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sábado, 13 de março de 2010

A ECONOMIA BRASILEIRA EM 2009.

Na FOLHA DE S. PAULO, o colega LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS avança na análise do resultado do PIB de 2009, prevendo o que virá. Leitura inevitável, com certeza!

A divulgação do PIB de 2009 pelo IBGE nos permite avaliar de forma mais completa o comportamento da economia durante a cise mundial. Além disso, fornece boas pistas para projetarmos os resultados do último ano do mandato do presidente Lula.

Vamos começar lembrando o passado. O ano se iniciou sob o impacto de uma contração brutal do PIB no último trimestre do ano anterior

Entre outubro e dezembro de 2008, tivemos uma redução de 14% anuais - ou 3,5% ante o trimestre anterior - na geração de riquezas no Brasil. Não por outra razão vivíamos -sociedade e governo- um pesadelo para o qual não estávamos preparados. Eu mesmo - calejado que sou por mais de 40 anos de atividade profissional - fiquei muito assustado e pessimista com o futuro. Recuperei um pouco de meu sangue-frio ao me lembrar de uma frase dita por um grande e sábio amigo meu: "Não aposte contra o capitalismo, pois você vai quebrar a cara".

Nos primeiros três meses de 2009, o pânico continuou e o PIB se contraiu a uma taxa anualizada de 3,6%. Embora bem menor, continuava a retração da economia. Nos seis meses decorridos desde a quebra do banco Lehman Brothers, a queda do PIB brasileiro havia chegado a uma taxa anualizada de mais de 11%. Se usarmos o consumidor como referência sobre o comportamento do brasileiro naqueles terríveis dias, vamos encontrar -embora mitigado- o mesmo cenário de crise. As vendas do varejo, que vinham crescendo a uma taxa anual de 10%, passaram a se contrair a uma taxa anual de quase 5% ao ano.

No caso dos empresários, o susto foi ainda maior. A redução dos gastos com máquinas e equipamentos foi de mais de 40% anualizados entre o terceiro trimestre de 2008 e os primeiros três meses de 2009. O aumento rápido dos estoques e a redução do crédito bancário levaram a uma quase paralisação da produção em muitos setores e à demissão de funcionários.

Mas os números do IBGE deixam claro que, se houve uma queda no vazio durante o período de seis meses, a recuperação a partir do segundo trimestre foi ainda mais rápida. As vendas ao varejo voltaram a crescer a taxas da ordem de 12% ao ano a partir de setembro e hoje já são em valor mais de 5% superiores ao que prevalecia antes da crise.

Também está nas estatísticas do PIB a prova de que os empresários retomaram de maneira bem mais lenta seus investimentos. A partir do segundo semestre do ano passado, os gastos com investimentos cresceram rapidamente, mas ainda estão bem abaixo do nível que prevalecia antes da crise. Se considerarmos a demanda privada total, que inclui os gastos com consumo e exportações, os números do IBGE mostram que estávamos no fim de 2009 exatamente no nível anterior à crise.

Por fim, o papel das importações continua a crescer na matriz de oferta de bens no Brasil, o que contribui para ancorar a inflação no segmento de bens industriais e intermediários em um momento de demanda acelerada, ainda que apenas temporariamente.

Para 2010, a equipe de economistas da Quest prevê crescimento de 6%, com inflação crescente e superior ao centro da meta. Nos próximos meses, o Banco Central terá a difícil tarefa de controlá-la sem destruir o otimismo de nossos empresários.

sábado, 8 de agosto de 2009

DA SÉRIE: LEITURA INEVITÁVEL - PREVISÃO 2009 E 2010

Do colega LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS em recente entrevista ao ESTADÃO, uma lição de como a nossa economia está e sua previsão para 2009 e 2010.

A economia brasileira já superou a crise? O que se pode esperar daqui para a frente? No sentido mais geral, de evolução negativa do PIB (Produto Interno Bruto), a economia superou a crise. Mas isso não significa que voltou tudo como antes no quartel de Abrantes.

