Editorial da FOLHA DE S. PAULO e uma ótima notícia.
A USP deu um pequeno passo que poderá revelar-se precedente de
consequências gigantescas para o relativo isolamento do meio universitário
brasileiro: autorizou suas primeiras disciplinas de graduação em língua
estrangeira. A licença vale só para matérias optativas, mas já é um começo.
Não que a principal instituição superior do país não mantivesse contatos
e vínculos com o exterior. Ela nasceu como universidade, em 1934, com a contribuição
inestimável de uma missão francesa composta de jovens intelectuais que
ganhariam projeção mundial, como o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908-2009)
e o historiador Fernand Braudel (1902-1985).
Não foram poucos, desde então, os catedráticos estrangeiros que ajudaram
a formar brasileiros. Tampouco era incomum, até o final do século 20, que
pesquisadores nacionais cursassem a pós-graduação em países avançados (hoje em
dia é mais usual obter mestrado e doutorado no Brasil).
O caminho inverso, no entanto, costuma ser pouco trilhado. A USP atrai
escassos estudantes além-fronteiras, em especial para os cursos de graduação:
apenas 1.440, segundo registro de janeiro, aí incluídos todos os que afluíram a
ela por meio de convênios.
Há na instituição paulista 55.451 alunos, de modo que a parcela de
estrangeiros na graduação corresponde a meros 2,6%. Em universidades
verdadeiramente internacionalizadas, como a americana Harvard, essa proporção
chega a 11%.
Até a recente autorização, uma matéria só poderia ser oferecida na USP
em inglês, por exemplo, se apresentada também, simultânea e inviavelmente, em
português.
Agora, alunos brasileiros e estrangeiros passam a ter a opção de cursar
ao menos algumas disciplinas em outra língua. Para os nacionais, surge a oportunidade
de familiarizar-se com o vocabulário técnico e conceitual de sua área de
especialidade em outro idioma.
Para atrair estudantes do exterior, contudo, ainda é pouco. A USP
deveria considerar o exemplo da Fundação Getulio Vargas (FGV), que anunciou um
curso de administração todo ele dado em inglês.
Esse passo mais ousado serviria ainda para fazer a USP ganhar pontos em
rankings internacionais que valorizam tais iniciativas.
O principal benefício, porém, viria da volta dos formandos para os
países de origem. Os vínculos aqui criados favoreceriam a inserção da USP em
redes mundiais de pesquisa e o enraizamento de sua boa reputação em solo
estrangeiro.
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