ANTONIO
DELFIM NETTO, como sempre, recentemente na FOLHA DE S. PAULO, compartilha a sua visão do mundo econômico e político brasileiro, com a experiência de quem realmente conhece todos os lados da moeda e sinaliza o que pode realmente vir por aí. Pelo menos nos próximos dois anos, a situação não estará fácil.
Uma ótima leitura para os meus quase dois (milhões de) fiéis leitores.
Quem foi premiado com uma longa
experiência pública com o setor privado (financeiro e real) sabe 1º) que, para
o empresário, o nível de volatilidade do seu humor é proporcional à perspectiva
de flutuação da sua conta bancária, o que o torna um curto-prazista e 2º) que a
inquietação que ataca os trabalhadores é a perspectiva de aumento do nível de
desemprego.
As dificuldades de manter a
coesão de suas famílias e sua integração na empresa, a ausência de reservas de
poupança, o nível de seu endividamento e a precariedade do auxílio ao
desemprego explicam a angústia por resultados imediatos, o que os torna,
também, curto-prazistas.
Esses fatos explicam por que o
"ajuste", mesmo quando sabidamente indispensável para que num prazo
mais longo se recupere o aumento da taxa de crescimento do PIB e a continuidade
da inclusão social, é frequentemente retardado e sempre sujeito às vicissitudes
do período eleitoral.
É porque o seu sucesso depende
essencialmente da arte política de convencer a sociedade que o
"ajuste" será o mais inteligente possível (minimiza os seus custos
econômicos e sociais) e o mais equânime (distribui os custos proporcionalmente
a quem pode e deve pagá-los) para maximizar a sua moralidade.
Como é absolutamente evidente, as
condições necessárias para que o "ajuste" seja bem-sucedido são a
credibilidade e "convicção" do poder incumbente, a qualidade do
programa e a reconhecida competência dos encarregados de sua execução. Não há
condição suficiente para garantir o seu sucesso, a não ser, talvez, a sorte...
Por maiores e mais
preconceituosas que sejam as desconfianças de parte da sociedade em relação à
presidente Dilma, é preciso reconhecer a sua coragem. Diante das dificuldades
de 2011-2014, ela escolheu uma nova política econômica e chamou os ministros
Joaquim Levy, Nelson Barbosa, Armando Monteiro e Kátia Abreu para executá-la.
Trata-se de um programa razoável
dentro das limitações políticas vigentes, que, sem diminuir a ênfase na
igualdade de oportunidades, apresenta um caminho realista para nos aproximar da
administração "normal" dos países mais bem-sucedidos.
Mas ele não será percorrido em
menos de dois anos.
Se a sociedade não for convencida
politicamente dos benefícios da troca de algum sacrifício no curto prazo pelas
condições de crescimento mais robusto e equilibrado no futuro e não tiver a
paciência de esperar os seus frutos, o curto-prazismo acabará prevalecendo. E,
quando a primavera chegar, em setembro, se eu conheço os empresários e os
trabalhadores, nós os veremos pedindo a troca do programa e dos ministros...
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