sábado, 14 de julho de 2012

PIB 2012: 1,8%?


Leio no UOL o ex-presidente do BACEN Gustavo Loyola comentando sobre o PIB 2012. 

Após dois semestres de baixíssimo crescimento, a economia deve apresentar números bem melhores nos próximos meses, acredita Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria Tendências.

No entanto, afirma, gargalos como infraestrutura ruim e falta de mão de obra qualificada devem impedir que o país cresça a taxas acima de 4% no longo prazo.

Folha - A economia vai engatar no segundo semestre?
Gustavo Loyola - Sim, existe um estímulo monetário bastante grande e alguns estímulos de redução de impostos. Como o mercado de trabalho está bem, não vejo porque a economia não vá apresentar números muito melhores neste semestre. 
O número que vai ficar feio no final é o crescimento do PIB, que fechará em 1,8% ou menos. Mas esse número, como é uma média do ano, tem muito de história passada.

E a partir de 2013, o PIB volta a crescer a taxas maiores?
Depende do cenário internacional. A gente pode entrar numa gangorra [oscilar entre taxas altas e baixas] se formos para um crescimento muito acima de 4% ano que vem. Eu acho que se ficarmos em 4%, ou um pouco abaixo disso, é possível manter essa taxa de crescimento na média ao longo de 2013, 2014.
No longo prazo, a gente já começa a ter um pouco mais de dificuldade, por causa da oferta apertada de mão de obra, dos problemas de infraestrutura. Se a oferta não acompanha o crescimento, você cria gargalos que acabam eles mesmo servindo de obstáculo ao crescimento.

Há espaço para o país crescer a taxas maiores, como em alguns anos do governo Lula?
Mesmo com o efeito positivo da forte valorização das commodities, nunca chegamos à capacidade de crescer de forma sustentada acima de 4,5%. Os anos em que isso aconteceu foram períodos de recuperação cíclica.
O ciclo de reformas [dos anos 90] elevou nossa capacidade de crescimento de 3% para mais de 4%. Uma melhora substancial, mas não tornou o Brasil uma China. Só que o efeito dessas reformas se dilui no tempo. São necessárias novas reformas que aumentem o investimento.

O que o governo não deve fazer para acelerar o crescimento no curto prazo?
É preciso preservar o regime de metas de inflação. Ele ajuda a manter a inflação baixa e reduz as incertezas sobre o futuro, o que é fundamental para gerar investimentos.

A taxa de juros deve cair mais?
Tem espaço para corte até 7% [hoje a Selic está em 8%]. Há risco para a inflação, mas é difícil interromper a queda, pois não há muita certeza sobre se o pior da crise passou.

domingo, 1 de julho de 2012

Moisés Naím e Martin Wolf numa conversa econômica.

Uma conversa entre MOISÉS NAÍM e MARTIN WOLF merece ser divulgada pelo menos para os meus quase ainda dois fieis leitores. Abaixo matéria obtida no UOL on line.

A crise transformou alguns comentaristas econômicos em personagens de fama mundial. Um deles é Martin Wolf, o principal editorialista econômico do Financial Times e certamente um dos colunistas mais influentes do momento. Conversei com ele alguns dias atrás em Istambul. "Que aspectos da crise o surpreenderam?", perguntei.
*
Martin Wolf - O pouco capital próprio que possuíam os bancos e outras instituições financeiras, para os riscos que assumiam. Captavam dinheiro a curto prazo e o colocavam no longo prazo. Eu tinha voltado toda minha atenção à macroeconomia e não vi o que estava acontecendo com a microeconomia. Esse é o maior erro que cometi em minha carreira. Meu outro erro foi não ter me dado conta de quão fracos e inadequados eram os controles e regulamentos dos bancos.

Que responsabilidade têm os jornalistas nesta crise?
Eles cometeram muitos erros de omissão. Deveriam ter sido muito mais agressivos e rigorosos na fiscalização dos bancos, os reguladores, etc. O problema é que, em geral, os jornalistas sabem pouco de economia e finanças.

Mas os economistas mais renomados tampouco se cobriram de glória. Nem previram a crise nem entraram em acordo quanto a como administrá-la. Quais foram as exceções?
Nouriel Roubini alertou desde cedo sobre as bolhas nos preços de certos ativos financeiros e sua relação com o endividamento e percebeu que essa mistura era explosiva. Robert Shiller analisou melhor que ninguém o que estava acontecendo no setor imobiliário. E Raghuram Rajan soou o primeiro alarme sobre a fragilidade do setor financeiro e explicou como ele estava se convertendo em ameaça à estabilidade global. Na realidade, porém, houve muitos outros. E a verdade é que a economia ortodoxa mostrou não ter utilidade para explicar o que acontece.

Mas os chefes de Estado precisam administrar a situação, mesmo que as recomendações que os economistas lhes dão sejam de qualidade duvidosa. Como o sr. qualifica a administração da crise feita por George W. Bush, Barack Obama, Wen Jiabao e Angela Merkel?
Bush, reprovado. Obama e Wen Jiabao, aprovados. Merkel, aprovada como líder da Alemanha e reprovada como líder europeia.

Mas Obama está sendo criticado ferozmente pelo modo como administra a economia.
De fato. Seus críticos argumentam que a recessão dos EUA deveria ter sido mais curta e a recuperação mais veloz e vigorosa. Mas, com base na experiência histórica e na análise objetiva, a crise que Obama herdou deveria ter causado uma recessão ainda mais profunda que a que houve, e provavelmente até uma forte depressão. Obama conseguiu evitar essa catástrofe, e, desde que a crise começou até agora, a economia americana é a que mais se recuperou, em comparação com as dos outros cinco países mais avançados.

Nesta crise, os chefes dos bancos centrais se transformaram em atores fundamentais. Quem são os melhores banqueiros centrais do mundo?
Ben Bernanke, o diretor do Federal Reserve dos EUA.

Quem mais?
Os outros estão em outra categoria. Bernanke vem fazendo um trabalho excepcional.

Paul Krugman argumenta que uma política monetária e fiscal mais expansiva reduziria o nível de desemprego nos Estados Unidos. Raghuram Rajan pensa que muitos dos empregos que desapareceram na crise não poderão mais ser recuperados --que são produtos de mudanças estruturais e tecnológicas. Quem tem razão?
Os dois. Krugman ao afirmar que os EUA podem e devem fazer mais através de gastos públicos e da política monetária para aumentar o emprego. E Rajan ao dizer que a economia dos EUA se transformou de tal maneira que muitos empregos de antes não vão mais existir e que, a longo prazo, é preciso criar postos de trabalho em outros setores.

