Marco Aurélio Cabral, professor da Universidade
Federal Fluminense, escreveu no VALOR ECONÔMICO sobre o “Dia D de Dilma”.
Contrariados como meninos mimados, participantes
do "mercado" se exasperam nas críticas às supostas interferências
políticas sobre o Banco Central, com alardes sombrios sobre o futuro próximo de
todos os brasileiros. Ocorre que Banco Central independente é suposto como
aquele que resiste a pressões políticas, seja de governos ou de
"mercados", para o benefício dos interesses difusos, usualmente
silenciosos no debate sobre juros. Nestes termos, ao reduzir juros em 31 de
agosto, o Poder Executivo parece alinhar expectativas do "mercado"
com o pragmatismo do agravamento da situação econômica internacional. Crises
históricas são fenômenos distintos de pânico nos "mercados". Desdobram-se
em acontecimentos aparentemente contraditórios se percebidos como simples sobe
e desce de indicadores. Vistas de longe, as ondas longas do historiador Fernand
Braudel parecem apontar para crises que se somam no momento presente dos fatos.
Crises políticas e econômicas que se realimentam e se desenvolvem lentamente. E
o pior. Inevitavelmente, para nós brasileiros.
Não se resolve nada ao fingir que o problema
não existe e que há "normalidade" nos "mercados". A
revisão do produto nos EUA para este ano aponta para taxas de crescimento
negativas ao término de 2011. Aproximadamente metade dos espanhóis jovens
encontra-se desempregada. Não há recuperação do Japão por conta do acidente
nuclear. Pelo contrário, a chance mais concreta é que venhamos a assistir
proliferação de favelas em Tóquio.
Diante disso, pragmatismo explica porque o
objetivo de manutenção dos investimentos industriais previstos não é tarefa
simples nestes tempos e, portanto, tanto o crescimento quanto o emprego
devem ser defendidos pelo Estado brasileiro. O mesmo senso de realidade
parece justificar a reorientação da política monetária em favor do
enfrentamento da guerra cambial, que beneficia minoria próspera e mina a
vitalidade competitiva de pequenos e grandes empresários brasileiros.
Cumpre-se lembrar que meio por cento de
redução na taxa básica de juros implica em economia de cerca de R$ 7 bilhões ao
ano no pagamento de juros, contribuição mais do que significativa no
esforço de melhoria do resultado nominal. Caso mantida gradualismo na queda do
diferencial das taxas reais interna e internacional até os níveis de 3% a 5% do
"prêmio Brasil", seria necessário cerca de um ano com reduções em
juros. Ao cabo deste período, estaríamos economizando cerca de R$ 70 bilhões
anuais, esforço do tamanho do montante que será gasto em educação pública no
país em 2011.
O Brasil de hoje se encontra em situação bem
diferente daquela enfrentada ao final do século passado, quando convivia alta
inflação e baixo crescimento. Após uma década de geração de empregos e
renda, a fração de brasileiros sem cobertura do sistema bancário caiu,
compreendendo-se hoje cerca de 40% da população (estima-se que em 1999 eram
cerca de dois terços).
Da mesma maneira, a inflação que vier a resultar
no futuro, se vier, pode ser reduzida considerando-se que outras instituições
podem participar do esforço de contenção de preços. A Petrobrás já o faz com o
preço da gasolina, vilão do passado. Mas poderiam ajudar também as agências
reguladoras, em esforço coordenado de desindexação de contratos de concessão.
As compensações à vista para as empresas poderiam ser canalizadas para redução
de dívidas, principalmente em moeda estrangeira.
Da mesma maneira, a necessidade de redução nos
juros poderia ser menor se fossem ativados mecanismos de exportação de capital
via apoio financeiro público à aquisição de empresas no exterior por operadores
brasileiros. Dado que a crise afeta poderosa e negativamente o segmento de bens
de capital e, dado que este segmento gera inovações tecnológicas relevantes
para competitividade das cadeias produtivas, espera-se que surjam oportunidades
para transferência de tecnologia obtida nos países centrais para grupos
industriais brasileiros. Neste contexto, os Ministérios de Desenvolvimento,
Indústria e Comércio (MDIC) e de Ciência e Tecnologia (MCT) poderiam acumular,
de forma integrada e coordenada, inteligência tecnológica e competitiva para
identificação de setores e tecnologias prioritárias. O BNDES-Exim poderia
operacionalizar recursos financeiros para aquisições no exterior com emprego do
Fundo Soberano.
Há ainda a opção de se introduzirem controles
cambiais, sendo esta alternativa de mais difícil implementação que a
penalização dos capitais de curto prazo via impostos sobre movimentações
financeiras.
Finalmente, os mecanismos responsáveis pela
expansão da oferta, infraestrutura e indústria, devem ser ancorados em
estratégias de longo prazo, obedecendo-se a critérios de planejamento da
ocupação racional e sustentável do território brasileiro. Com isso, possíveis
aumentos de preços poderão ser neutralizados pelo crescimento homogêneo da
renda e do emprego, principalmente nas regiões mais pobres do país.
A importância histórica do Copom de agosto de
2011 parece ser a de encerrar período marcado pela retomada do desenvolvimento
(2003-2010), iniciando-se novo período de implementação de projeto nacional de
desenvolvimento - só que desta vez em ambiente democrático e inclusivo, ao
contrário dos nossos rivais chineses.
Em síntese, a decisão de revisão dos juros, em
31.08.2011, parece inaugurar novo período na história econômica do país.
Período em que medidas de proteção ao mercado interno e regras que limitam
fluxos financeiros internacionais pautarão o novo nacionalismo brasileiro. Para
desgosto dos "mercados", contudo, não parece haver qualquer
componente ideológico ou politiqueiro por detrás disso. Apenas o velho e bom
pragmatismo de proteção do bem coletivo diante de inevitável aumento da ameaça
externa.
Um comentário:
Ela o Obama não vai chamar de "o cara!!" mas de minha cara grgrgr!!! Agora temos a admiração dos Palestinos, e a cara feia dos israelitas!! Valeu João!!!
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