. Isso é um problema, mas o que está sendo feito é errado.
Temos sugestões, e uma delas é mudar a estrutura de importação, diminuindo os impostos para a compra de bens de capital e componentes. Tornar as indústrias mais produtivas para que se integrem à cadeia mundial, em vez de olharem apenas para o mercado interno. As avaliações sobre o problema são muito chã, é o câmbio, é não sei mais o quê...

Então não é câmbio valorizado e juros altos?
As pessoas acham que mexendo nisso vão resolver o problema. Isso é um equívoco. É preciso entender como isso ocorreu. Não é um monte de gente malévola que apreciou o câmbio e botou os juros na lua.
Mas, ao focar juros e câmbio, perde-se a dimensão dos problemas reais e substantivos, que provocam a perda de competitividade.

Quais são esses problemas?
Quando houve a bonança, não teve jeito, houve muito ingresso de capital e o câmbio apreciou. O que fazer? Pôr uma barreira e não deixar entrar nenhum tostão? Fazer igual a Cristina Kirchner? Vai dizer isso para as empresas que precisam de capital e estão lançando ações.
Se existe uma bonança, vamos saber administrá-la. Frequentemente ela é tão boa que as pessoas deixam de fazer o dever de casa. E, quando acabam, só tem um buraco lá.

Economistas do governo afirmam que a bonança permitiu a emergência da classe C.
Poderia ter sido melhor. Mas eu não sou contra isso e não acho que o modelo foi apenas consumista. O investimento cresceu neste período. Mas também é fato que a reação à crise a partir de 2008 só aumentou o consumo.

A reação à crise agravou a desindustrialização?
A desindustrialização não veio porque as pessoas consumiram. Se, em vez de consumir, tivéssemos investido, importaríamos mais ainda. Não acho que veio daí.
As pessoas dizem que o investimento está fraco porque a indústria está fraca. Mas foi justamente quando a indústria enfraqueceu que o investimento aumentou, entre 2005 e em 2011, quando passou de 15% para 20% do PIB.

Qual é a sua explicação?
A indústria é só 15% do PIB. E os outros 85%, que vão muito bem? O Eike Batista deve ter investido.

Então, quais são os problemas reais da indústria?
A indústria é excessivamente tributada no Brasil, comparada com as indústrias estrangeiras. Isso é um problema. Outro é que a indústria tem pouca flexibilidade de comprar insumos de fora por causa dessa política de requisito nacional e das altas tarifas cobradas na entrada de bens de capital e insumos.

O governo está tentando manter um modelo de indústria que não funciona mais?
Eles têm uma mentalidade que talvez coubesse em 1950 e que já foi exagerado em 1970. Hoje é um absurdo. Querem pensar em indústria no país em função desse mercadinho interno que a gente tem, que é só 3% do PIB mundial.
É também pensar pequeno a estratégia de curto prazo. Ficar tentando resolver o problema de cada setor, um a um.
Está com problema o setor de componentes da indústria automobilística? Azar.

O governo não deveria salvar certos setores, como têxteis e calçados?
Existem muitas indústrias de tecidos no Brasil que vão bem. Muitos dizem: a indústria de calçados vai acabar. Mas nesse grupo tem uma empresa chamada Alpargatas [fabricante das Havaianas]. Há muitas empresas que dão a volta por cima. O processo de criação destrutiva é a maneira pela qual o capitalismo se desenvolve e permite a incorporação de novas formas de fazer as coisas.
Essa política protecionista, de escolha de vencedores, constrange a capacidade produtiva a ficar aqui dentro, nesse rame-rame. É preciso olhar além da avenida Paulista [em alusão à Fiesp].

Keynes e Krugman: tudo a ver.

O mais recente livro do Paul Krugman, "Um basta à depressão econômica!", é um excelente manual sobre o que os governos ao redor do mundo devem fazer nesta época de recessão econômica. Com apenas 238 páginas, o texto escrito por um Nobel de Economia é, por incrível que pareça, uma aula de economia com sabor de quero mais. Além do que, vai levando o leitor, indiferente de ser a favor ou contra a intervenção estatal na economia, a buscar alternativas para a recuperação da economia mundial. 

