Paulo
R. Haddad, Professor do IBMEC MG escreveu hoje no ESTADÃO.
A
crise econômica e financeira iniciada em 2008 vem se aprofundando em escala
global e não há no horizonte de curto prazo indicativos de que ela possa ser
superada sem que o capitalismo venha a encontrar os caminhos de um novo
paradigma para sua dinâmica de desenvolvimento sustentável.
Em
contextos como este, o capitalismo não tende a sucumbir. Ao contrário,
concentra suas energias político-institucionais e se reestrutura. Dada a
experiência histórica de evolução do capitalismo, este novo paradigma pode
estar associado, em princípio, à concepção e à implementação de uma nova onda
de inovações.
Desde
o século 18, as ondas de inovações de natureza schumpeteriana (novos processos,
novos produtos, novos mercados, novas formas de organização produtiva) são o
motor das grandes transformações estruturais do capitalismo. Essas ondas, que vão desde a
introdução da energia a vapor nos sistemas produtivos até as redes digitais nas
últimas décadas do século 20, trouxeram grande prosperidade para muitas nações,
que se tornaram as mais desenvolvidas no cenário internacional.
Que
sinais dispomos, atualmente, sobre qual seria a eventual onda de inovações que
poderiam retirar as economias desenvolvidas e emergentes do imbróglio recessivo
ou potencialmente depressivo em que se atolaram e gerar novos ciclos de
expansão?
Essa
é uma questão que mal começa a ser discutida pelos diferentes analistas da
atual crise, uma vez que o seu pensamento se encontra contaminado e restringido
por controvérsias sobre qual seria o modelo macroeconômico de curto prazo mais
apropriado para iluminar as políticas econômicas a serem manipuladas para a
superação da crise. Sem deixar de considerar que a consistência
macroeconômica de curto prazo é vital para a estabilidade das economias de
mercado, essa consistência é tão somente uma precondição para a dinâmica
capitalista de longo prazo.
Uma
observação preliminar se refere às cinco ondas de inovações que se desdobraram
historicamente de 1785 até o fim do século 20. Todas resultaram em aumentos
significativos na produtividade da mão de obra e multiplicaram o rendimento do
trabalho por algumas centenas de vezes em relação aos valores que prevaleciam
até a Primeira Revolução Industrial.
A
sexta onda de inovações, que já tem avançado lenta e exponencialmente ao longo
das três últimas décadas, deverá estar centrada num aumento radical na
produtividade dos recursos naturais visando a ampliar a capacidade de suporte
do planeta para acomodar a intensificação dos níveis de produção e de consumo
de milhões e milhões de habitantes que estão se incorporando às economias de
mercado.
Essa
incorporação se dá pela via dos incessantes ganhos de produtividade resultantes
de inovações científicas e tecnológicas; da irreversível entrada da China na
lógica da economia capitalista; da melhoria da distribuição de renda e da
riqueza em muitos países emergentes; etc. Somam-se, a tudo isso, os impactos
destrutivos que as mudanças climáticas têm provocado sobre os ecossistemas
mundiais, como os colapsos e desastres ecológicos que vêm crescendo em número e
intensidade.
A
sexta onda de inovações (biomimética, nanotecnologia verde, ecologia
industrial, sistema de design integrado, etc.) deverá gerar uma nova dinâmica
da economia de mercado, que vem sendo denominada capitalismo natural. Do ponto de vista histórico, a nova
configuração do capitalismo pressupõe que se está criando uma nova revolução
industrial que trará grandes benefícios para a sociedade: a diminuição da
exaustão dos recursos naturais numa ponta da cadeia de valor; a diminuição dos
níveis de poluição na outra ponta; e a formação de uma base para ampliar o
emprego de qualidade em escala mundial.
Do
ponto de vista da organização dos sistemas de mercado, este novo estilo do
capitalismo propõe, também, um novo modelo industrial em que nem todos os
produtos sejam apenas manufaturados e vendidos, mas que surja uma economia de
serviços em que os consumidores adquirem serviços de bens duráveis por meio de
aluguel e arrendamento. Desta forma, a indústria será responsabilizada pelo
ciclo completo de materiais; deve lidar com os resíduos e os problemas
resultantes de danos ambientais (toxicidade, segurança, etc.); deve recuperar
os produtos e tratá-los como ativos; etc., o que termina por aumentar a
produtividade dos materiais e da energia.
Finalmente,
observa-se não mais um conflito entre mercados livres e desregulamentados, de
um lado, e sistemas de planejamento de médio e de longo prazos, de outro, mas a
sua integração e complementação nos processos de decisão públicos e privados.
O poder público poderá alterar por meio de
mecanismos de intervenção indireta (política fiscal e financeira,
regulamentações, etc.) os custos e os preços relativos que se formam nos
mercados e, assim, estimular ou desestimular indicativamente a produção e o
consumo dos bens e serviços, de acordo com sua contribuição positiva ou
negativa para o processo de desenvolvimento sustentável
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