Dentro de dez anos, que país vai ter uma economia com mais crescimento, Espanha ou Itália?
Espanha.

E entre China e Índia?
Índia.

Estados Unidos ou Alemanha?
Estados Unidos.

E, já que estamos na Turquia, um país que vem tendo um desempenho econômico espetacular, como o sr. vê a situação aqui?
Insustentável. A Turquia sofre de desequilíbrios econômicos profundos, e seu enorme déficit de conta corrente é um sintoma desse fato.

E a Europa?
Vejo três cenários: mais Europa, mais do mesmo ou reformas limitadas. O primeiro é uma Europa mais federal, o segundo é a Europa das contínuas cúpulas de líderes em que não se decide nada de fundamental ou "grande", e o terceiro supõe que os países vão acordando reformas parciais que permitam ir resolvendo os problemas mais graves; é o que chamo de "o status quo e algo mais". É este o cenário que vejo como o mais provável.

Siga-me no twitter @moisesnaim

Economia brasileira 2012.

LUIZ CARLOS DELORME PRADO, professor do Instituto de Economia da UFRJ e Ph.D em economia pela Universidade de Londres, escreveu esta análise especialmente para a FOLHA DE S. PAULO. 

O Brasil não é uma ilha, e a crise econômica mundial chegou ao país.

A desaceleração da economia brasileira tem duas causas: as ondas de choque da crise econômica internacional e a combinação dos efeitos domésticos da menor expansão do consumo das famílias e da queda dos investimentos públicos e privados.

A crise mundial começou com o crash do mercado imobiliário norte-americano (a crise do "subprime", hipotecas de alto risco) e alcançou a Europa. Afetou, inicialmente, o mercado financeiro e depois as contas públicas dos países mais vulneráveis.

Numa segunda fase, a crise vem ameaçando a existência do euro, mas também levou à desaceleração do crescimento dos Brics, embora de forma diferenciada.

O Brasil respondeu com sucesso à crise nos EUA depois do crash de 2008, com o aumento do consumo doméstico. O aumento da classe média, em decorrência do crescimento econômico e das políticas sociais do governo, favoreceu essa resposta.

Após as famílias terem respondido aos estímulos do governo com grande expansão do consumo -em parte, desperdiçado com uma taxa de câmbio sobrevalorizada-, o endividamento das famílias ficou elevado para as condições brasileiras.

Segundo dados do Banco Central, o estoque de crédito atual é de R$ 2,136 trilhões (maio de 2012), tendo alcançado 50,1% do PIB. Portanto, não há muita margem de crescimento por esse lado.

No momento, não é possível recuperar o crescimento econômico, a curto prazo, por meio de aumento do consumo privado. Resta o aumento do investimento.

O governo tenta aumentar o investimento privado por meio da redução da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), reduzindo o custo dos empréstimos do BNDES.

A resposta a esse estímulo, porém, dificilmente será suficiente para produzir efeitos significativos na economia.

O governo não tem, portanto, outra alternativa a não ser aumentar o gasto público.

As cidades brasileiras precisam de investimento em transporte de massa, há carência de investimento em saneamento, necessidade de reformar e ampliar as estradas e os portos no Brasil. Por diversas razões, no entanto, o governo não tem conseguido aumentar o investimento de sua responsabilidade.

Como última saída, decidiu-se realizar gastos de curto prazo na aquisição de bens e serviços. Segundo a Folha, o governo aumentará as compras em R$ 8,4 bilhões este ano -comprará tratores, ambulância, trens, ônibus etc.

A medida é bem-vinda e necessária. Mas muito pouco e muito tarde.

Consumo e Satisfação.

O colega Guilherme da Luz, editor do site http://www.emprestimo.org/author/guilherme-da-luz, que trata de assuntos como Empréstimo Consignado, Empréstimo Pessoal, Seguro Desemprego, Plano de Saúde, entre outros, escreveu este artigo especialmente para o nosso blog.


Consumo e satisfação - A paixão e a busca incessante da felicidade movem a economia.
           
A ambição é uma paixão. Ela é considerada positiva para os negócios, louvada por significar atitude de constância e determinação. A busca incessante da felicidade, empreendida pelo homem, ser insatisfeito por natureza, é um mecanismo que vem sendo cada vez mais explorado pela mídia e pelos profissionais da publicidade, que sabem atiçar a sede por prazer e novidades, que nunca se extingue no consumidor. Se o dinheiro não existe, sugere-se um empréstimo ou financiamento!

O consumidor busca a satisfação na sua vida pessoal, mas quer ver resultados satisfatórios também na vida pública. Os índices de popularidade do governo são bons exemplos disso. O consumidor se manifesta sobre a política de juros, o peso dos impostos, a perspectiva de inflação ou as políticas econômicas. A opinião dos consumidores e cidadãos pode ser medida pelos índices mais baixos ou mais altos na popularidade do governo.

Muitas vezes o desejo de manifestar ao mundo, aos amigos e a si mesmo a capacidade para expressar convicções acerca de alguma questão pública é o que sustenta o indivíduo a participar diretamente das decisões coletivas e políticas. A mesma paixão com que o indivíduo trata seus interesses privados pode motivar seu interesse pela participação na vida pública. Sua energia pode ser canalizada para temas que lhe tragam satisfação e vitalidade. Até mesmo a decepção é importante para o comportamento, movendo os cidadãos a se integrarem a objetivos coletivos, deixando de lado seu egoísmo.

Existem momentos em que o esforço pelo bem estar coletivo, movido pela paixão, confere um prazer que por si só justifica a luta. Essa “luta” é o esforço para alcançar o objetivo, apesar do sucesso em nenhum momento estar assegurado. Na vida pública, por vários motivos, parece que a própria participação é mais atrativa do que os objetivos a serem alcançados. Seja por vaidade, pela busca da compensação de frustrações na vida privada, ou pelo reconhecimento que o poder confere, o fato de estar em evidência e “lutando” parece trazer felicidade e gratificação. Os esforços em prol da felicidade pública associam-se a uma considerável realização.

A maior parte das pessoas cresce com a sensação de que a realidade existente não pode ser mudada ou que cada um é impotente para fazer ocorrer essa mudança. A percepção de que é possível agir para mudar a sociedade ou melhorá-la e a oportunidade de união com outras pessoas que pensam de forma semelhante é agradável e atrativa. Não é necessário nem mesmo que a sociedade seja mudada em curto prazo, basta agir como se isso fosse possível. Muitas vezes os esforços ou a luta para alcançar os benefícios podem frequentemente passar a serem vistos como parte dos próprios benefícios da ação.

