terça-feira, 22 de novembro de 2011

Europa precisa de um "New Deal", diz James Galbraith


Franklin Delano Roosevelt começou a tirar os Estados Unidos da grande recessão que emergiu após a crise financeira de 1929 com um plano ousado de obras públicas e intervenção do Estado na produção, nos preços e nos salários. Foi o "New Deal" (1933-1937). A Europa precisa agora de um plano assim e tem todas as instituições para fazê-lo.
A sugestão é do economista norte-americano James Kenneth Galbraith, 59, filho do célebre John Galbraith (1908-2006). Professor da Universidade do Texas em Austin (EUA), James defende um plano de três pontos para a Europa sair da crise. Além do "New Deal", ele propõe a europeização dos bancos e a consolidação das dívidas públicas num único título a ser emitido pelo Banco Central Europeu.

Mas esse plano não será implantado por razões políticas, reconhece. Crítico em relação à gestão da crise, Galbraith opina que a democracia "está acabada" na Europa. Para ele, é crescente a influência do banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs na condução dos países.

Mario Draghi, novo presidente do banco Central Europeu, foi vice-presidente do Goldman Sachs para a Europa de 2002 a 2005. Mario Monti, novo chefe do governo italiano, foi seu conselheiro internacional.

Novo primeiro-ministro grego, Lucas Papademos, quando foi governador do BC grego, de 1994 a 2002, atuou em operações controvertidas que envolveram o banco, segundo o jornal "Le Monde", que classifica a situação como um "governo Sachs" europeu."Dinheiro é poder", lembra Galbraith.

FOLHA - O euro vai sobreviver?
JAMES GALBRAITH - Não há saída fora do euro. Não há caminho legal para sair do euro sem sair da União Europeia como um todo. Não é uma opção para a Grécia, Portugal, Espanha, Itália. Não podem ser expulsos por mau comportamento. Não acho que a Alemanha vá deixar o euro e a união européia e adotar um novo marco alemão, embora seja possível e existam forças na Alemanha que gostariam de fazer isso.

Por que a Alemanha não faria isso?
Basicamente o euro, que seria a moeda de todos os outros, seria depreciado, e os alemães teriam desvalorizadas as dívidas que detêm. Seria uma boa solução para o sul da Europa, mas os alemães ficariam muito tristes. Isso não vai acontecer. O que vemos são os governos da Grécia e da Itália foram tomados por esses grupos de financistas.

O que dizer sobre democracia...
Está acabada. Na Grécia temos uma pessoa que foi indicada para primeiro-ministro que nem é membro do parlamento. Na Itália, Mario Monti foi indicado senador vitalício justo antes de virar primeiro-ministro. O fato é que esses dois primeiros-ministros foram ditados por Berlim, Bruxelas, Paris. Não foram escolhidos pelas populações de seus países.

Foram escolhidos pelas finanças?
Claro. É óbvio. Temos um grupo de pessoas todas graduadas pelo MIT e todas têm ligações com Goldman Sachs. Incluindo o novo presidente do BC europeu, Mario Draghi.

Como explica esse poder das finanças sobre os governos?
Qual é a conexão de dinheiro e poder? Dinheiro é poder. É claro que os líderes políticos estão atuando em nome de seus bancos, do seu setor financeiro. Quando se pergunta sobre desemprego, manutenção do crescimento, prevenção de colapsos como na Grécia, declínio da Itália, da Espanha e de Portugal e o sério declínio da Irlanda, a resposta é que não está na pauta. A liderança européia não está preocupada com essas coisas.

As populações dos países vão ficar apenas olhando?
Não acho. Há muitas greves em andamento. Os europeus estão começando a se dar conta de que o sistema político não atua em favor de seus interesses. Eles realmente achavam que o euro e a União Europeia seriam bons. E por muito tempo foi. Teremos fortes migrações dos países quebrados. Portugueses irão para Paris; gregos para os EUA, os irlandeses vão voltar para os EUA. É uma tragédia para esses lugares.

Apesar dos protestos, a direita vai avançar na Europa? O que esperar da dianteira do Partido Socialista na França?
Sim, a direita está ascendente na Europa. Mas poderemos ter surpresas nas eleições, é difícil prever. Não estou nada seguro de que os socialistas franceses representem uma alternativa séria. A crise financeira não está nem na pauta de sua reunião. Não querem falar disso, talvez porque não saibam qual posição tomar.

