quinta-feira, 24 de maio de 2012

Projeções para o PIB caem mais com economia fraca


No Valor, em 22/5/12, notícia sobre o PIB brasileiro. Recebi o texto do grupo de Economia Política.

Já não há mais dúvida de que o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, a ser anunciado no início do próximo mês, não será nada animador. A economia está devagar e são poucas as chances de o crescimento deste ano superar em muito os fracos 2,7% de 2011.

Uma previsão desse cenário nada auspicioso foi vislumbrada no comportamento do Índice de Atividade Econômica do Banco Central, chamado de IBC-Br, divulgado sexta-feira, que assustou até os mais pessimistas. Concebido como indicador antecedente do PIB, o IBC-Br caiu 0,35% em março em relação a fevereiro, a terceira queda consecutiva, acumulando crescimento de apenas 0,15% no primeiro trimestre em relação ao último trimestre de 2011 na série com ajustes sazonais; e de 1,06% frente a igual período de 2011, sem ajuste.

Espera-se que o PIB do primeiro trimestre seja um pouco melhor, mostrando expansão de 0,3% a 0,4%, mas não o suficiente para sustentar a meta do governo de que a economia cresça 4,5% neste ano nem a do Banco Central, de 3,5%. Até o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está mais conformado e já admite que um crescimento igual ao de 2011, de 2,7%, já seria "muito bom". No mercado financeiro, há consultorias esperado índices ainda menores.

O primeiro sinal de alerta foi o comportamento da produção industrial, que diminuiu 3% no primeiro trimestre em comparação com igual período de 2011, com retração em 15 dos 27 setores industriais pesquisados. A maior queda foi na fabricação de veículos automotores, que recuou 20,4% em comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Na comparação anual, também diminuiu a produção de máquinas e materiais elétricos (12,1%), material eletrônico e equipamentos de comunicações (13,1%), máquinas para escritório e equipamentos de informática (12,7%), borracha e plástico (5,1%), têxtil (7,5%) e vestuário e acessórios (14,1%).

O setor de veículos voltou a convencer o governo de que precisava de ajuda, com estoques equivalentes a 43 dias de vendas no fim de abril e queda de 3,4% das vendas no primeiro quadrimestre. Ainda ontem foram anunciadas medidas de estímulo. Apesar da arrecadação inferior à esperada neste início de ano, o governo reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de automóveis e utilitários e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) do crédito para pessoas físicas. Além disso, diminuiu o recolhimento compulsório dos bancos para aumentar a oferta de financiamento para aquisição de veículos.

Já as vendas no varejo começaram o ano bem, graças às medidas de estímulo do governo ao setor de eletrodomésticos da linha branca e móveis e ao aumento da renda das famílias. O chamado varejo restrito, excluído o desempenho de automóveis, peças e material de construção, cresceu 0,2% em março em relação a fevereiro e 4% em comparação com o último trimestre de 2011. A principal sustentação do consumo das famílias está no ganho real de renda, que cresceu 5,6% em março em comparação com igual mês de 2011, uma vez que a oferta de crédito está contida pela inadimplência e endividamento elevados. Já o varejo ampliado teve aumento de 0,6% entre março e fevereiro, graças ao desempenho do setor de material de construção, que neutralizou a queda de 1,4% das vendas de veículos no mês e de 0,3% no trimestre.

A massa salarial, combinação de variação do nível de emprego com a renda real, cresceu 6,2% acima da inflação nas seis principais regiões metropolitanas no primeiro trimestre em comparação com igual período de 2011. O que explica essa expansão em um momento em que a economia rateia é o aumento do salário mínimo e da remuneração de trabalhadores de setores que não sofrem a concorrência externa, como a construção civil.

Esperava-se que a economia se recuperasse a partir do segundo trimestre. No entanto, o recrudescimento da crise na zona do euro não autoriza maiores expectativas. A piora na região, com a cada vez mais provável saída da Grécia, e a falta de consenso entre os líderes mundiais entre estimular o crescimento da economia ou fazer pé firme na austeridade vai repercutir no resto do mundo. A crise internacional vai prejudicar a expansão das exportações brasileiras, especialmente de manufaturados, e, se for muito intensa, corta a oferta de crédito, como aconteceu em 2008. Com reservas internacionais elevadas e um sistema financeiro relativamente sólido, o Brasil está preparado para aguentar a onda de choque. Além disso, tem espaço para cortar mais os juros - e tudo indica que irá fazer isso. Mas não há como passar incólume a esse novo solavanco.

terça-feira, 22 de maio de 2012

O necessário equilíbrio.


Antonio Delfim Netto, hoje no Valor Econômico e a sua visão do “programa nacional” brasileiro. 

Neste momento de incerteza em que parece que o país não tem rumo, que parece viver de pequenos expedientes e no qual se exige um "coerente programa nacional em que o Brasil explicite com clareza o que quer de si mesmo", é bom lembrar que ele existe. A Constituição tem, ínsita, uma linha de desenvolvimento político, social e econômico que, com as dificuldades naturais, vem sendo seguida. Afinal, que tipo de sociedade os brasileiros escolheram para viver através dos seus constituintes? Não é coisa fácil de definir porque a Constituição é extremamente analítica, mas podemos definir o seu "espírito original" em três grandes vetores:

1) uma sociedade republicana em que todo cidadão, independente de sua origem, cor, credo, gênero, educação ou patrimônio, obedecerá à mesma lei, à qual se submeterá, inclusive, o Estado; 2) uma sociedade democrática, controlada pelo sufrágio universal com voto secreto, amplo e irrestrito no qual, em princípio, quem vota pode também ser votado; 3) um Estado forte, mas constitucionalmente controlado, que garanta o funcionamento de uma sociedade aberta, onde os indivíduos têm plena liberdade para iniciativa lícita e podem apropriar-se dos seus benefícios; com poder para regular a organização econômica que sustenta o uso dos mercados na alocação de bens e serviços; e com poder para ir ampliando a construção de uma sociedade onde cada vez mais adquire significado concreto a igualdade de oportunidades. É preciso dizer que diante desse programa civilizatório não há a menor dicotomia entre Estado e mercado.

Para entender porque os economistas podem ser úteis, não no estabelecimento desse objetivo, mas na facilitação da sua realização é preciso reconhecer que a condição preliminar para atingi-los é o aumento da produtividade do trabalho, que encolhe o tempo necessário do homem para construir sua sobrevivência física e expande o tempo disponível para que ele conquiste a sua humanidade. O desenvolvimento é apenas o instrumento que, eventualmente, tornará possível ao homem realizar-se plenamente.