O problema é que os bens coletivos podem ser aproveitados por todos e muitos acomodados e conformistas aproveitam a carona de outros, que se empenham tomando iniciativas. Muita gente se comporta com indiferença, esperando que outros trabalhem. Quantas vezes vemos que o interesse em participar só aumenta quando se oferecem brindes, prêmios, descontos especiais, incentivos como assistência jurídica, auxílio moradia ou planos de saúde.

Como poderíamos interpretar o interesse em trabalhar para conseguir bens que beneficiam a todos, sem que haja retorno material imediato? Do ponto de vistaeconômico, um indivíduo somente fará sacrifícios, com gasto de tempo e dinheiro quando pode usufruir de benefícios diretos em um grupo. Se isso fosse verdade, dificilmente um cidadão, em algum momento, se dedicaria à vida pública sem obter privilégios pessoais com essa atividade. Para a mentalidade empresarial e capitalista, é difícil entender como os resultados podem não ser a gratificação que o indivíduo busca, e que a felicidade pode estar no esforço empregado para alcançá-los, ou na soma desses fatores.

Plano Real: 18 anos.

Clayton, diretamente de Fortaleza, do nosso jornal O POVO, e sua homenagem ao R$. 
 

sábado, 23 de junho de 2012

Marcelo Neri no IPEA?

Leio na FOLHA de hoje que intelectuais do PT criticam a indicação de Marcelo Neri ao IPEA. Lembro apenas que o economista é o nome preferido da presidente Dilma e que, apesar de não constar na lista do colega Adolfo Sachsida http://bdadolfo.blogspot.com.br/search?updated-max=2012-06-08T16:32:00-03:00&max-results=7é um nome bem referenciado.   

Indicado para dirigir o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o economista Marcelo Neri é hoje o nome preferido da presidente Dilma Rousseff ao posto, mas enfrenta resistência da ala desenvolvimentista do governo.
Sugerido ao cargo pelo ministro Moreira Franco (Secretaria de Assuntos Estratégicos), Neri tem o aval do ministro Guido Mantega (Fazenda), egresso da Fundação Getúlio Vargas, tal como Neri.
Apesar do apoio robusto, a reação a ele cresce à medida que a definição do futuro presidente do órgão é protelada.
Economistas do Ipea tradicionalmente ligados ao PT torcem o nariz para a indicação, apesar de Neri, colunista da Folha, ter feito repetidos elogios à política de inclusão social de Lula.
Nos últimos dias, a economista Maria da Conceição Tavares, uma das gurus do pensamento petista, passou a liderar um movimento para emplacar outro titular.
Uma das alternativas é José Carlos Miranda, ex-representante do Brasil no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), mas sem amplo apoio nos bastidores.
Dilma busca um nome de "peso" para comandar o instituto e, segundo interlocutores, vê esse perfil em Marcelo Neri. A expectativa é que a decisão seja tomada a partir da semana que vem.
Por trás da resistência a Neri está uma tradicional rivalidade no mundo acadêmico: o antagonismo entre os economistas da PUC-Rio, liberais, e os da Unicamp, desenvolvimentistas -defensores de uma maior intervenção do Estado na economia.
Do ponto de vista político, o PSDB é adepto da primeira escola, e o PT, da segunda.
Também está no páreo Vanessa Petrelli, presidente interina do Ipea, mas com chances consideradas pequenas.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

A USP é dez!


Afinal, uma ótima notícia hoje na FOLHA.

A USP (Universidade de São Paulo) lidera a lista das melhores universidades latino-americanas, segundo novo ranking publicado nesta quarta-feira (13) pela instituição britânica QS (Quacquarelli Symonds). A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que subiu da 19ª posição em 2011 para a 8ª neste ano, completam a lista das brasileiras no top 10.

Conheça as 10 melhores universidades latino-americanas segundo o ranking da QS.

Top 10 universidades latino-americanas
Posição/2012 Instituição País Posição/2011
1 USP (Universidade de São Paulo) Brasil 1
2 Pontificia Universidad Católica de Chile Chile 2
3 Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Brasil 3
4 Universidad de Chile Chile 4
5 Unam (Universidad Nacional Autónoma de México) México 5
6 Universidad de Los Andes Colombia Colômbia 6
7 Itesm (Tecnológico de Monterrey) México 7
8 UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Brasil 19
9 Universidad de Concepción Chile 12
10 Usach (Universidad de Santiago de Chile) Chile 21

Segundo a QS, foram entrevistados, em todo o continente, mais de 14 mil acadêmicos, assim como 11 mil empregadores. Os rankings levam em conta pesquisa, ensino, empregabilidade de internacionalização.

De acordo com o instituto, a forte presença brasileira é causada por um “esforço nacional” para aumentar o acesso ao ensino superior –o que seria demonstrado pelo fato de as matrículas terem sido triplicadas na última década – e incentivo a pesquisas acadêmicas.

Top 10 universidades - Brasil
Posição 2012
Brasil Posição 2012
Am. Latina Instituição Posição 2011
Am. Latina
1 1 USP (Universidade de São Paulo) 1
2 3 Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) 3
3 8 UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) 19
4 13 UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) 10
5 14 UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) 14
6 15 Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) 31
7 17 Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho) 16
8 18 PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) 15
9 25 UnB (Universidade de Brasília) 11
10 28 PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) 37

Fonte: QS (Quacquarelli Symonds)

Uma nova política econômica?


André de Melo Modenesi, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ) e pesquisador do CNPQ - Rui Lyrio Modenesi, ex-professor da Universidade Federal Fluminense e Norberto Montani Martins, mestrando do IE/UFRJ, escreveram no VALOR ECONÔMICO de hoje sobre a atual política econômica. 

Em 1999, foi adotado no Brasil um regime de política econômica fundado no tripé metas de inflação, câmbio flutuante - com alto grau de mobilidade de capitais - e metas de superávit primário. Grosso modo, a política monetária era hierarquicamente superior às demais: a política econômica focou a estabilização dos preços, que caberia exclusivamente à política monetária - por meio de apenas um instrumento, a taxa Selic. O câmbio deveria flutuar, respondendo à política monetária e aos fluxos cambiais. A política fiscal foi coadjuvante: limitou-se a não criar pressões inflacionárias, mantendo-se restritiva. O crescimento ficou em segundo plano.

