quarta-feira, 16 de março de 2011

2011

Novamente DELFIM NETTO, direto do VALOR, escreve sobre a economia em 2011.

O esporte nacional é estimar (ou melhor, "prever") qual será o nível do crescimento do PIB, da taxa de inflação e do deficit em conta-corrente neste ano.

Os economistas que estão fora do restrito círculo dos que formulam as políticas (os "policy makers", que têm suas "teorias", suas ideologias e idiossincrasias) as veem sob diferentes ângulos: com outras "teorias", ideologias e idiossincrasias e, portanto as avaliam diferentemente. É preciso paciência e lucidez para aceitar esse fato.

Não se trata, necessariamente, de má-fé. É apenas consequência natural da complexidade dos fenômenos econômicos. Criaram-se "escolas" cujo sucesso relativo depende da sua retórica e de sua capacidade de "explicar" convincentemente certos "fatos" históricos.

É exatamente essa possibilidade de múltiplas visões (cada uma delas pretendendo o monopólio da "verdade") que dá "atratividade" às projeções dos mais diferentes analistas.

Cada um usa os seus conhecimentos como oráculos que transmitem ao público os impactos que as medidas econômicas tomadas pelo governo terão no futuro, o que tem enorme poder de influenciar a "mídia".

A diferença entre as medidas gradualistas do governo (que pode cometer erros) e as agressivas sugeridas por alguns analistas (que também erram) é que as primeiras são frequentemente condicionadas pela factibilidade política (e outros compromissos como a contínua redução da pobreza). Já as segundas são condicionadas só pelos valores dos autores no seu papel predileto, mas nunca explicitamente revelado, de "déspotas esclarecidos" portadores da "ciência" econômica salvadora...

Como é evidente, o que será o ano de 2011 não está dado.

Ele dependerá da qualidade e da credibilidade das políticas internas e dos avanços que pudermos implementar no nível micro e macroeconômicos.

São muitos e necessários, como o estrito cumprimento do ajuste proposto (que parece razoável), da manipulação criteriosa da taxa de juros, do uso subsidiário de medidas macroprudenciais, da melhoria da gestão pública, do enfrentamento definitivo dos mecanismos de autoalimentação inflacionária da multitude de indexações, do problema da previdência pública, da flexibilização do juro real da caderneta de poupança e da evolução da economia mundial.

Este ano não depende apenas de fatores objetivos, mas das "expectativas" que se formarão em torno deles e da capacidade do governo de cooptar o setor privado sobre a qualidade de sua ação.

Alerta na USP.

Recebe-se com estranheza a notícia: cresce o número dos alunos que, aprovados no vestibular, não se animam a matricular-se na USP (Universidade de São Paulo).

Estima-se, num cálculo ainda sujeito a correções, que 25% dos estudantes admitidos em primeira chamada não se apresentam para o curso. Eram 13% em 2005.

Vários fatores, segundo os especialistas, influem no fenômeno. Haveria alunos, por exemplo, optando por cursos pagos em faculdades de elite, mais prestigiosos que os da USP em algumas áreas.

Na outra ponta do espectro social, estudantes de poucos recursos podem preferir uma universidade menos reconhecida sob o ângulo acadêmico, mas situada em área mais próxima dos locais de trabalho e moradia. Ou então: a perspectiva de inserção rápida no mercado de trabalho seria mais interessante, para determinados jovens, do que a obtenção de um diploma de excelência.

Observe-se que, nas faculdades particulares, um fenômeno paralelo tem ocorrido: aumentou o número de alunos que desistem de cursá-las, a meio do caminho. A decepção com a qualidade do ensino e a dificuldade em arcar com os custos do curso, nesses casos, são as explicações mais comuns.

Diversos fatores econômicos se acrescentam ao quadro. A vantagem da gratuidade do ensino, na USP, perde importância diante do aumento de vagas nas escolas federais e da disseminação de mecanismos como ProUni (bolsas na rede privada) e Fies (financiamento estudantil do governo federal).

Torna-se difícil, sem pesquisa detalhada, distinguir o que há de positivo e de negativo no fenômeno. Não deixa de ser boa notícia, de ponto de vista mais geral, que alunos se deem ao luxo de dispensar a vaga na USP, preferindo algo ainda melhor. A interpretação inversa não é menos plausível: por necessidade, e não luxo, contentarem-se com ensino inferior.