O problema é que, por maior que sejam nossos desejos e por melhor que sejam as "instruções" da Constituição para a construção do nosso processo civilizatório, há realidades físicas que obstruem a sua marcha e decisões políticas que podem acelerá-la ou retardá-la. Para entender isso observe-se o gráfico abaixo, já publicado nesta coluna uma meia dúzia de vezes, ao longo dos últimos 12 anos. Numa simplificação radical ele revela a essência do processo de desenvolvimento numa economia fechada. Da população total (N) extraímos a população economicamente ativa (com seu nível de educação e saúde) e, dela, a Força de Trabalho (L), os que podem e querem trabalhar. Esses, usando o Estoque de Capital (K), que é trabalho do passado congelado na forma de infraestrutura, máquinas etc. produzem o PIB. É fato empírico bem comprovado que a "produtividade" da combinação do capital (K) com o trabalho (L) depende, dentro de certos limites da intensidade da relação entre eles (K/L), ou seja, da quantidade de capital (K) de que dispõe cada unidade da mão de obra (L).

Trata-se, obviamente, de uma metáfora não mensurável que permite entender que o tamanho do PIB depende do estoque de capital (K), da disponibilidade do trabalho (L) e da sua "produtividade" (K/L). A velocidade do processo é determinada pelo ritmo de crescimento do capital com relação ao do trabalho. Há, portanto, uma clara relação entre o ritmo possível do consumo e a velocidade desejada de crescimento.

Até aqui o processo é puramente físico e a economia tem muita coisa útil para dizer e ensinar sobre ele. Uma vez produzido, entretanto, a distribuição do PIB entre o consumo que volta para a população (N) e o investimento que retorna ao estoque de capital (K) para repor o capital consumido na produção (depreciação) e aumentá-lo, é um processo político. Nas democracias ele é resolvido nas urnas. Nos regimes autoritários pelo arbítrio, fora do alcance da economia e dos economistas. O que esses podem fazer é apontar os inevitáveis resultados práticos das escolhas políticas e o nível de sua coerência no longo prazo com os objetivos estabelecidos pela sociedade.

Não é preciso ser um físico quântico para compreender que sem um equilíbrio entre o consumo e o investimento, o sistema não tem energia para se manter funcionando adequadamente. Quando há ênfase exagerada no consumo (como no Brasil) ou no investimento (como na China) o sistema perde funcionalidade no longo prazo. Chega a hora de mudar. O Brasil precisa dar ênfase ao investimento e às exportações sem recuar na inserção social. A China precisa reduzir os investimentos e a exportação para dar ênfase ao consumo.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Maria da Conceição Tavares - a Economista.


Palácio do Planalto, 17 de maio de 2012
Eu queria primeiro, rompendo o protocolo, e peço perdão ao senador José Sarney, para cumprimentar do fundo do meu coração a professora doutora Maria da Conceição Tavares.
Cumprimento o senador José Sarney, presidente do Senado,
As senhoras e os senhores ministros de Estado, aqui cumprimentando o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, o ministro Guido Mantega, da Fazenda; o ministro Aloizio Mercadante, da Educação; Ana de Holanda, da Cultura; Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio [Exterior]; Miriam Belchior, do Planejamento, Orçamento e Gestão; Pepe Vargas, do Desenvolvimento Agrário; Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral; José Elito, do Gabinete de Segurança Institucional; Luís Inácio Adams, da Advocacia-Geral da União; Ideli Salvatti, da Secretaria de Relações Institucionais; Helena Chagas, da Secretaria de Comunicação Social; Eleonora Menicucci, da Secretaria de Política para as Mulheres.
Cumprimento o nosso querido ex-senador, ex-ministro, ex-governador Waldir Pires,
Senhor Glaucius Oliva, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
Senhoras e senhores embaixadores credenciados no meu governo,
Senhoras e senhores senadores Marta Suplicy e Eduardo Suplicy,
Senhores deputados federais Alessandro Molon e Newton Lima,
Senhor Américo Fialdini Júnior, presidente da Fundação Conrado Wessel,
Almirante de esquadra Julio Soares de Moura Neto, comandante da Marinha do Brasil que copatrocina este prêmio com o CNPq e a Fundação Conrado Wessel,      
Senhoras e senhores reitores,
Doutor Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências, por intermédio de quem cumprimento todos os dirigentes de centros de pesquisa, fundações, sociedades, associações acadêmicas, científicas e tecnológicas,
E senhores jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas.
Este é um discurso de uma discípula para uma mestra, com muito orgulho e muito carinho. Orgulho por presidir esta cerimônia, que concede o maior e mais importante prêmio científico do Brasil – o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia – à professora Maria da Conceição Tavares, por sua imensa generosidade, por sua grande inteligência, seus méritos intelectuais, sua extraordinária dedicação à formação de várias gerações de brasileiros e brasileiras - de economistas, sim, mas de pessoas comprometidas com o país.
Carinho por homenagear minha mestra, que eu sou testemunha de seu compromisso com o Brasil, com o desenvolvimento do nosso país, com o desenvolvimento da América Latina. Compromisso que sempre cumpriu, tratando economia como ela deve ser tratada, como economia política.
Falo como aluna que fui da professora Maria da Conceição Tavares, com quem aprendi muito e continuo aprendendo com sua integridade, sua competência, sua firmeza de princípios. Aluna que a teve e tem como referência em todos estes anos, inclusive, hoje, em minhas tarefas como a primeira mulher a exercer a Presidência da República no Brasil.
Nessa plateia repleta de alunos da professora Maria da Conceição, sei que encontro ressonância ao afirmar que não houve momento importante na história do nosso país, das nossas gerações nas últimas décadas em que não contássemos com a palavra da nossa professora. Muitas vezes, com a sua palavra crítica, que nós recebemos sempre com uma certa humildade, porque aprendemos a respeitar a capacidade crítica e o compromisso que Maria da Conceição tem com os rumos e os destinos do país. Respeitar o seu ardor entusiasmado, sua posição firme sempre formulando posições voltadas para o bem-estar do nosso povo, para a soberania do nosso país, e pelo desenvolvimento do nosso Brasil.
O ministro Raupp e o representante da Fundação Conrado Wessel fizeram um perfil da nossa querida professora Maria da Conceição Tavares. Acho que a melhor síntese é que a Maria da Conceição carrega a nação brasileira na sua trajetória acadêmica. Mas eu queria acrescentar na sua trajetória pessoal e política.
Ela sempre carregou... ela sempre carregou esse compromisso com o Brasil e com o seu povo. E por isso, esta homenagem é simbólica. Simbólica porque também o Almirante Álvaro Alberto deu a sua contribuição nesse sentido da construção de um país soberano. E simbólica porque o Brasil vive, hoje, ou vive nos últimos anos, nós últimos nove, dez anos, um ponto de mutação na história do seu desenvolvimento. E para a história desse desenvolvimento e para o desenvolvimento foi necessário que nós tivéssemos compreensões, compromissos, idéias e tivéssemos, de uma forma ou de outra, o mapa do caminho.
Nessa questão do mapa do caminho, a nossa professora Maria da Conceição Tavares deu grandes contribuições. Nós, hoje, não admitimos mais a possibilidade de construir um país forte e rico dissociado de melhorias nas condições de vida de nossa população, nem tão pouco acreditamos mais na delegação da condução de nosso crescimento exclusivamente às forças de autorregulação do mercado – crença, aliás, que Maria da Conceição Tavares sempre corretamente criticou.       
Não acreditamos mais que nós poderíamos nos desenvolver sem nos libertar das amarras que nos prendiam a interesses nacionais em outras regiões do mundo.
Hoje, nós vivemos uma grande transformação. Uma benigna subordinação da lógica econômica à agenda dos valores indissociáveis da democracia e da inclusão social.     
Sabemos que, nos últimos anos, criamos uma série de políticas. Temos hoje ainda alguns entraves a romper, e, magistralmente, a nossa querida Maria da Conceição Tavares sempre manifesta, de uma forma bastante enfática, para mim pelo menos, quais são esses entraves, e como é urgente rompê-los.
Eu agradeço essa sistemática colaboração que eu tenho na minha querida mestra e professora.
Por isso, eu quero dizer para vocês que eu estou hoje, aqui, extremamente orgulhosa, porque posso participar dessa homenagem, que é mais do que uma homenagem, é uma celebração de uma vida digna, ética, de uma vida comprometida com os interesses do nosso país.
Talvez, a Maria da Conceição Tavares seja a mais brasileira de todos nós, porque ela é brasileira por opção. Ela tem, na sua trajetória, um imenso compromisso com o nosso país, por isso, ela já merecia muitos prêmios, além deste que nós estamos aqui dando a ela.
Este prêmio significa uma justiça e um reconhecimento de toda a sua orientação, que influenciou várias gerações de estudantes e de profissionais brasileiros. Reconhece a contribuição inestimável de nossa professora Maria da Conceição Tavares ao nosso país, por meio de obstinada e vitoriosa militância política institucional.
Por isso, eu queria dizer que a Maria da Conceição Tavares é brasileira de coração, de mente e de desígnio. À minha mestra, mais uma vez, com muito carinho.   
Dilma Rousseff