Isso posto, estranho o lançamento não constar no site da http://www.ppge.ufrgs.br/akb/default.asp - Associação Keynesiana Brasileira. Penso que, neste momento, as diversas correntes econômicas deveriam reunir as melhores ideias visando melhorar o atual cenário econômico, incluindo nisso um verdadeiro debate entre nós.           

Economia com Samuelson e Nordhaus - 19ª edição.


Sempre que posso procuro acompanhar os lançamentos na área de Economia. Como aqui no Pará a logística é complexa, normalmente os lançamentos demoram a chegar. Porém, hoje, para minha surpresa neste início do final de semana, localizei na Saraiva a 19º edição do clássico ECONOMIA do Paul Samuelson e do William Nordhaus, sem que tivesse lido qualquer notícia sobre esse lançamento que ocorreu em 11.06.2012. 

Uma excelente notícia e uma boa indicação de leitura ou releitura de peso, nestes tempos nos quais em diversos governos pelo mundo, existe uma disparada de gasto público. Inclusive para melhor entender se o recomendável hoje é a mão pesada do estado ou a mão invisível do mercado. A reavaliar com atenção.

A propósito, Samuelson foi o principal seguidor de Keynes nos Estados Unidos e atualmente não sai da cabeça do Obama e, por que não, da presidente Dilma.  

quinta-feira, 26 de julho de 2012

O mundo rosa de Tombini.


Recebi do grupo de Economia Política o editorial do ESTADÃO de 25.07.2012, comentando sobre o mundo rosa de Tombini.

Espalhar otimismo e alegria é a nova função do Banco Central (BC) do Brasil. Talvez seja essa a maior inovação introduzida por seu atual presidente, Alexandre Tombini, convertido em propagandista da política econômica. Segundo ele, a economia crescerá mais de 4% no próximo ano, a inflação continuará controlada e as famílias terão recursos para ampliar seu consumo, graças à expansão do emprego e da renda. Não se trata, nesse discurso, apenas de alimentar e administrar expectativas, um papel normalmente exercido pela autoridade monetária. O presidente do BC é hoje um funcionário plenamente integrado na equipe ministerial, como era em tempos mais remotos, quando a gestão da moeda era subordinada, sem reservas, à orientação central da política econômica.

O presidente do BC está certo, provavelmente, quando anuncia uma reativação da economia brasileira no segundo semestre e um retorno, em 2013, a um crescimento em torno de 4,5%. A economia continua, de fato, criando empregos e a renda salarial cresceu mais uma vez no primeiro semestre. Tudo isso favorece o consumo, único fator de sustentação da economia neste ano. Mas há um evidente irrealismo no cenário cor-de-rosa apresentado por Tombini.

Os estímulos de crédito e o aumento de renda ainda observados neste ano podem favorecer a reativação econômica no segundo semestre, depois de meses de estagnação. Falta saber se a economia terá fôlego para um crescimento mais que efêmero, ou mesmo para uma expansão em ritmo superior a 4% nos anos seguintes. A criação de empregos formais em junho - 120,4 mil - foi 53% menor que a de um ano antes. No primeiro semestre houve 1 milhão de contratações com carteira assinada. Quase metade - 469,7 mil - foi no setor de serviços. A expansão dependeu principalmente da geração de empregos de qualidade inferior ao do setor manufatureiro.

A deterioração do quadro estendeu-se, portanto, pelo menos até o fim do primeiro semestre. Isso foi confirmado também pela nova sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada ontem. Segundo o relatório, a demanda ficou mais fraca, as margens de lucro foram insatisfatórias e os entrevistados apontaram uma situação financeira ruim. O acesso ao crédito permanece difícil, afirmam os autores do levantamento. De acordo com as informações coletadas, a produção industrial diminuiu pelo quarto mês consecutivo e os estoques se elevaram em cinco dos primeiros seis meses do ano.
"A estratégia de crescimento via estímulos ao consumo dá claros sinais de esgotamento", segundo o relatório. No segundo trimestre, o problema da falta de demanda tornou-se mais importante para empresas de todos os portes, de acordo com os informantes consultados. Ainda assim, esse problema continuou como o terceiro mais grave na lista elaborada com base nas respostas. A carga tributária continuou no primeiro lugar. No segundo posto ficou a competição acirrada - um item refletido, sem dúvida, no acelerado aumento das importações de bens industriais. A taxa de juros só aparece em sétimo lugar, entre as reclamações, seguida pela falta de capital de giro e pela falta de financiamento de longo prazo.

