domingo, 14 de março de 2010

A REAL ANÁLISE DE FRAGA!

Para reflexão e conhecimento do atual momento econômico/político, é imprescindível e necessária a leitura da entrevista no ESTADÃO de hoje com Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central (BC) e uma das figuras mais destacadas do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso. Inteligente, lúcido, realista, experiente, conhecedor dos DOIS LADOS DA MOEDA ECONÔMICA etc etc etc, ele está preocupado com a "mexicanização" do Brasil - controle pelo Estado de diversos setores da economia, reforçado por laços com empresas monopolistas e oligopolistas. A seguir, a entrevista com Fraga, que hoje dirige a Gávea Investimentos, empresa de gestão de recursos.

Como o sr. vê a atual discussão sobre o papel do Estado?

Não acho que se deva dispensar o Estado. Acredito num Estado presente, ativo, cumprindo seu papel. Mas há uma certa expectativa de que o Estado resolva tudo. Meu receio, no campo político, são alguns traços de doenças do Estado, de ocupação do aparelho de Estado, que me incomodam. Não é questão de Estado mínimo ou máximo, mas de Estado ocupado. É o medo de uma mexicanização.

O sr. poderia explicar melhor?

No México, os governos do PRI (Partido Revolucionário Institucional) tiveram, durante décadas, o controle do aparelho de Estado, nomeando juízes, controlando vários setores da economia. É algo que deixou consequências até hoje. E, nessa situação, quando o governo não controla diretamente, ele cria ou facilita o surgimento de monopólios, que ficam próximos do governo. É um modelo que também inclui um certo pacto com os sindicatos que, no caso do México, no campo da educação, tem sido um desastre. Um modelo meio nacionalista, no mau sentido. Claro que tem um modelo muito mais radical, muito pior, que é o da Venezuela, que está em péssima situação.

Quais os sintomas daquelas "doenças do Estado"?

Há uma tendência de excessiva concentração em vários setores, com a criação de monopólios e oligopólios. Se há setores que competem no mundo, cada país tem o direito de ter a sua política de apoio e avaliá-la. Mas, quando são criadas situações de monopólio doméstico, protegido da concorrência externa, acho que é questionável. É o caso do México, em áreas como telefonia e cimento. Vejo o nosso governo muito entusiasmado com essas ideias. Mas, para mim, não casa com um governo de esquerda moderno, social-democrata.

Como assim?

Acho que o País voltou a sonhar com um modelo da década de 50 ou de 70. E as pessoas se esquecem que esse modelo, mesmo sendo importante na fase de industrialização e de construção de infraestrutura, também gerou um megaendividamento público, esqueletos e abriu espaço para a corrupção. Isso tem um preço. Não foi um modelo que nos colocou numa trajetória de convergência para os melhores padrões de vida do mundo. Nos fez crescer durante um certo período, mas depois se esgotou. Outra questão preocupante é que há no ar uma sensação de que o indivíduo não é importante - falta preocupação com educação, com empreendedorismo.

Quando isso começou?

Houve uma inflexão clara com a saída do Palocci (Antônio Palocci, ex-ministro da Fazenda). Não estou dizendo que está tudo ruim com o País, porque estamos indo razoavelmente bem. Histórias de sucesso empresarial têm surgido, muitas delas espontâneas, sem apoio ou subsídio do governo, pela via do mercado de capitais.

Na campanha, a candidata governista, Dilma Rousseff, deverá criticar os tucanos pelo excesso de liberalismo, e pregar a recuperação do papel do Estado.

O liberalismo no Brasil nunca aconteceu. É uma mentira de campanha essa história de Estado mínimo. O Brasil não caiu nas armadilhas em que outros países caíram ao adotar, por exemplo, um modelo hiperliberal de regulação e supervisão do setor financeiro, que está na raiz da crise global. O Brasil seguiu o caminho contrário. Quanto à ministra Dilma, os sinais que existem não são suficientes para que tenhamos uma opinião mais completa sobre aquilo em que ela acredita. Isso deve surgir nos debates da campanha. Mas não gosto do cheirinho de ocupação do Estado dos anos mais recentes do atual governo. Sem demérito de muita coisa boa que se fez e que se continua a fazer.

O sr. se preocupa com a possibilidade de o candidato José Serra, do PSDB, mexer no câmbio e na política monetária?

O Serra ainda não se colocou com clareza em relação a isso. No passado, ele defendeu sempre uma posição conservadora do lado fiscal, mas foi crítico da âncora cambial no plano Real. Ele já demonstrou desconforto com as altas taxas de juros, como qualquer um, mas a questão é o que fazer para reduzi-las. Mas, enfim, cabe a ele dizer o que pensa. Eu, pessoalmente, acho que o modelo atual tem funcionado bem, mas pode ser administrado de forma diferente, mais conservadora do lado fiscal e creditício, o que criaria mais espaço para o juro cair.

Parece, porém, que os juros vão aumentar agora.

Essa é a dimensão cíclica da política monetária, num momento de economia aquecida, e é absolutamente normal. Mas existe também uma trajetória gradual, lenta, de longo prazo, de queda dos juros, que começou lá atrás, e em relação à qual um governo vai tentando construir em cima do que o outro deixou. Há várias dimensões da política atual que atrapalham a trajetória gradual de queda dos juros. Se você tem um modelo que, mesmo em momentos que não são de crise, mantém um padrão acelerado de crescimento do gasto e do crédito públicos, não é surpresa que o Banco Central agora se veja mais pressionado. Mas ainda acho que, se fizermos um pouco de esforço e calibrarmos um pouco a política econômica, a tendência de queda pode voltar a se acelerar.

Como vê o papel do BNDES atualmente?

Vejo com a mesma ambiguidade que já via antes dessa fase de expansão, com coisas boas e questionáveis. Eu gostaria de ressalvar que acho o Luciano Coutinho (presidente do BNDES) competente, e considero que o BNDES sempre foi, entre os bancos públicos, talvez o mais bem administrado. Entendo algum gigantismo num momento de crise, mas, a longo prazo, é preciso um certo equilíbrio, para não inibir o desenvolvimento do mercado de capitais e para não cair também nas armadilhas que praticamente todos os bancos públicos na história dos povos acabaram enfrentando. É preciso frisar que o próprio presidente do BNDES tem dito que esse modo de emergência não cabe mais.