O conturbado período entre 1999 e 2003 - marcado pelo ataque especulativo de 1999 e por diversas crises, tanto internas quanto externas - ajudou a validar o tripé junto à sociedade. Criou-se um sentimento de medo, uma convenção de que se tratava da única alternativa. Os formadores de opinião repetiam "ad nauseum" a necessidade de continuar fazendo o "dever de casa". Qualquer correção de rota era repelida pelos investidores - nacionais e estrangeiros - que ameaçavam fugir do país. Assim, o mercado financeiro subjugou a gestão da política econômica e limitou drasticamente suas opções. A crise cambial durante a eleição presidencial de 2002 foi exemplo notório.

O tripé foi mantido rigidamente no primeiro mandato de Lula: as metas de inflação e fiscais eram perseguidas rigorosamente. A flutuação cambial - na ausência de controles de capitais - mantinha o câmbio como principal âncora para a inflação. No segundo governo Lula, começa a haver uma parcimoniosa flexibilização, com o resgate de política fiscal contracíclica e algumas medidas de controle cambial. O Banco Central (BC), por seu turno, foi na contramão, tornando o regime de metas de inflação ainda mais rígido. Criou-se patente falta de coordenação entre as principais instâncias da política econômica: a fiscal era expansionista, a monetária restritiva. A reação à crise do supbrime (2008-2009) foi inusitada: o Ministério da Fazenda estimulava a economia, e o BC subia os juros.

A atuação da Fazenda ampliou-se significativamente após a crise, com o uso de medidas anticíclicas. O maior ativismo na política fiscal se manteve após a superação da fase mais aguda da crise. Após 2010, o foco voltou-se para o câmbio. O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi o principal instrumento para coibir a apreciação cambial e a flexibilidade cambial foi limitada por controles à entrada de capitais. O IOF serviu, também, para desestimular a demanda por crédito, atuando em complemento às medidas de contenção da demanda editadas pelo BC.

A Fazenda adotou, ainda, medidas para prevenir a elevação de certos preços. Ressaltam-se as desonerações tributárias e, principalmente, a linha de financiamento para estocagem de etanol para garantir oferta adequada na entressafra - evitando-se importante pressão inflacionária. Finalmente, destaque-se a alteração dos rendimentos da poupança contribuindo, de forma coordenada com o BC, para a queda dos juros. Note-se, entretanto, a indesejável indexação dos rendimentos à Selic, contrária à imperiosa desvinculação dos ativos financeiros em relação à taxa básica de juros.

As mudanças por parte do BC ocorreram a partir de dezembro de 2010. Primeiro foram elevados os compulsórios, para moderar a oferta de crédito. Adicionalmente, foram tomadas medidas macroprudenciais para também conter o crédito. Finalmente, destaca-se a atuação menos conservadora do BC, que se antecipou e, acertadamente, tomou proveito de janela de oportunidade para impor redução menos gradual e parcimoniosa da taxa Selic. Assim, distanciou-se, ainda que limitadamente, do padrão excessivamente conservador que vinha caracterizando a instituição. Exemplo notório desse conservadorismo ficou conhecido como o erro de Meirelles. Apesar do recrudescimento da crise do subprime e dos claros sinais de desaquecimento da economia, a política monetária foi mantida apertada. Além de favorecer uma queda ainda mais drástica da atividade, perdeu-se boa oportunidade de se reduzir a taxa Selic.

Essa nova postura materializou-se em corte, não previsto pelo mercado, de 50 pontos-base na Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de agosto de 2011. O BC contrariou, frontalmente, o "consenso" de mercado, antecipando em cerca de três meses a redução da Selic implícita no swap de DI. O que gerou pesadas perdas para a maioria dos agentes do mercado de DI, que apostava na manutenção dos juros.

Essa decisão fundamentou-se em quadro inflacionário mais benigno, marcado por: ameaça de recrudescimento da crise europeia; arrefecimento da economia doméstica; e reaproximação da inflação ao centro da meta. Além disso, a Fazenda elevou o superávit primário. A intensidade da reação contrária de muitos analistas - ligados ao mercado financeiro, sobretudo - revela a dificuldade de efetivar-se mudança na política econômica, por mais limitada que seja. É reveladora da força da convenção pró-conservadorismo na política monetária. A firmeza do BC diante da saraivada de críticas recebidas também mostra uma nova postura da instituição, marcada por maior independência em relação ao mercado financeiro.

É inegável que no governo Dilma Rousseff houve uma mudança na política econômica. Entretanto, essa alteração, além de incipiente, é parcial e limitada. Por um lado, o tripé foi, essencialmente, mantido. Assim, não se pode falar em profunda reformulação na política econômica. Por outro, verificou-se atuação mais ativa da Fazenda, sobretudo mais coordenada com o BC, no combate à inflação.

O BC, por sua vez, adotou medidas de controle de crédito, complementares à taxa Selic. É uma clara tentativa de diversificação dos instrumentos de política monetária que resulta do reconhecimento, ainda que tácito, de que a Selic tem limitada eficácia no combate à inflação e que, portanto, seu uso é muito custoso. Trata-se de mudança na direção certa e que deveria ser aprofundada.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Política econômica amanteigada.


Em inspirado editorial n’O Estado de S. Paulo de hoje, a atual política econômica e o alerta para o eterno vício brasileiro da reindexação.

