quarta-feira, 27 de julho de 2022

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, governadores, senadores, deputados estaduais e federais, o que já resulta na criação de instabilidades no mercado. E como o Brasil está inserido nas cadeias de suprimentos globais do comércio internacional, o início de uma guerra lá na longínqua Ucrânia contribuiu para piorar as condições da economia brasileira e mundial. Aliado a isso verificamos um aumento da taxa de inflação e da taxa básica de juros da economia (Selic), não esquecendo das perdas resultantes da pandemia de covid-19 que ainda continua afetando a todos.    

Evidentemente cada país busca suas alternativas visando atenuar os prejuízos com resultados nem sempre os esperados. Por isso é preocupante o recente relatório “Panorama Econômico Mundial” divulgado em 26/07/2022 pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no qual reduz a projeção do crescimento mundial de 3,6% para 3,2%, um número quase 50% inferior ao 6,1% de 2021. Segundo o FMI, “Os riscos para as perspectivas estão predominantemente inclinados para o lado negativo”.

Como sabemos, economistas (assim como outros profissionais) também falham em suas projeções e acertadamente o competente colega Pedro Malan já nos disse que “O futuro tem por ofício ser incerto. No Brasil, todavia, o mesmo se passa com o passado. ”  Por isso, apesar de tratar-se de projeções, é por demais inquietante quando um grande banco nacional estima para este 2022 um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 1,77% e para 2023 de apenas 0,04%. Situação melhor verificamos no Relatório Focus do Banco Central de 22/07/2022 que estima um crescimento de 1,93% para este ano e de 0,49% para 2023. Salientamos que a última projeção do FMI para a economia do Brasil em 2022 é um crescimento de 1,7%,  mesmo percentual estimado pela Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE). Diante disso, eis então o que faz falta no atual momento político brasileiro: que cada candidato à Presidente da República divulgue com clareza e embasamento técnico como fará em sendo eleito para fazer o Brasil crescer nos próximos anos a taxas maiores e constantes.

Enquanto o atual debate político ficar restrito a assuntos laterais e falsas informações, sofremos o sério risco de votar exclusivamente pela emoção e não pela razão. É imprescindível que cada candidato efetivamente apresente suas propostas econômicas de maneira que possam ser avaliadas previamente visando apontar as medidas que devam ser realizadas para que o país deixe de crescer a taxa de “voo de galinha” e retorne com segurança a elevadas taxas de crescimento em seu Produto Interno Bruto.

Embora tecnicamente o PIB seja a melhor medida do bem-estar econômico de uma sociedade, trata-se de um indicador que exclui, por exemplo, dados sobre a qualidade do meio ambiente e sobre a distribuição de renda. Mesmo assim, seu resultado é dos mais relevantes no acompanhamento da produção econômica de um país. Por isso dá indispensabilidade dos candidatos à presidência registrarem em seus planos de governo o que planejam realizar visando obter melhores resultados para a nossa economia. Se então o baixo crescimento do PIB é uma variável que nos preocupa sobremaneira, mais grave ainda é a questão da desigualdade social, assunto esse que deixaremos para outra oportunidade. 

domingo, 30 de janeiro de 2022

Gustavo Franco no ESTADÃO: O rascunho da carta de Roberto Campos Neto.

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,o-rascunho-da-carta-de-roberto-campos-neto,70003964302

Gustavo H. B. Franco, O Estado de S.Paulo

30 de janeiro de 2022 | 05h00

Temos uma regra pela qual o presidente do BC precisa se explicar publicamente, através de uma carta aberta ao ministro, se a meta para a inflação não é cumprida.

Nesses termos, Roberto Campos Neto endereçou 15 páginas a Paulo Guedes em 11 de janeiro. A meta para 2021 era 3,75% com margem de 1,5% para os dois lados, e o IPCA variou 10,06%, 191% da meta.

A carta foi escrita no idioma neutro das atas do Copom. Muito mais poderia ser dito. Um rascunho da carta andou circulando, certamente fake, mas revelador: 

“Excelentíssimo senhor ministro (caro Paulo), 

Era mais fácil se lhe mandasse um zap, ou vários, mas é muito assunto e o corretor gramatical ia me deixar constrangido. Pensei em lhe mandar um áudio, mas a procuradoria desaconselhou. Primeiro de tudo, vamos lembrar que poderia ter sido muito pior. Está acompanhando a Argentina? 

Lá, a inflação bateu 3,8% só em dezembro, depois de 2,5% em novembro. O acumulado no ano deu 50%, e mesmo assim com um bocado de inflação reprimida, pois eles estão com preços congelados. Eles não aprendem.