Quais são as soluções técnicas para a crise?
Discutimos em Austin (EUA) um plano bem articulado de Stuart Holland e Yanis Varoufakis. Tem três elementos centrais. O primeiro é consolidar as dívidas públicas de todos os países da eurozona num único título emitido pelo banco central europeu. O segundo é europeizar o sistema bancário, cujas condições financeiras estão deliberadamente obscuras pelos reguladores. Os bancos precisam ser recapitalizados pela autoridade européia, quebrando a ligação entre os bancos e governos de países, como entre bancos alemães e o governo alemão, quebrando essa conexão política, que é um problema. O terceiro ponto é restaurar o crescimento e usar o banco europeu de investimento, que tem muitos projetos prontos para a implantação, como reconstruir a rede de transporte do leste europeu. Tudo poderia ser feito dentro da moldura institucional existente: o Banco Central Europeu trataria dos bônus. O Banco Europeu de Investimento, do crescimento. O Fundo Europeu de Estabilidade Financeira poderia ser o regulador dos bancos.

Seria um plano como o "New Deal"?
Sim. O "New Deal" criou novas instituições. Temos já uma instituição para projetos de investimentos. O problema com o Banco Europeu de Investimento é que ele requer copagamentos dos países que agora não têm dinheiro para isso e por isso os projetos estão lá parados. É preciso flexibilizar essa condição de copagamento e deixar o dinheiro fluir.

Nesse plano não existiriam mais bancos nacionais, só europeus?
Se um banco alemão for ainda solvente, ele poderia continuar. Mas todos os bancos que estão basicamente com problemas por causa da depreciação dos seus ativos tóxicos dos EUA e dos seus bônus da Grécia, Itália, Espanha, Portugal, Irlanda etc. seriam absorvidos pela autoridade européia e seriam capitalizados e controlados por ela.

E sobre os bancos privados?
Os bancos nacionais são privados. Mas, se eles não são solventes, não podem continuar independentes. Não se pode ter um banco que é insolvente funcionando, pois nessas condições as perdas eventualmente terão que ser cobertas pelos contribuintes. A regra com os bancos é: se eles estão quebrados, é preciso resgatá-los. A pergunta é: `Por quem?´.

Por que não há decisão política para fazer isso?
Porque os políticos estão preocupados em proteger os seus bancos nacionais e suas próprias posições.

Como está a economia nos EUA?
A situação é desagradável, mas não instável. Há maneiras de o governo estabilizar as coisas. Há crescimento econômico positivo. Há muito desemprego, mas o país não está quebrando.

E a China? Vai desacelerar?
Há problema no mercado imobiliário em algumas das grandes cidades. Os chineses têm a capacidade de se ajustar. Não prevejo uma crise política ou financeira na China nesse momento. Pode haver alguma desaceleração. Mas a China continuará a ser um mercado forte para commodities, matérias-primas. Não seria ruim uma desaceleração em algumas construções em Xangai e Pequim. Esses recursos poderiam ser usados em outros lugares. 

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

No Brasil, o problema dos altos juros é o 'spread' bancário.


MARCELO L. MOURA, professor associado do Insper, escreveu este artigo especialmente para a FOLHA DE S. PAULO de hoje.

O Brasil é um país no mínimo curioso. Países como os EUA e a Alemanha entrariam em colapso se tivessem as taxas reais de juros brasileiras para crédito pessoal ou para capital de giro.

No entanto, essa resiliência verde-amarela não deve ser motivo de orgulho, muito pelo contrário. Juros altos minam nossa capacidade de investir e de criar um mercado consumidor forte e pujante, resultando em taxas de crescimento relativamente baixas para um país emergente.

A taxa básica de juros no Brasil, a Selic, não é a origem do problema, mas sim o que se cobra acima desta para emprestar, o "spread".

A atuação do Banco Central nos últimos anos resolveu um problema crônico de inflação que durou várias décadas. Baixar a Selic artificialmente será ineficaz e irá trazer de volta um velho e perigoso inimigo, que é a inflação.

Por que o "spread" é tão alto? Um estudo recente do Banco Central indicou que apenas dois fatores explicam 85% do "spread": margem de lucro dos bancos (55%) e inadimplência (30%).

A inadimplência é alta por dois motivos. Primeiro, nossa legislação protege pouco aquele que empresta. Prova disso é que o crédito que mais cresce é o de financiamento de veículos e o consignado, que têm, respectivamente, o automóvel e o salário como colaterais.

Segundo, seleção adversa: com taxas de juros tão altas, somente aqueles com recursos limitados e com poucas alternativas se dispõem a tomar empréstimo.