A marolinha foi uma sacada política inteligente do então presidente Lula. Evitou o pânico que retrairia subitamente o consumo. Deu certo por um tempo. Agora as ondas aumentaram. A presidente Dilma Rousseff queixou-se de um tsunami. Algo havia que fazer, mas não muito a ser feito. Adotamos cobertor curto para cobrir santo grande.
O governo quer coisas contraditórias: aliviar alguns impostos e manter a arrecadação. Os escolhidos para ganhar são os que têm lobbies mais fortes, capazes de ameaçar com desastres maiores: mais desemprego, maior frustração ou instabilidade política. A predileta é a indústria automobilística. Nela é sensível a retração do consumo. A ameaça é forte e o lobby, pesado.
O que é melhor, proteger a indústria automobilística ou a de ar-condicionado? A de caminhões ou a de micro-ondas? Numa situação de mercado, todos os produtos são iguais. As preferências dos consumidores é que definirão os vencedores. Na escolha política do governo e das burocracias, alguém diz que é melhor que os carros sejam mais baratos e os refrigerantes e os aparelhos de ar-condicionado, mais caros. Cada um sabe onde lhe aperta o sapato, mas o governo optou por nos dar sapatos com pontos mais apertados e outros mais frouxos.
Voltamos à situação anterior a 1860, quando os pares de sapatos eram simétricos. Os pés direito e esquerdo dos sapatos eram iguais, só que nas pessoas um pé é diferente do outro. Cabia aos usuários deformar os sapatos para adaptá-los ao pé em que quisessem usá-los. Por isso tanta gente tinha bolhas e calos.
As recentes decisões do governo são parecidas. Ajustem seus pés, vocês, que gostam de refrigerantes, micro-ondas e ar-condicionado, porque os impostos desses produtos subirão. Preparem-se os que gostam de automóveis, porque será mais barato comprá-los. Tudo tem consequências que transbordam os limites da decisão. Em troca, uns sentirão mais calor, outros engarrafarão mais as ruas e estradas. Em economia tudo funciona assim: uma decisão tomada aqui repercute lá. Algumas vezes, meses depois.
Quando foi anunciada a decisão de aumentar os impostos dos refrigerantes, o burocrata entrevistado disse que os reajustes serão reavaliados anualmente, em 1.º de outubro, quando os novos valores devem ser anunciados. Sua ressalva foi tão idiota quanto inútil: disse que o fato de o governo elevar os impostos não significa, necessariamente, que produtores e comercializadores tenham de aumentar os preços para os consumidores. Idiota porque o que ele já adiantou é que o governo prevê a inflação em velocidade que demandará uma avaliação anual para aumentar os impostos. Inútil porque, se os produtores sabem que o governo lhes vai apertar o sapato dos impostos, eles repassarão o aperto aos clientes, nos preços. O aspecto mais sério da decisão foi anunciar, com 16 meses de antecedência, que em 1.º de outubro de 2013 o governo anunciará qual vai ser o aumento do imposto.
Foi dada a partida oficial para o vício da reindexação. Ela nunca foi totalmente abandonada, mas estava mais moderada e envergonhada. Escondia-se debaixo das diversas siglas dos índices de preços: IPCA, IGPM, IPA, INPC, ICC, Selic e outras. Não havia um índice de inflação mensal que passasse a mensagem de que todo mundo podia (podia ouvido como devia) aumentar o preço de seus tomates ou microscópios eletrônicos na mesma proporção.
Aumentar impostos para desestimular o consumo é uma política, em geral, fadada ao fracasso. Os produtos valem o que as pessoas querem pagar por eles. Se o imposto for alto, mas o desejo for maior, o consumidor compra mesmo. Já baixar os impostos funciona, porque as pessoas que desejam muito sabem que terão o prazer que querem por um preço mais baixo. A escolha não será entre consumir um ou outro, mas, sim, entre como e em quanto se endividar para comprar o que se quer.
A beleza do mercado é que milhões de pessoas mandam mensagens aos produtores dizendo o que querem comprar e a que preço; e o que não querem pelo preço que produtores estão cobrando. As consequências são inequívocas: sucesso para quem vende o que as pessoas querem pelo preço que elas estão dispostas a pagar e crise ou falência para os produtores ou vendedores que não se ajustam aos desejos dos consumidores.
Quando o governo passa a bulir com essas coisas, começam os desequilíbrios. Mutretas econômicas têm consequências de longo prazo, impossíveis de antecipar ou simular, mesmo nos computadores mais sofisticados.
É claro que os produtores já vão começar a equipar seus departamentos de compras e vendas para ajustar os preços de acordo com o fiat governamental, independentemente dos custos de produção ou dos desejos dos consumidores. Foi dada, de fato, a partida para a indexação. Daqui para a frente, outros setores dirão que querem a mesma coisa para que se possam planejar melhor. Recomeçaremos a ciranda de preços e reaparecerão as maquinetas remarcadoras de etiquetas, em versão mais moderna, para acompanhar a inflação que o governo já decretou que haverá e de quanto será, da perspectiva governamental.
Os preços têm, entretanto, uma capacidade fantástica: andam sempre mais rápido do que os calculadores da inflação. Entre mortos e feridos se salvarão todos, mas as escoriações generalizadas, as fraturas e os danos mais sérios não serão contabilizados. O nome do jogo, a partir dessa decisão, passa a ser outro: vamos escorregar na manteiga, ladeira acima.
Tomara que os historiadores mais inspirados não se esqueçam de chamar os anos vindouros, de consequências previsíveis, mas inevitáveis, de política econômica amanteigada. Só que não tão gostosa quanto os biscoitos homônimos de Petrópolis.

Gasto acima, investimento abaixo.


Editorial do Valor Econômico alerta que gasto cresce acima do PIB, enquanto cai o investimento público.