Em qualquer das alternativas, todavia, um problema de base persiste. É o de uma certa falta de adequação entre demanda e oferta, que a estrutura esclerosada da USP contribui para agravar.

Sem agilidade para criar vagas em cursos mais procurados, reduzindo-as proporcionalmente em outras disciplinas, cria-se em toda a universidade processo de acomodação e falta de criatividade, que a experiência da USP Leste não foi capaz de reverter.

Apesar do prestígio ainda intacto, e de sua colocação no "ranking" nacional (os internacionais, mesmo entre países emergentes, não registram nada de tão alvissareiro), a USP corre, há tempos, o risco da estagnação. Os números agora divulgados podem servir como um novo alerta.

terça-feira, 15 de março de 2011

Cuidado com os falcões.

No VALOR ECONÔMICO de hoje, Antonio Delfim Netto alerta para o “cuidado com os falcões.” Embora não concorde com grande parte do artigo, este blog publica por ter certeza que todo conhecimento é válido para uma discussão.

Nos últimos oito anos, a despeito das profundas mudanças no sentimento nacional, a economia brasileira cresceu muito pouco: cerca de 4% ao ano, praticamente o mesmo que a economia mundial (3,8%). Mas no período houve uma importante diferença como se vê na primeira tabela abaixo.

Ela explica-se, basicamente, por dois motivos: 1º) pela ênfase no Programa de Aceleração do Crescimento (o PAC) que reacendeu a partir de 2006 o "espírito animal" do próprio governo, dos trabalhadores e dos empresários que havia sido anestesiado pela falsa proposição (aceita pelo Banco Central sob o estímulo do sistema financeiro) que o "produto potencial" do Brasil permitia, apenas, um crescimento de 3,5% ao ano e, para não produzir uma aceleração da taxa de inflação, deveria praticar uma "taxa neutra" de juros real quase quatro vezes a mundial; e, 2º) pela maior rapidez com que o Brasil superou a crise produzida pelo desastroso comportamento do sistema financeiro internacional: no período 2008/09 o mundo cresceu em torno de 1% ao ano, e o Brasil cresceu em torno de 2,3%. Talvez uma visão um pouco melhor dos dois períodos possa ser apreciada na segunda tabela abaixo.

Nada recomenda ou exige, como afirmam alguns "falcões" do mercado financeiro, um ajuste dramático da situação fiscal e monetária. Algumas de suas sugestões são sensatas, como o controle das despesas de custeio e das transferências voluntárias, impondo-lhes um crescimento sistematicamente menor do que o do PIB. Outras são absurdas, como executar uma combinação de política fiscal super-restritiva, uma política monetária que racione o crédito com aumentos "musculosos" da taxa de juro real (colocando-a ainda mais longe da taxa de juro real do mundo) e liberdade para o câmbio valorizar-se "naturalmente", de acordo com os "fundamentais"... Infelizmente a taxa de câmbio (como um ativo financeiro) tem pouca relação "natural" com os "fundamentais"!

Muitos devem ter assistido a um desses "falcões", respeitado analista do mercado financeiro (que pretensiosamente acredita-se portador da "verdadeira" ciência econômica), afirmar num programa de televisão, que aquela "receita" é o "único caminho para reduzir o crescimento do PIB em 2011 para 3% e, assim, terminar o ano com uma inflação de 4,5%"... Ao contrário, o mais provável é que sua sugestão não apenas destruiria o "ajuste" (fiscal, monetário e cambial) que está sendo feito, como anestesiaria o ressuscitado "espírito animal" que tem animado o recente crescimento da economia.

Não deixa de ser um pouco extravagante a ideia que numa economia de mercado temos o poder de "fixar" o crescimento do PIB que desejamos. Este depende, basicamente, das "expectativas" sobre a demanda futura por parte dos empresários (que avaliam a oportunidade de novos investimentos) e dos trabalhadores (que avaliam a probabilidade e a qualidade de seu emprego), o que determina o nível de seu consumo.