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Além da euforia.


Prêmio Kluge ao FHC.



Leio na FOLHA que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, 80, venceu o prêmio Kluge, concedido pela Biblioteca do Congresso dos EUA a personalidades que se destacam pela produção acadêmica na área das ciências humanas não contempladas pelo Nobel.

A premiação, de US$ 1 milhão, destaca o papel de FHC "na transformação do Brasil de uma ditadura militar com alta inflação em uma democracia includente, com forte crescimento econômico".

O ex-presidente afirmou à Folha ter recebido o prêmio com "alegria e surpresa". "Reconhecer uma obra cientifica produzida na América Latina não é usual", disse.

Ele credita a escolha a sua produção "inovadora". "Nunca fui exclusivamente sociólogo, cientista político ou economista. Fiz uma ligação entre várias áreas, uma produção de ciência social no seu conjunto. Isso me ajudou também a ter uma visão mais integral na vida pública."

FHC lembrou da importância dos que trabalharam com ele e reconheceu que a escolha "tem a ver também com o Brasil estar em evidência".

Presidente da República pelo PSDB de 1995 a 2002, FHC é formado em sociologia pela USP, onde se tornou professor em 1952. Com o golpe militar de 1964, exilou-se no Chile e na França. Retornou ao Brasil quatro anos depois.

Atuou no Cepal (Comissão Econômica para a América Latina) e produziu obras como "Dependência e Desenvolvimento na América Latina", ao lado do sociólogo chileno Enzo Faletto, e "Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional".

A entrega da premiação, que existe desde 2000, será em 10 de julho, em Washington.

FHC no EL PAÍS.