Basta uma rápida olhada nas contas do Tesouro Nacional relativas ao primeiro quadrimestre deste ano para constatar que o governo está gastando bem mais do que no ano passado. De janeiro a abril deste ano, as despesas do Tesouro cresceram 5,7% acima da expansão estimada da economia, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Fazenda. No mesmo período de 2011, o ritmo era bem mais lento. A despesa total do Tesouro crescia menos do que a economia e até abril do ano passado foi 2,4% menor do que o crescimento nominal do Produto Interno Bruto (PIB).
É um equívoco, portanto, achar que o superávit primário obtido pelo governo federal de janeiro a abril deste ano seja resultado do corte ou de um controle do gasto. Ele resultou principalmente do forte crescimento das receitas. Até agora, o governo Dilma Rousseff só conseguiu controlar o gasto com o funcionalismo público, que caiu 0,24% do PIB nos quatro primeiros meses deste ano, em comparação com igual período do ano passado. Todas as demais despesas correntes cresceram. E muito.
Há, no entanto, um fato que merece atenção. Os investimentos totais feitos pela União (incluindo os três Poderes) nos quatro primeiros meses deste ano atingiram R$ 21,1 bilhões, sendo que, deste total, R$ 7,1 bilhões foram gastos com os subsídios do programa habitacional Minha Casa Minha Vida (MCMV). Embora seja uma típica despesa corrente, a medida provisória 561, editada este ano, oficializou a inclusão dos subsídios do Minha Casa Minha Vida na rubrica de investimentos.
Antes de tudo, é preciso entender o que vem a ser a despesa pública com o MCMV. Como o programa habitacional se destina às faixas da população de mais baixa renda, as moradias produzidas são financiadas com taxas de juros subsidiadas pelo Tesouro. A despesa do Tesouro, portanto, é com a equalização da taxa de juros, nos mesmos moldes daquela praticada com os empréstimos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). No PSI, o BNDES oferece linhas de créditos para investimentos e compras de máquinas e equipamentos com taxas de juros subsidiadas pelo Tesouro.
O governo Dilma resolveu considerar os subsídios concedidos no âmbito do MCMV como investimento, mas não fez o mesmo com os subsídios do PSI que, a rigor, estão muito mais relacionados com investimentos produtivos. O governo também não considerou investimento, por exemplo, os subsídios concedidos à agricultura, que só nos primeiros quatro meses deste ano atingiram R$ 4,1 bilhões, segundo dados do Tesouro. As despesas com subsídios e subvenções são classificadas na Lei nº 4.320, que estabelece normas para a elaboração e controle dos orçamentos, como gastos correntes e não como investimentos.
Essa nova forma de contabilidade do MCMV mascara o que efetivamente ocorreu com os investimentos públicos neste início do ano. Se a despesa com o MCMV for excluída, os investimentos totais da União atingiram apenas R$ 14 bilhões de janeiro a abril. No mesmo período de 2011, os investimentos totais ficaram em R$ 16,4 bilhões. Excluindo a despesa com o MCMV de R$ 1,9 bilhão, o investimento efetivo foi de R$ 14,5 bilhões. Isto significa que os investimentos nos primeiros quatro meses deste ano caíram 3,4% em termos nominais, na comparação com igual período do ano passado.
É importante observar que o investimento público vem caindo desde o início do governo Dilma Rousseff, mesmo com o discurso oficial favorável a privilegiar esse tipo de gasto e das medidas anunciadas para melhorar a gestão pública. Em 2011, a queda em comparação com o ano anterior foi de 0,2 ponto do PIB. Os dados disponíveis mostram que este ano não será diferente. Talvez seja até pior.
Como a presidente Dilma garante que não faltam recursos para os investimentos em infraestrutura de transporte, energia e para o saneamento básico, a conclusão a que se chega é que os gestores públicos não conseguem desatar o grande nó dos entraves burocráticos, constituídos pela demora no licenciamento ambiental, pelas custosas desapropriações necessárias para os projetos de logística, pelos péssimos projetos de engenharia e pela rigidez da lei de licitação.
Fica cada dia mais claro que o Brasil precisa avançar nas concessões dos serviços e obras públicas à iniciativa privada, sem o que a infraestrutura do país não vai melhorar.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

PIB é uma medida incompleta e até enganosa da riqueza.


Entrevista na FOLHA DE S. PAULO do economista e professor da USP Ricardo Abramovay, que lança, durante a conferência Rio+20, seu novo livro, "Muito Além da Economia Verde", pela Editora Planeta Sustentável.

Em seu livro, o sr. coloca a questão dos limites dos ecossistemas. Em que áreas isso está mais evidente?
Ricardo Abramovay - Os trabalhos internacionais sobre limites, sobretudo do Johan Rockström [professor da Universidade de Estocolomo], bem como vários documentos da ONU, mostram que já ultrapassamos fronteiras ecossistêmicas.
Isso ameaça a vida em três áreas: mudanças climáticas, biodiversidade e ciclo do nitrogênio [importante para dejetos e fertilizantes, por exemplo], o que é muito preocupante para países de produção agrícola como o Brasil. As perspectivas de crescimento no uso de materiais, minérios e combustíveis também preocupam.

Há chance de avançarmos em um novo sistema econômico, que leve em conta esse esgotamento dos recursos?
Um dos resultados factíveis da Rio+20 será reconhecer que o PIB é uma medida errada sobre o modo como as sociedades usam os recursos para seu desenvolvimento.
O PIB não é só incompleto. Ele é incapaz de distinguir aquilo que produz bem-estar daquilo que produz mal-estar para as pessoas. Os ganhos de eficiência no uso de materiais e energia decorrentes do progresso tecnológico têm seu papel, mas é óbvio que não vai dar para fazer frente à pressão por crescimento.

A noção de "economia verde" proposta pela ONU responde a esse desafio?
Continuar com o "business as usual" e tentar "esverdear" setores que utilizam mal os recursos naturais, como o setor automobilístico, de petróleo e a agroindústria, não é uma opção. A economia global terá de se reinventar, pois já não basta gerar empregos, pagar impostos e criar produtos e serviços. A nova economia terá de prover bem-estar às pessoas, para que o futuro não seja espartano por causa dos limites do planeta.

Qual seria o primeiro passo no sentido de sair do paradigma do crescimento econômico para outro modelo?
Um passo que está sendo dado é a produção de conhecimento. Nós sabemos que estamos diante de uma situação grave. Há um crescimento populacional imenso, de 80 milhões de pessoas por ano, e o consumo também cresce. A questão é como fazer esse conhecimento sobre os limites do planeta entrar nas empresas e entidades governamentais.
São transformações que terão de emergir de novas coalizões sociais. Outro passo seria um consenso internacional de que precisamos incorporar ao sistema de preços os danos que o sistema econômico provoca na sociedade e nos ecossistemas. O mundo subsidia os combustíveis fósseis seis vezes mais do que as energias renováveis.

O Brasil, pode prescindir do crescimento econômico?
O Brasil ainda precisa de crescimento econômico, mas esse crescimento não pode ser nos moldes tradicionais, alavancado por setores como indústria automobilística e agronegócio. Precisamos de mais hospitais, escolas, transporte coletivo, saneamento. Isso exige atividade econômica, que vai se expressar em crescimento. O que não podemos é continuar estimulando setores que fazem mau uso dos recursos naturais. 

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Casa do Saber - Rio de Janeiro.


O convidado é o diretor de teatro e novelas, Moacyr Goés, é o palestrante do mês de junho do ciclo Liberdades promovido pelo Instituto Millenium. Na palestra, que tem o tema “Liberdade e servidão consentida”, Goés falará sobre a lacuna que separa o processo criativo do mercado. Uma das questões do debate será a influência do mercado sobre a arte e vice-versa. O evento acontece na próxima segunda-feira, 4 de junho, na Casa do Saber, no Rio de Janeiro.

O ciclo Liberdades teve inicio em abril, com a palestra do jornalista e escritor Guilherme Fiuza. O segundo encontro aconteceu no dia 7 de maio com o advogado e procurador do Estado, Gustavo Binenbojm, que abordou a “Liberdade Jurídica”.

Inscreva-se respondendo esse e-mail com seu nome completo. Você também pode enviar o nome de seus amigos que também tenham interesse em assistir à palestra.