Qual a sua visão sobre a política externa de Lula? Como viu o episódio recente do apoio a Cuba na ocasião da morte de um dissidente em greve de fome?

Isso assustou todo mundo. Que coisa, que mania! O que há de tão bom numa ditadura? Não consigo entender. Tem gente morrendo lá, qual é a graça? Não entendo o excesso de apreço ao Hugo Chávez (presidente da Venezuela) e ao Mahmud Ahmadinejad (presidente do Irã). Acho de mau gosto e politicamente estranho uma aproximação tão grande, tão alegre, com esses ditadores e quase ditadores, que não trazem nada de bom e podem até prejudicar o Brasil no mundo comercial. Daqui a pouco vão inventar nos Estados Unidos e na Europa mais restrições a nós em função dessa política. Isso é diferente de um diálogo sóbrio com todo mundo, de uma política externa independente, voltada ao interesse nacional. Também acompanhei essa tentativa de introduzir um certo controle à imprensa, à educação superior - são cacoetes que vejo com certa preocupação. Dá impressão que existe uma usina de ideias desse tipo, o que me incomoda.

sábado, 13 de março de 2010

PALESTRA NO CAEN.

Embora com atraso, agradeço o convite do Coordenador do Curso Pós- Graduação em Economia da UFC (CAEN), Prof. Dr. João Mário Santos de França e o Vice - Coordenador Prof. Dr. Emerson Marinho, para a palestra “O Controle Social” pelo Ministro Ubiratan Aguiar (Presidente do Tribunal de Contas da União- TCU), que ocorreu no último dia 11 de março (quinta-feira), às 19 horas, no Auditório do CAEN.

TUDO PARA O ESTADO.

Qual o Estado que queremos para 2011?

Conforme divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, será que é este que registra uma carga tributária em proporção ao PIB que era de 34,85% em 2008 para 34,28% em 2009?

O PIB E O MEU PRESENTE!

Afinal saiu o tão aguardado resultado do PIB 2009. E a aposta que fiz ano passado com o Controller da empresa foi finalmente ganha. Nesta segunda-feira um novo livro vem fazer parte da minha biblioteca.

Conforme noticiou a FOLHA DE S. PAULO, a turbulência empurrou a economia brasileira para perto da estagnação: o Produto Interno Bruto - PIB registrou variação negativa de 0,2% no ano passado, a primeira contração desde 1992. Naquele ano, o país vivia ainda sob a hiperinflação de mais de 20% ao mês e se via às voltas com o impeachment do então presidente Collor.

CAPITALISMO - CRISE?

No artigo do LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, uma frase para toda uma eternidade: “Recuperei um pouco de meu sangue-frio ao me lembrar de uma frase dita por um grande e sábio amigo meu: "Não aposte contra o capitalismo, pois você vai quebrar a cara."

A ECONOMIA BRASILEIRA EM 2009.

Na FOLHA DE S. PAULO, o colega LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS avança na análise do resultado do PIB de 2009, prevendo o que virá. Leitura inevitável, com certeza!

A divulgação do PIB de 2009 pelo IBGE nos permite avaliar de forma mais completa o comportamento da economia durante a cise mundial. Além disso, fornece boas pistas para projetarmos os resultados do último ano do mandato do presidente Lula.

Vamos começar lembrando o passado. O ano se iniciou sob o impacto de uma contração brutal do PIB no último trimestre do ano anterior

Entre outubro e dezembro de 2008, tivemos uma redução de 14% anuais - ou 3,5% ante o trimestre anterior - na geração de riquezas no Brasil. Não por outra razão vivíamos -sociedade e governo- um pesadelo para o qual não estávamos preparados. Eu mesmo - calejado que sou por mais de 40 anos de atividade profissional - fiquei muito assustado e pessimista com o futuro. Recuperei um pouco de meu sangue-frio ao me lembrar de uma frase dita por um grande e sábio amigo meu: "Não aposte contra o capitalismo, pois você vai quebrar a cara".

Nos primeiros três meses de 2009, o pânico continuou e o PIB se contraiu a uma taxa anualizada de 3,6%. Embora bem menor, continuava a retração da economia. Nos seis meses decorridos desde a quebra do banco Lehman Brothers, a queda do PIB brasileiro havia chegado a uma taxa anualizada de mais de 11%. Se usarmos o consumidor como referência sobre o comportamento do brasileiro naqueles terríveis dias, vamos encontrar -embora mitigado- o mesmo cenário de crise. As vendas do varejo, que vinham crescendo a uma taxa anual de 10%, passaram a se contrair a uma taxa anual de quase 5% ao ano.

No caso dos empresários, o susto foi ainda maior. A redução dos gastos com máquinas e equipamentos foi de mais de 40% anualizados entre o terceiro trimestre de 2008 e os primeiros três meses de 2009. O aumento rápido dos estoques e a redução do crédito bancário levaram a uma quase paralisação da produção em muitos setores e à demissão de funcionários.

Mas os números do IBGE deixam claro que, se houve uma queda no vazio durante o período de seis meses, a recuperação a partir do segundo trimestre foi ainda mais rápida. As vendas ao varejo voltaram a crescer a taxas da ordem de 12% ao ano a partir de setembro e hoje já são em valor mais de 5% superiores ao que prevalecia antes da crise.

Também está nas estatísticas do PIB a prova de que os empresários retomaram de maneira bem mais lenta seus investimentos. A partir do segundo semestre do ano passado, os gastos com investimentos cresceram rapidamente, mas ainda estão bem abaixo do nível que prevalecia antes da crise. Se considerarmos a demanda privada total, que inclui os gastos com consumo e exportações, os números do IBGE mostram que estávamos no fim de 2009 exatamente no nível anterior à crise.

Por fim, o papel das importações continua a crescer na matriz de oferta de bens no Brasil, o que contribui para ancorar a inflação no segmento de bens industriais e intermediários em um momento de demanda acelerada, ainda que apenas temporariamente.

Para 2010, a equipe de economistas da Quest prevê crescimento de 6%, com inflação crescente e superior ao centro da meta. Nos próximos meses, o Banco Central terá a difícil tarefa de controlá-la sem destruir o otimismo de nossos empresários.

A LOUCURA É RELATIVA!