Com relação à margem de lucro, primeiramente uma ressalva. Qualquer empresa em uma economia de mercado sempre tentará obter o máximo lucro. O que impede o abuso é a competição.

O setor de telefonia no Brasil é exemplar. Se o consumidor tem a portabilidade da linha e a facilidade de trocar de empresa telefônica, os preços caem e a qualidade melhora. Ao contrário, notem a dificuldade que um cliente tem de trocar de banco.

Resolver o problema passa por incentivo e punição aos bancos: proteger seus direitos de cobrar, mas punir suas ineficiências e sua relutância em competir no mercado.

Para os clientes dos bancos, a regulação deve promover portabilidade da conta-corrente e facilidade em escolher outro banco melhor e mais barato

Moeda europeia ou estrangeira?


Luiz Carlos Bresser-Pereira, hoje na FOLHA DE S. PAULO, comenta que o erro fundamental do euro é o de ser uma moeda que os países não têm o poder soberano de emitir.  

O euro ainda pode ser salvo? Esta pergunta faz sentido porque há muitos analistas apressando-se a anunciar que o euro falhou e está condenado a desaparecer. Hoje está claro que o euro foi uma ideia arriscada, que afinal apresentou mais problemas do que soluções, mas é cedo para dizer que fracassou. Toda a questão nestes tempos anormais em que afligem a zona do euro está em saber se os europeus continuarão a ter uma "moeda estrangeira" como é hoje o euro ou a transformarão em uma moeda nacional europeia.

O erro fundamental do euro é o de ser uma moeda estrangeira -uma moeda que os países da zona do euro não têm o poder soberano de emitir. Ao adotar o euro, os países renunciaram à sua soberania, porque um requisito fundamental dela sempre foi a capacidade do Estado-nação de emitir dinheiro quando não tem alternativa para pagar suas dívidas. O exercício desse poder implica risco de inflação mas, no caso do euro, esse risco é pequeno. Certamente menor do que o custo que estão incorrendo os países europeus com esta crise.

Na última semana, em uma conferência internacional, o título de minha apresentação foi "No foreign finance, please", porque sei que nada foi pior para um país do que se endividar em moeda estrangeira. Em vez de promover o investimento e o desenvolvimento, o endividamento promove a apreciação cambial, o aumento do consumo, a fragilidade financeira e a crise do balanço de pagamentos. Os países em desenvolvimento se endividaram em moeda estrangeira por populismo cambial e porque equivocadamente acreditavam que deveriam "crescer com poupança externa". Já os países europeus se endividaram voluntariamente em moeda estrangeira -em moeda que o país não tem a soberania de emitir. Um perfeito contrassenso apoiado na suposta autorregulação dos mercados.

Mas os europeus ainda podem tornar o euro uma moeda nacional europeia. Para isto, é necessário que o Banco Central Europeu (BCE) faça o que estão fazendo os bancos centrais dos Estados Unidos e do Reino Unido e emita dinheiro para comprar os título dos países-membros. No caso da zona euro, compre até que sua taxa de juros atinja um nível normal -momento em que a crise estará terminada.

Isso implicará, como contrapartida, uma substancial diminuição da autonomia do país de incorrer em deficit fiscais, e em um severo monitoramento do endividamento privado que se reflete em conta corrente negativa dos países devedores dentro da zona.

Os alemães se opõem a esta monetização da dívida; têm medo de estimular a irresponsabilidade fiscal. Mas economistas alemães aprovaram a proposta que o BCE compre a dívida dos países até 60% do PIB, porque sabem qual o custo para seu país do colapso do euro: quase dois terços das exportações da Alemanha são realizadas para a zona do euro. Por enquanto, o Norte da Europa aproveitou o euro para exportar e investir, enquanto que o Sul, para importar e consumir. Ou essa síndrome perversa é corrigida pelo colapso do euro e a depreciação da moeda dos países devedores, ou é resolvida tornando o euro uma verdadeira moeda nacional europeia do Estado-multinação europeu em formação. 

Plebiscito no PA vai criar 'mágoa', diz governador Jatene.


Na FOLHA DE S. PAULO de hoje, Para Jatene, consulta sobre cisão do Estado vai gerar 'ressentimento' na população.

O governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), disse que o plebiscito para a divisão do Estado causará mágoas e ressentimentos entre a população paraense.

Em artigo publicado ontem nos jornais "Diário do Pará" e "O Liberal", Jatene demonstrou preocupação com a crescente rivalidade entre os habitantes do Pará remanescente e os moradores dos possíveis novos Estados.

