quarta-feira, 30 de março de 2011

É possível ainda existir uma Curva de Philips à brasileira?

Os últimos números divulgados no Brasil sobre a taxa de desemprego e sobre a taxa de inflação, 6,40% ao mês e 0,96% ao mês, respectivamente para o mês de fevereiro/2011, demonstram um aumento mensal na ordem de 4,92% para a taxa de desemprego e um aumento mensal de 26,32% na taxa de inflação, comparando-se a janeiro/2011. Essa relação que existe entre a inflação versus desemprego é conhecida na Economia como a Curva de Philips e busca-se nesta breve análise verificar se essa relação com o regime de metas de inflação existe na economia brasileira.

Estudos realizados demonstraram, por exemplo, que entre 1948 a 1969, a diminuição contínua da taxa de desemprego americana durante a década de 1960 esteve associada a um aumento contínuo da taxa de inflação. Posteriormente, por volta da década de 1970, já inexistia a mesma relação na economia dos Estados Unidos, ou seja, não existia qualquer relação visível entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação nesse período. Estariam Alban Phillips, Robert Solow e Paul Samuelson errados quando formularam o assunto? Na realidade, Milton Friedman e Edmund Phelps argumentaram que esse dilema entre inflação e desemprego era uma ilusão. Eles realmente tinham mesmo razão? Numericamente, a original Curva de Philips já não representava a realidade do momento atual.

É o que observamos hoje na economia brasileira. Realizando uma análise dos últimos 12 meses com base em fevereiro/2011, observa-se na tabela abaixo que para o Brasil a Curva de Philips atualmente não funciona, apesar do regime de metas de inflação tornar verdadeiro o trade-off desemprego e inflação. O país mantém uma taxa de desemprego decrescente e uma taxa de inflação estável, porém com um forte viés de alta.

Período

Mês

Inflação %

Período

Mês

Desemprego %

2010

Jan

0,59

2010

Jan

7,2

Fev

0,68

Fev

7,4

Mar

0,42

Mar

7,6

Abr

0,42

Abr

7,3

Mai

0,56

Mai

7,5

Jun

0,36

Jun

7,0

Jul

0,24

Jul

6,9

Ago

0,12

Ago

6,7

Set

0,37

Set

6,2

Out

0,44

Out

6,1

Nov

0,52

Nov

5,7

Dez

0,60

Dez

5,3

2011

Jan

0,76

2011

Jan

6,1

Fev

0,96

Fev

6,4

Fonte: Banco Central do Brasil

Em recente entrevista ao jornal Valor Econômico, a presidente Dilma Rosseff afirmou categoricamente que no seu governo “Eu não vou permitir que a inflação volte no Brasil. Não permitirei que a inflação, sob qualquer circunstância, volte. Também não acredito nas regras que falam, em março, que o Brasil não crescerá este ano. Tenho certeza que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano (2011).”

Em que pese o discurso da presidente, diversos setores da economia brasileira desconfiam que o atual governo mantenha rigor no cumprimento da meta de inflação de 4,5% ao ano, com variação de 2% para mais ou para menos. Fontes do mercado estimam uma variação na taxa de inflação de 6,31% em 2011 e de 4,8% para 2012, portanto ainda dentro da meta definida, mas com risco de ultrapassar a margem.

Conforme matéria de Claudia Safatle no Valor Econômico, “fazer a inflação deste ano convergir para a meta de 4,5% demandaria uma recessão, opção que a presidente Dilma Rousseff descarta completamente e que o próprio BC não recomendaria. Cabe ao regime de metas manter a inflação na meta com o menor custo possível para o nível de atividade. E em casos de choques de oferta, a literatura preconiza que seus efeitos primários devem ser acomodados e os secundários, combatidos.”

Não é prática de nenhum governo afirmar em público que está dividido entre aumentar a inflação e reduzir o desemprego ou reduzir a inflação e aumentar o desemprego. Apesar de Maquiavel lembrar que “os fins justificam os meios”, a Curva de Philips ainda é utilizada como uma justificativa para manter sob controle a inflação em um regime de metas. O que ainda não se sabe é até quando a curva de Philips ainda pode representar a realidade econômica brasileira.

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