quarta-feira, 30 de março de 2011

Antenado

O economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, publicou no último dia 23 (http://tinyurl.com/4gp3gaz) um resumo das conclusões de uma importante conferência ("Repensando a política macroeconômica") patrocinada pelo organismo.

Ela reuniu o que há de mais significativo no mainstream da teoria macroeconômica para uma reflexão sobre a profissão. Quebrou-se o "encanto".

Mesmo os mais renitentes reconhecem que a era da moderação, que antecipou a crise, tinha pouca coisa a ver com as virtudes da política produzida pelos bancos centrais, supostamente apoiados numa "ciência".

Agora que o futuro é passado, sabemos que a crise foi gerada por uma soma de equívocos cometidos sob os olhos dos bancos centrais, portadores da ideologia que os "mercados" eram capazes de controlar os riscos embutidos em inovações financeiras aparentemente benignas, que eles (como confessou Alan Greenspan) nem sequer entendiam.

Vamos destacar três, das nove conclusões/"tentativas" recolhidas por Blanchard:

1ª) Estamos entrando num magnífico mundo novo, muito diferente em termos do exercício da política macroeconômica. Na velha discussão sobre os papéis do mercado e do Estado, o pêndulo avançou -pelo menos um pouco- na direção do Estado;

2ª) A macroeconomia deve ter múltiplos objetivos e muitos instrumentos para implementá-los. O objetivo da política monetária, por exemplo, precisa ir além do controle da inflação. Precisa incluir o crescimento do PIB e a estabilidade financeira e incorporar entre seus instrumentos medidas macroprudenciais. A política fiscal não pode restringir-se aos "gastos" menos a "receita" e os "multiplicadores" que influenciam a economia.

Existem, potencialmente, dezenas de instrumentos, cada um com seus próprios efeitos dinâmicos que dependem do estado da economia e das outras políticas.

3ª) Temos muitos instrumentos e não sabemos como utilizá-los. Em muitos casos, não temos certeza sobre o que eles são, quando e como devem ser utilizados e se vão ou não funcionar.

A conclusão é que os problemas são mais complexos do que pareciam. Como não sabem bem como usar os novos instrumentos, mas sabem que, potencialmente, podem ser mal utilizados, como devem trabalhar os formuladores da política econômica?

O melhor é uma política cuidadosa, paciente e de pequenos avanços: o pragmatismo é essencial! Parece claro que o Banco Central de Alexandre Tombini está mais antenado com as dúvidas do "estado da arte" reveladas na conferência do que os "cientistas financeiros" que o criticam...

É possível ainda existir uma Curva de Philips à brasileira?

Os últimos números divulgados no Brasil sobre a taxa de desemprego e sobre a taxa de inflação, 6,40% ao mês e 0,96% ao mês, respectivamente para o mês de fevereiro/2011, demonstram um aumento mensal na ordem de 4,92% para a taxa de desemprego e um aumento mensal de 26,32% na taxa de inflação, comparando-se a janeiro/2011. Essa relação que existe entre a inflação versus desemprego é conhecida na Economia como a Curva de Philips e busca-se nesta breve análise verificar se essa relação com o regime de metas de inflação existe na economia brasileira.

Estudos realizados demonstraram, por exemplo, que entre 1948 a 1969, a diminuição contínua da taxa de desemprego americana durante a década de 1960 esteve associada a um aumento contínuo da taxa de inflação. Posteriormente, por volta da década de 1970, já inexistia a mesma relação na economia dos Estados Unidos, ou seja, não existia qualquer relação visível entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação nesse período. Estariam Alban Phillips, Robert Solow e Paul Samuelson errados quando formularam o assunto? Na realidade, Milton Friedman e Edmund Phelps argumentaram que esse dilema entre inflação e desemprego era uma ilusão. Eles realmente tinham mesmo razão? Numericamente, a original Curva de Philips já não representava a realidade do momento atual.

É o que observamos hoje na economia brasileira. Realizando uma análise dos últimos 12 meses com base em fevereiro/2011, observa-se na tabela abaixo que para o Brasil a Curva de Philips atualmente não funciona, apesar do regime de metas de inflação tornar verdadeiro o trade-off desemprego e inflação. O país mantém uma taxa de desemprego decrescente e uma taxa de inflação estável, porém com um forte viés de alta.

Período

Mês

Inflação %

Período

Mês

Desemprego %

2010

Jan

0,59

2010

Jan

7,2

Fev

0,68

Fev

7,4

Mar

0,42

Mar

7,6

Abr

0,42

Abr

7,3

Mai

0,56

Mai

7,5

Jun

0,36

Jun

7,0

Jul

0,24

Jul

6,9

Ago

0,12

Ago

6,7

Set

0,37

Set

6,2

Out

0,44

Out

6,1

Nov

0,52

Nov

5,7

Dez

0,60

Dez

5,3

2011

Jan

0,76

2011

Jan

6,1

Fev

0,96

Fev

6,4

Fonte: Banco Central do Brasil

Em recente entrevista ao jornal Valor Econômico, a presidente Dilma Rosseff afirmou categoricamente que no seu governo “Eu não vou permitir que a inflação volte no Brasil. Não permitirei que a inflação, sob qualquer circunstância, volte. Também não acredito nas regras que falam, em março, que o Brasil não crescerá este ano. Tenho certeza que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano (2011).”

Em que pese o discurso da presidente, diversos setores da economia brasileira desconfiam que o atual governo mantenha rigor no cumprimento da meta de inflação de 4,5% ao ano, com variação de 2% para mais ou para menos. Fontes do mercado estimam uma variação na taxa de inflação de 6,31% em 2011 e de 4,8% para 2012, portanto ainda dentro da meta definida, mas com risco de ultrapassar a margem.

Conforme matéria de Claudia Safatle no Valor Econômico, “fazer a inflação deste ano convergir para a meta de 4,5% demandaria uma recessão, opção que a presidente Dilma Rousseff descarta completamente e que o próprio BC não recomendaria. Cabe ao regime de metas manter a inflação na meta com o menor custo possível para o nível de atividade. E em casos de choques de oferta, a literatura preconiza que seus efeitos primários devem ser acomodados e os secundários, combatidos.”

Não é prática de nenhum governo afirmar em público que está dividido entre aumentar a inflação e reduzir o desemprego ou reduzir a inflação e aumentar o desemprego. Apesar de Maquiavel lembrar que “os fins justificam os meios”, a Curva de Philips ainda é utilizada como uma justificativa para manter sob controle a inflação em um regime de metas. O que ainda não se sabe é até quando a curva de Philips ainda pode representar a realidade econômica brasileira.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...