"Ainda que eu deseje o contrário, tudo leva a crer que, seja qual for o resultado do plebiscito, o dia seguinte será marcado por mágoas, ressentimentos e desconfianças que podem se tornar duradouras", escreveu.

Foi a primeira vez que Jatene veio a público falar sobre o plebiscito, que ocorrerá em 11 de dezembro.

"Não posso aceitar que a luta pela divisão do território se transforme em divisão do nosso povo", disse no artigo.

No próximo mês, os paraenses decidirão se querem que o Estado se divida e dê origem a outros dois: Carajás (sudeste) e Tapajós (oeste).

Ele classificou a campanha do plebiscito no horário gratuito na TV e no rádio como "vale tudo" e afirmou que estão tentando "destruir a autoestima do paraense". Jatene pediu que os moradores impeçam a rivalidade.

"A Europa está cheia de exemplos em que as lutas religiosas, étnicas, deixaram feridas que não cicatrizaram. Não podemos permitir que isso aconteça conosco." 

domingo, 20 de novembro de 2011

Dica de Miami.


Para quem está planejando visitar os EUA nos próximos meses, fica a dica do site do colega blogueiro, jornalista e fotógrafo de arte brasileira, César Barroso http://www.vamospramiami.com/
Ele também possui o blog http://www.vamospramiami.com/editors-blog com todas as dicas que você precisa para chegar e estar bem em Miami.  
Boa viagem!

Plebiscito no Pará.


Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. Escreveu este artigo especialmente para o Blog de Ricardo Noblat  http://oglobo.globo.com/pais/noblat/.

Está em pleno andamento a campanha do plebiscito sobre a divisão do Pará em dois novos estados. Marcado para o dia 11 de dezembro, nele a população paraense vai dizer se concorda com a criação dos estados de Tapajós e Carajás.

A decisão será tomada pelo conjunto do eleitorado do estado, algo que não tinha sido definido pelo Supremo Tribunal Federal quando o projeto de lei sobre o assunto começou a tramitar. Foi em agosto último que o ponto foi esclarecido.

A dúvida estava na interpretação do significado do conceito constitucional de “população diretamente interessada”, a que deve ser ouvida nas consultas sobre o desmembramento, a incorporação ou a subdivisão de estados, para se anexarem a outros ou formarem novos.

Para uns, seria apenas a que reside no território imediatamente afetado. Para outros, todo o universo dos eleitores do estado teria que ser ouvido. Quase unanimemente, os ministros do STF ficaram com o segundo entendimento.

A decisão do Supremo faz todo sentido, mas foi recebida com tristeza pelos defensores da proposta. Temiam que os votos dos moradores do que vem sendo chamado Novo Pará – a área que remanesceria do atual estado e que inclui Belém e sua área metropolitana – inviabilizassem a mudança.

Tinham razão, pois essa era a situação de opinião que existia quando começou, na televisão e no rádio, semana passada, a campanha das duas frentes - a do “Sim”, favorável à divisão, e a do “Não”, contrária. De acordo com as pesquisas disponíveis, a maioria da população paraense pretendia votar “não”.

Era pequena a vantagem do “não” e, como acontece nas eleições onde só existem duas possibilidades de voto, instável. Se apenas 8% dos eleitores mudassem do “não” para o “sim”, os novos estados seriam criados.

O plebiscito paraense é relevante para a “população diretamente interessada”, mas não só para ela. Ele permite uma reflexão sobre o funcionamento de nossa democracia, assim como a respeito de alguns preconceitos e incompreensões sobre a atividade política e o sistema de representação.

Se o conjunto da população do Pará é contra a criação dos novos estados, em Carajás e em Tapajós ela é quase totalmente a favor. Embora as pesquisas variem, o apoio é da ordem de 80%, em proporções basicamente iguais nas duas áreas.

Quando se pergunta o porquê desse maciço desejo de emancipação, as respostas revelam um forte sentimento de abandono e descaso. Quem vive nos municípios que fariam parte dos novos estados não se sente representado através do establishment sediado em Belém.

Tampouco possui vínculos fortes com a cultura e as tradições do Pará. Fruto da migração, parte expressiva da população dessas regiões não compartilha uma identidade paraense profunda.

Em Belém e onde seria o “Novo” Pará, a principal objeção é pragmática: a arrecadação cairia e o governo teria menos recursos para investir em obras e ações que beneficiassem seus habitantes. Ou seja: indiretamente, dá-se razão aos que lutam pelos novos estados.