Para simplificar as coisas, o problema é o seguinte: como é possível descobrir qualquer significado num mundo finito, considerando-se o tamanho de meu colarinho e de minha cintura? Uma pergunta ainda mais difícil quando nos damos conta de que a ciência - ah, a ciência! – vive fracassando. È verdade que ela derrotou várias doenças, quebrou o código genético e até botou gente na Lua, e, no entanto, quando um homem de 80 anos é deixado a sós numa sala com duas garçonetes, nada acontece. PORQUE OS VERDADEIROS PROBLEMAS NUNCA MUDAM.

Para os meus quase dois (milhões de) in/fiéis leitores, um pouco de WOODY ALLEN, num sábado cheio de atividades, mas com muitas idéias na cabeça! E que venha a nova semana!!!

quarta-feira, 10 de março de 2010

BILIONÁRIOS 2010!

Direto da FORBES, os bilionários do ano. E dentre os 10 mais, lá está o BRASIL!!!

IDEIAS DO PROFESSOR CARDOSO!

Conforme consta na FOLHA DE S. PAULO, em recente palestra na CASA DO SABER, no Rio de Janeiro - o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a "verdadeira discussão" no Brasil hoje é se teremos um capitalismo "burocrático, corporativo", em que o Estado "manda e resolve", ou um "capitalismo de competição", de clara orientação liberal. Na ocasião o Professor Cardoso defendeu o resgate do conceito original de liberalismo, de defesa das liberdades do indivíduo e da autonomia da sociedade, num país que "acha que Estado é igual à nação" e no qual o direito individual "vem depois da ideia do coletivo".

PAULO NOGUEIRA E A ORTODOXIA!

Direto da FOLHA DE S. PAULO, o colega PAULO NOGUEIRA BATISTA JR escreve: ORTODOXIA, “PERO NO MUCHO.” No artigo da quinta-feira passada, falei um pouco sobre certa empolgação heterodoxa, ou pelo menos revisionista, que toma conta até mesmo do FMI. Vinicius Torres Freire publicou ontem na Folha uma coluna ironicamente intitulada "Saudades da Bahia e da ortodoxia". Pois bem, leitor, não quero ser espírito de porco, mas devo dizer que até um economista como eu já começa a sentir "saudades da ortodoxia". O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, declarou que poderá tomar medidas impopulares e antipáticas, não se deixando influenciar pelo "calendário cívico" (eleições). A sua preocupação é com um possível aquecimento excessivo da demanda, com consequentes riscos para a inflação.J ustifica-se a preocupação? Em certa medida, sim. A maioria dos indicadores (produção, emprego, utilização da capacidade, arrecadação tributária, entre outros) sugere forte retomada da economia. As projeções dos analistas de mercado, coletadas pelo BC (relatório Focus), vêm indicando aumento da inflação esperada para 2010. A expectativa mediana para o IPCA subiu para 4,91%. Além disso - e mais preocupante no meu entender -, o crescimento da economia brasileira, que é bem superior ao da maioria dos nossos parceiros comerciais, está contribuindo para o rápido aumento das importações e para a deterioração das contas externas. Parece claro que a economia brasileira tem, sim, condições de crescer 5% ou 6% ao ano, talvez até um pouco mais. Convém, entretanto, estar sempre atento aos efeitos que a expansão da demanda possa vir a ter sobre a inflação e as contas externas (desculpe, leitor, a homenagem ao Conselheiro Acácio). Suponhamos que o governo conclua que precisa frear a demanda. Qual a melhor forma de fazê-lo? O BC prefere, normalmente, aumentar a taxa básica de juro. Um dos grandes inconvenientes desse caminho é o efeito sobre o câmbio. A deterioração das contas externas reflete não apenas o diferencial de crescimento entre o Brasil e o resto do mundo mas também a força persistente da moeda brasileira. Por sua vez, o real valorizado reflete, entre outros fatores, o diferencial de juros entre o Brasil e o resto do mundo.Se o BC resolver seguir esse caminho, o mínimo que se pode esperar é que atue com moderação, como recomendou Delfim Netto na Folha de ontem. O quadro inflacionário não parece alarmante.Parte da aceleração da inflação no início deste ano se deve a fatores sazonais ou acidentais. A inflação esperada para 2010 ultrapassou o centro da meta, é verdade, mas continua bem abaixo do teto, que é 6,5%. Além disso, a inflação esperada pelo mercado, tanto para os próximos 12 meses (4,49%) como para 2011 (4,53%), está muito próxima do centro da meta. Isso sugere que existe confiança de que serão tomadas medidas para controlar a alta dos preços.O ideal seria combinar as políticas monetária e fiscal. O instrumento fiscal é geralmente mais lento e mais sujeito a limitações políticas, mas pode ser utilizado para desaquecer a economia sem provocar pressões altistas sobre o câmbio. Outra possibilidade é tomar medidas adicionais para conter a entrada de capitais externos e a expansão do crédito interno (desacelerando, por exemplo, os empréstimos dos bancos públicos).O essencial é ter o cuidado de não exagerar na dose e acabar abortando a recuperação em curso. Ortodoxia, sim. "Pero no mucho".

PREVISÕES DO PIB 2010!

Na página da blogueira MIRIAM LEITÃO, em 10/03/10, a informação de que para o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, o Brasil vai crescer 5,5% em 2010, mas a taxa não deve se repetir nos próximos anos. Em 2011, o PIB (conjunto de bens e serviços produzidos no país) pode registrar aumento de 4%, o que estaria mais próximo de um crescimento sustentável. - Não acho que o Brasil possa crescer de forma sustentada nessa taxa de 5,5%. Para isso, teria de aumentar a capacidade de investimento e de poupança, que só são possíveis com a melhora nas contas e a realização de reformas - explica o sócio da consultoria Tendências.

segunda-feira, 8 de março de 2010

ESQUERDISMO DE PROFESSORES?

Está matéria saiu na FOLHA DE S. PAULO de hoje, mas foi publicada originalmente no The New York Times. Apesar de tratar do assunto na visão americana, acredito que a sua leitura também contempla a nossa realidade, além de ser uma pesquisa com o rigor da econometria, o que não se tinha tentado antes. Com vocês, ESTUDO DESVENDA “ESQUERDISMO” DE PROFESSORES.

