quarta-feira, 5 de outubro de 2011

STEVE JOBS: 1955 - 2011



Steven P. Jobs, the visionary co-founder and former chief executive of Apple, has died at 56.
Apple said in a press release that it was “deeply saddened” to announced that Mr. Jobs had passed away on Wednesday.
“Steve’s brilliance, passion and energy were the source of countless innovations that enrich and improve all of our lives,” the company said. “The world is immeasurably better because of Steve.
Mr. Jobs stepped down from the chief executive role in late August, saying he could no longer fulfill his duties, and became chairman. He underwent surgery for pancreatic cancer in 2004, and received a liver transplant in 2009.
Rarely has a major company and industry been so dominated by a single individual, and so successful. His influence went far beyond the iconic personal computers that were Apple’s principal product for its first 20 years. In the last decade, Apple has redefined the music business through the iPod, the cellphone business through the iPhone and the entertainment and media world through the iPad. Again and again, Mr. Jobs gambled that he knew what the customer would want, and again and again he was right.
The early years of Apple long ago passed into legend: the two young hippie-ish founders, Mr. Jobs and Steve Wozniak; the introduction of the first Macintosh computer in 1984, which stretched the boundaries of what these devices could do; Mr. Jobs’s abrupt exit the next year in a power struggle. But it was his return to Apple in 1996 that started a winning streak that raised the company from the near dead to its current position. This summer, Apple briefly exceeded Exxon Mobil as the most valuable United States company.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Dilma Rousseff, no comando do BC.


Outro editorial do “O Estado de S. Paulo” nesta data sobre “Dilma Rousseff, no comando do BC”.

A presidente Dilma Rousseff assumiu oficialmente o comando do Banco Central (BC) e a política de juros é agora decidida no Palácio do Planalto. O plano do governo para 2012 é baixar a taxa básica para 9%, porque "ainda há margem de manobra" para novos cortes, segundo informou ao Estado o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. A conversa, com participação de dois outros membros do primeiro escalão do Executivo, foi bastante clara para eliminar qualquer dúvida: há um plano traçado no Palácio do Planalto e a decisão final caberá à presidente

Ressalvas quanto ao ritmo dos cortes - determinado com "prudência", segundo o secretário - em nada alteram o dado principal. A autonomia de fato do BC, adotada nos anos 90 e mantida nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é uma experiência encerrada, embora ninguém, na administração federal, o admita de forma explícita. Não há outra forma de entender as declarações do secretário-geral nem os pronunciamentos da presidente Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, desde a última semana de agosto.

Esses pronunciamentos foram logo seguidos pelo anúncio da redução dos juros, decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A aparente dissidência - a decisão foi tomada por 5 votos contra 2 - até poderia ser interpretada como sinal de permanência da autonomia de fato. Em pouco tempo as palavras do ministro e da presidente confirmaram a interpretação oposta. Eles continuaram falando sobre os cortes de juros como se apontassem o caminho ao BC. E, na sexta-feira, a presidente foi absolutamente explícita - mais do que pretendia, provavelmente - ao defender a redução da taxa básica como resposta ao agravamento da crise internacional. "Desta vez", disse ela, "o Brasil não pode errar na avaliação do quadro externo." Não seria "admissível", acrescentou, deixar de levar em conta o risco de recessão e de deflação no resto do mundo. Não é o tom de quem apenas manifesta um desejo, mas de quem transformou o Banco Central em mais um instrumento da política econômica do governo.

Ontem, o ministro da Fazenda voltou a falar sobre as medidas possíveis diante de uma piora do cenário global e mencionou novos cortes de juros e redução do depósito compulsório dos bancos. Usou o pronome "nós", ignorando qualquer separação relevante entre o BC e o comando do Executivo.

Além de comandar a redução dos juros, a presidente da República decidiu também, segundo todas as evidências, afrouxar o regime de metas de inflação. Sem usar essas palavras, o BC admite o fato num relatório trimestral divulgado na semana passada. Pelas projeções publicadas, a inflação acumulada em 12 meses só voltará ao centro do alvo (4,5%) no terceiro trimestre de 2013 - mas essa hipótese, a mais otimista, só aparece num dos três cenários apresentados.

O afrouxamento do combate à inflação será adotado num período de eleições municipais, com salários em alta e sem garantia, além de meras promessas, de efetiva austeridade fiscal. Ao mesmo tempo, o Executivo embarca em políticas protecionistas muito mal disfarçadas, com o pretexto de tornar mais competitivos certos setores da indústria nacional. Medidas efetivas para promover esse aumento de competitividade permanecem na esfera das promessas e de planos muito mal esboçados.

Bons argumentos a favor de uma política monetária mais branda poderiam surgir em breve, com o provável agravamento da crise no mundo rico. O primeiro passo poderia ser a redução do depósito compulsório, para ampliação do crédito. Vendas de dólares, como em 2008, poderiam ser um complemento, em caso de escassez de financiamentos em moeda estrangeira. O BC tomou medidas como essas no início da grande crise, há três anos, e foi muito mais eficiente, na ação imediata, do que o Ministério da Fazenda - ao contrário da versão cultivada no Palácio do Planalto. Mas o governo preferiu agir às pressas, impondo ao BC uma ação arriscada, alimentando a expectativa de inflação e desmontando a credibilidade do regime de metas e da autoridade monetária. Esse retrocesso pode sair muito caro para o País.

A desvalorização do real e a nova política de câmbio.


Editorial do “O Estado de S. Paulo” de hoje sobre “a desvalorização do real e a nova política de câmbio”.  

Nas últimas semanas ocorreu uma modificação importante no fluxo cambial, que passou a depender muito mais do saldo comercial do que do saldo financeiro, uma vez que as entradas de recursos financeiros estão menores do que as saídas.
Com a crise que atravessam os países do Primeiro Mundo, as captações de recursos externos tornaram-se muito mais difíceis no 3.º trimestre do ano. Levando em consideração o montante das captações (emissões de bônus, empréstimos sindicalizados, pré-pagamentos das exportações e operações do Tesouro Nacional), verifica-se que, de US$ 16,3 bilhões, no 2.º trimestre, elas caíram para US$ 5,2 bilhões, no 3.º trimestre - o valor mais baixo registrado desde o 1.º trimestre de 2009.
Isso não pode ser atribuído à queda da liquidez nos Estados Unidos, pois o Fed (o banco central americano) ofereceu grande liquidez por meio da recompra dos papéis do Tesouro norte-americano.
Sem dúvida, os bancos europeus é que tiveram dificuldades para emprestar, por causa da situação apertada em que vivem, a exigir reforço de capital. O que esse forte recuo das captações parece indicar é uma aversão ao risco em relação ao Brasil, levando em conta que o endividamento do País se mostra muito elevado, na medida em que foi bastante rápido.
É importante considerar que, em termos internacionais, os empréstimos externos têm um prazo médio pequeno (menos de 7 anos) e que os investimentos estrangeiros, que continuam importantes, estão dando origem a grandes remessas de lucros e dividendos neste período em que as matrizes das empresas estrangeiras precisam de recursos vultosos.
As medidas tomadas pelo governo brasileiro afastaram as operações com títulos de renda fixa, que representavam um mecanismo regular de entrada de capitais externos.
A perspectiva de uma queda do preço das commodities - que permitiram que o Brasil aumentasse sensivelmente suas exportações - alimenta, agora, entre os bancos, certa prudência, que poderá levar o governo a rever algumas medidas adotadas na área cambial.
De fato, a desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar (além da própria valorização da moeda norte-americana) reflete mais a evolução do balanço de pagamentos do que os efeitos das medidas tomadas pelo governo.
No mercado internacional, a visão prospectiva da situação da economia brasileira é de uma taxa de crescimento menor e uma inflação mais elevada, o que alimenta a aversão ao risco.

