quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Desenvolvimento e ciências humanas.


Marcio Pochmann é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Escreveu este artigo especialmente para o Valor Econômico - 13/10/2011.    
           
O Renascentismo Europeu, ao final do século XIV, inaugurou uma nova fase de entendimentos acerca da natureza do homem e do funcionamento do mundo, o que concedeu às ciências humanas um valor estratégico substancial. Por meio de um conjunto filosófico comum e acompanhado do método de aprendizado fundamentado na razão e evidência empírica, as humanidades terminaram por subverter a perspectiva espiritualista predominante até então no mundo medieval.

Com o desafio estabelecido de compreender a realidade em sua totalidade, floresceram as universidades e a pesquisa comprometidas com o papel central de organização, produção e difusão técnico-científico de caráter universal. Concomitantemente às revoluções industriais dos séculos XVIII e XIX, as ciências, sobretudo as aplicadas, foram incorporadas às exigências do padrão de desenvolvimento urbano-industrial. Ou seja, foram incorporadas à vida nas cidades, uma vida constituída pela materialidade do consumismo decorrente da produção de bens e serviços em escala cada vez mais global.

Para isso, a partilha do conhecimento em múltiplas especializações se fez crescente, gerando fragmentação do ensino e pesquisa compatível com os requisitos de maior produtividade técnico-científica exigidos por distintos setores de atividade econômica. A aplicação recorrente do conhecimento técnico-científico à produção material de bens e serviços modernos tornou possível agregar valor ao processo de acumulação de capital e impor progresso material inimaginável às sociedades urbano-industriais.

A perspectiva de crescente especialização da produção técnico-científica, que até então se encontrava encastelada em contidos centros de pesquisas, possibilitou a emergência de novos laboratórios e investimentos em pesquisa inseridos nos plano de negócios empresariais. Assim, a associação entre diversos centros difusores das ciências humanas - públicos e privados - fortaleceu gradualmente a crença de que a mercantilização do trabalho imaterial deveria atender às exigências do padrão de desenvolvimento urbano-industrial.

Tudo isso, contudo, não deixou de produzir colateralmente o esvaziamento de uma unidade filosófica comum que concedia às ciências humanas o valor estratégico no entendimento totalizante da realidade do mundo e do homem. Certa cegueira situacional passou a acompanhar o desenvolvimento fragmentado das ciências humanas, com inegáveis graus de alienação na produção do conhecimento.

Tanto assim que a partir dos últimos 25 anos do século XX, a produção do conhecimento, anteriormente centrado nas universidades tradicionais, foi sendo substituída pelas chamadas universidades corporativas, responsáveis por funções como a formação de quadros e capacitação permanentes dos trabalhadores nas grandes empresas. Nos dias de hoje, somente as 500 maiores corporações transnacionais respondem por cerca de 4/5 de toda a produção global de investimentos em ciência e tecnologia. Em vários países do mundo, a quantidade de universidades corporativas supera as universidades tradicionais.

A reação radicalizada do sistema universitário tradicional foi o de se comprometer com a maior elevação da produtividade nas ciências, especialmente por meio do aprofundamento das especializações, o que a dispensou de vez de qualquer compromisso com a existência de algum corpo filosófico integrador do entendimento acerca do homem e do mundo. Por conta disso, currículos foram simplificados e esvaziados da identidade comum, enquanto as ciências humanas seguiram aprendizagem desinteressante e descomprometida da referência e aplicação prática na realidade.

No mesmo sentido, as agências públicas de financiamento da pesquisa concentraram-se no fomento setorial e individualizado da produção do conhecimento comprometido fundamentalmente com a perspectiva de elevação da produtividade sistêmica das ciências humanas. Apostaram-se também na competição inter e intrauniversitária movida pelo uso de tecnologias das competências, o que rompeu com a fronteira nacional dos conteúdos curriculares. De caráter cada vez mais internacionalizado, as medidas nacionais de avaliação e monitoramento do ensino e pesquisa subordinam-se à coordenação exógena e descolada dos interesses nacionais. Tanto assim que não tem sido incomum conceder à produção técnico-científica valorização superior com publicação externa e descontextualizada do que aquela comprometida com as exigências da realidade nacional.

Esse modelo internalizado nos países não-desenvolvidos não reduziu o fosso que separa a produção técnico-científica das exigências associadas ao setor produtivo. Da mesma forma, o movimento de internacionalização do parque produtivo tornou mais interessante a importação da tecnologia dominante na mesma medida em que empresas multinacionais realizam concentradamente em suas matrizes os maiores esforços de desenvolvimento da pesquisa em ciência e tecnologia. É isso que faz com que somente 10% dos 11 mil doutores formados anualmente no Brasil possam se estabelecer nos centros de pesquisa vinculados ao setor produtivo, bem ao contrário de outros países.

A recuperação da unidade filosófica comum nas ciências humanas e o seu engajamento no entendimento do mundo e do homem atual constituem peças fundamentais de uma estratégia de superação do atraso subdesenvolvimentista. Do contrário, produção do conhecimento e exigências do padrão de desenvolvimento poderão continuar a andar em sentido distinto.

Quanto vale a Europa?


Demétrio Magnoli, sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP, hoje, especialmente para o ESTADÃO.
           
"Sem o euro não existe Europa", constatou Angela Merkel, no mesmo discurso em que assegurou que não haverá uma "união da dívida". As afirmações, contraditórias entre si, refletem imperativos diferentes. A primeira é uma homenagem prestada à História - ou seja, ao projeto supranacional da União Europeia. A segunda expressa a vontade dos eleitores alemães - ou seja, a existência do Estado-nação. Agora, diante da iminente falência grega e do espectro de um colapso bancário em série, a chanceler alemã deve escolher entre uma e outra, pois não pode ter as duas.

História, no caso da Europa, significa uma catástrofe única, que devastou o sistema moderno de Estados erguido na Paz da Westfalia, em 1648, e reconstruído no Congresso de Viena, em 1815. A União Europeia, um fruto da catástrofe, é filha de Stalin e de Hitler.

Stalin: o projeto europeu emanou das circunstâncias da guerra fria, na forma de uma aliança entre a França e a Alemanha, antigas rivais separadas pelos ressentimentos acumulados em três guerras sucessivas. O ato inicial da Europa foi o Plano Schuman, de criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca), em maio de 1950, meses depois da fundação da Alemanha Ocidental e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). À sombra ameaçadora da URSS, a unidade da Europa Ocidental era o complemento necessário para a aliança transatlântica com os EUA.

Hitler: o projeto europeu emanou das ruínas fumegantes da 2.ª Guerra Mundial, o testemunho do colapso de um sistema baseado na soberania absoluta dos Estados. A ideia genial do francês Jean Monnet, de compartilhamento de soberanias, representou a solução para uma civilização destruída pelo nacionalismo sem freios. O ingresso da Alemanha Ocidental na Otan implicava o rearmamento alemão, apenas cinco anos depois da libertação de Paris. A Ceca foi o intercâmbio que o propiciou: no altar da aliança com a França, a Alemanha sacrificou sua supremacia nacional na indústria siderúrgica, a fonte do aço e das armas.