Os consultados manifestaram menor otimismo quanto à evolução da demanda interna e das exportações nos próximos seis meses. Diante disso, parece irrealista esperar uma retomada significativa dos investimentos.

Os números do comércio exterior confirmam o diagnóstico de uma indústria estagnada, com muita dificuldade para exportar e também para manter sua participação no mercado interno.
As previsões otimistas do presidente do BC podem ser confirmadas, no curto prazo, mas o impulso de crescimento será certamente limitado. As medidas de estímulo tomadas até agora são de curto alcance. Os benefícios fiscais são dirigidos a setores selecionados e insuficientes para neutralizar as distorções provocadas pela péssima tributação. Do investimento público pouco se pode esperar como contribuição à eficiência da economia. O governo insistirá em lançar novos pacotinhos, tão inócuos quanto os anteriores, e o discurso otimista será mantido.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Um cenário pessimista.


Hoje, na FOLHA DE S. PAULO, uma entrevista pessimista com o professor de economia e ciência política Barry Eichengreen.

Ele está pessimista com o cenário que se desenha para a economia mundial. O aprofundamento da crise de confiança na Europa com o que ele vê como a provável saída da Grécia da zona do euro é a pior de suas expectativas, mas não a única ruim.

Os EUA continuam tropeçando na regulamentação do sistema bancário -- ao menos no médio prazo, um desejo mais do que uma realidade -- e os mercados emergentes ainda não dão conta de puxar o crescimento mundial como se esperava há meses.

Eichengreen, que leciona na prestigiosa Universidade de Berkley e dá palestra a convidados nesta quarta em São Paulo, está tão pessimista que está revendo seu livro mais recente, "Privilégio Exorbitante" (Campus, 2011) para corrigir a "expectativa superestimada" para a moeda única europeia e seu papel no mercado global.

"Ninguém que escrevesse há dois anos poderia imaginar quão incompetentes seriam os esforços da Europa em lidar com a crise seriam", disse ele à Folha

Folha - Há um desencanto nos últimos meses com os mercados emergentes, particularmente com o Brasil, após taxas de crescimento mornas. O "hype" foi exagerado ou os emergentes não deram conta de puxar o crescimento global sozinhos, como alguns esperavam?
Barry Eichengreen - O "hype" foi excessivo, sem dúvida. Muito do que vimos reflete o crescimento insustentavelmente alto da China, que alimentou sua demanda por exportações de produtos básicos do Brasil e da Rússia. Nenhuma economia cresce a 10% ao ano para sempre.
Também acho que economias como o Brasil poderiam ter feito mais para conter o crescimento dos gastos e o endividamento da população nos momentos de pico, para que houvesse mais espaço hoje para incentivar os gastos domésticos.

Um ano e meio após o lançamento de "Privilégio Exorbitante", o sr. acrescentaria algo à sua análise? Vimos o dólar se recuperar, em alguma medida, mas os obstáculos a manutenção de seu status como moeda internacional continuam lá.
A nova edição, que sai no mês que vem, terá um prefácio que responde isso. Claramente, o livro superestimou a perspectiva do euro em emergir como uma moeda internacional de primeira linha -- e ninguém que escrevesse há dois anos poderia imaginar quão incompetentes seriam os esforços da Europa em lidar com a crise.
Mas ele também subestimou o progresso que a China faria em internacionalizar o yuan. As iniciativas políticas mais recentes são impressionantes, e o yuan está aí, mais rápido do que se imaginava.
Apesar do debate sobre regulamentação do mercado financeiro, ainda há muita resistência dos grandes bancos privados. Episódios recentes, como o do HSBC, mostram que estamos longe do equilíbrio, embora haja mais atenção ao tema.