Metas inflacionárias.


Antonio Delfim Netto, professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento, escreveu hoje no VALOR sobre “Metas inflacionárias”.

Para tornar a política econômica mais eficaz e útil, é preciso ter presente que somos constrangidos pelos limites impostos por uma Constituição legitimamente construída em 1988 e que pretende: 1) ser republicana, onde todos, inclusive o poder incumbente, devem obedecê-la; 2) ser democrática, onde o poder é escolhido livremente (e dispensado!) pelo sufrágio universal; e 3) ter como seu objetivo último uma relativa e crescente "justiça social", que deve manifestar-se no aumento contínuo da igualdade de oportunidade para os cidadãos. Em outras palavras, é necessário entender a economia como imersa na sociedade e sujeita às suas prioridades.
A igualdade de oportunidade é objetivo fácil de ser enunciado, mas esconde enormes problemas conceituais e práticos. De qualquer forma, deve começar com a chance de todo cidadão ganhar a vida com o seu esforço. De todos os desperdícios de recursos naturais de uma sociedade, nenhum é mais injusto, mais prejudicial à integração social e à autoestima do cidadão, do que negar-lhe a oportunidade de viver honestamente e sustentar a família com o resultado de seu trabalho.
É por isso que a construção de uma sociedade mais "justa" começa pela maximização do nível de emprego disponível. Obviamente, não se trata do emprego de todos ao mesmo tempo. Nossa organização econômica tem íncita um dinamismo próprio, estimulado pela mudança das preferências dos consumidores e pelo desenvolvimento tecnológico, que exige permanente adaptação da estrutura produtiva: algumas atividades entram em declínio e cedem recursos (mão de obra inclusive) para outras, que atendem melhor à "nova e mutante" estrutura da demanda. O processo não é instantâneo, nem isento de custos e riscos.
Nunca há equilíbrio: simplesmente a passagem de uma situação, às vezes "pensada" como equilíbrio, para outra, que também não será de "equilíbrio", ainda que possamos "pensá-la" como tal. Esse "tempo de acomodação" gera um desemprego friccional que a sociedade "justa" tem que socorrer, com as políticas sociais do Estado.
É dessa concepção do mundo que nasceu a divergência entre duas "escolas" de pensamento econômico, diante da evidente existência e persistência do desemprego: 1) de um lado, os que acreditam que, no longo prazo, o desinibido funcionamento dos mercados produzirá, por si mesmo, sem a intervenção externa do Estado, um ajustamento, a despeito de não se saber bem o que é "longo prazo" e de reconhecer que o processo pode ter armadilhas e defasagens temporais com relação ao emprego; e 2) do outro, os que não acreditam que o sistema de mercado seja capaz de produzir, por si, a redução do desemprego, em geral gerado por deficiência da demanda agregada, para levar à plena utilização da capacidade produtiva.
A economia, se for alguma coisa, é uma ciência social. Tenta entender um universo mutante, onde todas as "constantes" são "variáveis" e, não importa qual a potência da metodologia usada para torturar o passado para que ele revele o futuro, este continua opaco. Como não é possível construir experimentos críticos capazes de discriminar entre as duas visões, é claro que ambas envolvem larga dose de ideologia. É fato conhecido que nas ciências sociais as preferências não reveladas de pesquisadores, que se supõem "neutros", influenciam os seus resultados.
A despeito dessa divergência (no tempo, cada lado já trocou da posição de ortodoxo para heterodoxo, de acordo com o "espírito do mundo"), o conhecimento de como funciona a organização econômica da sociedade e de como se comportam seus agentes - e de como reagem à ação do governo e dos efeitos não intencionais que ela acaba produzindo- tem crescido de maneira importante e revelado equívocos e exageros de ambas as partes.
A evolução da economia, desde a crise de 2007, e as tentativas de superar a crise financeira que atingiu o setor produtivo, consolidaram a ideia que o sistema de economia de mercado, deixado a si mesmo e, pior, contaminado por inovações financeiras que têm papel duvidoso para o desenvolvimento econômico, não tem nenhuma condição de se autocorrigir.
Por outro lado, as políticas econômicas sugeridas pelos que não acreditam na autocorreção do mercado mostraram sérias limitações. A conclusão é que, apesar das evidências mostrarem que na atual conjuntura esperar um autoajuste do mercado é absurdo, isso não autoriza liberdades com a política econômica.
As políticas fiscal, monetária e cambial do governo parecem estar na direção correta. São condicionadas a um cenário mundial em clara deterioração e tentam antecipar o que pode ocorrer com a taxa de crescimento econômico e logo em seguida, também, sobre o nível de emprego. Não há abandono da política de metas inflacionárias, quando se altera o peso dado ao desvio entre a inflação corrente e sua meta, relativamente ao desvio entre o PIB e o PIB potencial (seja lá o que isso for) para fixar a taxa de juros.
Ninguém subscreveria hoje esta barbaridade autoritária que, até 2007, era o limite intransponível da "ciência" monetária: "A sociedade pode, às vezes, melhorar seu bem-estar nomeando um banqueiro central que não compartilha (sic) seus objetivos sociais e que, em seu lugar, aumente o "peso" da estabilização monetária relativamente à estabilidade do emprego" (Rogoff, K.S., 1985).

Soros e as vacilações da eurolândia.


Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, escreveu hoje no VALOR ECONÔMICO o texto “Soros e as vacilações da eurolândia”. 