Numa prova de que a paternidade de Hitler é mais forte que a de Stalin, o encerramento da guerra fria não provocou a dissolução do projeto europeu, mas o seu avanço para um novo patamar. A reunificação alemã, em 1990, reativou as assombrações de um passado perene. Então, o espírito de Monnet inspirou François Mitterrand e Helmut Kohl a formularem uma segunda grande barganha, coagulada no Tratado de Maastricht, de 1992: "Toda a Alemanha para Kohl, metade do marco alemão para Mitterrand", na síntese proporcionada por uma ironia realista. A introdução do euro representou um novo sacrifício alemão, desta vez da supremacia nacional monetária, no altar da unidade europeia. O compromisso reafirmado de uma "Alemanha europeia" deveria afastar para sempre os temores estrangeiros e as tentações nacionais sobre a "Europa alemã".

"Estados Unidos da Europa" - a ousada fórmula de Monnet para um mundo pós-nacional ganhou uma materialidade mais prosaica na Comunidade Europeia, inaugurada em 1957. O gesto fundador deu-se em Roma, cercado por um simbolismo elétrico. Roma é a metáfora do Império, isto é, o oposto perfeito da nação. O Estado-nação é o poder de uma entidade política singular e homogênea, que exerce sua soberania num sistema internacional de Estados soberanos. O Império é o poder universal de um soberano, que se exerce sobre uma miríade heterogênea de povos. O mito da restauração de Roma, a memória abstrata de um tempo de unidade, pairava sobre os estadistas que fundaram a Comunidade Europeia.

A força foi a ferramenta das diversas tentativas medievais e modernas de reinvenção de Roma. Tratava-se, mais de meio século atrás, de restaurá-la pelo instrumento do consenso. Mas, mesmo depois de Maastricht, a realidade nunca se confundiu com o mito. A Europa que se veste com as roupagens do Império é uma comunidade de Estados nacionais. Além da esfera de soberanias compartilhadas, subsistem as nações, com seus sistemas políticos próprios, suas leis singulares e seus governos particulares. Quando a tempestade ameaça varrer o euro e toda a herança de Monnet, os holofotes iluminam os encontros entre os chefes de governo da Alemanha e da França, não a Comissão Europeia ou os burocratas que ninguém elegeu instalados na ilha europeia de Bruxelas.

Há duas décadas, Kohl invocou a promessa sagrada da unidade alemã para convencer os eleitores de que os alemães orientais eram concidadãos e, por isso, valia a pena subsidiar a troca de marcos orientais na equivalência artificial de um para um. Angela Merkel carece do argumento de Kohl, quando se trata de gregos, portugueses, irlandeses espanhóis ou italianos. Uma coluna da revista britânica The Economist registra que a palavra alemã Schulden, que significa "dívida", deriva de Schuld, cujo significado é "culpa". A tradição luterana se mescla à vívida memória da hiperinflação da República de Weimar para formar um denso caldo de resistência às propostas de resgate europeu dos países endividados. A ideia de união fiscal, contrapartida aparentemente indispensável à união monetária, assumiria a forma imediata de uma "união da dívida", pela emissão de títulos europeus ou por um aumento dramático nos recursos do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. Mas é precisamente isso que Angela Merkel qualificou como inaceitável.

Quanto vale a Europa? Sondagens de opinião entre os alemães revelam uma rejeição majoritária a novos pacotes de salvamento dos países que rondam o precipício. Simetricamente, entre os gregos, uma sólida maioria recusa a transferência da soberania popular sobre a economia nacional para Berlim e Bruxelas, condição quase explícita do plano de resgate em curso. Angela Merkel tem dias, talvez semanas, para começar a falar sobre Stalin e Hitler. O valor da Europa depende do eco que, tanto tempo depois, ainda puder gerar a menção desses nomes sinistros.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Indignados americanos.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA, é editor da revista "Política Externa" e autor, entre outros livros, de "Correspondente Internacional" (Editora Contexto). Escreveu este artigo especialmente para a FOLHA DE S. PAULO.

Em 1963, meses após o lançamento do primeiro satélite de comunicação, o Telstar 1, que fazia ligações telefônicas experimentais não acessíveis ao consumidor comum, realizou-se em Washington a maior manifestação pública que os EUA jamais viram.

A "Marcha sobre Washington por Empregos e Liberdade" reuniu 200 mil na capital dos EUA em 28/8, apesar da oposição de todo o establishment político, inclusive o governo Kennedy, e da pequena boa vontade do establishment jornalístico, que só passou a lhe dar atenção quando o sucesso já parecia certo.

Em dois meses, uma pequena equipe comandada por Bayard Rustin, negro homossexual (quando sexo entre homens era crime e a maior parte dos EUA vivia sob leis de apartheid racial), organizou a logística para a realização do evento.

Foram 2.000 ônibus, 21 trens especiais, dez voos fretados, dezenas de milhares de automóveis, mais a articulação de uma rede de voluntários na região de Washington para hospedar pessoas e orientar, alimentar e dar segurança à multidão.

Em 17 de setembro de 2011, teve início em Nova York a série de protestos sob o título de Ocupe Wall Street, com participação majoritária de jovens brancos de classe média, que foram ignorados pela mídia até o fim de semana retrasado, quando a prisão de 700 pessoas que ocupavam a ponte do Brooklyn os colocou na pauta da imprensa nacional e mundial.

Nada impede que Ocupe Wall Street se transforme em um fenômeno maior e mais relevante do que a Marcha de 1963, que ajudou a cimentar a aprovação da Lei dos Direitos Civis e deixou à humanidade uma das suas mais importantes peças de oratória, o "Eu Tenho um Sonho", de Martin Luther King Jr.

Mas, embora a comparação seja complicada por todos os motivos, ela possibilita pensar sobre algumas hipóteses que tentam se afirmar como verdades, como a de que tecnologias de comunicação e redes sociais são quem garante o êxito de movimentos sociais, como os da Primavera Árabe ou dos indignados na Espanha.

Não. Os meios de comunicação, como seu nome indica, são apenas meios. Por mais que possam facilitar a organização de manifestações, não determinam sucesso ou fracasso.

Diversos outros fatores são mais relevantes para isso, entre eles especialmente a "justeza" da causa defendida, a qualidade dos líderes e inspiradores, o sentido de urgência das reivindicações.

Ocupe Wall Street está crescendo e deve crescer mais ainda. Mas ainda precisa dizer melhor a que veio.

Nobel Prize 2011.

American Economists Share Nobel Prize - NYT


The Nobel prize in economic science was awarded Monday to Thomas J. Sargent at New York University and Christopher A. Sims at Princeton University for their research looking at the cause-and-effect relationship between economic policy and the broader economy.

The Nobel laureates Christopher A. Sims, left, a professor at Princeton University, and Thomas J. Sargent, a professor at New York University.

Their work uses statistical analysis to disentangle the question of whether a policy change that happened in the past affected the economy or whether it was made in anticipation of events that policymakers thought would happen later. This research has also helped economists better understand how people’s expectations for policy affect the economy.

Dr. Sims said Monday that his research was relevant for helping countries decide how to respond to the economic stagnation and decimated budgets left by the financial crisis.

“The methods that I’ve used and that Tom has developed are central for finding our way out of this mess,” he said. But asked for specific policy conclusions of his research, he responded, “If I had a simple answer, I would have been spreading it around the world.”

