O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, disse hoje (12) que a
redução da taxa básica de juros, a Selic, deve ser feita de forma responsável.
“Todos nós queremos juros mais baixos. Esse também é o desejo do Banco
Central. A questão é como chegar lá. Para isso, é importante que a redução dos
juros seja feita de forma responsável, para que seja sustentável no longo
prazo. Caso contrário, a trajetória terá que ser revertida lá na frente”, disse
Goldfajn em discurso durante almoço de confraternização dos dirigentes de
bancos, promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em São Paulo.
Diante da recessão econômica e da melhora na inflação, o BC tem sinalizado que
pode intensificar o corte da taxa básica de juros. Nas suas duas últimas
decisões, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC cortou a Selic em 0,25
ponto percentual. Atualmente, a taxa está em 13,75% ao ano.
A Selic é um dos instrumentos usados para influenciar a atividade
econômica e, consequentemente, a inflação. Quando o Copom aumenta a Selic, o
objetivo é conter a demanda aquecida, e isso gera reflexos nos preços, porque
os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando o
Copom diminui os juros básicos, a tendência é que o crédito fique mais barato,
com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle sobre a inflação.
Goldfajn disse que o Copom se reúne de forma frequente para avaliar o
desempenho corrente e prospectivo da economia e pode sempre adequar as
condições da política monetária.
“Mas essa avaliação sobre a política monetária não pode ser confundida
com o debate sobre os juros estruturais da economia. Os juros estruturais
dependem de diversas variáveis, tais como fatores reais: produtividade, grau de
incerteza, garantias, respeito a contratos etc”, disse. E acrescentou que
mudanças nos juros estruturais também dependem de reformas fiscais “que
coloquem em ordem as contas públicas e de medidas microeconômicas que melhorem
o ambiente de negócios”.
“Por isso temos insistido na necessidade das reformas. São elas que farão
cair os juros estruturais”, destacou. Os juros estruturais estão relacionados à
estrutura e riscos da economia do país.
O presidente do BC também disse aos banqueiros que a política monetária
não substitui as políticas do governo, mas complementa. “O crescimento de um
país depende de investimento e de aumento da produtividade, que são os
elementos cruciais. A redução das incertezas de todas as naturezas, inclusive
aquelas provenientes de eventos não econômicos [como a crise política], também
é fundamental para a volta do crescimento.”
Durante o discurso, Goldfajn anunciou uma agenda de trabalho do banco,
chamada de BC+, com quatro pilares com potencial para contribuir para a
recuperação econômica do país.
“O primeiro pilar é o da redução sustentável e
perene do custo do crédito no Brasil. Nesse aspecto, as ações objetivam reduzir
a inadimplência, diminuir o custo do crédito para o tomador final, promover a
simplificação do compulsório, dentre outras”, disse.
O segundo pilar, segundo o presidente do BC, é o aumento da eficiência do
sistema financeiro. “Embora o nosso sistema seja notabilizado pela sua
dinâmica, há espaços para aperfeiçoamentos visando tornar ainda mais eficiente
a oferta de produtos e serviços financeiros a preços competitivos, com
externalidades positivas para a eficiência da economia como um todo.”
O terceiro fundamento é o da cidadania financeira, com medidas que
fomentem a educação financeira e fortaleçam a proteção legal e regulatória da
população recentemente incluída no sistema.
O quarto e último pilar, segundo
Goldfajn, é o do aprimoramento do arcabouço legal que rege as atividades e
competências do Banco Central, inclusive sua a autonomia.
Edição: Luana Lourenço