Por quê?
Porque, se é verdade que o mercado interno segurou razoavelmente bem, é verdade também que as exportações de manufaturados caíram fortemente e continuam ruins. Isso significa que a indústria está melhorando, mas tem desempenho negativo, na média.
Quanto o sr. projeta de crescimento para este ano e o para 2010?
Este ano, zero. No último trimestre do ano em relação ao último trimestre de 2008, crescimento de quase 3%. Para 2010, algo entre 3,5% e 4%, que é um bom número.

domingo, 26 de julho de 2009

DA SÉRIE: LEITURA INEVITÁVEL

Direto da Folha de S. Paulo, a visão sempre inteligente do colega LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, no artigo "Além dos números tradicionais", uma aula de Economia em poucas palavras.
Os analistas contam com dados semanais para acompanhar a dinâmica da economia brasileira. O Brasil é o país das estatísticas econômicas. Em minhas conversas, sempre dou o exemplo das informações sobre o nosso comércio exterior, disponíveis todas as segundas-feiras. Nos Estados Unidos, é preciso esperar dois meses para ter acesso aos números mensais de importação e de exportação.
Essa abundância de dados é uma herança de épocas passadas, quando olhávamos para os dados econômicos como quem acompanha os sinais vitais de um paciente preso a uma UTI sofisticada.
Estou convencido de que informações em excesso atrapalham o trabalho dos economistas. Afogados em uma floresta de dados, perdem a visão geral e não acompanham as evoluções de prazo mais longo do tecido econômico. Na Quest Investimentos, onde exerço minha profissão com gosto e empenho, procuro evitar essa armadilha reservando boa parte do meu tempo para acompanhar os movimentos de mais longo prazo, muitas vezes pouco visíveis. Com essa posição, consigo ler de forma diferente várias informações a que tenho acesso no dia a dia.
Na semana passada, ao acompanhar o noticiário diário de várias agências de notícias, deparei-me com a informação de que o volume de títulos privados de crédito em circulação no Brasil igualou o de títulos públicos. Confesso que levei um choque. Uma das características marcantes de nosso mercado financeiro sempre foi a insaciável absorção de recursos financeiros pelo governo federal, ficando o setor privado de lado. Os economistas chamam isso de "crowding out".
Com minha atenção voltada para essa informação, pedi a Marina Santos, que trabalha comigo, que consolidasse os dados. O resultado foi impressionante. Em dezembro de 2002, o volume de títulos de crédito de responsabilidade do Tesouro no mercado brasileiro - sem contar os emitidos no exterior - era sete vezes maior do que o emitido por empresas privadas.
Pois em maio deste ano essa relação tinha caído para 1,14 vez. Essa mesma comparação, usando como medida de crédito privado o total de crédito bancário mais os títulos negociados no mercado de capitais, nos mostra o mesmo comportamento: a relação caiu de 2,1 em dezembro de 2002 para apenas 0,8 em maio deste ano.
Outra forma de olhar esses números é considerar a taxa de crescimento de cada um. No caso da dívida pública, tivemos um crescimento anual de 5% nesse período; já a dívida privada (crédito bancário mais os papéis emitidos no mercado de capitais) aumentou à taxa de 24% ao ano, velocidade muito superior à do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nominal.
Esses números mostram um fenômeno pouco destacado no debate de hoje: o tamanho relativo do setor público reduziu-se de forma importante desde a época das privatizações. O aumento no volume de crédito ao setor privado mostra o extraordinário dinamismo da economia brasileira. A guinada conservadora do governo Lula na economia e a bonança mundial permitiram ao setor privado crescer muito mais do que a área estatal.
Esse fenômeno seria ainda mais vibrante se o governo tivesse aproveitado esse bom momento para: 1) exigir do Estado brasileiro um aumento de sua produtividade; e 2) reformar as regras de funcionamento de setores importantes como estradas, ferrovias e portos. Mas, pelo menos, deixamos para trás o aleijão de muitas décadas que era o governo expulsando o setor privado dos mercados de crédito.