El expresidente brasileño, Fernando Henrique Cardoso (Río de Janeiro, 1931), acaba de recibir el premio John W. Kluge concedido por la Biblioteca del Congreso de EE UU. El galardón, dotado de un millón de dólares, representa el reconocimiento a la obra de académicos y eruditos cuyas disciplinas de estudio no entran en la órbita de los Nobel, como la psicología, la sociología o la antropología. En el caso de Cardoso, el fallo valora que en 1969 el brasileño sentara las bases del concepto "globalización" en un celebérrimo ensayo cuya autoría compartió con el chileno Enzo Falleto. Nada más conocer la concesión del galardón, Cardoso conversó con EL PAÍS. "Sorprendente", fue la primera palabra que salió de su boca.
Pregunta. ¿Cómo ha recibido la noticia del premio?
Respuesta. Con satisfacción, porque el premio se me ha dado por mi obra intelectual, pero simultáneamente es un premio que también valora las consecuencias que esa obra puede haber tenido en la sociedad. En mi caso, soy académico pero también fui presidente de la República, y siempre suele haber una cierta confusión sobre mi trabajo. Se me ha dado el premio por la contribución académica y por la coherencia de haber mantenido vivos los valores de mi obra. Además, es raro que este premio se haya concedido a un académico latinoamericano.
P. ¿Es el mayor de los reconocimientos que ha recibido?
R. Internacionalmente y con relación a mi obra académica, sí. He sido investido Doctor Honoris Causa en varios países, como España, Inglaterra, Francia o Alemania, pero esto es distinto.
P. ¿Siente que a sus 80 años aun tiene cosas que aportar al debate social y político?
R. Creo que con mi experiencia y mi entrenamiento académico aun puedo continuar activo. Pertenezco al grupo Global Elders fundado por [Nelson] Mandela, que intenta solventar situaciones de conflicto, por ejemplo como las de Sudan o Israel y Palestina. También sigo activo en otros sectores, como las discusiones sobre la gobernanza global o la búsqueda de políticas antidroga que no sean represivas como la actual.
P. El jurado del premio estima que el ensayo firmado en 1969 por usted junto al chileno Enzo Falleto fue visionario y que se adelantó al concepto "globalización". ¿En aquella época ya pensaba usted en las estructuras propias de lo que hoy conocemos como mundo globalizado?
R. No era totalmente consciente. Fíjese, cuando escribimos aquel ensayo aun ni se usaba el concepto "multinacional". Falleto y yo, sin darnos mucha cuenta, estábamos describiendo el comienzo de la globalización, y nos referíamos a ella hablando de interdependencia. La discusión entonces giraba en torno a si países interdependientes podrían progresar. La mayoría de los académicos pensaba que no. Nosotros pensábamos lo contrario, siempre y cuando las relaciones asimétricas no generasen un estancamiento. Establecimos que había varios caminos hacia la integración dependiendo de las condiciones de cada país, no solo económicas, sino también sociales o políticas. Y subrayamos que el economicismo vigente no tenia en cuenta esos factores político y social para definir las pautas de integración del mundo global.
P. ¿Brasil va todo lo bien que se cree?
R. Brasil ha logrado tener una determinada autonomía de decisiones en el proceso global. Ahora podemos progresar razonablemente, más aun con la presencia de China. La demanda de materias primas es una enorme ventaja para Brasil. La continuidad de este proceso depende de las decisiones que tomemos los brasileños, depende de nuestra visión estratégica para avanzar en temas clave como infraestructuras, educación o matriz energética. El tema que más me preocupa es que tras una buena gestión de la economía y de la productividad del país, ahora toca crear valores para alcanzar una sociedad mejor y mas decente, con mas igualdad, menos corrupción y mas acceso a lo público. No solo podemos pensar en economía. Este es nuestro gran desafío.
P. Habla usted de corrupción, una de las grandes cuentas pendientes en Brasil. ¿La presidenta Dilma Rousseff está haciendo algo para acabar con esta lacra?
R. Los medios de comunicación son los que tienen un papel mas activo. Pero también es indudable que la presidenta no trata de esconder el problema y cuando salta algún caso de corrupción no defiende a los acusados. Quiere que se vayan, lo cual es importante.
P. Llevamos varios años oyendo hablar del milagro brasileño y para buena parte del mundo el protagonista de ese milagro es el expresidente Lula da Silva. Otras voces, sin embargo, le señalan a usted como el precursor de la política económica e incluso del programa Bolsa Familia que tantos laureles le han granjeado al presidente Lula.
R. Esas voces son las que conocen la historia, los fundamentos de la situación actual. Se han hecho muchas cosas durante el Gobierno de Lula, pero en mi Gobierno logramos estabilizar la economía, acabamos con la inflación y modernizar el aparato estatal. Privatizamos, pero sin exagerar. Creamos agencias reguladoras y preparamos el país para el mundo contemporáneo. Impulsamos el aumento continuado de los salarios mínimos. El presidente Lula profundizó en todo esto, aunque años antes se opusiera a todo lo que hicimos. Se puede decir que yo empecé y el continuó.
P. ¿Que tal lo está haciendo la sucesora de Lula?
R. Personalmente le tengo consideración. Creo que es una persona integra, aunque le ha tocado un momento mas difícil que el del presidente Lula, como también fue mi caso. Tendrá que tomar medidas rápidas y de fondo. Lula gobernó en condiciones favorables, y no es el caso de ella. Como brasileño espero que las cosas le vayan bien.
P. Usted fue victima de una dictadura militar que lo mantuvo en el exilio. ¿Cree que la Comisión de la Verdad recién instaurada en Brasil debe tener un alcance limitado, como parece ser el caso, o piensa que se debería ir mas lejos y juzgar a los responsables, como se ha hecho en Argentina?
R. Es una cuestión delicada porque en verdad aquí hubo una especie de derrumbe de los militares. Aquí la transición fue mas parecida a la española, mas lenta, sin la sensación de que hubo ganadores y perdedores. Se hizo una ley de amnistía. Creo que la decisión de la presidenta Rousseff de crear una comisión que no sea revanchista es adecuada.
P. ¿Cree usted que en Brasil se está primando el desarrollo económico frente a la protección del medioambiente?
R. Soy muy ambientalista. No se debe reemplazar la cuestión ambiental por un desarrollo sin trabas. Si estuviera en lugar de la presidenta Rousseff, vetaría algunas partes del Código Forestal aprobado en el Congreso. El Senado había alcanzado un buen equilibrio entre la preservación ambiental y una explotación agrícola razonable. No tiene ningún sentido hacer concesiones en zonas de selva amazónica y creo que hay que ser irreductibles en este asunto.
P. ¿Cree usted que aún es posible un bloque latinoamericano sólido?
R. Si se compara con la época en la que yo goberné, la realidad es que hay menos unión, nos hemos dispersado más. En el Mercosur no se ha avanzado, sino que existen nuevas barreras arancelarias

Taxa zero: vamos comprar?


Os grandes bancos privados, a exemplo do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, estão reduzindo as taxas de juros cobradas quando de seus empréstimos e financiamentos.

É saudável que isso ocorra, porém alguma coisa deveria ser feita com relação a alertar os clientes para o risco que elevadas dívidas provocam no devedor. O brasileiro é um consumidor por natureza, que o digam as lojas localizadas em Nova York,  Miami ou na José Paulino e Oscar Freire. 

O aquecimento do consumo é muito bom, principalmente em ano eleitoral. Porém, ser prudente e respeitar a inflação na sua meta, também não faz mal a ninguém. É preferível um PIB realista, do que números inflados por alguma espécie de bolha. 

O Getúlio do Neto.



Sou fiel leitor do conterrâneo, o cearense Lira Neto, excepcional biógrafo do presidente Castello Branco, do escritor José de Alencar, da cantora Maysa e do Padre Cícero Romão Batista.

Diante disso, aguardo o sucesso que será a trilogia sobre o presidente GETÚLIO VARGAS, cujo primeiro livro será lançado dia 11 próximo.

Altamente recomendável, sem restrição.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Delfim explica a nova poupança.


O texto do professor Antonio Delfim Netto hoje na FOLHA é tão didático e esclarecedor que não posso deixar de postar para os meus dois fiéis leitores. Pura utilidade pública. 

A mudança no regime da caderneta de poupança facilitará não apenas o objetivo de trazer a taxa de juro real do Brasil ao nível internacional mas também a vida das famílias que encontram naquele instrumento o refúgio seguro, líquido e certo.

Para entender isso, lembremos que elas abrigam quase 100 milhões de depositantes, 98% dos quais têm poupança inferior a R$ 50 mil, num montante total que em março de 2012 atingia R$ 429 bilhões.