Em artigo publicado no "Financial Times" de sexta-feira, 29 de setembro, George Soros recomenda que autoridades da eurolândia se entendam a respeito da criação do Tesouro Comum. Enquanto esse acordo não for celebrado, diz o financista, três providências devem ser tomadas: 1) os bancos seriam colocados sob a direção do Banco Central Europeu (BCE) em troca de garantias temporárias e permanente capitalização; 2) o BCE obrigaria os bancos a manter as linhas de crédito e os empréstimos existentes; 3) o BCE permitiria o refinanciamento temporário a baixo custo de países como Espanha e Itália. Soros conclui: "Essas medidas acalmariam os mercados e dariam tempo para a Europa desenvolver um estratégia de crescimento, sem a qual o problema da dívida não pode ser resolvido".
George Soros pensa o impensável, diz o que está interditado no debate sobre as causas e as curas da doença europeia. Ousa revelar o que deveria ser óbvio para qualquer cidadão medianamente informado: a crise da dívida soberana europeia é, sobretudo, uma crise grave do sistema bancário europeu, com reverberação nos bancos americanos.
No auge da crise de 2008, os bancos centrais da cúspide capitalista cumpriram seu dever e impediram que o crash financeiro degenerasse numa Grande Depressão. Tão logo o pânico deflagrado pela quebra do Lehman Brothers cedeu, saíram das sombras os estoques de dívida soberana acumulados na Europa durante o período de subavaliação dos riscos. Vitimas e protagonistas da farra financeira, os governos da eurolândia fecharam os olhos para a orgia de endividamento privado (depois público) promovida pelos (saltim)bancos da desregulamentação financeira. Estimulada e celebrada por muitos, a desregulamentação abriu caminho para a "invasão" do risco sistêmico nas engrenagens da finança capitalista.
Vou citar o insuspeito e temerário Alan Greenspan: "O risco sistêmico é quase exclusivamente um fenômeno das instituições financeiras. A inadimplência de grandes instituições pode desmantelar o sistema financeiro e com ele o resto da economia, devido às múltiplas e intrincadas relações entre a finança e a atividade econômica... Os riscos gerados por empresas não financeiras - independentemente de seu tamanho - ficam restritos aos seus credores, fornecedores e clientes. Raramente têm impacto mais amplo."
O sistema de crédito moderno tem a função de ampliar e antecipar no tempo a capacidade de investimento e de consumo das empresas, das famílias e dos governos. Ele opera como uma central privada de administração monetária e de alocação da riqueza líquida coletiva. Nessa função, os bancos (e, hoje, os demais intermediários financeiros que se abastecem nos mercados monetários) são provedores da rede informacional do mercado: definem as normas de acesso à liquidez, ao crédito e administram o sistema de pagamentos.
Gestores privados da forma geral da riqueza, os bancos, em princípio, deveriam regular o estado da liquidez e do crédito de acordo com a evolução dos balanços inter-relacionados de empresas, famílias, dos governos e das próprias instituições financeiras. Mas, a crise recente demonstrou que essa pretensão é irrealizável em um ambiente em que prevalecem a concorrência e a busca desaçaimada por resultados entre as instituições financeiras privadas. No período que antecedeu à crise - na esteira da integração global dos mercados financeiros - a "centralização privada" da moeda e do crédito nas instituições "grandes demais para falir" alastrou o processo competitivo de geração e distribuição de ativos com precificação enigmática em moedas distintas.
Quando a roda da fortuna girou em falso, com colapso de preços e ampla flutuação das moedas, foi inevitável o recurso à "centralização estatal", única forma de contornar a destruição do crédito e da moeda, ou seja, da rede informacional da economia monetária da produção. A ruptura nas articulações do sistema de provimento de liquidez, de gestão da riqueza e de pagamentos acarretou a quase paralisia do metabolismo econômico.
Os bancos centrais, portanto, estão condenados a cumprir a missão de reverter a deterioração generalizada dos balanços. Esses desequilíbrios financeiros e patrimoniais revelam-se ainda mais severos e difíceis de "digerir" na posteridade de um ciclo de crédito apoiado na valorização fictícia de ativos.
A emergência da crise da dívida soberana a partir do colapso do endividamento privado exige uma intervenção não convencional das autoridades monetárias. Só elas são capazes de ampliar os seus balanços para absorver o choque entre credores e devedores. Deixados à sua própria sorte, os bancos privados não podem explicitar a desvalorização que contamina seus ativos e os devedores não suportam a insistência dos "mercados" em manter o valor nominal das dívidas.
As recomendações de Soros serão certamente desqualificadas como radicais pelos tíbios e vacilantes. Mas, elas vão à raiz dos problemas que afligem a economia europeia. Na Europa, a encrenca é sistêmica: o crédito está travado porque os bancos desconfiam de tudo e de todos, inclusive deles mesmos. A rede de pagamentos e de provimento de liquidez formada pelo sistema bancário europeu está à beira da hecatombe. Esse colapso da confiança não pode ser superado sem a centralização das decisões na autoridade monetária encarregada de zelar pela higidez das relações interbancárias e, portanto, pela "normalidade" das operações de crédito. Na ausência de um programa de refinanciamento e de transferências confiável, a "saída" mais provável é o default desorganizado da Grécia, a derrocada do valor dos títulos soberanos e a insolvência de grandes instituições financeiras europeias - não só as gregas, portuguesas e espanholas - mas também francesas e alemãs.

EUA desistem do livre comércio.


Jagdish Bhagwati, professor de economia e direito na Universidade de Columbia e membro sênior de Economia Internacional no Council on Foreign Relations, escreveu hoje no VALOR ECONÔMICO, sobre “EUA desistem do livre comércio”.