O que é necessário, no curto prazo, para garantir que o sistema financeiro não provoque outra crise, e quais são os obstáculos à regulamentação efetiva?
Os bancos são politicamente poderosos; nos EUA eles são grandes doadores e fazem parte das Comissões Bancárias do Senado e da Câmara, que criam as leis de regulamentação. Com isso, não surpreende que não tenha acontecido uma varredura dessas instituições nem mesmo depois da crise.
Eu gostaria de ver os grandes bancos quebrarem, a reinstituição adequada da Lei Glass-Steagall [promulgada em 1933 para conter a especulação e revogada em 1999] e exigências de capital muito maiores para esses bancos. Mas sou cínico demais para acreditar que ocorra na minha geração.

Alguns analistas e economistas preveem um colapso do euro. O sr. vê esse risco? E se as economias menores e mais problemáticas, como a Grécia, deixarem a zona do euro, isso pode levar a um colapso total ou, ao contrário, tornaria os demais países-membros mais saudáveis?
Certamente o risco está lá, menos pelas razões econômicas (os passos econômicos que a Europa precisa para resolver a crise são claros) e mais por razões políticas.
Há uma deterioração da confiança política na Europa: os países não confiam uns nos outros, e a população não confia em seus governos. Isso torna muito difícil, embora não impossível, implementar as políticas econômicas necessárias.
A essa altura, a saída da Grécia da zona do euro é praticamente certa, não porque não haja medidas econômicas para evitá-la, mas porque não há mais desejo político de evitar. Isso vai prejudicar o restante da zona do euro.
Uma vez que um país possa sair, os investidores começarão a perguntar qual é o próximo. A falta de confiança virará um problema que levará muito tempo para se resolver.

Qual seria a consequência de um colapso?
Honestamente, ninguém sabe, pois nunca houve o colapso de uma união monetária. Duvido que seja um processo ªadministrávelº. Os estragos seriam muito mais graves do que os causados pelo fim da conversibilidade na Argentina, em 2001-2 [quando o país abandonou a paridade cambial com o dólar e deu calote].

E se tudo der errado com o dólar e o euro, o que países como a China e o Brasil teriam de fazer para que suas moedas de fato se tornassem moedas internacionais?
Não acho que nem o yuan nem o real possam ser moedas internacionais de peso nos próximos 10 ou 20 anos. O Brasil e a China teriam de aumentar a escala de seus mercados financeiros, aumentar sua liquidez e fortalecer a estabilidade macroeconômica. A China teria de abrir comercialmente seus bancos e abandonar os controles de capital. O Brasil teria de acabar com os impostos à entrada de dinheiro estrangeiro. É um processo que levaria décadas, e não anos.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Delfim Netto, hoje, no VALOR ECONÔMICO.


Antonio Delfim Netto, hoje no VALOR, busca responder se o Brasil é manipulador de câmbio.
   
Este é um bom momento para lembrar como a introdução de um pouco mais de cuidado e realismo corrige as conclusões que se extraem automaticamente de modelos abstratos. Todos lembram a crítica feroz que sofreu o governo brasileiro quando sugeriu: 1) que existia uma espécie de "guerra cambial"; e 2) que o problema da subvalorização prolongada de algumas moedas (particularmente o yuan) deveria, sim, ser discutido na Organização Mundial de Comércio (OMC), uma vez que o FMI não tinha nenhum poder para fazer valer o seu papel de "vigilante" dos desequilíbrios fundamentais dos balanços em conta corrente. A surpreendente resposta do sistema financeiro internacional foi atacar o Brasil, por "exagerar na manipulação da sua moeda"!

A lição vem de um interessante e meticuloso trabalho do economista J.E.Gagnon, "Combating Widespread Currency Manipulation" (Peterson Institute for International Economics, Policy Brief 12-19, July 2012). O autor começa reconhecendo que, "ainda que as manipulações cambiais para aumentar o balanço comercial de um país sejam uma violação dos artigos do acordo que instituiu o Fundo Monetário Internacional (FMI), não existe, na prática como puni-lo". E continua: "O melhor fórum para produzir sanções contra as manipulações cambiais é a Organização Mundial do Comércio (OMC), em consulta com o FMI. Os países prejudicados por tais manipulações devem ser autorizados a impor tarifas alfandegárias às importações dos países manipuladores".