Pode-se admitir que o governo cometeu alguns exageros e pecados veniais. Por exemplo, não ter eliminado todos os mecanismos de indexação quando a expectativa inflacionária estava bem ancorada nos 4,5% e não ter perseguido algumas reformas necessárias. Ou ter insistido (pela necessidade de dar maior velocidade à ampliação da demanda) numa política anticíclica de gastos correntes permanentes. A verdade, entretanto, é que ele levou o Brasil a superar mais rapidamente do que seus parceiros a crise internacional de 2008/09. Nada, afinal, que não possa ser corrigido com cuidadosas políticas fiscal, monetária e cambial críveis e bem coordenadas.

A inflação que está aí depende de fatores internos (de um aumento ainda não bem avaliado da demanda global sobre a oferta global, da estacionalidade, da acidentalidade, da fundamental e proposital redistribuição de renda que alterou a estrutura da demanda, da construção de monopólios protegidos na oferta de insumos básicos, da péssima qualidade dos serviços públicos que dissipam a produtividade do setor privado etc). E de fatores externos, como prova a co-variação da nossa taxa de inflação com relação à de todo o mundo emergente.

Porém, três coisas são certas: 1º) não devemos acreditar cegamente que o crescimento de 7,5% em 2010 representou uma dramática divergência entre a oferta e a demanda globais. Em boa parte foi produto de um "artefato" estatístico; 2º) o governo tem mesmo que reduzir a taxa de crescimento do consumo e aumentar sua eficiência; e 3º) que 2011 não está dado. Temos uma nova política fiscal, uma nova política monetária e uma maior coordenação entre elas. 2011 será o que formos capazes de fazer dele!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Harvard é aqui!!!

Globalização, crise, diversificação. As palavras que regem a expansão internacional de tantas empresas americanas têm levado a melhor universidade do mundo, Harvard, a se lançar em uma busca por recursos humanos e financeiros no exterior. Desde que assumiu a reitoria, em 2007, Drew Faust visitou China, Japão, África do Sul e Botsuana, além de Canadá e países europeus. Na semana que vem, ela visita o Brasil e, em seguida, o Chile. A meta sempre é estreitar o laço com os países visitados e recrutar alunos, professores e fundos. Em 2010, 1 em cada 5 alunos de Harvard veio de fora dos EUA. Faust também impulsionou a presença internacional da universidade inaugurando, em 2008, escritórios na Índia e na China. Antes, a instituição fincou o pé no Brasil, na Argentina, no Chile, na Itália, na França, na Grécia e no Japão. A reitora recebeu a Folha na semana passada em seu gabinete, em um dos prédios mais modestos do campus da universidade em Cambridge, Massachusetts, para explicar como atrai os alunos que fazem Harvard ser o que é. Falou também de expansão, crise e diversificação -graças à recente reforma do programa de bolsas, a instituição, fundada em 1636, está deixando de ter cara de "elite branca" para acolher estudantes brilhantes das mais diversas origens. Afinal, diz ela, muito do aprendizado por aqui se dá na convivência entre as diferenças.