Com as enormes mudanças demográficas das últimas décadas, o Brasil de hoje nem sempre cabe nas fronteiras de nossa divisão geopolítica tradicional. Particularmente na Amazônia e no Centro-Oeste, faz pouco sentido querer que a maioria da população atual de algumas regiões pense com os modelos antigos.

Sem contar a transformação de Territórios Federais, foram criados, sem participação popular, de 1974 para cá, dois novos estados (na verdade, três, pois houve, também, a fusão do antigo estado do Rio de Janeiro com a Guanabara, dando origem ao atual estado do Rio de Janeiro).

Em 1977, o Mato Grosso do Sul, por uma Lei Complementar do governo Geisel, e, em 1988, o estado de Tocantins, como disposição transitória da Constituição. Hoje, ninguém discute que essas transformações trouxeram benefícios à população.

Há quem se insurja contra a proposta de criar o Tapajós e Carajás fazendo a conta do custo de instalar e fazer funcionar mais dois governos, duas representações parlamentares, dois judiciários. Mas é um argumento frágil, quase sempre embalado com um sentimento de aversão à política.

O que se ganha em democracia e na possibilidade de melhorar o volume e a qualidade dos serviços públicos compensa (com sobra) o preço que se paga.

A educação no Censo de 2010.


Uma leitura imperdível no ESTADÃO sobre o que realmente consegue mudar um país. Acorda Brasil para a educação. 2012 vem aí. E educação é o que realmente importa.   

Os números do Censo Demográfico de 2010 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram o quanto o Brasil ainda está atrasado em matéria de educação em geral - e, principalmente, em ensino fundamental. Na verdade, o País registrou alguns avanços importantes, na última década, mas eles foram insuficientes para aumentar o nível médio de escolaridade da população e, por tabela, para elevar a taxa de formação de capital humano - condição indispensável para a passagem a padrões mais sofisticados de produção.

Segundo o Censo Demográfico de 2010, a parcela de crianças de 10 anos analfabetas diminuiu de 11,4% para 6,5% na última década - um índice ainda muito alto e muito preocupante. A taxa de analfabetismo das pessoas com mais de 15 anos - que foi de 20,1% em 1991 e de 13,6% em 2000 - caiu para 9,6% no ano passado. A queda é expressiva. Em termos concretos, todavia, a taxa de 9,6% significa que ainda existem cerca de 13,9 milhões de brasileiros com idade igual ou superior a 15 anos que não sabem ler, escrever ou fazer as quatro operações aritméticas. Em termos comparativos, o porcentual de analfabetismo no Brasil entre as pessoas dessa faixa etária continua muito acima dos níveis registrados pelo Banco Mundial e pela OCDE para países africanos pobres, como o Zimbábue (com 8% de analfabetos com 15 anos ou mais) e a Guiné Equatorial (com 7%).

Como era esperado, a pesada herança das desigualdades sociais e regionais do País afetou os números do Censo Demográfico de 2010, em matéria de educação. No Sudeste e no Sul, a taxa de analfabetos com mais de 15 anos é de 5,4% e 5,1%, respectivamente. Na Região Centro-Oeste, ela sobe para 7,2%. No Norte, vai a 11,2%. E no Nordeste, atinge 19,1%. Alagoas é o Estado com maior porcentual de analfabetos de crianças com mais de 10 anos (22,5%), seguido de Piauí (21,1%), Paraíba (20,2%) e Maranhão (19,3%). Já nas capitais, Maceió tem a maior proporção de crianças que não sabem ler ou escrever (11,6%), seguida de Macapá (7%) e Manaus (7,1%).

O Censo Demográfico de 2010 também apontou as disparidades entre as áreas urbana e rural. Nas áreas rurais, a taxa de analfabetismo entre as pessoas com mais de 15 anos é de 23%, chegando a 32,9% no Nordeste rural. Na região, há 32 cidades com mais de 25% de jovens adultos analfabetos que não são atendidos por qualquer programa oficial de alfabetização.

O Censo apontou ainda outro ponto preocupante. Embora o País tenha universalizado a oferta de matrículas no ensino fundamental, as taxas de crianças e jovens que não frequentam escola ainda são significativas. Na faixa etária de 7 a 14 anos, a taxa foi de 3,1%, em 2010. Na faixa etária entre 15 e 17 anos, ela foi de 16,7%. No Sudeste, a taxa de jovens desta faixa etária fora da escola é de 15%. No Centro-Oeste, é de 16,9% e na Região Norte, de 18,7%. E, ao contrário de outras áreas em que o Nordeste registra os piores indicadores, aqui seu porcentual é de 17,2% - pouco inferior ao da Região Sul, com 18,6%. Trocando em miúdos, apesar dos investimentos na expansão da rede pública de ensino fundamental, o País continua sem conseguir manter parte das crianças e adolescentes nas salas de aula.