Uma curiosa sugestão de Gagnon é a alternativa de "taxar ou restringir a compra pelos países manipuladores de ativos financeiros dos EUA e da zona do euro", o que dificultaria e aumentaria os custos e os riscos da acumulação de reservas.

O importante no trabalho é a pergunta preliminar do autor: o que é, afinal, uma manipulação cambial? Ele formula uma definição cuidadosa: "Ocorre uma manipulação cambial quando um governo compra ou vende a moeda estrangeira para colocar a taxa cambial longe do seu equilíbrio, ou impedir que ela se mova para atingir aquele equilíbrio". E como ele define a "taxa de equilíbrio"?

"É aquela que é sustentável no longo prazo, ou seja, em que o balanço em conta corrente não está gerando aumento explosivo dos ativos estrangeiros líquidos relativamente à riqueza interna e externa. A sustentabilidade geralmente implica um pequeno valor para o balanço em conta corrente. Entretanto, as economias em rápido crescimento podem manter déficits em conta corrente, na medida em que seus passivos não cresçam mais do que o seu PIB e que tal passivo seja relativamente pequeno com relação aos passivos totais do mundo".

Que características têm que ter uma economia para ser considerada uma "manipuladora de câmbio"? O autor estabelece três condições que devem ser simultaneamente satisfeitas para que isso ocorra:

1) o país deve ter reservas externas que superem seis meses do valor de suas importações de bens e serviços;

2) o país deve ter tido, na média de 2001-2011, um balanço em conta corrente, como percentagem do PIB, maior do que zero. O autor exclui a possibilidade que o país possa estar tentando apenas reduzir o seu déficit em conta corrente;

3) o país deve ter visto crescer a relação reserva/PIB nos últimos dez anos.

Os países de "baixa renda" são excluídos da análise pelo princípio que eles devem ter maior liberdade do que os outros para implementar políticas de desenvolvimento, que podem ter externalidades negativas. Examinando os restantes países-membros do FMI e da OMC, J.E.Gagnon identifica 20 que satisfazem, simultaneamente, às condições para serem classificados como "manipuladores de câmbio". Ele os divide em quatro grupos:

1) velhas economias desenvolvidas, como Japão e Suíça;

2) novos países industrializados, como Israel, Cingapura e Taiwan;

3) os países asiáticos em desenvolvimento, como China, Malásia e Tailândia;

4) países exportadores de petróleo, como Argélia, Rússia e Arábia Saudita.

Para tristeza de alguns de nossos economistas, o Brasil não é classificado como "manipulador" por lhe faltar a condição "2" acima. Não acontece o mesmo com a Argentina, com a qual temos, não sem alguma razão, exercido uma paciência chinesa.

O Brasil talvez tenha exagerado, mas não mentiu: 1) uma certa "guerra cambial" existe; 2) é preciso mesmo envolver a combinação FMI-OMC (câmbio e tarifa) para enfrentá-la e restabelecer o equilíbrio do comércio internacional; e 3) cometeu apenas pecado venial. Salvou-se do pecado capital da "manipulação" por uma análise mais profunda e cuidadosamente isenta do viés antigoverno que continua a dominar alguns de nossos analistas.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Previsão PIB 2012: 1,90%?


Relatório FOCUS divulgado hoje pelo BACEN manteve a previsão de crescimento do PIB em 1,90% para 2012.

A China pode comprar o resto do mundo?


Sim. (Porém, espero que não).   

A China não está mesmo para brincadeira e mais uma vez foi destaque na página de negócios do NYT: Cnooc to Acquire Nexen for $15 Billion.

Por aproximadamente US$ 15,1 bilhões a chinesa Cnooc vai comprar a canadense Nexen.

E para complicar mais o assunto, a compra é em uma área estratégica para qualquer governo: energia, principalmente petróleo.   

A venda ainda depende de outros países, entre os quais os Estados Unidos, mas dinheiro não falta aos chineses.