A indiferença e a apatia que vemos em Washington - tanto do Congresso como do presidente Barack Obama -, em relação à Rodada Doha de negociações comerciais mundiais e o alarme e a preocupação de estadistas de outros países diante da paralisia nas negociações, assinala o fim da era pós-1945 de liderança americana no livre comércio multilateral.
Sinais de nervosismo fora dos EUA estão claros a todos há quase um ano. A chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro-ministro britânico David Cameron ficaram tão preocupados que se aliaram aos presidentes da Turquia, Abdullah Gül, e da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, para, em novembro de 2010, nomear Peter Sutherland e eu como copresidentes de um Grupo de Alto Nível de Especialistas em Comércio. Nós realizamos um painel em Davos com esses líderes em janeiro de 2011, onde, por ocasião do nosso Relatório Preliminar, demos pleno apoio à conclusão da Rodada Doha. Mas não houve resposta dos EUA.
Em setembro, o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown, o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González, e o ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo lembraram os líderes do G-20 que em novembro de 2009, em sua primeira reunião em Londres, eles tinham manifestado "o compromisso de concluir a rodada em 2010. E, há duas semanas, a ONU reuniu-se novamente para abordar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
O que precisamos hoje é que os maiores estadistas do mundo abandonem sua cautela e timidez e unam-se para empurrar o presidente Barack Obama na direção de uma conclusão bem sucedida para a Rodada Doha. Ainda não é tarde demais.
O Objetivo 8 diz respeito a instrumentos como comércio e ajuda, e o ODM 8A compromete os países membros da ONU a aprofundar o desenvolvimento de um sistema financeiro aberto, baseado em regras, previsível e não discriminatório
Mas, embora praticamente todos os países hoje tenham adotado os Acordos de Livre Comércio preferenciais, o recente líder nessa proliferação são os EUA. Lá, o Congresso e o presidente têm, aparentemente, bastante tempo para discutir ALCs bilaterais com a Coreia do Sul, a Colômbia e o Panamá, bem como a Parceria TransPacífica Regional (PTR), mas nenhum para negociar a não discriminatória Rodada de Doha, que está definhando, em seu décimo ano de negociações.
De fato, é notável que embora o discurso de Obama sobre o Estado da União, em janeiro de 2010, mencione Doha, seu discurso de janeiro de 2011 não se referiu a Doha. O lamentável recuo de Obama é resultado de muitos fatores e falácias. Essas foram destacadas em uma "Carta Aberta a Obama", que organizei e divulguei, com as assinaturas dos 50 mais influentes especialistas atuais em comércio em todo o mundo, pedindo uma mudança na política em relação a Doha.
O presidente dos EUA é cativo dos sindicatos de trabalhadores do país, que compram a falsa narrativa de que o comércio com os países pobres aumenta as fileiras de pobres nos EUA. Na verdade, porém, há uma abundância de evidências em suporte à narrativa oposta, de que a rápida e profunda mudança tecnológica poupadora de mão de obra é o que está exercendo pressão sobre os salários, e que as importações de bens intensivos em mão de obra barata que os trabalhadores americanos consomem estão, na verdade, compensando aquela tensão.
Os lobistas em Washington acreditam em especialistas em comércio, como Fred Bergsten, para quem o ganho proporcionado por Doha, em sua forma atual, é de meros US$ 7 bilhões por ano. Isso ignora as perdas bem maiores que uma Rodada de Doha inconclusa implicaria, por exemplo, minando a credibilidade da Organização Mundial do Comércio como principal fiador de um comércio baseado em regras e deixando a liberalização do comércio inteiramente no âmbito de liberalização discriminatória de acordos bilaterais preferenciais. Mais uma vez, alguém precisa dizer a Obama que importações também criam empregos e que sua ênfase apenas na promoção de exportações dos EUA são má teoria econômica.
 Acima de tudo, Obama é mal assessorado em comércio por seus colegas de alto nível. A secretária de Estado, Hillary Clinton, por exemplo, opôs-se à liberalização do comércio quando concorreu contra Obama à presidência e defendeu uma "pausa" nas negociações de livre comércio. Ela também interpretou erroneamente o grande economista Paul Samuelson, rotulando-o de protecionista, quando ele não disse nada do tipo. Ela nunca se retratou.
Da mesma forma, agora que Warren Buffett é considerado como o conselheiro econômico mais confiável de Obama, vale a pena recordar que em 2003 ele produziu a surpreendente prescrição segundo a qual a melhor maneira de reduzir o déficit comercial dos EUA era não permitir importações em montante superior ao que poderia financiar com sua receita de exportações. Um Samuelson, entre irônico e alarmado, chamou minha atenção para essa ideia maluca. Embora a prescrição de Buffett - impostos mais elevados para os americanos ricos - seja inteiramente desejável, será que Obama perceberá que um gênio numa área pode ser um idiota em outra?
O que precisamos hoje é que os maiores estadistas do mundo abandonem sua cautela e timidez e unam-se para empurrar Obama na direção de uma conclusão bem sucedida para a Rodada Doha. Somente isso se constituiria em contrapeso às forças que o levam à direção errada. Ainda não é tarde demais. 

Amazônia, energia elétrica e sustentabilidade.


Hoje, no VALOR ECONÔMICO, Joaquim Francisco de Carvalho e Ildo Luís Sauer escrevem sobre “Amazônia, energia elétrica e sustentabilidade”.

Imagens colhidas de satélites meteorológicos mostram que o clima da Amazônia exerce forte influência sobre os regimes hidrológicos e pluviométricos de toda a América do Sul, e garante a estabilidade climática, fluvial e pluviométrica - portanto, a sustentabilidade da agricultura - de todo o Brasil.
Assim, a Amazônia vale pela importância de seus próprios ecossistemas. Enquanto não se acumularem e testarem suficientes conhecimentos científicos e técnicos sobre os intrincados ecossistemas regionais, a Amazônia deve ser mantida em sua integridade, evitando-se, principalmente, a pecuária extensiva, a ampliação de monoculturas de exportação (soja, milho etc.), a exploração madeireira e a implantação de novos projetos de mineração.
Apesar da polêmica desencadeada pelas organizações ambientalistas, a alternativa mais interessante para se desenvolver a Amazônia, mantendo a sua integridade, seria a de aproveitar o potencial dos recursos naturais renováveis da região, com projetos de turismo ecológico, extrativismo e geração de energia elétrica. Além de serem excelentes geradores de empregos e uniformizarem a distribuição de renda na região, o turismo ecológico e o extrativismo dependem da integridade do ecossistema.
Quanto è geração de energia elétrica, a Amazônia tem um dos maiores potenciais do mundo e, mediante políticas inteligentes e rigorosamente aplicadas, as empresas públicas e o empresariado do setor de geração elétrica deverão se transformar nas maiores defensoras do ecossistema amazônico. Alterações causadas por desmatamentos para abrir terrenos para plantações de soja e milho, criação de gado, projetos de exploração mineral e outros comprometerão o potencial hidrelétrico, inviabilizando as próprias usinas.
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o potencial hidrelétrico brasileiro é de 268 GW, dos quais apenas 30% estão em aproveitamento. A região amazônica detém 65% do potencial não aproveitado.
Admitamos que, por motivos de caráter social e ambiental, os planos de expansão do sistema elétrico sejam reformulados, para se limitar em 80% o potencial hidrelétrico a aproveitar na Amazônia - e que as hidrelétricas a serem implantadas naquela região alaguem 0,2 km2 /MW. O que é uma hipótese conservadora, pois a maioria dos aproveitamentos existentes em outras regiões e em construção, na própria Amazônia, apresenta uma relação bem menor entre área inundada e potência instalada. Neste caso o aproveitamento do potencial hidrelétrico amazônico ocuparia cerca de 0,4% da área da região, ou seja, menos do que os grandes projetos agrícolas ou de pecuária.
Mesmo assim o Brasil poderá adicionar uma capacidade hidrelétrica de 148,7 GW aos 79,3 GW já instalados. Somando-se a isto os 17 GW das pequenas hidrelétricas, teremos uma capacidade hidrelétrica total de 245 GW.
No entanto, as ONGs ambientalistas optam por uma posição fundamentalista, baseada no dogma de que a Amazônia é intocável. É certo que os ecossistemas amazônicos são delicados, mas isso não significa que ficarão estacionados em sua condição primordial, se é que se possa falar em condição primordial de sistemas que se vêm alterando desde a origem, como todos os ecossistemas terrestres.
Com ou sem hidrelétricas, os povos indígenas (que fazem parte do ecossistema amazônico) vão continuar com as derrubadas e queimadas de matas, tradicionais em sua agricultura. E ainda há as mineradoras, o agronegócio e os pecuaristas, sobre os quais as ONGs ambientalistas ficam silenciosas, preferindo vociferar contra o aproveitamento do potencial hidrelétrico, que poderá dar ao Brasil um sistema elétrico limpo e sustentável.
A interligação do sistema hidrelétrico com o sistema eólico permitiria que parte da energia gerada pelas centrais eólicas ficasse "armazenada", na forma de água acumulada nos reservatórios hidrelétricos - de maneira semelhante às malhas termo-eólicas de alguns países europeus, nas quais a energia dos parques eólicos permite que se economize gás natural ou óleo combustível. Segundo o Centro de Pesquisas em Energia Elétrica da Eletrobras, o potencial eólico brasileiro (com turbinas em torres de 50 metros) é de 143 GW. Note-se que, com torres mais altas, o potencial é maior.
O sistema hidroeólico poderia operar em sinergia com usinas termelétricas a biomassa, pois a frota automotiva brasileira é em grande parte alimentada com etanol, forçando a produção do bagaço de cana em escala suficiente para alimentar termelétricas de pequeno e médio porte, totalizando, em conjunto, uma capacidade da ordem de 15 GW, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
Assim, aproveitando apenas fontes primárias limpas e renováveis, o sistema interligado hidroeólicobiotérmico teria uma capacidade conjunta de 403 GW, podendo gerar 1.589 GW por hora firmes por ano, admitindo-se, conservadoramente, que o fator de capacidade do sistema integrado será igual à média ponderada dos fatores de capacidade de cada sistema isoladamente, que é 0,45.
Por outro lado, de acordo com o IBGE, a população brasileira deverá se estabilizar em 215 milhões de habitantes, por volta do ano 2040, de modo que o sistema integrado hidroeólicobiotérmico teria um potencial suficiente para oferecer à população 7.390 kWh por habitante por ano, equiparando o Brasil a países de alto nível de qualidade de vida, tais como a França, a Alemanha e a Grã-Bretanha.
A reserva de segurança do sistema hidroeólicobiotérmico seria constituída pelas termelétricas a gás já existentes nas diversas regiões do país. Portanto, ao contrário de alguns países europeus e do Japão que, em médio prazo, não têm melhor alternativa, o Brasil não precisa correr o risco de gerar em centrais nucleares a energia elétrica de que precisa ou precisará.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA - 07/09/2011