Dr. Sims, 68, who is president-elect of the American Economic Association, has primarily looked at temporary policy changes, such as a surprise in government finances or a change in the interest rate. For example, his methods have been used to determine whether a central bank’s decision to raise the interest rate affected inflation or whether bank officials raised the interest rate precisely because they expected that inflation change later on.

The prize committee at the Royal Swedish Academy of Sciences said in a statement that his research has tried to develop a systemic way for distinguishing between unexpected shocks to the economy, such as a change in oil prices or government finances, and expected changes.

His methodology, developed in the 1970s, has been tremendously influential in subsequent decades among all flavors of economists. It helped lend credence to New Keynesianism, the theory that says that the economy can go into recession because there is not enough demand, and has been the basis of important papers by Ben S. Bernanke, the Federal Reserve chairman, and Olivier Blanchard, the chief economist at the International Monetary Fund.

Dr. Sargent, 68, on the other hand, has focused on longer-term structural changes in the economy, such as setting a new inflation target. His research has analyzed historical data to better understand how these types of policy changes affect the economy over time. He has also conducted experiments in a sort of laboratory setting to examine how new policies might affect the economy.

The two economists were awarded for work that they did independently of each other but that the prize committee said was complementary. Both were expected to speak at Princeton later on Monday.

“Today, the methods developed by Sargent and Sims are essential tools in macroeconomic analysis,” the citation said.

The Bank of Sweden Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel is not one of the original Nobel prizes. It was created in 1968 and is awarded annually “according to the same principles as for the Nobel Prizes,” first begun in 1901.

NOBEL 2011 - lista de premiados.

O Prêmio Nobel de Economia deste ano foi atribuído nesta segunda-feira aos norte-americanos Thomas J. Sargent e Christopher A. Sims.

Os dois economistas foram escolhidos por "sua pesquisa empírica sobre as causas e os efeitos na macroeconomia", afirma o comunicado do comitê Nobel.

Os laureados "desenvolveram métodos para as numerosas perguntas sobre as relações de causalidade entre a política econômica e diferentes variáveis macroeconômicas como o PIB (Produto Interno Bruto), a inflação, o emprego e os investidores", completa o comunicado.

Thomas J. Sargent, nascido em 1943, em Pasadena, Califórnia, é professor na Universidade de Nova York. Christopher A. Sims nasceu em 1942 em Washington e é professor na Universidade Princeton.

O Nobel de Economia, cujo nome oficial é Prêmio Sveriges Riksbank em Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, foi criado em 1968. Ele não é parte do grupo original de prêmios criado pela vontade de Nobel, magnata da dinamite, em 1895.

Leia a seguir os vencedores do prêmio desde 1979 e onde atuam.
2010 - Christopher Pissarides (Chipre) e Peter Diamond e Dale T. Mortensen (ambos dos EUA)
2009 - Elinor Ostrom e Oliver Williamson (EUA)
2008 - Paul Krugman (EUA)
2007 - Leonid Hurwicz, Eric S. Maskin e Roger B. Myerson (EUA)
2006 - Edmund S. Phelps (EUA)
2005 - Robert J. Aumann (Israel e EUA) e Thomas C. Schelling (EUA)
2004 - Finn E. Kydland (Noruega) e Edward C. Prescott (EUA)
2003 - Robert F. Engle 3º (EUA) e Clive W.J. Granger (Reino Unido)
2002 - Daniel Kahneman (EUA e Israel) e Vernon L. Smith (EUA)
2001 - George A. Akerlof, A. Michael Spence e Joseph E. Stiglitz (EUA)
2000 - James J. Heckman e Daniel L. McFadden (EUA)
1999 - Robert A. Mundell (Canadá)
1998 - Amartya Sen (Índia)
1997 - Robert C. Merton e Myron S. Scholes (EUA)
1996 - James A. Mirrlees (Reino Unido) e William Vickrey (EUA)
1995 - Robert E. Lucas Jr. (EUA)
1994 - John C. Harsanyi (EUA), John F. Nash Jr. (EUA) e Reinhard Selten (Alemanha)
1993 - Robert W. Fogel e Douglass C. North (EUA)
1992 - Gary S. Becker (EUA)
1991 - Ronald H. Coase (Reino Unido)
1990 - Harry M. Markowitz, Merton H. Miller e William F. Sharpe (EUA)
1989 - Trygve Haavelmo (Noruega)
1988 - Maurice Allais (França)
1987 - Robert M. Solow (EUA)
1986 - James M. Buchanan Jr. (EUA)
1985 - Franco Modigliani (EUA)
1984 - Richard Stone (Reino Unido)
1983 - Gerard Debreu (EUA)
1982 - George J. Stigler (EUA)
1981 - James Tobin (EUA)
1980 - Lawrence R. Klein (EUA)
1979 - Theodore W. Schultz (EUA) e Sir Arthur Lewis (Reino Unido)

domingo, 9 de outubro de 2011

O fim da ilusão dos Brics.

MARCELO COUTINHO, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Iuperj, escreveU este artigo especialmente para O GLOBO.

Em 1499, Américo Vespúcio passou próximo à costa norte da América do Sul, a caminho das Índias Ocidentais, como então era chamado o continente americano. Só anos depois, quando o navegador florentino regressava de uma viagem ao Brasil, concluiu que não podíamos ser um prolongamento da Ásia. 

Mesmo após tal descoberta, o termo Índias Ocidentais continuou a ser utilizado pela Companhia Holandesa, entre outras. Responsável pela ocupação do Nordeste brasileiro no século XVII, essa empresa desenvolveu uma organização mais capitalista no comércio internacional, cuja origem antiga remonta às redes fenícias de cidades mercantes, centenas de anos antes de Cristo.

Os Países Baixos apenas iniciariam a transição do mercantilismo para os mercados modernos. Estes se globalizaram, se desglobalizaram e se globalizaram novamente. Mas nunca estiveram tão perto de ver a Ásia predominar. Estamos entrando na Era do Dragão. E talvez em um neomercantilismo.

Países como China e Índia se distanciaram muito daquelas antigas fontes de bens primários e bugingangas. A Chíndia exporta também em massa produtos e serviços de alta qualidade. Não há nenhum outro país ou região comparável. O acrônimo Bric equivale à confusão criada com as Índias Ocidentais na geografia comercial.

O Brasil voltou a ser confundido com a Ásia. Ninguém acredita que somos a costa oriental do Sudeste Asiático como na época de Vespúcio, mas de alguma forma nos igualamos a partir de uma invenção do sistema financeiro. Sonhamos em ser um dos grandes emergentes que dominarão a economia no mundo. É o nosso excepcionalismo.

Quanto mais cedo despertarmos, melhor. Em comum com a Chíndia, o Brasil tem apenas o tamanho. Nos últimos três anos, crescemos em média 1/3 do que cresceram as potências orientais. Por outro lado, quando o Ocidente entrou em recessão em 2008, acompanhamos a queda, ainda que numa intensidade menor (-0,6%). O mesmo ambiente de forte desaceleração parece acontecer agora no fim de 2011.