Já se tentou justificar de diversas maneiras o viés de esquerda dos professores universitários dos EUA, com explicações que vão desde viés, puro e simples, a QIs mais altos. Uma nova pesquisa sugere que os críticos talvez tenham formulado a pergunta errada. Em vez de indagar o porquê de a maioria dos professores universitários ser de esquerda, deveriam perguntar por que tantos esquerdistas querem ser professores universitários. Dois sociólogos acham que podem ter encontrado a resposta: os papéis, ou profissões, de cada pessoa seriam escolhidos por ela segundo sua personalidade ou preferências. Basta pensar na imagem clássica de um professor de letras, filosofia ou ciências sociais, campos em que a assimetria é mais forte: casaco de tweed, ar de nerd, ateu - e de esquerda. Mesmo que isso seja um estereótipo antiquado, ele influi nas ideias que os jovens têm sobre escolha profissional. Empregos ou profissões podem ser enquadrados em estereótipos diferentes, disseram Neil Gross e Ethan Foss, os autores do estudo. Eles citaram, por exemplo, a proporção baixa de enfermeiros, comparados às enfermeiras. A razão principal da disparidade é que a maioria das pessoas vê a enfermagem como profissão feminina, disse Gross. A enfermagem sofre o efeito do que os sociólogos chamam de "estereotipagem de gênero". Para Gross, "professores universitários e vários outros profissionais são alvos de estereotipagem política". Jornalismo, artes, carreiras da área social e terapia são dominados por pessoas de viés esquerdista; policiamento, agricultura, odontologia, medicina e carreiras militares atraem mais conservadores nos EUA. "Esse tipo de reputação afeta as aspirações profissionais das pessoas", acrescentou o sociólogo. A profissão acadêmica "ganhou uma reputação tão forte de viés esquerdista e secularismo que, nos últimos 35 anos, poucos estudantes que são conservadores políticos ou religiosos, mas muitos que são seculares e de esquerda, desenvolveram a aspiração de se tornarem professores universitários", escrevem os dois autores. Essa máxima se aplica especialmente ao campo deles, a sociologia, que acabou associada "ao estudo da raça, classe social e desigualdade de gêneros - um conjunto de preocupações que é importante especialmente para as pessoas de esquerda". O que distingue a pesquisa de Gross e Fosse de muito do burburinho que cerca esse tema é a metodologia. Enquanto a maioria dos argumentos apresentados até hoje se baseou sobretudo em relatos pessoais, esse é um dos únicos estudos a utilizar dados da Pesquisa Social Geral de opiniões e comportamentos sociais e a comparar os professores ao resto da população americana. Gross e Fosse vincularam esses resultados empíricos à questão mais ampla do porquê de algumas ocupações -assim como alguns grupos étnicos ou algumas religiões- se caracterizarem por um viés político evidente. Usando uma técnica econométrica, eles testaram quais das teorias mencionadas com frequência eram substanciadas por provas, e quais não eram. Descobriu-se que a discriminação intencional, uma das acusações mais frequentes feitas por conservadores, não exerce um papel significativo. Claro que a estereotipagem não é a única causa do viés esquerdista. As características que definem a orientação política de cada um também estão presentes. Quase a metade da assimetria política presente no mundo acadêmico pode ser atribuída a quatro características compartilhadas pelos esquerdistas em geral, e pelos professores universitários em particular: alto grau de instrução; posição religiosa não conservadora, tolerância declarada por ideias controversas e disparidade entre grau de instrução e renda. A tendência das pessoas que estão em qualquer instituição ou organização de tentarem enquadrar-se nela também reforça a assimetria política. Em uma coletânea de ensaios publicada pelo grupo conservador American Enterprise Institute, o economista Daniel B. Klein, da Universidade George Mason, e a socióloga sueca Charlotta Stern argumentam que, quando se trata de contratar profissionais, "a maioria das pessoas tende a preferir a candidatos semelhantes a elas em matéria de crenças, valores e engajamentos". Para Gross, acusações sobre viés e lavagem cerebral de estudantes são contraproducentes. "O irônico é que, quanto mais conservadores se queixam do esquerdismo da academia, é mais provável que a academia continue a representar um reduto do pensamento de esquerda."

quarta-feira, 3 de março de 2010

ELEIÇÃO ECONÔMICA JÁ?

Também diretamente da FOLHA DE S. PAULO, os dois principais candidatos ANTECIPAM O DEBATE ECONÔMICO, o que é bom para a reflexão dos leitores e eleitores, já que estamos, na verdade, em uma época eleitoral e o posicionamento econômico de cada candidato(a) deve ser observado com a maior atenção possível.

Lado a lado dois dias após a divulgação da pesquisa Datafolha, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), criaram ontem um ambiente de debate eleitoral antecipado e, pela primeira vez, explicitaram divergências sobre a economia ao compararem gestões e políticas públicas. O embate entre os dois pré-candidatos à Presidência ocorreu durante os respectivos discursos na inauguração do complexo industrial da Case New Holland (máquinas agrícolas), em Sorocaba.

Último a falar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enalteceu seu governo, antes elogiado por Dilma, e deixou Serra sem direito a tréplica. A petista destacou que os dois elementos essenciais para o crescimento dos últimos anos foram o consumo e o crédito.

"O mérito do governo do presidente Lula é ter percebido que esse mercado consumidor era talvez uma das nossas maiores riquezas", disse. A "pujança do Brasil", acrescentou, se explica pelo volume de crédito hoje disponível: R$ 1,4 trilhão.

O tucano, por sua vez, fez uma ressalva: "É importante que a indústria se desenvolva também exportando, não apenas atendendo (...) o mercado interno". Para ele, são falaciosas as teses de que o Brasil deve permanecer exportador de produtos primários ou focar a economia de serviços.

Em uma resposta indireta a Dilma, que falou do recorde de empregos na gestão Lula, o governador disse que "grande parte da força de trabalho está subempregada". "Não vamos conseguir gerar os empregos num país de 180 milhões de habitantes (...) sem indústria."

Dilma disse que "a palavrinha Bric" (sigla que designa Brasil, Rússia, Índia e China) não foi criada só por conta do crescimento desses países, mas pelos mercados consumidores.

Ela citou o programa Minha Casa, Minha Vida como exemplo da visão de Lula sobre economia. Ele destacou o plano de modernização da indústria automobilística quando era titular do Planejamento de FHC. Lula respondeu a Serra ora direta, ora veladamente. Disse que o Brasil vive um "momento ímpar" e que é preciso lembrar "os últimos 30 anos para a gente saber de onde nós partimos e aonde nós pretendemos chegar". Lembrando que "a Dilma é economista, o Serra é economista", disse que ia a debates com economistas e saía achando que o país tinha quebrado.