CARTA DE BONITO/MS
CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA - 07/09/2011
DESENVOLVIMENTO: INOVAÇÃO, TECNOLOGIA E SUSTENTABILIDADE

Por ocasião da comemoração dos 60 anos de regulamentação da profissão, os Conselhos de Economia, como instância de representação múltipla da Categoria, visando esclarecer e promover uma reflexão sobre o assunto central do Congresso, vêm manifestar-se à opinião pública a respeito do debate recente sobre desindustrialização no Brasil.

Os critérios e as circunstâncias com base nos quais se caracteriza o que é em geral entendido como desindustrialização são diversos. O processo não é novo na História Econômica, mas, de modo geral, pode ocorrer em países que já alcançaram um alto grau de desenvolvimento. Sua caracterização vai desde a redução do nível e da capacidade de produção em termos absolutos até à perda de participação relativa da atividade industrial na geração de renda. Desindustrialização também pode ser entendida como redução da abrangência e da complementaridade dos setores industriais entre si e com o restante da economia. Assim, a inexistência ou fragmentação das cadeias produtivas pode ser vista como uma limitação ao ciclo da industrialização e como uma restrição à alavancagem do desenvolvimento consistente.

Numa perspectiva de longo prazo, o Brasil não pode continuar com o atual processo de aumento da dependência da importação de produtos industrializados. A atual substituição da produção interna por produtos importados ocorre antes que o país tenha alcançado o domínio dos processos tecnológicos estratégicos para assegurar a sustentabilidade de seu desenvolvimento soberano.

A questão se reveste de mais riscos ainda quando à situação antes descrita se associa uma recomposição das pautas de exportação, dependentes, crescentemente, da demanda internacional por produtos primários e de modesto valor agregado. Como é sabido, estes produtos são mais facilmente substituíveis, têm baixo conteúdo tecnológico e  as cotações são muito mais voláteis. Esta crescente especialização do padrão de exportação é a chamada reprimarização.

Este é, presentemente, um dos grandes desafios da economia brasileira, ainda mais nas circunstâncias em que o binômio câmbio sobrevalorizado e juros elevadíssimos está fortemente associado, e pesadas resistências e interesses internos se opõem à desativação dessa armadilha, cujos efeitos a médio prazo podem ser devastadores para o projeto nacional de desenvolvimento autônomo, continuado e vigoroso, capaz de tornar o Brasil emergente, enfim, no País do presente.

No entanto, o problema da desindustrialização não se restringe à natureza das políticas macroeconômicas. A questão central é a escolha de estratégias de desenvolvimento que impliquem mudanças estruturais efetivas, inclusive quanto ao deslocamento da fronteira de produção. A simples correção do câmbio real e do juro real não impede, necessariamente, o redirecionamento dos investimentos na direção da “linha de menor resistência” que, no caso brasileiro, é na direção da produção de bens intensivos em recursos naturais. 

A correção da gestão macroeconômica deve vir acompanhada de políticas estruturantes de novo padrão de acumulação e alocação de recursos. Os objetivos são impedir o viés na direção da especialização em produtos intensivos em recursos naturais e promover o deslocamento mais equilibrado e abrangente da fronteira de produção. Somente estruturas de produção mais abrangentes, robustas e competitivas permitem a melhora permanente de renda, consumo e distribuição, ou seja, o desenvolvimento econômico no longo prazo.

Nesta perspectiva, cabe considerar que os desafios das medidas macroeconômicas não sejam restritivos à sustentabilidade do desenvolvimento econômico.

Brasil lidera primeiro ranking de universidades latino-americanas.


Leio no UOL que o Brasil lidera primeiro ranking de universidades latino-americanas. Que ótima notícia!!!

O Brasil, com a Universidade de São Paulo (USP) no topo, lidera com folga, à frente de México, Argentina e Chile, o primeiro ranking QS de Universidades latino-americanas, publicado esta terça-feira no site TopUniversities.com.

Impulsionado pelo aumento do investimento público em educação, o Brasil emplacou 65 universidades entre as 200 primeiras da lista, quase o dobro do México (35) e muito mais do que Argentina e Chile (25 cada).