Em matéria de dinamismo econômico, o Brasil é um país dividido. Seus setores industriais mais avançados seguem padrões ocidentais de derretimento. Já os setores tradicionais ligados às commodities ancoram-se na demanda do Oriente. O resultado é um crescimento intermediário entre os dois grupos, porém mais próximo dos baixos níveis dos países já desenvolvidos.

A pauta do que exportamos se concentra nos itens básicos. Somos menos diversificados do que éramos há dez anos. A substituição dos EUA pela China não trouxe vantagens. A indústria nacional desenvolveu dependência estrutural das importações, de modo que mudanças abruptas no câmbio não ajudam, mesmo quanto ocorre desvalorização.

O peso do Brasil no comércio é residual e vem caindo. O Brasil responde por 1% do fluxo comercial global, ou seja, bem menos do que há 50 anos, e um décimo hoje da Chíndia, com seus 2,5 bilhões de pessoas. Por sua vez, a importância brasileira no PIB do mundo em PPP representará em 2011 só 1/6 da participação chinesa e 40% da indiana. O mero ranqueamento que nos coloca entre as maiores economias gera, como se percebe, falsas impressões.

Se o critério utilizado para o acrônimo da Goldman Sachs é político, a situação fica ainda mais complicada. China e Índia têm armas nucleares, a primeira é autoritária e a segunda tem indicadores sociais piores que os do Maranhão. A China não apoia nosso assento fixo na ONU. A Índia encontrou sozinha aprovação dos EUA. As visões na OMC tampouco coincidem. Isso tudo sem falar da Rússia.

O fim da ilusão chamada Bric não deve estimular, todavia, comportamentos orientalófobos. O novo protecionismo pune os consumidores sem gerar compensações à altura em empregos locais. Mal ou bem, os asiáticos são agora atores imprescindíveis. Constatar que não somos a extensão deles é o início para nos inserirmos conscientes das novas rotas do comércio, da nossa menor importância relativa e dos desequilíbrios na condição de global players. Não somos China nem Índia ocidentais.

Steve Jobs na Time.


Ele está em todas as capas das revistas semanais pelo mundo. Ele fez por merecer.

Círio 2011 - Belém-PA.

Quem conhece o Círio de Nazaré em Belém do Pará, não esquece nunca.

Por isso, o ESTADÃO cita que: "Nunca vi coisa igual no mundo. Já estive em Fátima, em Portugal, e em Lourdes, na França, acompanhando peregrinações católicas. Também conheço a peregrinação muçulmana à Meca, mas nada se iguala ao mar de gente que encontrei no Círio de Nazaré. A fé do povo paraense contagia e emociona qualquer um", declarou o empresário catarinense Romeu Tadeshi, de 67 anos. Ele estava no meio da multidão, distribuindo água aos peregrinos.

O ex-governador de São Paulo, José Serra, que veio a Belém pela segunda vez para acompanhar o Círio a convite do governador paraense Simão Jatene, disse que estava "muito emocionado". Para ele, não há nada parecido. "É um grande ato de fé, que à distância a gente não tem ideia de como é. Milhões de pessoas na rua que se organizam sem precisar de muita organização", resumiu o político. 

Este blog na Troppo.

Hoje, no O LIBERAL, na coluna Troppo da Rejane Barros, notícias deste blog.

Nobel de Economia 2011.

Amanhã é dia do anúncio do Nobel de Economia 2011.

A day before the announcement of the prestigious 10 million kronor ($1.5 million) award, Americans Robert Barro and Paul Romer stand out as favorites for the prize for their research on growth, leading experts say.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O exemplo de Jobs.


Editorial da FOLHA de hoje não poderia deixar de comentar sobre Steve Jobs:

No início do século passado, e provavelmente até a depressão econômica dos anos 1930, figuras como Andrew Carnegie (1835-1919), Thomas Edison (1847-1931) ou Henry Ford (1863-1947) simbolizaram, para o público norte-americano e mundial, o poder quase mítico da inovação e da riqueza.

Houve tempo em que o prestígio desse gênero de industriais e visionários, alçados da pobreza à opulência, rivalizava com o de artistas ou ídolos do esporte -e, a despeito de visões polêmicas do ponto de vista político, sua energia pessoal, suas ações filantrópicas e sua capacidade de mudar materialmente a face do mundo constituíam fonte de inspiração.

A revolução dos computadores pessoais, iniciada por inovadores como Bill Gates, da Microsoft, e o recém-falecido Steve Jobs, da Apple, parece ter enviado a um passado distante o mundo fumarento, ruidoso e cheio de graxa das antigas instalações industriais.

A modernidade criada nos laboratórios do Vale do Silício, na Califórnia, recobre-se de uma superfície lisa, colorida, silenciosa e lúdica -e ninguém como Steve Jobs soube torná-la atraente e ágil para o uso do consumidor.

Ao mesmo tempo, os novos milionários da informática parecem recuperar um pouco a aura dos industriais do passado. Depois de um período de relativo anonimato corporativo, na segunda metade do século 20, reviveu-se com Jobs e outros gurus tecnológicos a ideia do empresário criador, do rapaz que ascende da oficina doméstica para a direção de gigantescas e bilionárias organizações.

Certa informalidade juvenil acrescentou apelo contemporâneo a esses novos magnatas -que, como seus predecessores de cartola, frequentemente esposaram causas beneméritas nos campos da educação e da cultura.

Tornaram-se, sem dúvida, símbolos da flexibilidade do sistema capitalista para absorver e potencializar a criatividade individual; é em grande parte por sua liderança na pesquisa tecnológica e científica, com efeito, que os Estados Unidos ainda mantêm a primazia econômica que as potências emergentes lhe querem arrebatar.

Resta saber, a esse propósito, que condições o ambiente no Brasil oferece ao surgimento do tipo de criador, misto de empresário e cientista, que Steve Jobs simbolizou. As homenagens que lhe são prestadas, por ocasião de sua morte, comprovam o quanto é necessária e inspiradora sua contribuição.

Brasil em momento importante.


LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, engenheiro e economista, economista-chefe da Quest Investimentos foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações no governo FHC. Escreveu hoje na FOLHA DE S. PAULO.

O mundo vive hoje um desses momentos especiais em que mudanças estruturais -principalmente na economia- estão forjando o futuro de muitas sociedades. Para alguns países, os próximos anos serão marcados por dificuldades, principalmente devido a ajustes que precisarão ser realizados em um ambiente de baixo crescimento econômico. Para outros -e o Brasil está nesse grupo-, o futuro poderá ser muito favorável, pois serão reconhecidos como espaços de crescimento e mudanças sociais favoráveis, atraindo investimentos internacionais por um longo período de tempo.

Para mim, esse cenário positivo para os países emergentes é hoje o mais provável, embora ainda existam riscos de uma crise internacional de grandes proporções. Se os governos europeus e dos Estados Unidos não tomarem as medidas necessárias para enfrentar a combinação de uma crise fiscal profunda em um ambiente de pressões financeiras sobre o sistema bancário, vamos cair -todos- em um abismo profundo. Nos dois últimos dias apareceram sinais de que, pelo menos na Europa, os políticos entenderam esse risco e resolveram tomar medidas para fortalecer a estrutura de capital de seus bancos.
                                                                                                                                     
Mas, nos Estados Unidos, a verdadeira guerra civil do Partido Republicano para tirar o presidente Obama da Casa Branca ainda pode levar a maior economia do mundo a uma recaída recessiva. E, para não cair no abismo que citei acima, será preciso que Europa e Estados Unidos ajam em conjunto na direção correta.