Por fim, em nova cutucada ao tucano, Lula disse que foram os bancos públicos que salvaram o país na crise. Na gestão de Serra foi concretizada a venda da Nossa Caixa ao Banco do Brasil. "Se tivesse mais banco para vender, Serra, eu ia comprar (...) para financiar o crédito."

Em almoço na Anfavea em São Paulo, Lula afirmou ter sido vítima da "ideia imbecil" do terrorismo eleitoral: "Mentiram tanto, que um dia o povo não acreditou mais". Para o presidente, "não existe possibilidade" de seu sucessor mudar o que está sendo feito.

Para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, as regras da atual política econômica do Brasil não deixam espaço para mudanças que desviem o país da estabilidade. "Não se coloca mais a estabilidade versus o crescimento", disse ele, durante encontro com executivos de bancos."

LEITURA INEVITÁVEL: SCHWARTSMAN

Iniciando o dia com o nosso colega ALEXANDRE SCHWARTSMAN, na FOLHA DE S.PAULO e no seu blog, http://www.maovisivel.blogspot.com/ sempre com OS PÉS NO CHÃO:

Recentemente, o economista-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional), Olivier Blanchard, coescreveu um texto importante ("Rethinking Macroeconomic Policy") em que explora lições da crise internacional para o desenho de política econômica, como a definição de metas mais elevadas para a inflação, a necessidade de um arcabouço regulatório no sistema financeiro que leve em conta os efeitos macroeconômicos da expansão do crédito e a conveniência de melhorar as contas fiscais nos períodos de crescimento. Cada um desses assuntos requereria várias colunas, mas hoje quero abordar outra das sugestões do documento, relativa à opção entre a inflação e a taxa de câmbio como potenciais metas para a política monetária.

Segundo a proposta, a estabilização da taxa de câmbio também deveria ser um objetivo dos bancos centrais, ao lado da estabilidade de preços. Os autores reconhecem que há conflitos entre esses objetivos, mas sugerem que, em caso de conflito insanável, a meta de inflação deveria ser abandonada, e a política monetária, utilizada apenas para apoiar a intervenção cambial, prevenindo a apreciação (ou a depreciação) exagerada da moeda.

A razão alegada para uma mudança no foco da política monetária refere-se a possíveis efeitos negativos de grandes flutuações da taxa de câmbio, seja sobre o setor exportador no caso de apreciação excessiva, seja sobre o balanço dos devedores em moeda estrangeira no caso oposto. Da forma como entendo o problema, porém, podemos até nos preocupar com esses efeitos, mas temos primeiro que reconhecer que não resultam daquela cotação real-dólar diariamente observada, mas sim da taxa real de câmbio, isto é, da taxa de câmbio ajustada pela diferença entre a inflação doméstica e a externa.

Assim, por exemplo, caso o preço do dólar aumente 10%, mas todos os preços da economia também subam 10%, tanto a capacidade de pagamento das empresas endividadas em dólares como a "competitividade" do setor exportador permaneceriam inalterados. Vale dizer, mesmo partindo do pressuposto de que a estabilidade cambial é um objetivo meritório, é necessário admitir que este só se aplica à taxa de câmbio ajustada à inflação.

Isto dito, se o BC consegue estabilizar a taxa de câmbio nominal, tipicamente igualando a taxa doméstica de juros (ajustada pelo risco) à internacional, não há quaisquer garantias de que a inflação se mantenha baixa o suficiente para que a taxa real de câmbio não acabe se apreciando. Só por um acaso monumental a mesma taxa de juros que estabiliza a taxa nominal de câmbio será aquela que também gera inflação próxima à internacional, de modo a estabilizar simultaneamente a taxa real de câmbio.

Tudo isso pode parecer muito abstrato, mas as implicações são bastante palpáveis. A Argentina, por exemplo, optou por um regime monetário e cambial muito semelhante ao sugerido por Blanchard e colegas.

De forma não totalmente explícita, o BC argentino tem buscado estabilizar a cotação do peso com relação ao dólar, abdicando do controle dos preços domésticos. A aceleração da inflação, contudo, erodiu a taxa real de câmbio, que continua se apreciando a despeito do regime cambial, seguindo de perto o comportamento da cotação real-dólar, também ajustada pela diferença de inflação.

Na prática, portanto, observamos exatamente o sugerido pela teoria: a mudança de foco da política monetária não consegue mudar a trajetória do câmbio real, levando apenas à maior volatilidade da inflação. Em que pese a indiscutível competência dos autores, não parece que essa proposta irá voar.

LEITURA INEVITÁVEL: DELFIM NETTO

Direto da FOLHA DE S. PAULO, a leitura inevitável de ANTONIO DELFIM NETTO, com o sugestivo título de Discussão extemporânea:

A discussão sobre se o Banco Central deve ou não elevar a taxa nominal de juros (a Selic) diante de uma ameaça de aumento da taxa de inflação está fora do lugar. Por dois motivos: 1º) Porque o Brasil adotou a política econômica canônica utilizada na maioria dos países: a) relativo equilíbrio fiscal e controle da relação dívida pública/PIB; b) política monetária controlada por um Banco Central autônomo que manipula a taxa básica de juros para controlar a taxa de inflação; c) relativa liberdade de movimento de capitais e um sistema de câmbio flutuante; 2º) Porque podemos discutir, "pour épater les bourgeois", se o "Consenso de Beijing" (incompatível com a nossa concepção de vida) não seria melhor do ponto de vista exclusivamente econômico.

O fato concreto é que escolhemos o modelo de administração da nossa economia. Tudo é relativo, mas a verdade é que com ele temos nos saído relativamente bem! E o que ele recomenda quando aumenta a expectativa inflacionária? Que o Banco Central autônomo (e é "autônomo" para isso!) eleve, preventivamente, a taxa de juros nominal acima do aumento da expectativa de inflação, para aumentar o juro real. A discussão é, portanto, extemporânea: fora do tempo desejável ou apropriado.

O que devemos e podemos discutir é a relevância do modelo do Banco Central. Ele depende, essencialmente, de dois parâmetros variáveis estatisticamente fugidios: o PIB potencial e a taxa de juro real de equilíbrio.