Segundo os autores do estudo, as universidades brasileiras adquiriram oito dos dez primeiros lugares em produtividade de pesquisa e tiveram a maior proporção de acadêmicos com doutorado.

Eles destacaram, ainda, que o número de matrículas universitárias triplicou nos últimos 10 anos no Brasil.

"A economia brasileira já é a sétima do mundo e a Goldman Sachs previu que superará as de Canadá, Itália, França, Reino Unido e Alemanha nos próximos 20 anos", disse Ben Sowter, chefe de pesquisas do ranking QS.

"Enquanto muitos governos de países desenvolvidos cortam os gastos em universidades, os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) estão investindo grandes quantias de dinheiro na construção de universidades de nível internacional", avaliou o diretor da página TopUniversities.com, Danny Birne, para quem o denominador comum é que todos consideram a educação um "elemento chave" para seu desenvolvimento.

"Uma educação superior de nível mundial será central para seu desenvolvimento e o novo ranking QS mostra que os investimentos do Brasil já estão começando a colher frutos", acrescentou, em um comunicado.

A classificação é liderada pela Universidade de São Paulo, seguida da Pontifícia Universidade Católica do Chile, em segundo lugar, e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em terceiro.

Com relação a outros países, a primeira instituição de ensino mexicana, a Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), apareceu em quinto lugar; em sexto está a primeira de 21 instituições colombianas, a Universidade dos Andes; e a primera da Argentina, a Universidade de Buenos Aires, em oitavo.

Nesta primeira edição do ranking regional, o QS se baseou em critérios específicos da América Latina, como a proporção de professores com doutorado, a produtividade de pesquisas per capita e a presença na internet, assim como pesquisas existentes.

Os pesquisadores, no entanto, se questionam se o Brasil poderá chegar a ser a próxima superpotência universitária.

No mais recente ranking QS das melhores universidades do mundo 2011, liderado pela primeira vez pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, a USP só alcançou o 169º lugar, sendo a única instituição de ensino latino-americana entre as 200 melhores do mundo.

domingo, 2 de outubro de 2011

Preparem-se: Nobel de Economia em 10.10.2011.


Announcement of the 2011 Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel.
Watch the live webcast from the Royal Swedish Academy of Sciences, Stockholm, Sweden, on Monday 10 October, 1:00 p.m. CET at the earliest.
Following the announcement, an interview will be held with one of the Prize Committee members about the 2011 Prize in Economic Sciences.

Até quando teremos floresta no Pará?


Esta matéria do O GLOBO eu li no blog do Reinaldo Azevedo. Ele conclui que "enquanto o debate sobre o novo Código Florestal sataniza os ditos “ruralistas”, ficamos sabendo que um dos principais agentes do desmatamento no Pará é o governo e sua política de distribuição de terras."
*

Metade da população rural do Pará vive em áreas de reforma agrária
Por João Sorima Neto:
O Pará já tem uma “metrópole” vivendo em assentamentos. Dos 7,5 milhões de habitantes do estado, cerca de 1,3 milhão mora em áreas que foram destinadas à reforma agrária, segundo dados do Incra. Isso significa que os assentados correspondem a 17% da população total e à metade da população rural do estado. Pelo IBGE, uma cidade é considerada metrópole quando o número de seus habitantes ultrapassa um milhão. É como se toda a população de São Luís ou de Goiânia morasse em assentamentos. No Pará, para piorar, essa “metrópole” se expande e avança sobre áreas da Floresta Amazônica que deveriam ser preservadas. “O número é extremamente preocupante. Hoje, não há fiscalização eficaz em todos esses assentamentos, e muitos são irregulares. O desmate avança sem controle”, diz Paulo Amaral, pesquisador da Oscip Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Os números confirmam a preocupação. Levantamento do Imazon mostrou que, em agosto deste ano, o Pará foi o estado que mais desmatou na Amazônia. Foram 119 quilômetros quadrados de vegetação derrubada no estado, metade da área devastada na Amazônia Legal no período. A derrubada de árvores ocorre também nos assentamentos. No Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna, sudeste do Pará, o Ibama descobriu recentemente 340 hectares de floresta que viraram pasto. Os fiscais do Ibama viram que as 200 famílias assentadas no início do projeto, em 1997, hoje são 400. “O número de famílias aumentou, seja porque muita gente invadiu o assentamento ou adquiriu terra ilegalmente. E a maioria não vive do agroextrativismo, do uso sustentável da floresta, mas da exploração ilegal de madeira e carvão, além da criação de gado”, diz Marco Vidal, coordenador da operação do Ibama em Nova Ipixuna.
Num dos lotes, o “proprietário” derrubou a mata até a margem de um rio para o gado pastar. Não respeitou sequer a área de preservação legal na beira de rios, para evitar assoreamento. A madeira cortada era para fazer carvão. Apesar de ocupar a terra, o agricultor nem morava ali. Ele disse aos fiscais do Ibama que comprou parte do lote de um assentado em agosto de 2010, por R$ 5 mil, em transação não reconhecida pelo Incra. Esse padrão, segundo o Imazon, repete-se em outros assentamentos do Pará: a madeira vira carvão; a floresta, pasto; o assentado arrenda ou vende a terra a madeireiros e agricultores.
Nos últimos três anos, 2,7 mil hectares de floresta viraram pasto no Praialta-Piranheira, segundo levantamento do Ibama de Marabá. Foi numa estrada para esse assentamento que o casal de extrativistas José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo morreu numa emboscada em maio. “Mesmo sendo o único assentamento agroextrativista do sudeste do Pará, o Praialta-Piranheira repete o mesmo padrão de toda a Amazônia paraense. Perde-se floresta para a pecuária”, diz Vidal.
Semana retrasada, no oeste do Pará, servidores do Incra pediram proteção à Polícia Federal. Eles foram ameaçados por madeireiros e grileiros que intimidam agricultores e assentados da região. Nessa área, está o Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança, idealizado pela missionária Dorothy Stang, que foi assassinada. O local é constantemente invadido para retirada ilegal de madeira, e moradores ligados aos madeireiros fazem protestos contra a ação do Ibama. “Esse modelo de assentamentos em terras da União não tem referência de sucesso”,  diz Carlos Lamarão, presidente do Instituto de Terras do Pará (Interpa), órgão do governo do estado que também faz doação de terras e já assentou 9.102 famílias no estado.
Estudo do Imazon mostrou que os assentamentos foram responsáveis por pelo menos 15% do desmatamento da Amazônia até 2004. No sul do Pará, onde há atualmente 500 assentamentos, o percentual de devastação da floresta sobe para 50% nesse período. A região, que engloba as cidades de Marabá, São Félix do Xingu, Santana do Araguaia e Tucuruí, tem sido um dos principais eixos de ocupação da Amazônia. A pressão por terras e recursos naturais ali é enorme. O resultado é que novos assentamentos têm sido criados em áreas de floresta nativa, e o desmatamento avança a uma taxa de 3% ao ano, diz o Imazon.
No oeste do estado, a Justiça Federal interditou 99 assentamentos criados pelo Incra, desde 2005, por irregularidades no licenciamento ambiental. Com a decisão, as famílias assentadas não podem receber recursos públicos para legalizar os lotes. Para o juiz Francisco de Assis Garcês Castro, o licenciamento em terras da União deve ser feito pelo Ibama, e não pela Secretaria estadual do Meio Ambiente, como ocorria. Segundo o Ministério Público Federal, que fez a denúncia, a regularização desses assentamentos atende a interesses dos madeireiros: a aprovação de planos de manejo para retirar madeira desses locais é mais simples.
O Incra está colocando à disposição dos trabalhadores rurais vastas porções de terras da Amazônia e sua cobiçada biodiversidade, sem verificar os efeitos que podem ser gerados no meio ambiente”, escreveu o juiz ao conceder a liminar.