Mas o principal objetivo desta minha coluna é explorar um pouco o futuro de nosso país no cenário de uma estabilização da crise financeira no mundo desenvolvido ao longo dos próximos meses.

Com os mercados libertos dos riscos de um buraco negro sugando toda a humanidade -imagem magnífica da capa da última edição da revista "The Economist"-, os investidores voltarão a se envolver com coisas mais sérias do que especular ou se defender do caos. E o mundo que eles devem encontrar nessa volta a tempos mais normais estará profundamente dividido entre nações emergentes e nações desenvolvidas. Nas primeiras, o processo de absorção de milhões de novos consumidores e o crescimento da renda de uma nova classe média, criada ao longo da primeira década do século, serão retomados certamente. No mundo rico, os ajustes fiscais que terão de ser feitos e, principalmente, um sistema bancário zumbi e sem funcionalidade vão cristalizar um crescimento econômico medíocre e, em alguns países, uma recessão do tipo japonês.

Como a vida continua e as empresas precisam aumentar seus investimentos, a atração de economias como a brasileira será irresistível. Não podemos esquecer que a terapia para manter a economia do mundo desenvolvido em funcionamento exigirá juros muito baixos por um longo período de tempo. Com isso, o chamado custo de oportunidade para investir em regiões vistas de fora como de maior risco ficará baixo, aumentando a atratividade desses investimentos.

Mas a política econômica que o Brasil deve adotar para maximizar esse extraordinário potencial de crescimento precisa estar calibrada para esse novo ciclo. Para que ele ocorra, seus líderes terão de entender o que está se passando e tomar as medidas necessárias para maximizar os ganhos possíveis.

O Brasil tem hoje limites muito nítidos para continuar crescendo a taxas superiores a 4%. As pressões inflacionárias que estão latentes nos índices de preços dos últimos meses são indicadores claros de que estamos num momento delicado. Se adicionarmos ainda, ao longo de 2012, um novo fluxo de investimentos por conta dos desequilíbrios que citei, vamos certamente cruzar uma fronteira perigosa no campo da inflação.

E o que me preocupa são dois comportamentos do governo nas últimas semanas: o primeiro, a tomada de medidas administrativas para enfrentar uma depressão econômica no mundo que pode não vir; e, o segundo, seu despreparo intelectual para administrar um sucesso que pode acontecer.

É a USP na linha de frente da educação.


Direto do site do UOL:

Em tempos de rápida expansão econômica e alta demanda por profissionais, as universidades da América Latina ainda usam técnicas de ensino inadequadas, são mal geridas e com baixa produção científica, segundo artigo desta semana da revista britânica "The Economist".

A grande exceção, de acordo com a revista britânica, é a USP (Universidade de São Paulo), que se destaca em determinados campos de pesquisa e consegue atrair financiamento privado.

A "Economist" cita a divulgação, nesta semana, do primeiro ranking de universidades latino-americanas da consultoria Quacquarelli Symonds, no qual a USP aparece em primeiro lugar.

Menciona, ainda, o reconhecido ranking global Times Higher Education, no qual a USP, em 178º lugar, é a única latino-americana entre as 200 primeiras.

Para a revista, a ascenção da USP em tais listas é consequência do crescente financiamento privado, da colaboração com outras instituições internacionais e o reconhecimento de qualidade.

A Economist lembra que USP está se tornando referência mundial em medicina tropical, parasitologia e biocombustíveis. 

Ouvido pela revista, o especialista em educação do Banco Mundial, Jamil Salmi, diz que tais rankings ajudam a quebrar o tradicional isolamento da academia latino-americana.

Ele cita ainda que o isolamento atinge os alunos, já que "os bons estudantes são recrutados para ensinar em suas próprias universidades, ao invés de serem encorajados a sair e expandir seus horizontes", diz.

O artigo levanta a questão do financiamento exclusivamente estatal das universidades públicas, onde "os estudantes não pagam nada, os funcionários não podem ser demitidos e o currículo é antiquado e politizado".

Para a Economist, nenhum país da região encontrou qualquer fórmula satisfatória para financiar suas universidades públicas, citando os atuais protestos enfrentados pelo governo do Chile, onde tais instituições são pagas.

A expansão indiscriminada de vagas na Venezuela, com "instituições despreparadas", onde "300 alunos (estudam) em salas que deveriam ser para 15", é criticada pela revista.

O semanário diz também que a demanda por cursos universitários fez explodir o número de instituições privadas de baixa qualidade.

Citado pela revista, o consultor mexicano Francisco Marmolejo diz que isso acaba criando um sistema "onde centenas de milhares de estudantes conseguem um diploma totalmente inútil".

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Previsões do FMI 2011 e 2012.


Latin America and the Caribbean is expected to expand by 4½ percent in 2011 and to moderate to about 4 percent in 2012. Although the slowdown in advanced economies is projected to have only a moderate effect in most countries, large risks to the outlook loom, the IMF said.

In its Regional Economic Outlook for the region, issued on October 5 in Lima, Peru, the IMF said countries in the region continue to benefit from double tailwinds of easy external financing conditions and still-high commodity prices, although these factors are projected to be less stimulative than before.

So far in 2011, economic activity has moderated from the high levels reached in 2010, but remains above potential in much of the region. Growth has been driven by strong domestic demand, with the commodity-exporting countries of South America leading the way.

More recently, fears of a global slowdown are starting to weigh in on the region’s financial markets, with equities, currencies, and commodities taking a hit.

“We still have as our baseline a situation in which both global liquidity and commodity prices will remain, as we have called them, the double tailwinds for the region,” said Nicolás Eyzaguirre, Director of the IMF’s Western Hemisphere Department. “However, these will be somewhat weaker than in the recent past,” he added. Also, with the fluid situation in the markets, the report notes that downside risks are potentially severe.

Profissão Economista.


No portal da FEA – USP, a definição da “Profissão Economista”.

O Economista é o profissional que estuda fatos históricos, dados e estatísticas a fim de detectar tendências na atividade econômica, níveis de confiança na economia e atitudes do consumidor.

Essas informações são acessadas por meio de avançados métodos de análise estatística, matemática e programação, e também por meio de análises históricas, e dão base para recomendações de como encontrar maneiras para melhorar a eficiência de um sistema ou obter vantagens de tendências assim que se estabelecem.

Ele ajuda a construir, a ampliar e a preservar o patrimônio de pessoas, empresas e governos e desenvolve planos para a solução de problemas financeiros, econômicos e administrativos nos diversos setores da atividade econômica.

Há registro de economistas ou pensadores do que se convém chamar economia ou ciências econômicas desde a Antigüidade, como Aristóteles, em sua obra "Política", ou o indiano Chanakya, primeiro-ministro na Índia entre os séculos IV e III a.C. Porém, o britânico Adam Smith (1723-1790), autor de "Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações", é considerado o pai da economia moderna.

A profissão de economista foi regulamentada no Brasil em 1951, com o Lei n° 1.411. Para ser economista, é necessária a formação superior em bacharel em Ciências Econômicas, bem como ser registrado em um dos Conselhos Regionais de Economia.