Agora, tudo é uma questão de política. 

domingo, 22 de julho de 2012

Entrevistas do Sachsida.


Parabéns ao Adolfo Sachsida pela série de entrevistas que ele vem postando no seu blog http://bdadolfo.blogspot.com.br/ com grande nomes da economia, tais como o Mario Jorge Cardoso de Mendonça - Samuel Pessoa - Cristiano M. Costa - Irineu de Carvalho - Gustavo Franco - Marco Bittencourt - Rogério Boueri Miranda - Leonardo Monasterio - Mansueto F. de Almeida Junior e Alexandre Schwartsman, todos comentando sobre se a década de 1970 está voltando.


Uma aula com Paul Krugman.


Neste final de semana estou lendo “Um basta à depressão econômica – Propostas para uma recuperação plena e real da economia mundial”, lançado aqui pela Campus/Elsevier. É impressionante o didatismo e o cuidado para se fazer entender que Paul Krugman busca demonstrar no livro. Com referências a diversos filmes e mostrando que também ele é personagem deste momento econômico, o texto aborda a política econômica no que ela pode fazer agora e não explicar em profundidade como a crise aconteceu.

Independente da linha de pensamento econômico que você tenha, recomendo sem restrições. Afinal, como Krugman cita, “o que minha profissão mais conhece é a oferta e a demanda – sim, há muito mais em economia, mas essa é a primeira e principal ferramenta de análise”. E isso vale para keynesianos ou não.

Economistas, todos sabem, conhecem o preço de tudo e o valor de nada.      

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O Brasil visto pela The Economist.


Leio no UOL repercussão de matéria publicada nesta semana na THE ECONOMIST.

Em clima de Olimpíadas, a revista britânica The Economist diz que o desempenho econômico recorde de alguns países emergentes na última década teria sido "à base de anabolizantes".

O artigo, publicado na edição desta sexta-feira (20) e intitulado "A Grande Desaceleração", faz uma analogia com o atletismo, dizendo que, diante do crescimento econômico dos Brics, os países emergentes se notabilizaram como "os melhores velocistas do mundo".

Segundo a revista, a China "mal notou" as séries crises que fizeram "derrapar" os Estados Unidos e depois a Europa.

"Outras grandes nações desenvolvidas pausaram para respirar brevemente. Investidores apostaram pesado no crescimento rápido em mercados emergentes, enquanto líderes, de Pequim a Brasília, pregavam ao mundo as virtudes de seus modelos econômicos centrados no estado", diz a revista.

Os recentes desempenhos decepcionantes de China e Índia são sinais de que os "velocistas" da economia mundial começaram a "ofegar". "O Brasil virtualmente estagnou", diz a revista.

É nesse contexto, fazendo um retrospecto do bom momento vivido pelos emergentes antes da nova realidade, que a revista faz a analogia com o uso de drogas que melhoram o desempenho esportivo.

"Uma dessas drogas foi o apetite da China por matérias-primas, que criou uma explosão que sobrecarregou muitos mercados emergentes", diz o artigo.

No caso brasileiro, a droga usada teria sido "a oferta doméstica de crédito", realizada em grande parte pelos bancos estatais. A revista lembra que em 2010, o país foi forçado a reverter a política e aumentar os juros.

A publicação lamenta que a crise no mundo financeiro tenha sido interpretada como uma razão para manter um papel mais forte do estado: "No Brasil a empresa estatal petrolífera, Petrobras, e os bancos estatais têm se tornado subordinados às políticas governamentais".

"Ter tamanha influência sobre a economia é realmente útil durante a crise, mas em 'corridas longas' vai sufocar a concorrência, secar o capital do setor privado, deter o investimento estrangeiro e o novo, e alimentar a corrupção", defende o artigo.

A Economist ainda aconselha uma manutenção da disciplina macroeconômica e o retorno às reformas microeconômicas como uma preparação para a "maratona", numa perspectiva de longo prazo.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sem paliativos.


Editorial de hoje no GLOBO comenta sobre a atual situação econômica brasileira e alerta para a necessidade de ajustes internos, considerando que a crise internacional pode continuar por vários anos.     