Suponhamos uma família que tem um depósito de R$ 2.000 para atender a uma emergência, pelo qual ela recebe 6,37% ao ano (R$ 128) correspondentes ao juro acumulado mensal de 0,5% (6,17%) somado à Taxa de Referência fixada pelo BC (0,2%).

Suponhamos ainda que essa mesma família tenha uma dívida de R$ 1.000 mantida constante durante todo o ano e pela qual um credor altruísta cobre apenas um juro de 2,84% ao mês (40% ao ano), ou seja R$ 400. Qual é o resultado dessa conta sobre os rendimentos da família? Ela recebe de juros R$ 128 e paga de juros R$ 400. Logo, sua conta de juros é negativa em R$ 272.

Suponhamos, agora, que a taxa Selic, que está hoje em 9%, seja reduzida para 7,5% e permaneça neste nível durante um ano. O que acontecerá com o rendimento da poupança da família?

Com relação ao depósito já feito de R$ 2.000, absolutamente nada! Ele continuará a receber os mesmos R$ 128, com as mesmas garantias. Apenas os eventuais novos depósitos (a nova caderneta) serão creditados pela nova regra (70% da Selic + TR) à taxa de juro de 5,45% ao ano.

Qual a diferença de rendimento anual de R$ 2.000 produzido pela mudança? Na caderneta velha, ele recebe R$ 128. Na nova, R$ 109, ou seja, uma diferença de R$ 19.

A aritmética "terrorista" dirá à família que ela perdeu 14,8% do seu rendimento (R$ 19/R$ 128), exatamente o oposto do que sentirá no bolso no fim do ano, se o credor altruísta tiver de reduzir a sua modesta taxa de juros de 2,84% ao mês (40% ao ano) para 2,21% (30% ao ano) -o que, no fundo, é o objetivo da política do governo quando insiste em pressionar as taxas de juros.

O resultado é simples. Com seu "estoque" de R$ 2.000 na caderneta velha, ele continuará a receber R$ 128, mas o juro da sua dívida cairá, se a política econômica tiver sucesso, digamos, de 40% para 30% ao ano.

Qual o resultado final para a família? Ela economizará R$ 100 no pagamento dos juros, que poderá depositar na caderneta nova ou, eventualmente, ampliar o seu consumo!

Repetindo Pascal, podemos dizer que, "nesses tempos, a verdade é tão obscura e a mentira tão bem estabelecida que não a enxergaremos a menos que nos esforcemos muito". 

domingo, 6 de maio de 2012

Pará: uma dádiva divina.

Hoje a Folha publica matéria sobre o estado do Para. Pelo menos, desta vez, o assunto é bom para nós.


AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A PARAGOMINAS (PA)
O Pará será em cinco anos a nova Minas Gerais brasileira. É quando o Estado deve assumir a liderança da produção nacional de minérios.
Hoje, Minas Gerais produz 40% dos minerais extraídos no país, e o Pará, 20%.
Mas o fluxo de investimentos previstos para os próximos quatro anos deve dar novo impulso à produção no Estado, proporcionando escala sem precedentes à sua indústria mineral.
Dados do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração) indicam que só o Pará vai receber US$ 41 bilhões em novos recursos até 2016.
Desse total, US$ 24 bilhões serão aplicados apenas na exploração mineral, do ferro ao cobre, do níquel ao ouro, da bauxita à cassiterita.
Minerais nobres, como paládio e platina, também fazem parte dessa lista.
DÁDIVA GEOLÓGICA
Geólogos classificam o Pará como "uma dádiva divina". Mas o acaso, que começou há mais de 2 bilhões de anos, fez do Estado a maior região do mundo em variedade mineral. Uma riqueza, porém, que nem o governo do Pará sabe quantificar.
"Há cerca de mil mineradoras atuando no Pará. Conhecemos, no máximo, 50. Há um total desconhecimento sobre o que está acontecendo em termos de exploração no Estado", diz David Leal, secretário de Mineração.
O Estado também reconhece que o Pará pode, pela falta de política, de logística, de fiscalização e de organização da gestão pública, estar sendo saqueado em milhões ou até bilhões de reais.
Sobre o que é controlado, o Estado registrou um salto relevante entre 2010 e 2011. Os royalties gerados na exploração renderam quase R$ 150 milhões a mais em um ano, ao saltarem de R$ 315 milhões para R$ 462 milhões.
A indústria da mineração exportou, só em matéria-prima, US$ 13,7 bilhões em 2011. Cifra que entrou no Brasil e ajudou o país a engordar o saldo da balança comercial.
Só a mineração paraense exportou o equivalente a 44% do superavit total do país, de US$ 29 bilhões em 2011.
E mais projetos para exportação estão a caminho.
A Hydro Brasil, empresa que assumiu a mina de bauxita da Vale, em Paragominas, vai investir US$ 1 bilhão para aumentar de 10 milhões para 15 milhões de toneladas a capacidade de produção da mina. O projeto também vai viabilizar uma nova refinaria de alumina, em Barcarena.

DO ENVIADO A PARAGOMINAS (PA)
Nada se parece com aquele passado obscuro e violento. As calçadas de pedra, a ponte de madeira, as imensas rochas de bauxita postas às margens do belo lago artificial, a infância que brinca ao invés de trabalhar.
O parque linear, que será entregue à população neste mês, deve se transformar num símbolo da mudança que essa cidade paraense, de 100 mil habitantes, vive.
Paragominas já foi a capital do desmatamento. Vista como um "faroeste", a cidade de 47 anos, que surgiu às margens da rodovia Belém-Brasília, converteu-se em "município verde" -um exemplo que virou modelo replicado pelo Estado do Pará.
Vencedora do 9º Prêmio Chico Mendes, para iniciativas ambientais, Paragominas viveu o inferno.
Ali mesmo, às margens da Belém-Brasília, ponto de parada de caminhoneiros, havia de tudo. De prostituição a pistolagem, de trabalho infantil a mendicância.
IPTU E EDUCAÇÃO
A cidade zerou o analfabetismo de adultos ao conceder desconto de 50% do IPTU para quem fosse estudar.
O desmatamento cessou. Quarenta serrarias engoliam 300 quilômetros quadrados de floresta por ano. Hoje, menos de 1,5 quilômetro quadrado é desmatado. Paragominas deixou a lista de desmatadores do governo federal.
A criançada agora se ocupa em projetos sociais, bancados com recursos públicos e da mineração de bauxita. A Hydro já gastou R$ 85 milhões em escolas, em hospitais e no saneamento.
O dinheiro dos royalties rende à cidade cerca de R$ 900 mil por mês.
"Esse dinheiro não entra no custeio da prefeitura. É para investimento. Uma lei determina também que em cinco anos parte do recurso comece a ser gasta no desenvolvimento de outras atividades econômicas que substituirão a mineração", afirma o prefeito de Paragominas, Adnam Demarchki (PSDB).
A exploração ilegal da madeira é passado. Crescem o reflorestamento e a produção de grãos e indústrias, como a fábrica de ração e um frigorífico de pequenos animais.
"A cidade de Paragominas é um caso raro de gestão pública no Brasil", diz Geraldo Brittes, diretor da Hydro. (AB)