Os modelos que utilizamos só explicitam (quando corretamente manipulados) as conclusões já contidas nas hipóteses neles incorporadas. Eles não garantem que as hipóteses ou as evidências empíricas internalizadas têm relação com a "realidade". Os modelos macroeconômicos de demanda e oferta globais para determinar empiricamente a taxa de juro real de "equilíbrio" contrabandeiam, para dentro deles, as crenças e os erros do passado incorporados nos dados disponíveis.

Tais modelos podem indicar que tivemos no passado uma taxa de juro real de "equilíbrio" igual ao dobro da do resto do mundo. O que não podem "provar" é a sua necessidade ou inferir a sua validade empírica para o futuro.

Esta, obviamente, não é uma crítica ao uso dos modelos. Todos nós os usamos a vida inteira. É só uma advertência sobre os cuidados que temos de ter ao encará-los. São instrumentos úteis e mesmo indispensáveis, mas não são oráculos que respondem às perguntas dos crentes!

O que devemos esperar é que o Banco Central aja com moderação e leve em conta a natureza do aumento dos preços e os efeitos colaterais sobre o crescimento, o emprego e a taxa de câmbio.

segunda-feira, 1 de março de 2010

JE NE FAILT RIEN SANS GAYETÉ!

Este 1º de Março de 2010 começa muito TRISTE. Além dos graves problemas no país irmão CHILE, que tive a oportunidade de conhecer em fevereiro do ano passado, temos a lamentar a morte de JOSÉ MINDLIN. Um homem raro neste BRASIL de tantos que não lêem, não valorizam a leitura e incentivam cada vez mesmo o prazer da leitura. E viva o BBB10, sem preconceitos, of course!
Aproveitando um gancho do ESTADÃO: "O ex-libris de José Mindlin, selo pessoal que o bibliófilo colocou em sua coleção de livros raros, não poderia identificar melhor quem foi o empresário, intelectual e acadêmico morto neste domingo, 28, em São Paulo, aos 95 anos, após prolongada doença: "Je ne fait rien sans gayeté" (Não faço nada sem alegria). De fato, quem teve o privilégio de conhecer e conviver com Mindlin, sabe que caiu bem na vida do maior colecionador de livros do Brasil a escolha dessa máxima de Montaigne, retirada de seus Ensaios (do qual sua biblioteca tem um raríssimo exemplar, de 1588, que pertenceu ao crítico Saint-Beuve."

ILUSÃO MONETÁRIA!

Da série "O melhor da Economia", ROBERT SHILLER recorda que "FRIEDMAN concluiu que apenas em determinado nível de emprego a inflação não tenderá aumentar nem a diminuir, o que ele denominou de taxa de desemprego natural. Com essa prestidigitação, FRIEDMAN mudou para sempre a macroeconomia. A chamada teoria da taxa natural pegou quase que da noite para o dia."

domingo, 28 de fevereiro de 2010

GRÉCIA E BRASIL: ESTUDO DE CASO?

O exemplo da atual situação econômica da GRÉCIA é muito bom que tenha acontecido neste início de 2010, para que determinadas políticas econômicas NÃO sejam tentadas por candidatos(as) à Presidência da República. Afinal, tudo tem o seu preço e um dia a casa pode cair. E não é por falta de alerta... Responsabilidade fiscal sempre!

CRISE NO CAPITALISMO?

Estou gostando da leitura de um pequeno livro do Professor CLAUDE JESSUA, da Universidade Paris II, com o direto título CAPITALISMO. Em determinado momento ele escreve que a crise atual, qualquer que venha a ser o seu resultado, provavelmente causará mudanças profundas na organização financeira dos mercados mundiais. Contudo, trata-se de uma CRISE DENTRO DO CAPITALISMO e NÃO DO CAPITALISMO.

Nisso nós nunca tivemos a menor dúvida.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A ANÁLISE DE PIZA!

Sempre que tenho acesso ao ESTADÃO e é dia de coluna do DANIEL PIZA, sei que a leitura servirá para pensar. Em 21/02, PIZA, escreveu de uma maneira crua como o BRASIL está na economia e o perigo que nos ronda o retorno de um Estado regulador. Além de deixar claro que a atual política econômica é mera continuação da do governo anterior.

Nós, que fazemos este blog, continuamos acreditando no valor da economia de livre mercado e no capitalismo como a força motora que realmente pode e deve trazer riqueza para os habitantes deste planeta, em um mundo com plena liberdade de escolha política e social.

A crise internacional que causou a maior parada da indústria brasileira em vinte anos causou também o ressurgimento de slogans estatizantes, por uma mistura de conveniência e recalque. O PT e a autodenominada esquerda leram a crise com a habitual lente de aumento dos países atrasados: ela teria significado “a volta do Estado” depois de duas décadas de neoliberalismo. O diagnóstico é conveniente porque serviria para justificar o aumento do déficit fiscal e da dívida interna, movido muito mais pelo aumento de servidores e despesas do que dos investimentos, e licenciar o aparelhamento de bancos e fundos de pensão e as tentativas de nacionalização nas áreas de telefonia, siderurgia e energia. E o diagnóstico é recalcado porque mostra que, depois de quase oito anos de governo Lula, nem eles mesmos entenderam os motivos de sua popularidade, já que praticou o contrário do que sempre pregou.

Ironicamente, o debate mundo afora tem apontado para o outro lado. Sim, a injeção de dinheiro público para cortar o ciclo recessivo foi fundamental, seguindo não apenas a orientação de um Keynes (economista que, não custa lembrar, sempre se declarou um liberal, só que heterodoxo), mas uma velha prática do capitalismo moderno. Olhe os gráficos da participação da máquina pública nas economias ao longo do século 20: em todas houve aumento em média, não encolhimento. Mas, a certa altura, ficou claro que era preciso reduzi-la por meio de cortes e privatizações, sobretudo em face de uma realidade cada vez mais dinâmica e inovadora, a da Era Digital ou pós-industrial. E agora nos deparamos de novo com o quê? EUA, Europa e Japão às voltas com imensas dívidas públicas que paralisam seu crescimento. A crise, enfim, é soma da desregulamentação financeira com o descontrole fiscal; não à toa, na Grécia, a Goldman Sachs ajudou a maquiar a contabilidade do governo.