Por algum tempo, o governo alimentou a ideia que o Brasil poderia continuar crescendo, alheio à crise financeira internacional, até porque o país estaria mais voltado para a Ásia, onde a demanda por nossas exportações continuava firme e forte. Era, evidentemente, uma ilusão, pois seria apenas uma questão de tempo a Ásia também sentir os efeitos da crise.

E foi o que aconteceu. Diante da perspectiva de baixo crescimento nos mercados mais desenvolvidos, as economias asiáticas, muito impulsionadas por exportações, não têm conseguido manter o mesmo ritmo acelerado de expansão do passado. A Ásia certamente permanecerá com mais dinamismo e vigor do que outras partes do mundo, mas não mais a ponto de provocar uma pressão de demanda explosiva, capaz de sustentar as cotações de matérias-primas industriais e agrícolas lá nas alturas.

A participação do comércio exterior no conjunto da economia brasileira é relativamente pequena, mas é essa troca de mercadorias que na verdade funciona como força motriz do crescimento. Historicamente, é a partir do impulso das exportações que o mercado doméstico ganha velocidade.

Sem esse impulso, o governo tem recorrido a medidas pontuais para estimular o consumo interno de segmentos industriais que viram a sua demanda minguar nos últimos meses. Setorialmente são iniciativas que até podem ser válidas, desde que vistas como paliativos, de efeito passageiro. Não será com tais estímulos que a economia recuperará o impulso de crescimento sustentável.

O nó da questão está nos investimentos. Mesmo com ritmo de crescimento moderado, a economia brasileira se depara com muitos gargalos em sua infraestrutura. Sem removê-los, a economia sempre enfrentará dificuldades quando tentar crescer mais rapidamente.

Viabilizar investimentos, públicos e privados deveria ser o foco da política econômica, e para tal há desafios importantes a serem superados. O principal deles é um aumento de poupança doméstica. Para financiar investimentos, a economia brasileira não pode contar indefinidamente com o reforço da poupança externa. A prática nos mostra como os humores dos mercados financeiros mudam, às vezes até sem fundamento.

O Brasil tem um nível de poupança doméstico baixo, entre outras razões porque a economia do país teve que conviver, por anos a fio, com um desequilíbrio estrutural nas finanças públicas. Em vez de financiar investimentos, parte da poupança doméstica foi deslocada para a cobertura dos déficits governamentais.

A conjuntura atual tem favorecido a redução desses déficits, pois o componente financeiro tende a diminuir com a queda das taxas básicas de juros. Então, o país está diante de uma oportunidade para ampliar a poupança doméstica, redirecionando-a para investimentos. Nesse caso, o governo terá de redobrar a atenção com os gastos de custeio, não cedendo a pressões para a concessão de aumentos de salários ou concessão de benefícios. Se cair na tentação populista, perderá a oportunidade, e dificilmente a economia brasileira encontrará outro caminho para assegurar um razoável ritmo de crescimento nesse ambiente de crise internacional, que pode perdurar ainda por vários anos.

domingo, 15 de julho de 2012

A reinvenção dos Estados Unidos.


Editorial de hoje na FOLHA DE S. PAULO mostra que a economia mais rica do mundo ainda busca novas fontes de dinamismo para manter criação de empregos e enfrentar rivais asiáticos

Apesar das seguidas frustrações das expectativas de que, enfim, a economia dos EUA retomava seu ritmo normal, após a tragédia de 2008, o desempenho é melhor que o de outras economias avançadas.

Descartou-se nova catástrofe, risco ao qual a Europa se sujeita a cada semestre. Tampouco se cogita uma estagnação à moda japonesa.

Mais versátil, flexível e competente ao lidar com problemas do seu sistema financeiro, a economia americana será ao final deste ano 2,8% maior do que era em 2007. Parece pouco, mas a produção econômica na eurozona ainda será cerca de 1% menor.

Embora previsões de longo prazo sejam ainda menos confiáveis neste início de século de convulsões econômicas frequentes, estima-se que, do início da crise até o ano 2020, os Estados Unidos cresçam mais de 21%. A zona do euro, 7% -menos de um ano de crescimento do PIB chinês.