DO ENVIADO A PARAGOMINAS (PA)
Grande fornecedor mundial de matéria-prima, o Estado do Pará acredita que as grandes hidrelétricas, como as usinas de Belo Monte e do Complexo Tapajós, podem gerar energia suficiente para sustentar a indústria de transformação do minério.
"O Estado ainda é um mero exportador de matéria-prima e isso internaliza pouca riqueza", diz David Leal, secretário de mineração.
O Pará quer minério de ferro virando aço, bauxita convertendo-se em alumínio, e concentrado de cobre, em cabo de energia.
Em Barcarena, a 80 quilômetro de Belém, um grande complexo industrial já processa minérios, como a bauxita, na Alunorte, ou o caulim, na Imirys Rio Capim.
A Vale tem o projeto da Alpa, uma siderúrgica em Marabá. Parte do minério de ferro que será processado nessa siderúrgica deve sair da Serra Sul, a nova mega mina da Vale em Carajás.
Leal narra uma conversa recente com executivos canadenses que vão retomar a produção de ouro em Serra Pelada. O subproduto da exploração é um concentrado um bocado valioso. Contém paládio e platina e será exportado e processado fora do país.
"Questionei o executivo sobre por que isso não é processado aqui. Se for problema de incentivo, o Pará dá."
Não é por acaso essa oferta. A mineração ainda é uma atividade que melhora a vida de quem está ao lado do projeto, não da população.
O Pará aprovou uma lei que exige o cadastro das mineradoras, além do pagamento de uma taxa. Serão R$ 800 milhões por ano, quase o dobro dos royalties. O dinheiro, diz o governo, vai ajudar o Estado a montar uma política definitiva. (AB)


sábado, 5 de maio de 2012

Doutor Lula.


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou hoje (4), durante cerimônia em que recebeu o título de Doutor Honoris Causa das universidades públicas fluminenses, as políticas educacionais do governo, com destaque para o programa Ciência sem Fronteiras, que vai oferecer, até 2014, 101 mil bolsas para que estudantes de graduação e pós-graduação e pesquisadores possam aprimorar seus conhecimentos nas melhores universidades do mundo.
A presidenta Dilma Rousseff, com o extraordinário programa Ciência sem Fronteiras, também criou mais de cem mil bolsas de estudo para que os jovens brasileiros possam se aperfeiçoar no exterior”, disse o ex-presidente.
Ao lado da presidenta Dilma Rousseff, Lula disse estar honrado por receber o título de Doutor Honoris Causa das universidades públicas do Rio.
É com muita honra que recebo o título de Doutor Honoris Causa das cinco universidades públicas do Rio de Janeiro. E a minha honra é maior ainda por recebê-los conjuntamente em uma única solenidade e com a presença da nossa querida presidenta Dilma Rousseff, tão gratificante para mim e para todos nós que estamos aqui”.
Fonte: Planalto.gov.br

Brasil e China: uma lição chinesa.


Fico curioso quando leio que o mercado de capitais brasileiro, ou seja, o valor de mercado das companhias domésticas listadas nas bolsas de valores, totaliza 1,2 trilhões de dólares. Enquanto isso, a China registra 3,4 trilhões de dólares. 

Afinal, entre a China e o Brasil, qual é o país mais capitalista?

Lembrando que a participação brasileira nas exportações globais é de 1,3%, muito distante dos 10,1% verificados na China.

Como falou Roberto Campos "Com o atraso das reformas estruturais e das privatizações o Brasil fica longe de realizar seu potencial. Poderia tornar-se um TIGRE e se comporta como uma ANTA"

Balança comercial reflete fragilidade da economia.


Editorial do Valor Econômico de 04.05.2012 alerta que a atual situação de crise internacional atingiu a balança comercial brasileira. 

Apesar de o real ter caído cerca de 10% em relação ao dólar nos últimos dois meses e do pente-fino nas importações promovido pela operação Maré Vermelha, a maior já lançada pela Receita Federal, o saldo da balança comercial em abril foi o menor em dez anos. Não dá para negar que a crise internacional atingiu em cheio o comércio.

O saldo da balança comercial despencou 52,7% em comparação com março e 55% frente a abril de 2011, para US$ 881 milhões, o pior desempenho para o mês desde 2002. As exportações totalizaram US$ 19,6 bilhões e caíram 7,9% em comparação com abril de 2011 e 2,9% em relação a março, pelo critério de média diária de embarques, divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). O resultado só não foi pior porque as importações brasileiras também recuaram 3,1% pelo critério de média diária em comparação com abril de 2011 e 8,8% em relação a março, acumulando US$ 18,68 bilhões no mês.

A desaceleração da economia internacional teve impacto direto na redução do saldo da balança comercial brasileira em abril ao afetar a demanda de parceiros comerciais importantes como a União Europeia e até a China.

A diminuição da compra de produtos brasileiros foi generalizada, atingindo inclusive os primários. Boa parte do saldo comercial dos últimos anos foi garantida exatamente pelos produtos primários, cuja participação na pauta das exportações brasileiras aumentou de 32% para 48% de 2007 a 2011, ocupando o espaço dos manufaturados, cuja fatia foi reduzida de 52% para 36%, informou Alexandre Schwartsman no artigo Datafobia (Valor de 3/5). Como os preços mundiais dos produtos primários dobraram no período, na esteira da voracidade chinesa, o saldo comercial brasileiro aumentou a reboque. No mesmo período, o preço dos produtos manufaturados subiu 35%.

Com a desaceleração global, alguns produtos estão sendo particularmente afetados. A redução de 22,1% das exportações de minério de ferro no mês passado, por exemplo, teve como principal causa a queda de 20,8% dos preços do produto no período. Já a queda de 9,7% da soja e de 62,5% do açúcar reflete a diminuição da quantidade exportada. No caso da soja, houve um fator atípico: a forte antecipação dos embarques nos primeiros meses do ano quando há entressafra do grão, o que fez com que o produto contribuísse pouco para o resultado do mês, quando começa efetivamente a safra. De toda forma, as exportações dos produtos básicos caíram 7,2% em abril, menos do que os 8,2% dos industrializados.