A universidade latino-americana


“A universidade latino-americana” é tema de editorial do ESTADÃO nesta data.


As universidades brasileiras - principalmente as públicas e as confessionais - estão entre as melhores instituições de ensino superior da América Latina. A primeira edição do ranking latino-americano foi elaborada por uma empresa britânica de consultoria educacional, a Quacquarelli Symonds (QS), e divulgado pelo site Top Universities.

Realizado com base numa metodologia semelhante à que tem sido utilizada nas avaliações das melhores universidades do mundo, o estudo comparou o desempenho de 200 instituições da região e incluiu 8 universidades brasileiras entre as 20 melhores. A campeã foi a USP, que se destaca em todos os indicadores, tais como proporção de professores com doutorado, produtividade de pesquisa do corpo docente, número de matrículas, reputação acadêmica, reputação entre empregadores, número de publicações por professor, citações em estudos científicos e impacto das pesquisas na internet e investimento em tecnologia.

Além da USP em 1.º lugar, estão na lista das 20 melhores a Unicamp, em 3.º lugar; a Universidade Federal de Minas Gerais, em 10.º lugar; a Universidade de Brasília, em 11.º; a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 14.º; a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 15.º; a Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, em 16.º; e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 19.º.
Por causa dos investimentos que o Chile tem feito nas últimas décadas em educação, não causou surpresa o desempenho das instituições chilenas - 3 delas estão entre as 20 melhores do ranking da QS e uma - a Pontifícia Universidad Católica - ficou em segundo lugar, com uma diferença muito pequena da primeira. A USP obteve 100 pontos e a instituição chilena, 99,6. Entre as demais instituições que integram a lista das 20 melhores, destacam-se a Universidad Nacional Autónoma de México, uma das mais antigas da América Latina, a Universidad Nacional de Colombia e cinco universidades argentinas, das quais a mais importante é a Universidade de Buenos Aires, que ficou em 8.º lugar.

Na lista das cem melhores universidades, 31 são brasileiras. No critério de número de trabalhos publicados por professor, as universidades brasileiras ocupam 15 das primeiras 20 colocações. As líderes são a USP, a Unicamp e a Unifesp, as três situadas no Estado de São Paulo, cujo governo mantém - com recursos do ICMs - uma das principais agências de fomento do país, a Fapesp. Esse é um dos fatores que levaram a Unicamp a ser a universidade que tem registrado maior número de patentes de inovação tecnológica, perdendo apenas para a Petrobrás. "A fórmula do sucesso é o equilíbrio entre ensino e pesquisa. Temos o mesmo número de alunos de graduação e de pós-graduação, num total de 30 mil", diz o coordenador-geral da instituição, Edgar De Decca.

Para o editor do site Top Universities, Danny Birne, o excelente desempenho das universidades brasileiras no ranking das 200 instituições latino-americanas de ensino superior se deve à prioridade que foi dada à pesquisa acadêmica e científica nos últimos anos, por meio do aumento do número de bolsas de estudo e financiamento de projetos, por parte das agências públicas de fomento e das que são mantidas pela iniciativa privada. Ele também destaca o alto número de docentes com doutorado e o aumento do número de matrículas nas universidades brasileiras, que pulou de 2 milhões para 6 milhões, na última década. Para o editor do Top Universities e para o coordenador de pesquisas da QS, Ben Sowter, os investimentos feitos pelas universidades públicas e confessionais brasileiras ainda estão em fase de maturação e, quando começarem a produzir dividendos, serão "o motor que ajudará o País a alcançar seu potencial de crescimento econômico".

Comparadas com as principais universidades europeias e americanas, as universidades latino-americanas ainda se encontram muito atrás - a USP, a mais bem classificada, ocupa o 169.º lugar, na pesquisa da QS. As universidades brasileiras estão melhorando, mas ainda têm de percorrer um longo caminho para ascenderem ao topo do ranking mundial.

Previsões para o PIB de 2011 e 2012.


No VALOR ECONÔMICO de hoje, o comentário de Carlos Langoni sobre o PIB de 2011 e 2012.

A força do mercado interno deve garantir ao Brasil um crescimento de 3,5% a 4% neste ano e no ano que vem, acredita o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni, que vê um quadro de estagnação nos países desenvolvidos nos próximos anos, mas não de recessão profunda. Langoni não aposta num cenário externo tão adverso quanto o BC brasileiro, que trabalha com uma piora muito forte da economia global, a ponto de ter iniciado um ciclo de corte dos juros mesmo com a inflação acumulada em 12 meses acima do teto da meta, de 6,5%.

"A decisão do BC foi ousada e arriscada. Eu não teria cortado os juros em agosto. Esperaria até o fim do ano para ver também se a política fiscal será bem implementada", disse ontem Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele participou de um painel de discussões sobre risco sistêmico no Simpósio Econômico Global (GES, na sigla em inglês), na cidade de Kiel, na Alemanha. Promovido pelo Kiel Institute for the World Economy, o evento, que termina hoje, tem a FGV como um de seus parceiros.

Para Langoni, o quadro externo com que o BC trabalha depende de uma desaceleração mais forte da China, o que derrubaria os preços das commodities, ajudando a controlar a inflação no Brasil, e de uma crise no sistema bancário, com corte do crédito externo, medida que também teria um impacto desinflacionário. Langoni, contudo, não acredita num tombo muito forte das commodities, por considerar possível que a China continue a crescer na casa de 9%.

O economista tampouco aposta numa crise bancária de grandes proporções. Depois do que ocorreu em 2008, quando os EUA deixaram o Lehman Brothers quebrar, nenhum banco central vai cometer um erro semelhante, afirmou Langoni. O Banco Central Europeu tenderia a agir para evitar o colapso de bancos da zona do euro, e eventualmente os Tesouros dos países também atuariam para impedir um problema bancário de grandes proporções.

É por ter esse cenário em mente que Langoni aposta num default ordenado da Grécia. Para ele, os europeus vão primeiro ampliar o poder de fogo da Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês), para impedir o contágio para outros países, garantindo liquidez para títulos da Itália e da Espanha. Isso abre espaço para um default ordenado da Grécia, que terá de reduzir fortemente o seu endividamento, afirmou Langoni.

Esse quadro é compatível com um longo período de baixo crescimento nos países desenvolvidos, acredita ele, algo como cinco anos ou até mesmo uma década. "Mas não deverá haver uma recessão profunda", disse ele, o que explica a diferença de sua visão em relação ao do BC.

Apesar das críticas ao corte dos juros em agosto, Langoni não avalia que o regime de metas de inflação foi abandonado. Para ele, se o cenário externo não piorar de fato como o BC espera, ou se o aperto fiscal prometido pelo governo brasileiro não se concretizar, a autoridade monetária brasileira interromperá o ciclo de queda dos juros. Langoni aposta em mais dois cortes de 0,5 ponto percentual, o que levaria a Selic a 11% no fim do ano. "Não acho que o BC vai cortar os juros de modo irresponsável. Lula percebeu, e Dilma [Rousseff] logo perceberá, que a popularidade depende de inflação baixa", afirmou. "Os programas sociais não teriam a mesma força com taxas de inflação elevadas. Forças políticas e econômicas vão levar o BC a manter postura conservadora."

