Cristiano
Romero, no VALOR ECONÔMICO de 28/09/2011 escreveu sobre “O mundo de Tombini.”
Nos
últimos dias, motivado pela situação internacional, o mercado passou a apostar
que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) aumentaria, em
outubro, o ritmo de redução da taxa de juros (Selic) - de 0,5 para um ponto
percentual. Ontem, ao prestar depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos do
Senado, o presidente do BC, Alexandre Tombini, não sancionou essas apostas.
Para
o dirigente máximo do BC, o cenário não mudou em relação àquele que levou o
Copom a diminuir os juros, de forma surpreendente, no fim de agosto. A cena
internacional é central na avaliação de Tombini. Ela ocupou metade do tempo de
sua exposição no Senado. A outra metade foi dedicada à economia brasileira.
O
prognóstico de Tombini é o de que as economias maduras estão entrando num
período prolongado de baixo crescimento, com risco de crise soberana (da dívida
dos países europeus) e financeira (dos bancos). O reflexo sobre o mundo será
desinflacionário, à medida que diminuirá o crescimento das principais economias
do planeta.
O
quadro pintado por Tombini está em linha com o que pensam muitos economistas e
analistas lá fora. O pessimismo aumentou na semana passada durante as reuniões
e seminários realizados em Washington, sede dos encontros anuais do Fundo Monetário
Internacional (FMI) e do Banco Mundial.
O
presidente do BC mencionou aos senadores a elevação significativa da dívida
bruta de países como Grécia (de 105,4% para 165,6% do PIB entre 2007 e 2011),
Irlanda (de 24,9% para 109,3%), Portugal (de 68,3% para 106%), Espanha (de
36,1% para 67,4%), Estados Unidos (de 62,3% para 100%) e Reino Unido (de 43,9%
para 80,8%). Pior do que isso são as perspectivas para os próximos cinco anos.
Até
lá, o endividamento de países como EUA e Japão deve continuar aumentando fortemente
- no caso japonês, para incríveis 253,4% do PIB! Tombini explicou que o aumento
da dívida dos países ricos afetou a percepção de risco, pelos mercados, dos
títulos dessas economias. Grécia, Portugal e Irlanda, por exemplo, estão com
risco soberano superior ao do Brasil desde o ano passado.
Itália
e Espanha, duas economias fortes da Europa, também já apresentam risco-país
maior que o do Brasil. A França, segundo maior PIB europeu, se aproxima
rapidamente. Esse aumento de risco impactou a percepção de risco dos bancos,
que possuem em seus balanços títulos dos governos. Isso está elevando o custo
de captação dos bancos, principalmente no mercado interbancário, e derrubando o
valor de suas ações. O risco dos bancos americanos e europeus, mesmo os da Alemanha
e do Reino Unido, é atualmente comparável ao do Brasil - os da Itália, França e
Espanha já ultrapassaram.
A
combinação dos riscos soberano e financeiro está afetando a confiança de
empresários e consumidores. A queda das ações e de outros ativos reduz, via
efeito riqueza, a confiança dos agentes econômicos. "Já se fala em
contração [do PIB] no quarto trimestre na Europa e no primeiro de 2012, nos
EUA", observou o presidente do BC.
Os
indicadores antecedentes da atividade industrial caminham para o território
negativo nos EUA e já o fizeram na Zona do Euro. Nas bolsas de valores, a
destruição de riqueza nos últimos quatro meses chegou a quase US$ 10 trilhões,
fato que, enfatizou Tombini, também tem efeito "negativo e perverso"
sobre o comportamento dos agentes econômicos.
Para
completar o quadro aterrador, o presidente do BC lembrou que as economias
maduras têm hoje espaço limitado para ampliar os gastos públicos. "Muitas
economias terão que reduzir seus déficits ou mesmo gerar superávits
primários", observou. Além disso, essas nações esgotaram os instrumentos
convencionais de política monetária - as taxas de juros estão próximas de zero
e, em alguns casos, são negativas.
Um
dado fornecido por Tombini impressiona. Os dois principais bancos centrais do
mundo - o Federal Reserve e o Banco Central Europeu (BCE) - ampliaram seus
balanços por meio da compra agressiva de ativos nos últimos cinco anos, uma
forma não convencional de expansão da política monetária. No primeiro caso, o
total de ativos saltou de US$ 875 bilhões em 2006 para US$ 2,867 trilhões este
mês; no segundo, de US$ 1,519 trilhão para US$ 2,856 trilhões.
Quando
falou de economia brasileira, Tombini mostrou as defesas do país, defendeu a
ideia de que o Brasil está hoje menos vulnerável do que em 2008 e reiterou a
aposta de que a inflação começa a declinar no último trimestre do ano e volta à
meta de 4,5% no fim de 2012. Aqui, há um problema.
Tombini
disse que a inflação média mensal dos últimos cinco meses (setembro incluído)
foi de 0,34%, face a 0,77% dos sete meses anteriores. Jogando para 12 meses o
0,34% mensal, o IPCA vai a 4,3%. Ocorre que, no período considerado, a inflação
costuma ser mais baixa mesmo. A dessazonalização dos valores mostra, na
verdade, um número bem mais alto - 6,9% em 12 meses.
Tombini
não falou uma só vez, durante a apresentação, sobre a persistente deterioração
das expectativas de inflação e também do repasse da desvalorização do real para
os preços (neste caso, provocado por um senador, minimizou-a ao dizer que
apenas 5% da perda de valor do real será repassada).
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