FOLHA - O que a sra. espera de sua viagem ao Brasil? Drew Faust - Estou animada em ir. É um lugar vibrante, que está crescendo e se torna cada vez mais importante no mundo. Há hoje mais gente interessada em estudar o Brasil? Há. A melhor representação disso é a questão dos BRICs, quando o Brasil passou a ser visto como uma das principais forças emergentes na economia internacional. Ainda assim não há tantos estudantes e professores brasileiros ou especialistas em Brasil aqui em Harvard. Recebemos uma doação generosa de um brasileiro, o Jorge Paulo Lemann [milionário cujo fundo já foi dono da AmBev e acaba de comprar o Burger King], que apoiou nossa expansão em estudos brasileiros. Avançamos alguns passos, esperamos continuar. O escritório no Brasil está indo muito bem. Há bastante interesse por parte de nossos professores e estudantes em fazer conexões e tocar programas [de extensão] lá. Além disso, a [Harvard] Business School está interessada em fazer estudos de casos do Brasil. Estamos bem otimistas com as nossas conexões com o país, e minha viagem é para reforçar isso. Harvard está se expandindo. O que estão fazendo para atrair mais estrangeiros, estudantes e professores? Nós nos tornamos uma universidade muito mais global nos últimos anos. Hoje, 20% do total de nossos alunos são estrangeiros. Também passamos a dar ênfase, na graduação, à importância de se ter uma experiência internacional. É uma mudança cultural para nossos alunos, que costumavam ser desestimulados a passar tempo fora de Cambridge. Oferecemos, inclusive, apoio financeiro, caso não tenham meios de arcar com isso -1/4 dos estudantes teve alguma experiência internacional no ano passado. Se olharmos a forma como nossos professores pesquisam, ela também mudou. Temos uma proliferação de professores viajando para trabalhar e buscando os serviços que nosso departamento internacional fornece. Aumentamos o número de escritórios internacionais nos últimos anos e temos um novo modelo em Xangai, que é um espaço com salas de aula e que oferece oportunidades para atividades. Qual a relação com o governo federal e as instituições privadas no financiamento à pesquisa científica? Nós recebemos uma proporção majoritária no nosso financiamento à pesquisa do governo federal. Está em cerca de 21% de nosso orçamento hoje [US$ 3,7 bilhões]. Nosso orçamento também conta com uma contribuição significativa de nosso fundo de doações ["endownment"]. Hoje, cerca de 35% de nosso orçamento operacional vêm desse fundo. E há ainda as anuidades. O fundo sofreu com a crise econômica? [A crise] nos obrigou a ter um olhar mais duro com o que estávamos fazendo, estabelecer prioridades e decidir sobre o que poderíamos passar sem. O fundo caiu 27%. Foi um momento de autoexame intenso na universidade, e acabamos fazendo algumas mudanças. Mas pelos números, o investimento em pesquisa não caiu. Essa é a prioridade? Sim, ao lado da ajuda financeira aos estudantes. Como Harvard recruta estudantes? Tentamos mandar a mensagem que queremos ter aqui gente talentosa independentemente da situação financeira e localização geográfica. Fazemos isso por meio de nosso escritório de admissões, cuja equipe viaja pelo país e pelo mundo todo. E procuramos reforçar isso com um pacote de ajuda financeira, que faz a universidade parecer acessível. Nos últimos anos, criamos uma série de iniciativas para famílias de baixa renda. Com essa mensagem, conseguimos 35 mil inscrições neste ano. Quão importante é ter os melhores aqui? E quanto os estudantes aprendem uns com os outros? Não tenho como dar um percentual, mas este é um ambiente muito mais diverso do que qualquer outro em que os estudantes já tenham vivido. São pessoas diferentes deles, às vezes de outras partes do mundo, com outras ideias, outros talentos, e isso é muito enriquecedor. Mesmo com tanta tecnologia, não há como substituir a convivência... A tecnologia mudou muita coisa no ensino. A sala de aula deixou de ser um espaço apenas para transmitir informação e passou a ser para debatê-la. Mas achamos que esse tipo de aprendizado, pela convivência com gente diferente, é essencial. Temos até o sistema de alojamento, no qual os graduandos aprendem a viver juntos, a dividir o banheiro, o refeitório, os projetos. Aprender vai além do computador

domingo, 13 de março de 2011

As leituras de Paul Krugman!

Várias pessoas pediram a lista dos blogs sobre finanças, economia etc. que costumo ler. Não sei se conseguirei ser sistemático. Entretanto, o que posso mencionar é o que leio em geral pela manhã.
Para começar, evidentemente The New York Times - o que faria mesmo que o jornal não fosse o meu empregador. Contudo, é uma leitura imprescindível. Depois olho o Financial Times . Leio os dois jornais impressos, embora, quando viajo, costume lê-los online.
Quanto aos blogs, o primeiro é Economist View , de Mark Thoma, em parte pela profundidade de Mark, em parte por se tratar de uma espécie de bolsa de informações. Em seguida, frequentemente vejo alguns dos links que ele recomenda.
Leio então o Wonkbook , de Ezra Klein, e tudo o que ele traz. E muitas vezes sigo também alguns dos links. A revista Washington Monthly é excelente para acompanhar o que acontece em política.
E lá pelo fim do dia, por causa do horário da Califórnia, Brad DeLong .
Não pretendo com isto menosprezar outros blogs. Leio Calculated Risk , Econbrowser , Rortybomb , Naked Capitalism , Yglesias , o Jon da revista The New Republic , e outros, inclusive não tão sistematicamente.
Há muita informação por aí; se o mundo não estivesse indo para o inferno, seria um lugar formidável.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...