ANTONIO DELFIM
NETTO continua na FOLHA com seus textos sempre necessários ao leitor leigo, mas, principalmente, aos colegas Economistas.
Não é preciso ser
um sofisticado economista "ortodoxo" ou "heterodoxo",
classificação que, às vezes, apenas esconde duas igrejas secretas que guardam
para si e seus sacerdotes "verdades" que a outra não vê e que,
legítima e reciprocamente, colocam em dúvida, para saber que qualquer medida de
política econômica tem, necessariamente, dois efeitos:
1-) sobre o nível
da atividade, um aumento ou uma subtração do PIB, isto é, do valor adicionado
pela combinação do capital e do trabalho e 2-) sobre como se distribuirão os
benefícios (no caso de aumento do PIB) e os custos (no caso da subtração) do
valor adicionado apropriado, respectivamente, pelo capital (lucro) e pelo
trabalho (salário).
No momento em
que, pressionados pelas circunstâncias, os países têm de fazer ajustes fiscais,
que, até para efeito de "credibilidade", precisam ser acompanhados de
reformas estruturais, como é o caso do Brasil, um país em rápido envelhecimento
e com péssimas perspectivas para o seu sistema de seguridade social, o sucesso
exige tanto arte política quanto competência técnica.
O novo programa
do governo não pretende ser "ótimo", mas apenas o mais razoável
possível dentro do espaço político disponível. Ele leva em conta os dois
efeitos acima mencionados e tenta calibrá-los sem comprometer o nível de
igualdade de oportunidade que já atingimos (efeito catraca). O seu grande
problema é acordar as esperanças de todos os agentes e mostrar-lhes que a
distribuição dos seus custos tem uma proporcionalidade que lhe garante o mínimo
de moralidade para que não seja politicamente rejeitada. Como é óbvio, a tarefa
só será executada com a compreensão, aprovação e forte apoio de toda a
sociedade.
Honestamente, é
preciso deixar de lado a hidrofobia, enfrentar todos os preconceitos, dar claro
apoio ao programa do governo e confiar na capacidade de execução de seus
ministros.
Deixemos de
tentar saber se há gasolina no tanque, iluminando-o com um fósforo aceso. Há!
Por mais que seja desagradável, é preciso reconhecer que a perspectiva da
tempestade perfeita continua a nos espreitar. A alternativa que resta ao
Brasil, se não tiver ânimo e forças para restabelecer, de fato, a sua
credibilidade fiscal, é aceitar a perda do seu grau de investimento.
A partir daí,
ainda que as agências de risco estejam meio desmoralizadas, será uma questão de
tempo (não de se...) sermos vítimas de um turbilhão pelo qual, acreditem ou não
os "heterodoxos", os famosos mercados dos "ortodoxos" vão
nos impor o seu "ajuste", pouco se importando com seus custos ou com
os seus efeitos. Nos meus 87 anos, já vi muito leão virar gato...
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