Sem apostar numa ruptura no cenário externo e acreditando na força do mercado de trabalho e no investimento, Langoni sente-se confortável para projetar um crescimento na casa de 3,5% a 4% em 2011 e 2012. Ele lembra que, no ano que vem, haverá um reajuste significativo do salário mínimo, de 14%, o que pode inclusive dificultar a queda da inflação.

No seminário do GES, Langoni defendeu o modelo de crescimento brasileiro, baseado em crescimento com distribuição de renda, algo que, segundo ele, não ocorre na China. Em 2012, o GES ocorrerá no Brasil, no Rio de Janeiro. A FGV foi convidada pelo Kiel Institute para ser a anfitriã e organizadora do seminário no país. O diretor-executivo da FGV Projetos, Cesar Cunha Campos, disse que o GES no Rio deverá ter um pouco mais de ênfase em mercados emergentes, com mais participantes da América Latina, China e Índia. O evento deverá ocorrer em outubro ou novembro do ano que vem.

América Latina e as novas veias abertas.


“América Latina e as novas veias abertas” é o título do artigo de César Felício, publicado no VALOR ECONÔMICO de hoje e que merece a nossa reflexão.


"Nenhum assassinato foi registrado ontem". Quando uma frase dessa é usada em uma manchete de jornal, a exemplo do que fez o mexicano "El Diário" na edição de 3 de agosto deste ano, pode se ter um termômetro da dimensão do problema de segurança em Ciudad Juarez, na fronteira do México com o Texas (Estados Unidos). A notícia de jornal comentava que o marcante 2 de agosto era o oitavo dia não consecutivo deste ano em que não aconteceram homicídios e que até o fechamento da edição já se contabilizava 28 horas sem um assassinato, o maior intervalo desde as 41 horas sem mortes violentas de 29 de outubro de 2009.

O exemplo mexicano é o que está em voga, mas a prática de cortar a cabeça de desafetos está longe de ser um produto típico daquele país. As estatísticas mostram que, para o Brasil ficar igual ao México, vai precisar reduzir da faixa de 25 para 21 o índice de homicídios dolosos por 100 mil habitantes. Neste começo de século, o mal da América Latina não é a corrupção, a fraqueza das instituições, a desigualdade social, deficiências na educação e crescimento urbano desordenado, mas a síntese disto tudo, traduzida em um caldo de cultura que fomenta o narcotráfico.

O retrato da impotência foi traçado no mês passado, em um Congresso de especialistas do México, Colômbia, Brasil, Argentina, Uruguai, Espanha e Estados Unidos em Vicente López, cidade da parte mais abastada da periferia de Buenos Aires. Do encontro ficou a certeza de que a frase de Marx no início do 18 Brumário é indesmentível: Um raio não cai de um céu azul. A violência na América Latina explodiu porque as condições para tal estavam dadas.

Há uma guerra contra os cartéis no México e esta é uma explicação apenas parcial para que em Ciudad Juarez a taxa de homicídios tenha aumentado de 17 para 170 mortes por 100 mil habitantes desde a posse do presidente Felipe Calderón, em 2006. Colabora para o desastre a população ter passado de 260 mil habitantes para 1,3 milhão de moradores nos últimos cinquenta anos, ao passo que o emprego industrial está virtualmente estagnado desde 1988. Mas a variável política é uma das razões da ofensiva.

O fim dos regimes autocráticos e o enfraquecimento da insurgência armada gerou uma espécie de anomia, como efeito paralelo da democratização. Neste novo modelo, em que há competição pelo poder de cima a baixo, o controle institucional na base desta pirâmide é pouco ou nenhum e as campanhas eleitorais por vezes tomam a forma de um leilão de compra e venda de votos. Os grupos criminosos percebem a debilidade do Estado e estabelecem suas pontes, quando não tentam assumir a própria gestão.

E o principal vértice da ofensiva se dá nos próprios aparelhos de controle. Não é uma casualidade o fato deste setembro ter sido marcado pela condenação por um tribunal norte-americano do ex-czar das drogas na Bolívia, o general René Sanabria, e pela prisão de um tenente coronel da Polícia Militar do Rio de Janeiro acusado de mandar matar a juíza Patricia Acioli, que investigava homens de seu batalhão por envolvimento com milícias.

"A experiência da América Latina demonstra que só no momento em que o crime organizado entra no espaço político ocorre uma reação, e é em geral ineficaz, porque de enfoque apenas repressivo. Foi assim na Colômbia, quando líderes de cartéis chegaram ao Congresso, é o que acontece no México e já começa a ocorrer do mesmo modo no Brasil", disse o sociólogo Hugo Acero, que foi secretário de Segurança em Bogotá nos anos 90.

O modelo latino-americano de delinquência organizada vai assumindo os contornos de máfia, no sentido de não se focar em uma única atividade criminosa e de ter no controle territorial um de seus fundamentos. Talvez por isso floresça mesmo com as mudanças que aconteceram no narcotráfico, captadas no último relatório mundial sobre drogas produzido pela ONU e disponível na internet.

Lá se explica que o faturamento do mercado global de cocaína caiu de US$ 170 bilhões para US$ 85 bilhões entre 1995 e 2009. A razão fundamental para a queda foi a diminuição do consumo nos Estados Unidos, que aspira 37% do pó do planeta. Aumentou a repressão às vendas em solo americano e no principal fornecedor, a Colômbia, onde a área de cultivo caiu de 163 mil hectares em 2000 para 62 mil hectares no ano passado.

A queda nos Estados Unidos fez com que o negócio de drogas, muito menor, passasse a disputar com mais afinco mercados até então menos atrativos, como o Cone Sul da América Latina e a Europa. As novas rotas de tráfico estimularam o crescimento do cultivo no Peru e na Bolívia, ainda que esta expansão não tenha sido suficiente para compensar a diminuição da produção colombiana. Para se adaptar à nova realidade, surgiram estratégias de competição em um mercado como o brasileiro, de menor poder aquisitivo que o americano, com a diminuição do teor da pureza ou subprodutos como o crack e oxi.

Se nestes últimos 15 anos os índices de homicídio dobraram em países como o México, triplicaram em nações como Honduras e chegaram ao zênite nas metrópoles brasileiras, é porque o narcotráfico não é a única moeda de troca que move a engrenagem de assassínios. O sistema se enraíza no roubo de cargas, no tráfico de pessoas, no contrabando e se nutre pela corrupção. Não é à toa, que, dos 26 países das Américas e Caribe avaliados pela Transparência Internacional em seu relatório do ano passado, os cinco países com menor índice de percepção de corrupção são também os que tem menor taxa de homicídios: Estados Unidos, Canadá, Uruguai, Chile e Barbados

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

STEVE JOBS: 1955 - 2011



Steven P. Jobs, the visionary co-founder and former chief executive of Apple, has died at 56.
Apple said in a press release that it was “deeply saddened” to announced that Mr. Jobs had passed away on Wednesday.
“Steve’s brilliance, passion and energy were the source of countless innovations that enrich and improve all of our lives,” the company said. “The world is immeasurably better because of Steve.
Mr. Jobs stepped down from the chief executive role in late August, saying he could no longer fulfill his duties, and became chairman. He underwent surgery for pancreatic cancer in 2004, and received a liver transplant in 2009.
Rarely has a major company and industry been so dominated by a single individual, and so successful. His influence went far beyond the iconic personal computers that were Apple’s principal product for its first 20 years. In the last decade, Apple has redefined the music business through the iPod, the cellphone business through the iPhone and the entertainment and media world through the iPad. Again and again, Mr. Jobs gambled that he knew what the customer would want, and again and again he was right.
The early years of Apple long ago passed into legend: the two young hippie-ish founders, Mr. Jobs and Steve Wozniak; the introduction of the first Macintosh computer in 1984, which stretched the boundaries of what these devices could do; Mr. Jobs’s abrupt exit the next year in a power struggle. But it was his return to Apple in 1996 that started a winning streak that raised the company from the near dead to its current position. This summer, Apple briefly exceeded Exxon Mobil as the most valuable United States company.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Dilma Rousseff, no comando do BC.