Pior, tem gente falando em congelamento, ainda que só de combustíveis, feito na época da Nova Matriz.

Há ideias ruins que nunca morrem, a despeito de ficarem meio estragadas. São ideias zumbis, como certa vez as designou Paul Krugman: ideias mortas-vivas que, quando menos se espera, devoram os cérebros dos políticos, um horror. Fica esperto.

Segunda observação: não perca de vista que eu vou ficar nesse emprego até o final de 2024, conforme a nova lei do BC. Eu tenho “estabilidade”, você não, independente de meta ou de mérito. 

Em compensação, já estou me preparando para dois anos de chá de cadeira. Já parou para pensar como é trabalhar com um presidente que não gosta de você, mas não pode lhe demitir, e nem você pode sair?

Bacana essa coisa da independência do Banco Central, mas, convenhamos, o relacionamento com o Palácio, e mesmo com o novo ministro, vai ser uma guerra. 

Terceiro, e antes que eu esqueça, a inflação: lembre que em agosto já tínhamos estourado a meta para o ano. O IPCA deu 0,87% no mês e 5,67% no acumulado do ano, para uma meta (limite) de 5,25%. Esse ano foi uma loucura mesmo, não?

A gente começou a subir os juros na reunião de março, quando passamos de 2% ao ano para 2,75%, e fomos subindo bem gradualmente. Só na reunião de dezembro chegamos a 9,25% com o IPCA para o ano já ultrapassando 10%.

Muitos criticaram a minha lentidão. OK, mas foi muito educativo manter juros de BNDES por um ano, não? 

Mas agora acabou a moleza, tenho que correr atrás, e já tenho contratada essa encrenca quem quer que seja o meu chefe”.  *Ex-presidente do Banco Central e sócio da Rio Bravo Investimentos.

domingo, 26 de dezembro de 2021

Gustavo Franco: Esperança na incerteza.

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,esperanca-na-incerteza,70003935282


Gustavo H. B. Franco, O Estado de S. Paulo

26 de dezembro de 2021 | 05h00

Há uma velha sabedoria de mercado, longamente confirmada pela experiência, segundo a qual todo consenso de mercado sobre o futuro é sempre antecipado, de tal sorte a produzir efeitos imediatos e trazer para o presente o que já se toma como certo para frente.

O futuro está no preço, é o bordão que expressa essa sabedoria.

Pois disso se segue que tudo de ruim que se diz que vai acontecer em 2022, por conta dos radicalismos e incertezas sobre a economia, já está acontecendo. 

Portanto, o pior de 2022 é o que estamos experimentando ainda em 2021, bem antes do fato, e mesmo sem a certeza de que vai ser assim mesmo.

Talvez o caminho daqui a outubro seja de convergência e entendimento, pois afinal o Brasil não vai se desmanchar. Ou vai? 

Quase sempre, o futuro que se tomava como certo não chega a existir. 

Muitos futuros idealizados só vão existir no terreno do pretérito mas, assim mesmo, produzem efeitos, primeiro quando a onda se forma, quando não se sabe se é bolha ou boato e, a seguir, quando a opção retorna ao pó. 

Certo mesmo é que as certezas pessimistas sobre o futuro podem não se confirmar. Como, aliás, é comum com as outras certezas sobre o futuro.

Nessa época do ano, e no terreno específico das expectativas sobre a economia, há grande demanda por profecia e por otimismo. Desde sempre a Humanidade manda cartas para Papai Noel e se debruça sobre os oráculos.

Mas, em geral, se admite que o otimismo é para os fracos, e sobretudo para os desinformados. Por isso quem escreve as cartas são as crianças...

E assim, a fim da afastar suspeitas de fraqueza ou desinformação, é sempre prudente profetizar um ano difícil, cheio de volatilidade e de momentos críticos e decisões provavelmente erradas, do que se segue a recomendação, que já foi mais incontroversa, de apertar os cintos.

Andar sem cinto, no carro ou no avião, é um risco desnecessário e tolo, além de interferir na segurança do alheio, assunto que se apresentou diversas vezes em 2021, a propósito da vacina, contrariando vários prognósticos otimistas sobre o avanço da civilização no Brasil.

Bem, mas o que há de diferente nesse fim de ano de 2021?

Há um consenso avassalador que 2022 será uma guerra, pois a polarização política está infernal, e deve apenas se intensificar até as eleições de outubro de 2022.

Com isso, os cintos já estão apertados até o último buraquinho, mal dá para respirar, e assim o que esperávamos para 2022 já está acontecendo.

Para ser otimista, portanto, é preciso apelar para a incerteza: o que realmente vai acontecer em 2022, felizmente, não se tem a menor ideia.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...