sábado, 1 de outubro de 2011

Fator medo fajuto


PAUL KRUGMAN, hoje na FOLHA DE S. PAULO. 

A boa notícia: depois de passar um ano e meio falando sobre deficits, quando deveríamos estar falando de empregos, finalmente voltamos a discutir a questão certa.
A má notícia: os republicanos estão fixados em uma visão sobre o bloqueio à geração de empregos que se encaixa em seus preconceitos e atende a interesses de seus patrocinadores ricos. Mas essa visão não guarda relação com a realidade.
Em qualquer discurso de um pré-candidato presidencial republicano, você ouvirá declarações de que a administração Obama é responsável pelo pouco aumento na oferta de empregos.
Por quê? A resposta, reiterada sempre, é que as empresas têm medo de se expandir e gerar empregos porque temem regulamentos caros e impostos mais altos.
Não há provas que substanciem essa afirmação. Há muitas provas que a desmentem.
O ponto de partida de muitas alegações de que políticas antiempresas estariam prejudicando a economia é a afirmação de que o vagar da recuperação econômica após a recessão é algo sem precedentes. Mas, como documenta artigo de Lawrence Mishel, do Instituto de Política Econômica, isso não é verdade.
Períodos extensos de "recuperação sem empregos" depois de recessões vêm sendo a regra nas duas últimas décadas. Na realidade, o crescimento do emprego no setor privado desde a recessão de 2007-2009 vem sendo melhor do que foi após a recessão de 2001.
Mesmo assim, não há algo de estranho no fato de as empresas estarem auferindo lucros, mas não estarem gastando para ampliar sua capacidade e gerar empregos? Não.
Afinal, por que as empresas deveriam se expandir se não estão utilizando a capacidade que já possuem? O estouro da bolha imobiliária e a dívida das famílias vêm levando os consumidores a gastar menos e deixaram muitas empresas com mais capacidade ociosa.
Os investimentos das empresas sempre reagem ao estado da economia e, considerando quão fraca a economia dos EUA ainda está, não deve surpreender que os investimentos continuem baixos.
Mas os empresários não andam reclamando do ônus de impostos e regulamentos? Sim, mas não mais do que de costume. Mishel observa que a Federação Nacional de Empresas Independentes vem fazendo sondagens com pequenas empresas há quase 40 anos, pedindo que identifiquem seu problema mais importante. Os impostos e regulamentos sempre se destacam na lista de queixas, mas o que chama a atenção agora são as vendas fracas -o que sugere que seja a falta de demanda, e não o medo do governo, o que vem freando as empresas.
Logo, as declarações republicanas sobre o que está atrapalhando a economia são pura fantasia.
Isso também reflete a necessidade política da direita de fazer crer que tudo de ruim que acontece na América é culpa do presidente Barack Obama.
Não importa que bolha imobiliária, explosão da dívida e crise financeira tenham acontecido durante o governo de um presidente conservador; é o democrata que está na Casa Branca agora quem leva a culpa. A verdade é que estamos nesta confusão porque tivemos regulamentação de menos, não demais.

Neoliberais e desenvolvimentistas.


Mansueto Almeida, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no VALOR ECONÔMICO, escreveu sobre “Neoliberais e desenvolvimentistas.”

É comum encontrar nas páginas de jornais e em artigos acadêmicos um embate entre os chamados economistas neoliberais e os desenvolvimentistas. Em linhas gerais, os neoliberais são taxados de "cabeças de planilha", que acreditam ingenuamente em um mercado que se autorregula, na abertura comercial, na liberalização do fluxo de capital e dão importância excessiva aos fundamentos econômicos.

Os desenvolvimentistas seriam aqueles que acreditam no papel regulador do Estado, na proteção do mercado para fomentar a indústria doméstica, defendem a redução da taxa de juros e não veem restrições ao crescimento que não sejam a falta de ação do governo. A preocupação com os fundamentos econômicos é secundária, inclusive com a inflação, pois esse grupo acha irrelevante a discussão se a inflação será, por exemplo, de 6,45% ou 6,75% - a casa decimal pouco importa e, às vezes, nem mesmo o número inteiro.

O debate, quando colocado dessa forma extrema, até faz sentido do ponto de vista acadêmico, mas é pouco construtivo para o debate econômico atual e vários dos economistas que insistem em caracterizar de maneira caricatural seu suposto oponente sabem disso.

Um bom exemplo é o debate em relação à inflação. Em vez da discussão daqueles que defendem uma inflação de 0 a 3% ao ano, neoliberais, e aqueles que não se importam com a inflação, desenvolvimentistas, o debate atual é muito mais sutil e complicado. O que se discute hoje é a velocidade de convergência para a meta de inflação de 4,5% ao ano e as medidas necessárias para que essa convergência ocorra.

Alguns economistas acham que o Banco Central (BC) exagerou no seu cenário catastrófico da economia mundial, outros acham que o cenário do BC é cada vez mais provável e há sim uma chance real de o Brasil reduzir os juros. Mas há um quase consenso que esse esforço de redução do juros só será bem sucedido se acompanhado de maior responsabilidade fiscal e aumento da poupança pública. Essa tese é defendida por economistas que se identificam com as duas correntes.

Outro exemplo é em relação ao crescimento dos gastos sociais. Quando algum economista identificado com a ala neoliberal sugere o controle do crescimento dos gastos sociais como forma de reduzir o crescimento do gasto público, economistas desenvolvimentistas afirmam que seu colega neoliberal está propondo o fim do estado de bem estar social. Novamente, o debate é mais complicado. No Brasil, os gastos sociais crescem quase que continuamente desde a Constituição de 1988, mas é cada vez mais questionável a eficácia distributiva desses gastos e os desenvolvimentistas sabem disso.