Do lado das importações, as quedas foram generalizadas, de 6,6% nas matérias-primas e bens intermediários e de nada menos que 11,1% no caso de bens de consumo, com impacto forte das restrições aos automóveis estrangeiros. As importações de bens de capital, máquinas e equipamentos caíram menos, 0,6%. O comportamento das importações preocupa porque sinaliza a dificuldade de recuperação da economia brasileira. A produção industrial caiu 0,5% no primeiro trimestre e deve ter voltado a recuar em abril.

O próprio governo não está otimista com a balança comercial deste ano. "Disse e continuo dizendo que este semestre será o pior para a indústria brasileira em relação ao comércio internacional", afirmou o secretário-executivo do Mdic, Alessandro Teixeira.

Os Estados Unidos foram o único grande mercado do Brasil a aumentar as compras nos últimos 12 meses e, ainda assim, em meros 5,5%, ampliando sua participação nas exportações brasileiras de 9,3% em abril de 2011 para 10,7% em abril deste ano. As vendas brasileiras para a União Europeia caíram 8,5%; e para a China, 2,9%. Mas nada se compara ao baque de 27,1% registado nas vendas para a Argentina, em consequência das fortes medidas restritivas ao comércio exterior adotadas pelo país vizinho.

Teixeira acredita que, de toda forma, o Brasil atingirá a meta de ampliar as exportações em 3,1% neste ano, modesta quando comparada ao crescimento de 26,8% do ano passado. Mas a expectativa do mercado não é tão otimista e situa em US$ 19 bilhões o saldo comercial esperado para este ano, US$ 10 bilhões a menos do que o superávit de US$ 29,79 bilhões de 2011. Já a Funcex conta com apenas US$ 16 bilhões.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Ainda há muito o que melhorar na educação.


Educação no Valor Econômico de hoje, 03/05/2012. 

Apesar de o governo se orgulhar do progresso social dos últimos anos, o balanço da educação ainda é bastante insatisfatório. Entre 2000 e 2010, o número de pessoas sem instrução ou com ensino fundamental incompleto, com dez anos ou mais, diminuiu, mas ainda representa metade da população, caindo de 65,1% para 50,2%, de acordo com dados do Censo de 2010 que acabam de ser divulgados. O percentual de pessoas com ensino superior completo aumentou de 4,4% para 7,9%, mas continua extremamente baixo. Até mesmo na região Sudeste, 44,8% da população não tem instrução ou não concluiu o curso fundamental, e apenas 10% têm ensino superior completo.

Não é por outro motivo que a educação deficiente é sempre apontada como uma das principais causas da falta de competitividade da indústria brasileira e fala-se até em um apagão de mão de obra qualificada.

O setor público tem investido nos últimos anos o equivalente a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação e considera um grande avanço a meta do Plano Nacional de Educação de aplicar 7% a 8% do PIB, o que elevaria o país ao patamar das nações da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em que o percentual oscila entre 6% e 8%. A comparação falha, porém, ao não levar em conta a diferença de tamanho da população em idade escolar e do PIB de cada país.

As deficiências educacionais influenciam também o desempenho da produção científica e inovação, que irá igualmente se refletir na competitividade. Não é por outro motivo que o Brasil estava em 47º lugar no The Global Innovation Index do ano passado, à frente da Rússia (56º lugar), mas atrás da China (29º).

O Brasil investe pouco mais de 1% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, dividido praticamente em partes iguais entre o governo (0,54%) e o setor privado (0,57%), de acordo com o Ministério de Ciência e Tecnologia. Na China, o investimento é de 1,5% do PIB, sendo 1,1% do setor privado e o restante do setor público. O caso mais extremo é o da Coreia do Sul, que investe 3,36% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, dos quais nada menos do que o equivalente a 2,46% são desembolsados pelo setor privado.

Apesar disso tudo, raramente vê-se o setor privado investindo em educação, atribuição que é considerada quase que exclusivamente do setor público. Doações a universidades feitas por empresas e pessoas, como ocorrem nos Estados Unidos, ainda são raras no Brasil. É mais provável um brasileiro fazer uma doação a uma universidade americana onde fez mestrado ou doutorado do que a uma brasileira.

Por isso, foi com relutância que o setor privado aderiu ao programa Ciência sem Fronteiras, lançado em julho de 2011, com o objetivo de enviar estudantes de graduação e pós-graduação brasileiros para estágios no exterior. Têm prioridade as áreas de engenharia e tecnologia, biologia, ciências biomédicas, computação e ciências exatas.

A meta do Ciência sem Fronteiras é enviar ao exterior 75 mil estudantes até 2015 bancados pelo governo e mais 26 mil pelo setor privado, totalizando 101 mil bolsas. O governo deve investir no programa cerca de R$ 3 bilhões, e o setor privado mais cerca de R$ 1 bilhão.

Conforme reportagem publicada pelo Valor na edição de 24/4, até abril, o programa público havia cumprido 20% de sua meta. Foram cerca de 15 mil bolsas de graduação e pós-graduação em áreas de carência de mão de obra qualificada consideradas prioritárias para o desenvolvimento técnico. Mas o setor privado não havia fechado uma única bolsa, às voltas com questões burocráticas e operacionais.

Na verdade, falta ao setor privado a experiência no assunto do setor público, cujas agências de fomento à pesquisa, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), têm parceria com instituições de ensino estrangeiras há décadas. Nessa primeira fase do programa, a quase totalidade das bolsas se concentrou nos Estados Unidos e os alunos não puderam escolher a universidade de preferência, tarefa executada por uma agência de colocação contratada. A Petrobras, que financiará 5 mil bolsas até 2017, nas áreas de energia, óleo, gás e biocombustíveis, preferiu repassar os recursos ao CNPq e à Capes.

Já o setor privado preferiu cuidar da concessão de bolsas à escolha das universidades diretamente e a demora se deve à falta de experiência no assunto. Como o processo será feito não é relevante. O importante é que saia do papel.

domingo, 29 de abril de 2012

Princípios de Economia.


Sugestão de leitura para o próximo feriado: a 4ª edição do Princípios de Economia dos autores Robert Frank e Ben Bernanke (atual presidente do FED).  O lançamento é de 2012  e com 892 páginas. 

sábado, 28 de abril de 2012

As cotas de Schwartzman.