Serviço
Ciclo Liberdades
Local: Casa do Saber – Avenida Epitácio Pessoa, 1.164 – Lagoa Rio de Janeiro
Horário: 18h
Informações:             (21) 2227-2237       ou www.imil.org.br

O desarme da política monetária cria sério risco.


Editorial de hoje do ESTADÃO bastante preocupado com o rumo da atual política monetária. 

Embora a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de fixar a mais baixa taxa Selic na história do organismo (8,5%) não tenha surpreendido o mercado, que a previa, ela merece reflexões.

O comunicado final da reunião voltou a repetir o anterior, mas é justamente isso que traz apreensão. O comunicado considera que, "neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação" e acrescenta que, "até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária". Note-se que as duas afirmações são acompanhadas por duas condicionantes: "neste momento" e "até agora". Falta, portanto, explicitar o que poderia introduzir mudanças no quadro atual.

Os riscos de uma mudança da trajetória da inflação são, certamente, vinculados ao efeito que poderia ter uma desvalorização significativa da taxa cambial. Até agora, a causa principal da desvalorização tem sido o voluntarismo do governo, com medidas restritivas sobre a entrada de divisas estrangeiras. É necessário saber que a desvalorização poderia tomar uma dimensão maior se, de repente, o fluxo de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) caísse fortemente e se a captação de recursos no exterior secasse. Neste caso, o déficit das transações correntes não sendo mais coberto por fluxos financeiros, poderíamos assistir a uma magna desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar, o que, numa economia fortemente dependente da importação, não deixaria de ser transmitida aos preços. Basta pensar no efeito que teria em nossa economia um reajuste grande do preço da gasolina.

O Copom assinala que, até agora, a contribuição do setor externo tem tido efeito desinflacionário. Uma retomada da atividade em países como os Estados Unidos e a China poderia mudar totalmente esse panorama. A recuperação norte-americana pode se acelerar com o fim da campanha eleitoral e a China pode ter sucesso na sua tentativa de dar novo impulso ao seu mercado interno. Nesses dois casos, poderá ocorrer uma alta dos preços das commodities, com repercussão sobre a nossa taxa de inflação.

Assim, ao verificarmos que a nova política monetária até agora não teve efeitos sobre a atividade econômica - como comprovam os dados sobre a produção industrial de abril, divulgados ontem - e que não estamos conseguindo realizar o mínimo de investimentos públicos necessários como base para o crescimento, podemos nos preocupar com o desarme atual da política monetária.

Economia em Belém.




O centenário da Crise da Borracha na Amazônia será o tema principal da sexta edição do Encontro de Entidades de Economistas da Região Norte (ENAM), que acontecerá de 6 a 8 de junho de 2012, em Belém. O evento com o tema “1912 – 2012 Cem Anos da Crise da Borracha: Do Retrospecto ao Prospecto” tem como público-alvo profissionais e estudantes de economia, gestores e servidores públicos, empresários, vestibulandos e demais interessados.

Durante o evento serão debatidos temas como: os grandes projetos energéticos e o desenvolvimento na Amazônia, os grandes projetos na Amazônia e seus impactos no desenvolvimento regional, infraestrutura, transporte e logística na Amazônia, a questão da produção do conhecimento regional e a biodiversidade, dentre outros.

O VI ENAM está sendo promovido pelo Conselho Regional de Economia do Estado do Pará (CORECON-PA), em parceria com o Conselho Federal de Economia (COFECON) e com os Conselhos Regionais do Norte.

As inscrições para participar do VI ENAM poderão ser efetuadas, através dos e-mails: astec@coreconpara.org.br ou ascom@coreconpara.org.br ou na sede da Casa do Economista, localizada na Rua Jerônimo Pimentel, 918. Inscrição: 1 kg de alimento não perecível. Mais informações: (91) 3223-1988 ou (91) 3222-6917

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Projeções para o PIB caem mais com economia fraca


No Valor, em 22/5/12, notícia sobre o PIB brasileiro. Recebi o texto do grupo de Economia Política.

Já não há mais dúvida de que o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, a ser anunciado no início do próximo mês, não será nada animador. A economia está devagar e são poucas as chances de o crescimento deste ano superar em muito os fracos 2,7% de 2011.

Uma previsão desse cenário nada auspicioso foi vislumbrada no comportamento do Índice de Atividade Econômica do Banco Central, chamado de IBC-Br, divulgado sexta-feira, que assustou até os mais pessimistas. Concebido como indicador antecedente do PIB, o IBC-Br caiu 0,35% em março em relação a fevereiro, a terceira queda consecutiva, acumulando crescimento de apenas 0,15% no primeiro trimestre em relação ao último trimestre de 2011 na série com ajustes sazonais; e de 1,06% frente a igual período de 2011, sem ajuste.

Espera-se que o PIB do primeiro trimestre seja um pouco melhor, mostrando expansão de 0,3% a 0,4%, mas não o suficiente para sustentar a meta do governo de que a economia cresça 4,5% neste ano nem a do Banco Central, de 3,5%. Até o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está mais conformado e já admite que um crescimento igual ao de 2011, de 2,7%, já seria "muito bom". No mercado financeiro, há consultorias esperado índices ainda menores.

O primeiro sinal de alerta foi o comportamento da produção industrial, que diminuiu 3% no primeiro trimestre em comparação com igual período de 2011, com retração em 15 dos 27 setores industriais pesquisados. A maior queda foi na fabricação de veículos automotores, que recuou 20,4% em comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Na comparação anual, também diminuiu a produção de máquinas e materiais elétricos (12,1%), material eletrônico e equipamentos de comunicações (13,1%), máquinas para escritório e equipamentos de informática (12,7%), borracha e plástico (5,1%), têxtil (7,5%) e vestuário e acessórios (14,1%).

O setor de veículos voltou a convencer o governo de que precisava de ajuda, com estoques equivalentes a 43 dias de vendas no fim de abril e queda de 3,4% das vendas no primeiro quadrimestre. Ainda ontem foram anunciadas medidas de estímulo. Apesar da arrecadação inferior à esperada neste início de ano, o governo reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de automóveis e utilitários e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) do crédito para pessoas físicas. Além disso, diminuiu o recolhimento compulsório dos bancos para aumentar a oferta de financiamento para aquisição de veículos.