Há, por exemplo, claras distorções nos gastos com pensão por morte e com seguro-desemprego, independentemente do debate se o eleitor quer mais ou menos política distributiva. Acho questionável que o eleitor entenda e queira que uma pessoa de 80 anos de idade se case com outra de 20 anos de idade e que esse ou essa jovem usufrua de uma renda vitalícia quando seu parceiro morrer. Da mesma forma, não é comum que os gastos com seguro-desemprego cresçam mesmo quando o desemprego diminui como acontece no Brasil. Racionalizar esses gastos tem adeptos nas duas correntes e, novamente, nenhuma relação com o embate entre neoliberais e desenvolvimentistas.

Em relação à falta de recursos para aumentar os investimentos em infraestrutura, saúde e educação, muitos acham que tudo pode ser "resolvido" com mais carga tributária. Mas aqueles que defendem essa proposta são grupos cuja renda depende mais do seu poder de lobby do que da sua produtividade. O problema é que mais carga tributária, para um país de renda média como o Brasil, fatalmente comprometerá o crescimento da economia. Novamente, neoliberais e desenvolvimentistas se colocam, em geral, contra novos aumentos da carga tributária.

Por fim, a última edição do índice de competitividade global do World Economic Forum mostra, mais uma vez, que os maiores problemas de competitividade do Brasil quando comparado com outros 141 países são: 1) a baixa qualidade da nossa infraestrutura; 2) elevada carga tributária, 3) excesso de regulação; 4) baixa qualidade da educação primária, 5) rigidez no mercado de trabalho; 6) burocracia na abertura de novos negócios, e 7) dívida e spread bancário elevados. Aumentar o investimento em infraestrutura e melhorar a qualidade da educação, por exemplo, não tem absolutamente nenhuma relação com o debate estéril entre desenvolvimentistas e neoliberais.

O que precisamos saber, por exemplo, é como reduzir o spread bancário, aumentar a eficiência do estado na execução de obras públicas, melhorar a eficácia dos gastos sociais, que já são elevados, reduzir as distorções dos gastos com pensão por morte e as regras de concessão do seguro desemprego. No mundo real, o governo é mais pragmático e busca a aprovação do eleitor. Se a elevação da inflação reduzir o índice de aprovação do governo, este voltará a ser mais "neoliberal". Por outro lado, se a ousadia do Banco Central se mostrar correta, o governo será mais desenvolvimentista. É "simples" assim, mas há ainda economistas supostamente maduros que não se cansam de brincar do bem contra o mal ou da batalha estéril entre desenvolvimentistas e neoliberais.

A China terá um acidente?


MOISÉS NAÍM, ontem na FOLHA DE S. PAULO, pergunta: “A China terá um acidente?
A economia do planeta irá para onde for a da China. Caso sofra um acidente econômico importante, os danos serão muito mais vastos e profundos que os da crise europeia atual. Será que na próxima década a China sofrerá um acidente que reduza seu crescimento econômico? Infelizmente, é provável que sim. A economia chinesa é como um carro veloz avançando por uma estrada de terra. Cedo ou tarde, topará com um buraco. Será um choque duro.
O acidente da China pode ser econômico, ecológico, social ou internacional. Para que se torne sério o suficiente para colocar em perigo a performance econômica total do país, terá que transbordar para mais de uma região e tornar-se uma crise política de primeira grandeza.
Um acidente financeiro ou ecológico pode ser justamente o gatilho de uma turbulência política ampla. Um crash da Bolsa que elimine uma parcela grande das economias das pessoas e as leve a sair às ruas, a contaminação da fonte de água de uma metrópole ou uma escaramuça com o Exército indiano em qualquer um dos pontos contestados da fronteira podem não ser, por si sós, suficientes para gerar instabilidade que faça a economia descarrilar.
Mas esses incidentes -ou outros difíceis de prever- podem ser a faísca que acenda uma turbulência política ampla que faça a economia desacelerar. A Primavera Árabe foi desencadeada pela imolação de um vendedor de frutas em uma pequena cidade do interior da Tunísia. O Banco Mundial prevê que, entre 2016 e 2020, a economia chinesa cresça 7% ao ano. É uma previsão muito otimista e que presume que não haverá acidentes. Mas mesmo esse índice mais otimista está 30% abaixo do índice atual e da média da década passada. Também a inflação está virando um problema. Nos últimos dez anos, esteve em menos de 2% ao ano. Agora está em mais de 6%, e os preços sobem, especialmente os dos alimentos.
Durante a era de Mao, a desigualdade era quase inexistente e, fosse qual fosse seu nível, era invisível para o resto da população. Hoje ela se equipara às piores do mundo e é altamente visível. Trabalhadores urbanos podem ganhar três vezes mais que camponeses da zona rural, e o número de chineses que ingressam na fileira dos bilionários do mundo quebra um recorde todos os anos.
A corrupção está por toda parte, e, apesar de algumas prisões de vez em quando -e até mesmo da pena de morte ocasionalmente aplicada a funcionários governamentais acusados de corrupção-, vem sendo largamente tolerada até agora. Uma queda econômica profunda e prolongada fará da corrupção uma fonte importante de revolta social e protestos. O mesmo se aplica aos problemas ecológicos crescentes, que, para muitos chineses, não são abstrações: há limites ao quanto as pessoas toleram receber em suas casas água marrom e malcheirosa para cozinhar ou tomar banho.
É fácil traçar uma lista dos gatilhos potenciais e das situações que os tornariam mais explosivos. O que não é fácil é saber qual deles será a faísca a desencadear uma turbulência que desacelere o crescimento chinês. Ou quando. Ou, ainda, se a China terá sorte e evitará um acidente. E com isso poupe o resto de nós de um acidente.

Previsões econômicas para 2011 e 2012.

Início de mês, último trimestre do ano, tempo ideal para previsões. E lá vem 2012 chegando...
Na revista EXAME as previsões do governo e de mercado para a economia brasileira em 2011 e 2012. Vejam também como o mercado visualiza os dados em cenários otimista e pessimista. Realmente, um 2012 com PIB negativo não é uma boa notícia ... 

Crescimento do PIB:
2011 - Governo: 4% - Mercado: 3,5%
2012 - Governo: 5% - Mercado otimista: 3,7% - Mercado pessimista: (-) 0,7%


Inflação (IPCA):
2011 - Governo: 5,8% - Mercado: 6,5%
2012 - Governo: 4,8% - Mercado otimista: 5,3% - Mercado pessimista: 6,2%


Taxa de juro básica:
2011 - Mercado: 11%
2012 - Mercado otimista: 11,5% - Mercado pessimista: 8,5%


Câmbio:

2011 - Mercado: R$ 1,68
2012 - Mercado otimista: R$ 1,65 - Mercado pessimista: R$ 2,10

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...