Recebo e leio com atenção os textos do sociólogo e presidente do Conselho do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), Simon Schwartzman.  Evidentemente muitos concordarão com a mensagem abaixo, enquanto outros serão veementemente contrários. Por entender que o problema maior do Brasil é a educação ou, melhor dizendo, a sua falta, compartilho com os meus dois fiéis leitores a ideia do Schwartzman, também colega blogueiro no http://www.schwartzman.org.br

A decisão unânime do STF em favor das cota raciais no ensino superior confirma, infelizmente, a tradição brasileira de dar soluções aparentemente simples e populares a questões complexas e difíceis, como são as da má qualidade e inequidade no acesso à educação no Brasil. Decisões do STF são para ser acatadas, claro, mas ninguém fica obrigado a concordar com elas. Escrevi um texto em 2008 aonde mostro como esta política de cotas é, no mínimo inóqua e potencialmente prejudicial, que está disponível aqui., e acho que continua válido.

Um argumento curioso que se ouve com frequencia a favor das cotas é que o desempenho dos alunos que entram nas universidades por este sistema tende a ser igual ou melhor do que dos que entram pelos procedimentos normais. É curioso porque, se eles têm realmente melhor desempenho, não precisariam das cotas para ser admitidos.  Se eles têm pior desempenho nos vestbulares ou no ENEM mas têm melhor desempenho nos cursos, isto indica que existem sérios problemas no ENEM e nos exames vestibulares, que precisariam ser corrigidos. Problemas deste tipo certamente existem, mas não há evidência de eles consistam em discriminar sistematicamente contra pessoas de pele escura. Para entender melhor o que está ocorrendo seria preciso observar se a baixa correlaçao entre resultados dos exames de ingresso e desempenho se dá igualmente em todos os  níveis ou somente nos cursos de níveis de exigência mais baixo.

Hoje o jornal O Globo publica uma pequena entrevista minha sobre o assunto, que tanscrevo abaixo.

A cota cria situações de pessoas que se sentem discriminadas’
O Globo – 27/04/2012
Simon Schwartzman, diz ser contra a adoção de cotas raciais em universidades. Na opinião dele, elas acabam gerando mais discriminação.

O GLOBO: Por que o senhor é contra as cotas nas universidades ?
SIMON SCHWARTZMAN: Não acho que cotas sejam uma coisa boa em geral. Considero correta a ideia de uma política de ação afirmativa que dê atendimento especial para pessoas em situação de carência. O que não acho correto é diferenciar as pessoas pela cor da pele ou pela raça.

Que medidas seriam mais adequadas que as cotas?
SCHWARTZMAN: Mais adequado seria melhorar a educação para as pessoas poderem chegar à universidade e não precisarem desse tipo de ajuda. Na falta disso, poderiam ser criados cursos que preparassem melhor para as universidades, e poderiam dar ajuda financeira para quem não tem recursos, de modo a permitir que as pessoas continuem estudando. Simplesmente criar cota e colocar a pessoa na universidade sem esse tipo de apoio, não significa que ela aproveitará. Vai ter aquela situação de o “fulano é cotista”, ou o “fulano não é cotista”. Vai criar discriminação.

Por que o senhor acha que a discriminação pode aumentar com as cotas?
SCHWARTZMAN: Quando você cria uma situação em que você divide as pessoas entre cotistas e não cotistas, você está dividindo a população e tem gente que diz “ah, o fulano entrou pela janela”. As pessoas começam a se olhar se estranhando.
Cria situações de pessoas que sesentem discriminadas, que tiveram desempenho melhor nas provas e não conseguiram entrar na universidade, como aconteceu em uma das ações em avaliação pelo STF.

Há quem diga que as cotas são uma forma de reparar um problema histórico, desde a escravidão. Como o senhor vê isso?
SCHWARTZMAN: Temos um presente extremamente complicado, com pobreza, pessoas que não completam o ensino médio ou que completam e não sabem quase nada. Parte dessas pessoas é negra, parte é branca. Temos que lidar com o problema da má qualidade de educação. Se tivéssemos uma educação de melhor qualidade, esse problema não se colocaria.

O senhor acha mais provável que o cotista abandone o curso?
SCHWARTZMAN: Pode ficar difícil para ele acompanhar, porque supõe-se que são pessoas que não têm condições de entrar pelo processo tradicional. Ou você não deixa entrar ou você deixa e dá apoio.

Krugman é um gastador.


Paul Krugman, em sua coluna no NYT, afirma com todas as letras que as políticas de austeridade jamais cumprem o que prometem. Segundo ele, os governos deveriam fazer da maneira que os manuais de economia recomendam: gastar mais para compensar a queda na demanda privada. Ele cita o exemplo da Irlanda, hoje sofrendo com a crise e vê com esperança a provável eleição do francês François Hollande, um quase gastador. 

Pensando no que vem acontecendo com o Brasil, faz bastante sentido. Considerando que se eu gastar mais do que ganho, com certeza, terei sérios problemas, acredito que o governo deva ter um limite para os seus gastos. Para isso, temos a Lei de Responsabilidade Fiscal, promulgada no tempo do Fernando Henrique e que vem colaborando para o país apresentar bons indicadores econômicos. 

Keynes continua atual, mas com moderação, não é professor Krugman? Afinal, queremos um Estado gastador ou um Estado gestor?  

O capitalismo brasileiro de Shiller.

Felizmente ainda existe luz na direção certa.

Na EXAME que está nas bancas, Robert Shiller, professor de economia da Universidade Yale, faz uma saborosa defesa do capitalismo, especialmente do sistema financeiro, incluindo até o Brasil em seu comentário. 

Um pequeno aperitivo do texto que está na página 166.  

"Para que progressos ocorram numa nação é preciso haver muito empreendimento, e isso requer organização. É, hoje, o caso do Brasil. Parte do sucesso recente da economia brasileira se deve à evolução do CAPITALISMO no país. Nesse contexto, vemos, por exemplo, esforços de democratização das finanças, como o representado pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Essa evolução começou a ser construída com a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que agiu de modo a promover o CAPITALISMO financeiro - o que se repetiu com Dilma Roussef, sua sucessora. O Brasil é um exemplo, com índices evidentes de diminuição da pobreza, de melhora da educação e de aumento da expectativa de vida. No CAPITALISMO financeiro, se todos estiverem bem, as pessoas não vão achar ruim se uma minoria estiver muito melhor - e é por isso que não há um Occupy Wall Street nas ruas das cidades brasileiras."
 

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...