Alberto Tamer, hoje no ESTADÃO, comenta, como não
poderia deixar de ser, sobre o US$.
O dólar valorizado, mais de 14% este ano, está
criando um dilema para o governo que tudo fez para chegar a esse resultado.
Ele estimula a indústria, mas pressiona a inflação, em parte contida até agora
por importações a preços menores em reais. E isso deve continuar ainda por
algum tempo - já passa de R$1,80 e se fala em dólar próximo de R$ 1,90 - porque
o Banco Central sinalizou novas reduções do juro para evitar uma retração ainda
maior do PIB. A nova previsão de crescimento do FMI para o Brasil é de 3,8%,
o governo já admite 3,7% e já existem instituições no mercado que falam em
3,5%.
A equipe econômica parece não ter aceito o dilema
"é possível evitar a recessão sem perder o controle da inflação". Mas
a pergunta permanece: até onde a valorização do dólar favorece a indústria sem
aumentar excessivamente os seus custos de produção? Isso não acabaria por
anular os efeitos positivos que se pretendia via câmbio?
Toda a questão se resume em avaliar quanto
tempo levará para que o dólar valorizado beneficie a indústria e até quando
pressionará o aumento dos preços dos produtos importados.
Não aumenta já. Os economistas também estão
divididos quanto aos efeitos imediatos do câmbio na inflação. Para Antonio
Comune, coordenador da Fipe, instituto que tem maior experiência no
acompanhamento semanal dos índices, a contaminação via câmbio não é
generalizada nem imediata. Pode afetar mais rapidamente alguns itens de
bens de consumo, como informática e eletrodomésticos, mas não toda a cadeia dos
importados.
O que pressiona os preços nos próximos meses
são os alimentos, que dependem mais da entressafra atual do que da cotação do
dólar, afirma ele. Mas a maioria dos analistas discorda. A contaminação da
alta dos preços das commodities agrícolas ou minerais era sentida no mercado
interno antes da alta do dólar. Um fato evidente que o IBGE registrou nas suas
pesquisas. Os preços internos desses produtos dependem mais do valor real,
agora desvalorizado, do que das cotações internacionais. Mesmo que as cotações
recuem no mercado internacional, os preços em reais continuarão aumentando por
força da desvalorização da moeda nacional em face do dólar. É inevitável e não
há sinais de mudança.
Isso demora? Parece que não, porque os produtores
de commodities, da soja ao petróleo e o minério, optam por exportar a preços
melhores do que atender a um mercado interno, que lhes rende menos. Não é
apenas uma "contaminação", são vasos comunicantes com efeito imediato
sobre os preços internos.
Além disso há o que se chama em economia de
"reposição de estoques." Os importadores antecipam reajustes dos
preços prevendo que pagarão mais nas compras futuras para recompor seus
estoques. Se não fizerem isso, terão de dispor de mais recursos nas novas
importações.
Sem aliado. A verdade é que o governo perdeu
um poderoso aliado na estabilização dos preços. O impacto da
desvalorização vai atingir diretamente os preços. Principalmente agora que, nos
últimos anos, as indústrias usaram e abusaram do produto importado, seja na
forma direta, trazendo o produto final e montando aqui, seja na forma indireta,
importando a matéria-prima.
Tudo indica que poderemos terminar o ano com uma
inflação acima de 6,5%.
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