Os números do Censo revelam que o ensino fundamental vai mal e mostram que os programas de redução do analfabetismo adulto e funcional estão longe de dar os resultados esperados. Em outras palavras, o que o Censo Demográfico de 2010 mostra é que as prioridades da política educacional devem recair, basicamente, na melhoria de qualidade do ensino fundamental e do ensino médio. Na década anterior, porém, o governo atirou para todos os lados - desperdiçando tempo e dinheiro, por exemplo, com a expansão da rede de universidades federais, programas de cotas sociais e demagógicos projetos de democratização na gestão das instituições de ensino superior. Se tivesse concentrado sua atenção nos ensinos básico e médio, a esta altura o Censo do IBGE não estaria mostrando que a educação brasileira continua abaixo dos padrões exigidos por uma economia dinâmica e competitiva.

"A inflação está sob controle" afirma Tombini. É isso mesmo?


Na VEJA, a entrevista com ALEXANDRE TOMBINI, presidente do Banco Central. Segundo ele, "O BC tem metas para a inflação, não metas para o crescimento ou para a taxa de juros". Espero e torço para que ele esteja correto em sua análise. Afinal, 2012 vem aí e como está claro para os governos que perderam recentes eleições na Europa, primeiro vamos organizar a economia. Sem ela, não ganhamos a eleição.   


Brasil em clima de recessão.


ALBERTO TAMER, hoje no "O Estado de S.Paulo" e seu alerta aos otimistas de plantão.

Duas notícias neste fim de semana: uma boa, a agência de risco S&P, elevou a nota de crédito do Brasil; e outra ruim, o índice de atividade do BC, no terceiro trimestre, que antecipa o PIB oficial, foi negativo, e a economia decresceu 0,32%.

O mais grave é que a notícia ruim é muito pior que a boa. Ela diz que a economia brasileira deu o primeiro passo para entrar na tal "recessão técnica", medida por dois trimestres negativos. (Ninguém explicou por que dois e não três). Isso pode ocorrer ainda este ano se as medidas de estimulo à demanda adotadas há duas semanas pelo governo não forem suficientes reanimar o consumo das famílias e a atividade econômica nos próximos 40 dias. Pode ser possível com as compras de fim de ano e porque o governo sinalizou nestes dois últimos dias que virão mais incentivos para aumentar o consumo interno, o único caminho, no momento, para evitar que a economia recue ainda mais e entre em um processo recessivo que se autoalimenta - menor consumo, produção, emprego, renda e, de novo, consumo formando o clássico círculo vicioso.

Atrasou, mas corre. Parece que a equipe econômica está consciente de que se atrasou um pouco com receio da inflação, mas tudo indica que agora tem pressa. A última coluna repassava informações do mercado que a economia estava recuando mais do que se previa e terminava dizendo que, tendo em vista o que já faziam, se podia esperar mais do governo

No mesmo dia em que o BC divulgava o IBC-Br de menos 0,32%, já vazava para a imprensa, em Brasília, algumas dessas providências que podem vir nos próximos dias.

A colega do Estado Adriana Fernandes adiantou que o BC avalia a liberação de parte dos depósitos compulsórios para levar os bancos médios a emprestarem mais. Tem em caixa, recolhido dos bancos, R$ 434,7 bilhões, recursos mais do que suficientes para colocar no mercado se for preciso. Basta um terço disso, associado a juros menores e prazos mais favoráveis, para estimular a demanda em curto e médio prazos.

E, um dia antes do anúncio do índice, o presidente do BC, Alexandre Tombini, sinalizou de forma excepcional uma nova redução do juro, "ajustes moderados (no plural) na taxa da Selic, uma ação consistente com a retomada da inflação à meta em 2012". O desafio continua sendo administrar a inflação com estímulos e financiamento para evitar alta nos preços do álcool.