Aqui, no entanto, vemos que só se olha para um lado do problema. A plataforma do PT para a candidatura Dilma Rousseff propõe a retomada do “desenvolvimentismo”, do Estado empresário, executor, forte, etc. É claro que não se trata do que tivemos nos anos 50 a 70, porque hoje não se tolera mais o subproduto trágico daquele período, a inflação. Mas a ilusão é semelhante e ignora os efeitos nocivos da atualidade. Além disso, não estamos numa sociedade desenvolvida, com instituições sadias e educação séria. Como se tem visto no segundo mandato de Lula, a ordem é atropelar “atrasadores de obras” como TCU, MP e Ibama, fingir que autarquias como a Infraero não estão carcomidas pela corrupção e manter uma estrutura tributária que pune a produtividade e os pobres; a carência de mão de obra qualificada é agônica; e as contas externas vão mal, porque só sabemos exportar produtos básicos, de pouca industrialização e tecnologia. Então, como assim, “desenvolvimento”?

Mais irônico ainda é ler que o governo Dilma pretende montar uma “burocracia de alta qualidade” com “critérios meritocráticos e republicanos” – tudo que o governo Lula não fez, seguindo a praxe quase contínua de 500 anos de Brasil. A velha guarda petista acha que o sucesso de Lula se deve quase todo aos programas sociais como o Bolsa Família. Naturalmente, sabe o peso da estabilidade econômica (nunca mais se ouviu, por exemplo, um Mercadante dizer que não há nenhum problema numa inflação de dois dígitos), tanto é que pinta José Serra como ameaça por suas opiniões esquisitas sobre política cambial. Mas o foco é desdenhar as privatizações feitas no passado, como se nada tivessem a ver com o vigor econômico dos últimos anos, e dizer que não há inchaço da máquina, e sim reconstrução… Como os governos do regime militar, o lulismo supõe que a eficiência do Estado se mede pelo tamanho das obras. Pode-se dizer que sofre, acima de tudo, da doença infantil do simplismo.

Essa mesma turma, que ainda não entendeu por que o muro de Berlim caiu, dizia antigamente que a única maneira de reduzir a desigualdade social era tirar dos ricos para dar aos pobres; ser de “esquerda” era defender um Estado cada vez maior para fazer essa transferência de renda. A grande contribuição do governo Lula, porém, foi mostrar que isso era bobagem: a desigualdade continuou a cair e nenhum capitalista ou burguês perdeu um centavo sequer desde 2003 – muito pelo contrário, como atestam os elogios de Abílio Diniz, Eike Batista e outros bilionários. Já os privilégios que o Estado concede a alguns setores, como empreiteiras, sindicatos e oligarquias políticas, só se ampliaram. E quando se vê Marco Aurélio “top top” Garcia, um dos conselheiros preferidos de Dilma, dizer que a TV a cabo impõe “esterco” dos americanos, o odor que sobe é desagradavelmente sessentista. Não há nada que um estatista odeie mais que a liberdade de expressão e produção.

PREVISÕES ECONÔMICAS.

Trabalhar com previsão não é fácil, mas é assunto no qual tenho grande interesse. Apesar das falhas e críticas, temos bons exemplos de acertos, nem sempre divulgados. Por exemplo, em 02/03/09 a EXAME anunciou que a Taxa Selic para o final do ano de 2009 teria uma queda dos 12,75% de janeiro para 8,75%, o que de fato ocorreu.

Na mesma época, a revista informava que a cotação do dólar em 2009 seria desvalorizada de R$ 2,30 para cerca de R$ 1,70, o que também é verdade.

Portanto, previsões com estudos, bom senso e um pouco de sorte, são tiros que acertam no alvo.

ROGOFF E O BRASIL.

KENNETH ROGOFF é professor de economia na Universidade Harvard e, em março, estará sendo lançando no Brasil o seu livro “Oito Séculos de Delírios Financeiros”. Acima, capa da edição americana.

Uma “curiosidade: em entrevista à EXAME, ROGOFF informa que no seu portfólio de ações, 10% são papéis de empresas brasileiras. Grande BRASIL e seu enorme potencial.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Lula em Cuba NÃO livre!

Evidentemente que não podemos ficar felizes com o nosso Presidente visitando CUBA. Qual o ganho que o BRASIL têm com esse tipo de política externa?
Para não chorar, nada como mestre SINFRÔNIO, lá da nossa Fortaleza, no DIÁRIO DO NORDESTE, reunindo Lula e Fidel.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

DELFIM NETTO NA FOLHA DE S. PAULO

DELFIM NETTO, hoje na FOLHA DE S. PAULO - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2402201006.htm, explica que "Hoje, no Brasil, os agentes ativos que constroem o pensamento hegemônico são a taxa de juros, a taxa de câmbio, os pontos do Ibovespa e as crenças do Banco Central. Os agentes passivos, ignorados, são os empresários, que dão emprego, que correm os riscos, e os trabalhadores, cujo desemprego é saudado porque dá folga ao famoso "produto potencial"...
A última coisa que interessa é saber, por exemplo, que graças às "artes" chinesas (que o Brasil considera uma "economia de mercado"!) destrói-se o nosso setor calçadista.
A desculpa é facilmente formulada pelo pensamento hegemônico: nossa produtividade é menor que a chinesa! Os empresários falidos e os trabalhadores desempregados encontrarão, por definição, uso mais rentável para seu patrimônio e para sua força de trabalho em outro setor...
As recentes volatilidades da taxa de câmbio e do índice Ibovespa (que, obviamente, não são fenômenos independentes) deveriam levar-nos a uma reflexão mais profunda. Elas não são resultado de "leis naturais", mas produto do equívoco de subjugar o setor real da economia aos interesses do sistema financeiro

UMA PAUSA NA ECONOMIA!

Direto da revista DICTA&CONTRADICTA, um pensamento do genial GOETHE, para reflexão numa noite quente de verão.

Ein guter Mensch, in seinem dunklen Drange,
Ist sich des rechten Weges wohl bewußt (Faust I, 328-329).

Um bom homem, por obscura que seja sua luta / Está ciente de que há apenas um caminho correto” (trad. livre).

A LUZ E A ESCURIDÃO!

Na Internet localizamos belas imagens, como a vista acima, mostrando o nosso planeta numa noite dessas qualquer.