Outro editorial do “O Estado de S. Paulo” nesta data sobre “Dilma Rousseff, no comando do BC”.

A presidente Dilma Rousseff assumiu oficialmente o comando do Banco Central (BC) e a política de juros é agora decidida no Palácio do Planalto. O plano do governo para 2012 é baixar a taxa básica para 9%, porque "ainda há margem de manobra" para novos cortes, segundo informou ao Estado o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. A conversa, com participação de dois outros membros do primeiro escalão do Executivo, foi bastante clara para eliminar qualquer dúvida: há um plano traçado no Palácio do Planalto e a decisão final caberá à presidente

Ressalvas quanto ao ritmo dos cortes - determinado com "prudência", segundo o secretário - em nada alteram o dado principal. A autonomia de fato do BC, adotada nos anos 90 e mantida nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é uma experiência encerrada, embora ninguém, na administração federal, o admita de forma explícita. Não há outra forma de entender as declarações do secretário-geral nem os pronunciamentos da presidente Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, desde a última semana de agosto.

Esses pronunciamentos foram logo seguidos pelo anúncio da redução dos juros, decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A aparente dissidência - a decisão foi tomada por 5 votos contra 2 - até poderia ser interpretada como sinal de permanência da autonomia de fato. Em pouco tempo as palavras do ministro e da presidente confirmaram a interpretação oposta. Eles continuaram falando sobre os cortes de juros como se apontassem o caminho ao BC. E, na sexta-feira, a presidente foi absolutamente explícita - mais do que pretendia, provavelmente - ao defender a redução da taxa básica como resposta ao agravamento da crise internacional. "Desta vez", disse ela, "o Brasil não pode errar na avaliação do quadro externo." Não seria "admissível", acrescentou, deixar de levar em conta o risco de recessão e de deflação no resto do mundo. Não é o tom de quem apenas manifesta um desejo, mas de quem transformou o Banco Central em mais um instrumento da política econômica do governo.

Ontem, o ministro da Fazenda voltou a falar sobre as medidas possíveis diante de uma piora do cenário global e mencionou novos cortes de juros e redução do depósito compulsório dos bancos. Usou o pronome "nós", ignorando qualquer separação relevante entre o BC e o comando do Executivo.

Além de comandar a redução dos juros, a presidente da República decidiu também, segundo todas as evidências, afrouxar o regime de metas de inflação. Sem usar essas palavras, o BC admite o fato num relatório trimestral divulgado na semana passada. Pelas projeções publicadas, a inflação acumulada em 12 meses só voltará ao centro do alvo (4,5%) no terceiro trimestre de 2013 - mas essa hipótese, a mais otimista, só aparece num dos três cenários apresentados.

O afrouxamento do combate à inflação será adotado num período de eleições municipais, com salários em alta e sem garantia, além de meras promessas, de efetiva austeridade fiscal. Ao mesmo tempo, o Executivo embarca em políticas protecionistas muito mal disfarçadas, com o pretexto de tornar mais competitivos certos setores da indústria nacional. Medidas efetivas para promover esse aumento de competitividade permanecem na esfera das promessas e de planos muito mal esboçados.

Bons argumentos a favor de uma política monetária mais branda poderiam surgir em breve, com o provável agravamento da crise no mundo rico. O primeiro passo poderia ser a redução do depósito compulsório, para ampliação do crédito. Vendas de dólares, como em 2008, poderiam ser um complemento, em caso de escassez de financiamentos em moeda estrangeira. O BC tomou medidas como essas no início da grande crise, há três anos, e foi muito mais eficiente, na ação imediata, do que o Ministério da Fazenda - ao contrário da versão cultivada no Palácio do Planalto. Mas o governo preferiu agir às pressas, impondo ao BC uma ação arriscada, alimentando a expectativa de inflação e desmontando a credibilidade do regime de metas e da autoridade monetária. Esse retrocesso pode sair muito caro para o País.

A desvalorização do real e a nova política de câmbio.


Editorial do “O Estado de S. Paulo” de hoje sobre “a desvalorização do real e a nova política de câmbio”.  

Nas últimas semanas ocorreu uma modificação importante no fluxo cambial, que passou a depender muito mais do saldo comercial do que do saldo financeiro, uma vez que as entradas de recursos financeiros estão menores do que as saídas.
Com a crise que atravessam os países do Primeiro Mundo, as captações de recursos externos tornaram-se muito mais difíceis no 3.º trimestre do ano. Levando em consideração o montante das captações (emissões de bônus, empréstimos sindicalizados, pré-pagamentos das exportações e operações do Tesouro Nacional), verifica-se que, de US$ 16,3 bilhões, no 2.º trimestre, elas caíram para US$ 5,2 bilhões, no 3.º trimestre - o valor mais baixo registrado desde o 1.º trimestre de 2009.
Isso não pode ser atribuído à queda da liquidez nos Estados Unidos, pois o Fed (o banco central americano) ofereceu grande liquidez por meio da recompra dos papéis do Tesouro norte-americano.
Sem dúvida, os bancos europeus é que tiveram dificuldades para emprestar, por causa da situação apertada em que vivem, a exigir reforço de capital. O que esse forte recuo das captações parece indicar é uma aversão ao risco em relação ao Brasil, levando em conta que o endividamento do País se mostra muito elevado, na medida em que foi bastante rápido.
É importante considerar que, em termos internacionais, os empréstimos externos têm um prazo médio pequeno (menos de 7 anos) e que os investimentos estrangeiros, que continuam importantes, estão dando origem a grandes remessas de lucros e dividendos neste período em que as matrizes das empresas estrangeiras precisam de recursos vultosos.
As medidas tomadas pelo governo brasileiro afastaram as operações com títulos de renda fixa, que representavam um mecanismo regular de entrada de capitais externos.
A perspectiva de uma queda do preço das commodities - que permitiram que o Brasil aumentasse sensivelmente suas exportações - alimenta, agora, entre os bancos, certa prudência, que poderá levar o governo a rever algumas medidas adotadas na área cambial.
De fato, a desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar (além da própria valorização da moeda norte-americana) reflete mais a evolução do balanço de pagamentos do que os efeitos das medidas tomadas pelo governo.
No mercado internacional, a visão prospectiva da situação da economia brasileira é de uma taxa de crescimento menor e uma inflação mais elevada, o que alimenta a aversão ao risco.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...