IOF também. Adriana Fernandes informou também que, por seu lado, o Ministério da Fazenda avalia a redução do IOF sobre essas operações de crédito, assim como estuda novas desonerações tributárias e outras ações no mesmo sentido que podem beneficiar não só empresas e consumidores, mas também investimentos externos. Isso é agora ainda mais viável porque a arrecadação bateu novo recorde em outubro, com um aumento de 17,6% em relação a outubro do ano passado, uma tendência que, informa a Receita, deve se manter este mês, embora em ritmo menor. Cresce menos, mas cresce, afirma Zayda Manatta, da Receita Federal.

Há tudo, portanto, para que o governo intensifique a política expansionista que começou a pôr em prática nas últimas duas semanas,

Brasil em clima de recessão. Para a coluna, o Brasil, como a Europa, já está vivendo há dois trimestres em "clima de recessão". Isto é, num ambiente, em circunstâncias em que a atividade econômica, indiferente a porcentagens, estagnou, projetando situações mais graves que exigem pressa. Não é exagero? Não. Há sinais muito claros disso. O Ministério do Trabalho confirmou que em outubro o emprego formal recuou nada menos que 38,4% sobre o mesmo mês de 2010. No ano, até outubro, 18,3%. Ainda não é grave, mas é um alerta, mesmo porque é natural a tendência de demissões em consequência dos reajustes em cadeia que o novo salario mínimo pode provocar. Ou a produção aumenta, ou o emprego recua. Mas a produção só não continuará recuando se houver mais consumo e investimento. E é isso o que a equipe econômica anuncia que não só pretende, mas está fazendo. Dá sinais que não teme a tal "recessão técnica", mas sim o "clima de recessão" em que a economia já entrou. Com um falso "crescimento"de mais 0,2% ou menos 0,2%... "crescimento..."

O próximo da lista?


Sinfrônio consegue captar como poucos, em pouco espaço, o muito que acompanhamos diariamente. Apesar de política ser coisa séria, Sinfrônio mostra com leveza o valor de um sorriso. E a fantasia torna-se realidade. 
Uma ótima semana para os meus quase dois (milhões de) e-leitores. Conto com o seu voto no http://economiaecapitalismo.blogspot.com/
       

Steve Jobs - 2011.


Steve Jobs era um gênio? Indiferente do que você pensa, o que ele conseguiu vender lhe trouxe mais do que 15 segundos de fama. E ainda continua vendendo.   

Diferente do que acontece na USP.



Protestos são normais em alguns lugares e totalmente anormais em outros. O que importa é saber se o motivo é válido. O que se deve evitar é a ditadura da minoria. Por isso, a importância da participação de 99% dos envolvidos.     

Eleição e Economia: o voto e a crise.


Hoje, eleição na Espanha e mais um governo que será derrotado pela crise. Logo, o que importa é 
a economia. Sempre. Perguntem ao José Sócrates, em Portugal; ao Brian Cowen, na Irlanda; ao Gordon Brown, no Reino Unido; ao Geir Haarde, na Islândia; a Iveta Radicova, na Eslováquia; ao George Papandreau, na Grécia; ao Silvio Berlusconi, na Itália. Hojé é dia de Zapatero na Espanha. Sarkozy será o próximo da lista?    

O fracasso é bom.


PAUL KRUGMAN, ontem na FOLHA DE S. PAULO e a economia americana. 

É um pássaro! É um avião! É uma porcaria! É o supercomitê!

Até a próxima quarta, o chamado supercomitê, um grupo bipartidário de legisladores, tem de chegar a um acordo sobre como reduzir deficit futuros. Mas não vai conseguir cumprir esse prazo final.

Se essa notícia o deprime, anime-se: nesse caso, o fracasso é bom.

Por que o supercomitê está fadado a fracassar? Principalmente porque o abismo entre nossos dois principais partidos é enorme. Republicanos e democratas não têm só prioridades diferentes -habitam mundos intelectuais e morais distintos.

No mundo democrata, o alto é alto e o baixo é baixo. Elevar impostos aumenta a receita, e reduzir os gastos com a economia ainda deprimida reduz o emprego. No mundo republicano, o baixo é alto. Para elevar a receita, o jeito é cortar os impostos das empresas e dos ricos, e reduzir os gastos do governo é uma estratégia de geração de empregos.

Ademais, os dois partidos têm visões nitidamente diferentes sobre o que constitui justiça econômica.

Os democratas veem os programas de seguridade social como algo que satisfaz o imperativo moral de segurança básica aos nossos concidadãos e ajuda aos necessitados.

Os republicanos podem expressar a visão democrata em público, mas reservadamente veem o Estado de bem-estar social como imoral, uma questão de forçar cidadãos, sob a mira de armas, a entregar seu dinheiro a outras pessoas.