Ainda assim, os americanos estão atônitos diante da mais lenta reação a uma crise desde a Segunda Guerra Mundial, excetuada a recessão de 1980, no entanto menos profunda. A taxa de desemprego de longa duração é a maior desde os anos da guerra.

A depressão no setor imobiliário é a maior de que se tem registro. A venda de casas caiu a um quarto do pico de 2006, tendo baixado desde 2008 a níveis verificados nas recessões de 1982 e 1970, quando o país era bem menor.

Há controvérsia acerba sobre os motivos do desemprego persistente, ainda na casa dos 8,2%. É quase o dobro do verificado nos melhores momentos da década passada.

De um lado, economistas consideram que parte das profissões se tornou obsoleta. O desemprego será maior -"estruturalmente maior", diz-se- enquanto não houver mudança geracional ou requalificação dos trabalhadores.

Na oposição à tese estão aqueles para os quais o desemprego é cíclico, derivado do baixo crescimento, por sua vez devido à falta de demanda, de consumo. No momento, apenas o governo poderia incentivá-la, com um aumento transitório da dívida pública.

Posto desse modo, o debate se esquiva da pergunta óbvia a respeito da sustentabilidade do crescimento anterior à recessão.

O desemprego então baixara de modo impressionante, com inflação e taxas de juros contidas. Mas o país financiava seu consumo com bolhas financeiras, excesso de dívidas privadas e públicas e gastos militares crescentes, além de deficit externos. Os americanos sustentavam parte importante de seu consumo com crédito estrangeiro, da China em particular.

Mais americanos passaram a trabalhar em tempo parcial. O salário médio cresceu lentamente. Benefícios sociais foram cortados.

Mesmo economistas mais favoráveis a uma economia aberta e flexível passaram a reconhecer, pouco antes da crise, que a globalização tinha seu preço, pago pelo trabalhador comum. Empregos industriais, e mesmo de serviços, foram e são transferidos para nações ditas emergentes.

Parece evidente que parte do desemprego, do achatamento salarial e do baixo crescimento se deve à conjuntura. Governo e famílias ainda reduzem dívidas. O mundo cresce mais devagar, e as recaídas europeias abalam a confiança de empresários e consumidores.
Outro fator de desemprego e redução da população economicamente ativa talvez seja mais duradouro. A geração do "baby boom" (nascimentos no pós-Guerra) se aposenta em massa; parte dela desistiu de procurar novo emprego.

Os trabalhadores mais antigos restantes, mesmo que retreinados, iriam empregar-se onde? E os jovens? Qual seria o novo setor dinâmico, capaz de atrair maciços investimentos para liderar o crescimento em geral da economia?

O setor mais inovador, de tecnologia, cria poucos empregos. E a industrialização da vizinhança da China, ainda mais atrasada, continuará a prejudicar fábricas americanas dos ramos convencionais.

O investimento insuficiente é um fator importante da lenta recuperação. Grandes empresas relutam em investir, apesar de seus balanços saudáveis, pois temem o retraimento do consumidor.

A redução dos gastos federais e os brutais cortes de despesas em Estados e cidades afetam tanto a contratação de empresas quanto o consumo das famílias. A poupança baixa desde os anos 1980.

A demanda externa não se apresenta como alternativa, pois a Europa estará em crise por vários anos, e a China continuará a reduzir seu ritmo de crescimento.

Fatores estruturais afetam, sim, o potencial de crescimento. O ritmo de ampliação da mão de obra cai, dados o envelhecimento da população e a redução da taxa de nascimentos. Tudo o mais constante, parece que a nova normalidade americana será de crescimento em ritmo mais baixo.

Os EUA têm pela frente ao menos meia década de ajustamento das contas públicas, demografia menos favorável, gastos crescentes com idosos e concorrência externa que pode tragar empregos em setores tradicionais.

A economia americana, contudo, reagiu nos anos 1980 à onda japonesa. Reinventou-se, e ao mundo, com as inovações de suas empresas de tecnologia de informação. Por ora, no entanto, a perspectiva mais normal para os EUA aponta para uma economia entrando na terceira idade: madura e mais lenta, embora ainda saudável -e extremamente rica.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...