É impressionante como a LUZ está apenas em determinadas áreas, apesar de a TERRA ser somente uma. Na verdade a riqueza reLUZ, enquanto a pobreza permanece nas trevas da escuridão. Vamos, aos poucos, percebendo onde estão os países de 1º mundo e onde ficam os outros. Essa desigualdade de LUZ ou, melhor dizendo, de RIQUEZA, não é de hoje, é dependente de inúmeros fatores, mas teremos ainda muito que fazer para ILUMINAR todo o planeta. Com ou sem CRISE...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

KRUGMAN NA THE NEW YORKER.

Na The New Yorker que está nas bancas - http://www.newyorker.com/reporting/2010/03/01/100301, um perfil do PAUL KRUGMAN – no estilo daqueles da PIAUÍ. Gostei demais de uma foto dele e sua esposa, com os seus dois "amigos": a gata Doris Lessing e o gato Albert Einstein. Não é nada, não é nada, mas o colega tem um NOBEL na parede. E inteligência até na hora de escolher o nome dos felinos.
Uma pequena prévia do texto, apenas para o início de uma boa semana:
Their apartment in New York is in the same neighborhood as both Jeffrey Sachs’s and Joseph Stiglitz’s, but since they bought it, a few years ago, they haven’t seen either of them. Krugman doesn’t get out much, socially. But he travels constantly, speaking at conferences, speaking for pay, promoting his books. “I’m not a very easygoing person one on one, but put me in front of five hundred people and I get very relaxed and conversational,” he says. Years ago, when he was just an economist, he did a lot of speaking at corporate events. “I wasn’t enjoying those so much,” he says. “One of them was held at a golf course, and I gave the luncheon talk and I was thinking to myself, I could just as well have been a magician. And then, at dinner, they did have a magician!” These days, the Times forbids him to do gigs like that, to avoid conflicts of interest, but his book publisher sends him all over the place. “I don’t sell as many books as Tom Friedman does,” Krugman says. “That’s O.K. Tom gives you this, you know, ‘I was talking to somebody in Bangalore and this is what I saw.’ That’s a skill I don’t have.” Perhaps this is fortunate, because he finds book tours exhausting.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

ECONOMIA: MERCADO X ESTADO?

ANDRÉ PETRY, escrevendo direto de NYC na VEJA desta semana, conclui que:
"Na visão simplista das coisas, toda regulação é contra o mercado, e todo mercado regulado é contra o capitalismo. Nem Adam Smith (1723-1790), pai do liberalismo, era totalmente contra a regulação, a intervenção do estado. Smith desancava banqueiros e via pelo menos duas dezenas de funções insubstituíveis a ser cumpridas pelo estado. John Maynard Keynes (1883-1946), santo padroeiro dos estatistas, tampouco desprezava o livre mercado, cujo primado na criação da riqueza ele reconhecia. Smith escreveu sua obra maior em 1776 e se insurgiu contra um estado em que o rei decidia se um industrial podia abrir uma segunda fábrica ou não; em que um desempregado de Manchester que ousasse tentar uma colocação em Londres poderia ser preso e condenado à morte. A força teórica de Keynes não está na negação da livre-iniciativa, mas na demolição da crença de que as pessoas agem racional e previsivelmente em suas relações econômicas e, portanto, tudo pode ser explicado por lógica e estatística. Ou, como magistralmente resumiu o economista americano Hyman Minsky (1919-1996): "Keynes sem o conceito de incerteza é como Hamlet sem o príncipe da Dinamarca". A atualidade de Keynes pode ser resumida no conceito: "Nós não existimos para os mercados. Os mercados é que existem para nós". Ela ficou ainda mais evidente depois que o trem especulativo de Wall Street esmagou as pernas das forças produtivas. A de Smith fica clara também se adaptarmos para ele o conceito keynesiano: "Nós não existimos para os governos. Os governos é que existem para nós"."

CRISES SÃO INEVITÁVEIS.

Também, direto da VEJA, o Professor Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, defende a regulação do mercado financeiro, mas avisa que crises são inerentes ao capitalismo.

Há consenso de que o mercado financeiro precisa ser regulado pelo estado?

Há quem mantenha a velha retórica da autorregulação, que implica deixar ir à falência aqueles que assumem riscos excessivos e se dão mal. No mercado financeiro, porém, isso não é possível. Temos bancos grandes demais, interligados demais, para que possam falir sem colocar em risco todo o sistema. Por isso, é preciso regular. Até banqueiros concordam com isso. Estive em Davos no mês passado, durante o Fórum Econômico Mundial, e metade dos banqueiros com quem conversei acha que o estado precisa adotar um papel mais decisivo na regulação e na supervisão dos mercados financeiros.

A boa regulação financeira teria evitado a atual crise?

Por melhor que seja, a regulação financeira não evita crises. As crises, as recessões, a volatilidade são intrínsecas ao funcionamento do capitalismo e da economia de mercado. São as fraquezas do mercado. A saída é usar o poder regulador e as políticas distributivas para limitar ou compensar as crises e suas consequências negativas. Quem fica desempregado, por exemplo, pode ser requalificado, receber seguro-desemprego.

O capitalismo está num mau momento?

Nas economias avançadas, o momento é ruim. Mas nos mercados emergentes é o oposto. O que levou os Brics à atual posição de proeminência? A economia de mercado e a liberalização. Não se conhece nada melhor do que dar liberdade aos empreendedores. É a mola propulsora do milagre econômico da China. Com políticas saudáveis e estáveis, com boas políticas regulatórias e macroeconômicas, o capitalismo responde positivamente. O Brasil é um exemplo disso. O capitalismo moderno, surgido na Revolução Industrial, tem 200 anos de experiência. Sabemos que nele há benefícios e custos. Mas também sabemos que os benefícios do capitalismo são muito maiores que os custos.

A IMAGEM DA SEMANA.

Depois do Carnaval, vem aí as eleições 2010. E que vença o OU a melhor.
Parabéns à VEJA pela bela capa desta edição. Ficou um pouco de TIME e a la JACKIE KENNEDY.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

CARNAVAL NA THE ECONOMIST.

Em sua edição que está nas bancas, a The Economist informa que "Brazilian health officials prepared to hand out 55m condoms in the run-up to CARNIVAL, as part of an AIDS-awareness campaign. "
Que bom ler uma notícia sobre o Brasil sem mencionar corrupção, violência, miséria etc...

OBAMA HOJE!

Direto dos Cartoons of the Week da revista TIME, como a economia consegue deixar o humor de quem meses atrás sorria para OBAMA.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...