Editorial do Estado de S. Paulo de hoje
comenta “A produção industrial e o novo programa de ajuda”.
No mesmo dia em que o governo anunciava um
novo programa de estímulos à indústria, o IBGE divulgava os dados da produção
industrial em fevereiro. Embora se registre um crescimento de 1,3% sobre o mês
anterior, não se pode pensar que o setor manufatureiro esteja saindo do marasmo
em que se encontra. O resultado de fevereiro é estatístico e explica-se, na
verdade, porque houve uma violenta queda de 2,1% da produção industrial do mês
de janeiro, em relação a dezembro de 2011. Nos dois casos, são dados com ajuste
sazonal.
Dos 27 setores analisados, 18 apresentaram
crescimento em valor absoluto. O resultado mais brilhante se verificou com os
caminhões, cuja produção cresceu 13,1%, mas, de novo, em seguida a um mês em
que houve férias coletivas e em que a produção havia caído 31,2%.
A estagnação da indústria aparece melhor
quando se verifica que, em relação ao mesmo mês do ano passado, houve queda de
3,9% e que nos dois primeiros meses do ano a produção caiu 3,4% em relação ao
mesmo período de 2011.
Não se deve concluir, diante do aumento de
5,7% na produção de bens de capital, que as empresas industriais se empenham em
aumentar ou modernizar sua produção. Na verdade, os dados sobre equipamentos em
geral foram inflados pela produção de caminhões, considerados bens de capital,
porque a produção dos destinados para fins industriais diminuiu. O único
resultado que se pode considerar de fato positivo foi a elevação de 2,3% da
produção de bens intermediários, que talvez oculte uma antecipação das medidas
que o governo tomou e que pode levar a um aumento da produção de bens acabados,
em vista das novas facilidades.
A indústria extrativa - que não tem acesso às
medidas fiscais do novo pacote - cresceu 9,9%, aumento que se verifica apenas
no caso dos minérios ferrosos e de minerais não metálicos.
O fato é que a maioria dos produtos que serão
favorecidos pelo novo programa de ajuda à indústria acusa queda nos dois
primeiros meses do ano.
O novo programa terá força para relançar a
produção industrial? - essa é a pergunta. Sem dúvida, os setores de mão de obra
intensiva terão possibilidade de aumentar suas margens de lucros, graças à
desoneração da folha. Subsistem, porém, dúvidas quanto à redução de preços. O
problema essencial consiste na redução do custo global da produção, que depende
tanto da produtividade dos trabalhadores quanto da modernização dos
equipamentos, assim como da capacidade de inovação das empresas.