Já as vendas no varejo começaram o ano bem, graças às medidas de estímulo do governo ao setor de eletrodomésticos da linha branca e móveis e ao aumento da renda das famílias. O chamado varejo restrito, excluído o desempenho de automóveis, peças e material de construção, cresceu 0,2% em março em relação a fevereiro e 4% em comparação com o último trimestre de 2011. A principal sustentação do consumo das famílias está no ganho real de renda, que cresceu 5,6% em março em comparação com igual mês de 2011, uma vez que a oferta de crédito está contida pela inadimplência e endividamento elevados. Já o varejo ampliado teve aumento de 0,6% entre março e fevereiro, graças ao desempenho do setor de material de construção, que neutralizou a queda de 1,4% das vendas de veículos no mês e de 0,3% no trimestre.

A massa salarial, combinação de variação do nível de emprego com a renda real, cresceu 6,2% acima da inflação nas seis principais regiões metropolitanas no primeiro trimestre em comparação com igual período de 2011. O que explica essa expansão em um momento em que a economia rateia é o aumento do salário mínimo e da remuneração de trabalhadores de setores que não sofrem a concorrência externa, como a construção civil.

Esperava-se que a economia se recuperasse a partir do segundo trimestre. No entanto, o recrudescimento da crise na zona do euro não autoriza maiores expectativas. A piora na região, com a cada vez mais provável saída da Grécia, e a falta de consenso entre os líderes mundiais entre estimular o crescimento da economia ou fazer pé firme na austeridade vai repercutir no resto do mundo. A crise internacional vai prejudicar a expansão das exportações brasileiras, especialmente de manufaturados, e, se for muito intensa, corta a oferta de crédito, como aconteceu em 2008. Com reservas internacionais elevadas e um sistema financeiro relativamente sólido, o Brasil está preparado para aguentar a onda de choque. Além disso, tem espaço para cortar mais os juros - e tudo indica que irá fazer isso. Mas não há como passar incólume a esse novo solavanco.

terça-feira, 22 de maio de 2012

O necessário equilíbrio.


Antonio Delfim Netto, hoje no Valor Econômico e a sua visão do “programa nacional” brasileiro. 

Neste momento de incerteza em que parece que o país não tem rumo, que parece viver de pequenos expedientes e no qual se exige um "coerente programa nacional em que o Brasil explicite com clareza o que quer de si mesmo", é bom lembrar que ele existe. A Constituição tem, ínsita, uma linha de desenvolvimento político, social e econômico que, com as dificuldades naturais, vem sendo seguida. Afinal, que tipo de sociedade os brasileiros escolheram para viver através dos seus constituintes? Não é coisa fácil de definir porque a Constituição é extremamente analítica, mas podemos definir o seu "espírito original" em três grandes vetores:

1) uma sociedade republicana em que todo cidadão, independente de sua origem, cor, credo, gênero, educação ou patrimônio, obedecerá à mesma lei, à qual se submeterá, inclusive, o Estado; 2) uma sociedade democrática, controlada pelo sufrágio universal com voto secreto, amplo e irrestrito no qual, em princípio, quem vota pode também ser votado; 3) um Estado forte, mas constitucionalmente controlado, que garanta o funcionamento de uma sociedade aberta, onde os indivíduos têm plena liberdade para iniciativa lícita e podem apropriar-se dos seus benefícios; com poder para regular a organização econômica que sustenta o uso dos mercados na alocação de bens e serviços; e com poder para ir ampliando a construção de uma sociedade onde cada vez mais adquire significado concreto a igualdade de oportunidades. É preciso dizer que diante desse programa civilizatório não há a menor dicotomia entre Estado e mercado.

Para entender porque os economistas podem ser úteis, não no estabelecimento desse objetivo, mas na facilitação da sua realização é preciso reconhecer que a condição preliminar para atingi-los é o aumento da produtividade do trabalho, que encolhe o tempo necessário do homem para construir sua sobrevivência física e expande o tempo disponível para que ele conquiste a sua humanidade. O desenvolvimento é apenas o instrumento que, eventualmente, tornará possível ao homem realizar-se plenamente.

O problema é que, por maior que sejam nossos desejos e por melhor que sejam as "instruções" da Constituição para a construção do nosso processo civilizatório, há realidades físicas que obstruem a sua marcha e decisões políticas que podem acelerá-la ou retardá-la. Para entender isso observe-se o gráfico abaixo, já publicado nesta coluna uma meia dúzia de vezes, ao longo dos últimos 12 anos. Numa simplificação radical ele revela a essência do processo de desenvolvimento numa economia fechada. Da população total (N) extraímos a população economicamente ativa (com seu nível de educação e saúde) e, dela, a Força de Trabalho (L), os que podem e querem trabalhar. Esses, usando o Estoque de Capital (K), que é trabalho do passado congelado na forma de infraestrutura, máquinas etc. produzem o PIB. É fato empírico bem comprovado que a "produtividade" da combinação do capital (K) com o trabalho (L) depende, dentro de certos limites da intensidade da relação entre eles (K/L), ou seja, da quantidade de capital (K) de que dispõe cada unidade da mão de obra (L).

Trata-se, obviamente, de uma metáfora não mensurável que permite entender que o tamanho do PIB depende do estoque de capital (K), da disponibilidade do trabalho (L) e da sua "produtividade" (K/L). A velocidade do processo é determinada pelo ritmo de crescimento do capital com relação ao do trabalho. Há, portanto, uma clara relação entre o ritmo possível do consumo e a velocidade desejada de crescimento.

Até aqui o processo é puramente físico e a economia tem muita coisa útil para dizer e ensinar sobre ele. Uma vez produzido, entretanto, a distribuição do PIB entre o consumo que volta para a população (N) e o investimento que retorna ao estoque de capital (K) para repor o capital consumido na produção (depreciação) e aumentá-lo, é um processo político. Nas democracias ele é resolvido nas urnas. Nos regimes autoritários pelo arbítrio, fora do alcance da economia e dos economistas. O que esses podem fazer é apontar os inevitáveis resultados práticos das escolhas políticas e o nível de sua coerência no longo prazo com os objetivos estabelecidos pela sociedade.

Não é preciso ser um físico quântico para compreender que sem um equilíbrio entre o consumo e o investimento, o sistema não tem energia para se manter funcionando adequadamente. Quando há ênfase exagerada no consumo (como no Brasil) ou no investimento (como na China) o sistema perde funcionalidade no longo prazo. Chega a hora de mudar. O Brasil precisa dar ênfase ao investimento e às exportações sem recuar na inserção social. A China precisa reduzir os investimentos e a exportação para dar ênfase ao consumo.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...