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quarta-feira, 6 de junho de 2018

Quem pode escrever na internet?

Não sei por que reclamam que brasileiro não lê, não escreve. As pessoas se esbaldaram de ler e escrever. Afinal, as redes sociais encontraram clientes ideais no Brasil. E elas aceitam tudo. Não há quem não consiga juntar os primos e tios em um grupo para o WhatsApp, ou agregar ex-colegas para formar um conjunto de amigos no Facebook. Quem não consegue está virtualmente morto. Virtualmente, fique claro. Afinal, como já se disse, hoje não se escreve para deixar um legado, para partilhar descobertas, inventos ou simples achados, mas para participar da rede. A unidade básica da sociedade não é mais o indivíduo, mas o grupo, a comunidade virtual, a rede.

JAIME PINSKY

Historiador, professor titular da Unicamp e diretor da Editora Contexto

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O pensamento econômico pós-crise

Armando Castelar - Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), escreveu no Correio Braziliense:

Muito se discute hoje em dia se a crise causará uma revisão do pensamento econômico mundial, em especial daquele mais alinhado ao Consenso de Washington, até então dominante nas prescrições das organizações multilaterais. Há questionamentos em três áreas: regulação financeira; a atuação do Banco Central (BC); e a política fiscal e o papel do Estado na economia.

A crise trouxe duas lições principais sobre a regulação financeira. Primeiro, que ter instituições financeiras individualmente sólidas não garante que o sistema como um todo também o seja. Por exemplo, se um banco mantém papéis líquidos de empresas com classificação de risco AAA em tesouraria, ele está sendo prudente: se tiver problemas de liquidez, será fácil vender esses títulos com pequenas perdas. Porém, se todos os bancos precisarem vender os mesmos títulos ao mesmo tempo, os preços despencarão, gerando perdas significativas, que podem colocar a solvência do sistema financeiro em cheque. Problemas semelhantes decorrem do uso universal dos mesmos modelos de risco, ou de o risco de crédito parecer mais baixo na fase ascendente do ciclo, quando os ativos se valorizam e as garantias parecem mais seguras, reforçando a disposição dos bancos emprestarem; ou ainda em função das inter-relações criadas pelas operações com derivativos.

Segundo, os incentivos a assumir riscos se revelaram mais fortes do que imaginado. Antes se acreditava que os acionistas bloqueariam estratégias muito arriscadas que os gestores quisessem assumir, para proteger seu capital. O que se viu, porém, foi os próprios acionistas pressionarem em favor de investimentos mais arriscados, para aumentar seu retorno (ou assim imaginavam). O sistema de bônus se mostrou igualmente perverso, levando a uma cultura de ganhos no curto prazo e pouco caso com os riscos envolvidos. O caso do Bear Stearns, em que os funcionários tinham um terço das ações, mostra que isso não impediu riscos tão grandes que quebraram uma das mais tradicionais instituições de Wall Street.

Claramente nessa área, o pensamento econômico pós-crise é bem diferente, prevalecendo a visão de que os limites à tomada de risco precisam ser muito mais estreitos. Da mesma forma, há uma grande preocupação em garantir mais transparência, para o regulador poder acompanhar melhor o que se passa. Por fim, há a percepção de que à supervisão de cada instituição devem somar-se medidas para garantir a saúde de todo o sistema, o que se convencionou chamar de regulação macroprudencial.

Em parte associado a esse último ponto se discute também o papel do BC. Em especial, há a visão de que a bolha imobiliária foi fomentada por um foco excessivo na inflação de bens e serviços e que com isso os juros ficaram muito baixos por tempo demais. Essa discussão precede a crise e os que discordam dessa visão argumentam que é difícil para o BC saber quando há uma bolha e que o custo de desinflá-la é muito alto. Por exemplo, os imóveis no Rio de Janeiro, grosso modo, dobraram de preço em dois anos: isso é uma bolha?

Outro tema diz respeito ao uso de instrumentos quantitativos de política monetária. O afrouxamento creditício, usado com especial intensidade pelo BC americano, foi uma novidade que ganhou importância por a taxa básica de juros já estar em zero. Na ponta oposta, países emergentes com economias aquecidas e inflação em alta têm recorrido a mais compulsórios e outras medidas de alargamento do spread bancário para tentar segurar os preços sem atrair grandes volumes de capital externo. Claramente, são instrumentos de qualidade inferior aos juros e cujo uso deve ser descontinuado quando a economia mundial se normalizar.

A crise levou a um aumento do ativismo fiscal, na tentativa de compensar com a demanda pública a contração no consumo e investimento privados, num quadro em que a política monetária já chegara ao limite. Isso foi visto como uma ressurreição das ideias keynesianas, o que não faz sentido: esses instrumentos estão aí há tempos — o Japão, por exemplo, os usa há duas décadas — e a novidade foi a intensidade com que se teve de recorrer a eles.

Mais equivocado ainda parece ser acreditar que a crise levará a uma revisão sobre qual deve ser o papel do Estado, fora o que concerne à regulação financeira e à preocupação do BC com as bolhas. Pelo contrário, com o aumento da dívida pública nos países ricos, medidas para transferir atividades, comerciais e não comerciais, para o setor privado vão ganhar espaço nas políticas públicas, como já está acontecendo na Inglaterra.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...