Assim, o supercomitê reuniu legisladores que discordam por completo. Por que alguém achou que isso poderia funcionar?

Talvez a ideia seja que os partidos chegarão a um meio-termo por medo do preço político de parecerem intransigentes. Mas isso só aconteceria se a imprensa estivesse disposta a mostrar quem se nega a fazer concessões. E ela não o faz.

Para começo de conversa, a história nos diz que o Partido Republicano renegaria seu lado de qualquer acordo assim que tivesse a chance.

As perspectivas fiscais dos EUA estavam bastante boas em 2000, mas, assim que os republicanos assumiram a Casa Branca, desperdiçaram o superavit com reduções dos impostos e guerras não financiadas. Assim, qualquer acordo agora seria, na prática, nada mais que cortes na Previdência e no Medicare sem melhora duradoura do deficit.

Outra coisa: qualquer acordo fechado agora quase certamente agravaria a recessão. Reduzir os gastos com a economia deprimida destrói empregos e provavelmente é contraproducente até em termos de redução do deficit, já que leva a receitas mais baixas agora e no futuro. E projeções como as do Fed sugerem que a economia continuará deprimida até pelo menos 2014.

É verdade que, com o tempo, teremos que equiparar gastos com receita. Mas a decisão sobre como fazer isso não é contábil. Diz respeito a valores fundamentais -e deve ser tomada pelos eleitores, não por algum comitê que supostamente transcende divisões entre partidos.

Com o tempo, um lado ou outro receberá o mandato popular de que precisa para resolver os problemas orçamentários de longo prazo. Enquanto isso não ocorrer, as tentativas de um Grande Acordo são fundamentalmente destrutivas. Se o supercomitê fracassar, como se prevê, será um momento para festejar.

Belo Monte: Sim ou Não?


ILDO SAUER é professor titular do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP e escreveu este artigo especialmente para a FOLHA DE S. PAULO de hoje. 

O projeto original da usina de Belo Monte foi concebido no governo militar, como parte da estratégia desenvolvimentista de industrialização brasileira, que, na Amazônia, voltava-se para a produção de commodities para exportação, especialmente o alumínio, a exemplo de Tucuruí.

Foram previstas sete barragens no rio Xingu, que gerariam 19.000 megawatts (MW), com o alagamento de mais de 18.000 km², atingindo 12 terras indígenas e grupos isolados da região.

Os estudos, aprovados na década de 1980, foram alvo de forte reação dos indígenas e demais povos da região. A reação social ao projeto, combinada com crise econômica das décadas perdidas (1980 e 1990), levou o projeto à hibernação, até ser ressuscitado pelo governo Lula.

Sua ressurreição, já como Belo Monte, em formato revisado -com redução do alagamento e da potência-, guarda forte vínculo com a incúria e deficiente implementação do plano energético proposto por Lula.

O plano previa a retomada do planejamento, compreendendo, de um lado, a previsão da demanda de energia de curto, médio e longo prazos, e, de outro, o estudo atualizado de todos os recursos de oferta disponíveis.

Em 2003, o país tinha um potencial hidráulico de 188.000 MW; eólico, de 143.000 MW (com torres de 50 m, duplicável com torres de 100 m); de cogeração com biomassa e gás natural, de 25.000 MW. Tudo isso fora as possibilidades de racionalização do uso e de modernização das usinas antigas.

Havia ainda uma sobra de 7.000 MW após o racionamento de 2001.

O quadro era propício para estudar os recursos, ordenando os projetos por mérito técnico-econômico, social e ambiental. Era possível institucionalizar um processo decisório submetido a controle público, de forma a organizar a sequência das usinas a serem construídas, descartando aquelas problemáticas. Isso não foi feito.

Com a retomada do crescimento econômico e o fim das sobras, o governo começou a fazer leilões para aquisição de nova capacidade.

O país contratou energia de usinas a carvão, óleo e gás natural, opções inadequadas por seus elevados custos.

A avalanche de críticas teve como resposta a corrida improvisada a projetos existentes: Santo Antônio e Jirau (rio Madeira), herdadas do governo FHC, e Belo Monte, do governo militar.

Com planejamento, essas usinas teriam dado lugar a projetos com melhores atributos sociais e ambientais. O autoritarismo e a truculência com povos indígenas e populações locais teriam dado lugar a processo decisório, que poderia conduzir à viabilização ou ao abandono dos projetos, com ganhos civilizatórios e redução de custos e riscos para o país.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...