sábado, 16 de maio de 2009

DÁ SÉRIE: LEITURA INEVITÁVEL

Para os meus quase dois leitores, um texto de Luiz Carlos Mendonça de Barros, publicado na Folha de S. Paulo em 15/05/2009.
Os analistas econômicos estão rapidamente mudando o foco de suas preocupações em relação à economia americana. Consolidada a ideia de que finalmente ela encontrou um nível mínimo de atividade, outro conjunto de variáveis entrou no radar do mercado. O centro das atenções -e das especulações- está voltado agora para o consumidor. Todos sabem que seu comportamento vai definir a forma de recuperação da economia nos próximos trimestres, seja ela em V, em U ou em L. 
A expressiva alta dos preços das ações e de outros ativos financeiros nas últimas semanas reflete essa sensação de que o pior da crise financeira já passou. O risco de cairmos em um buraco sem fim -que prevaleceu até recentemente- foi afastado, segundo a opinião majoritária dos investidores. Com isso voltaremos a um cenário em que as questões macro e microeconômicas vão prevalecer. Por acreditar nisso, eu não tenho dúvidas de que a volatilidade dos mercados vai diminuir ainda mais. Por mais complexo que seja o quadro da economia para o restante de 2009, ele apresenta uma previsibilidade muito maior do que a que prevaleceu durante a crise financeira que vivemos nos últimos meses. 
Se estiver certo nesta minha leitura, as atenções estarão agora voltadas prioritariamente para três grupos de indicadores econômicos. No primeiro, que procura medir os gastos correntes dos consumidores, estão os elementos de informação sobre o valor das vendas no varejo -"retail sales"- e o indicador de vendas no índice ISM Serviços. O segundo grupo é formado pelos dados relacionados à atividade no mercado de residências, tais como volume de vendas de casas novas e já construídas, indicadores de novos projetos de construção e, principalmente, de preços das casas negociadas. 
A importância desses dados deriva principalmente do fato de que a estabilização dos preços das residências dos americanos é condição necessária para que ocorra um aumento do consumo. A casa própria é a grande âncora da confiança do americano médio e, na situação atual, em que ele não tem um valor confiável de referência entre seu patrimônio e o valor de sua hipoteca, a insegurança domina seu comportamento como consumidor. A partir do momento em que ele recuperar a confiança perdida nos últimos dois anos, poderemos ter uma situação mais sólida para a retomada de seus gastos. Eu diria que a volta da confiança representa a condição necessária para a retomada da economia. 
Finalmente os analistas e investidores estarão monitorando de perto o comportamento dos bancos no financiamento ao consumidor. Principal elemento na febre de consumo da última década, o crédito ao consumo precisará voltar a ter um mínimo de funcionalidade. Até agora o corte do crédito é um elemento importante da desaceleração dos gastos de consumo nos últimos trimestres. Sem uma recuperação nos próximos meses, dificilmente teremos uma mudança de comportamento do consumidor. 
Para definirmos a forma da retomada da economia americana, será preciso uma clareza maior sobre esses pontos levantados. Para mim, os dados sobre o mercado imobiliário é que nos darão primeiro uma ideia do comportamento das vendas no varejo. Se o fortalecimento dos preços das residências não ocorrer nos próximos meses, será muito difícil que o crescimento volte ainda neste ano de 2009 nos Estados Unidos.  

sexta-feira, 8 de maio de 2009

DA SÉRIE: LEITURA INEVITÁVEL

Hoje, direto da Folha de S. Paulo, Luiz Carlos Mendonça de Barros explica "O BRASIL EM RECESSÃO TÉCNICA". Boa leitura. 
EXISTE UMA convenção para caracterizar uma recessão nas economias de mercado. Segundo essa norma, a recessão acontece quando o PIB se reduz em dois trimestres consecutivos. Como toda norma geral, esse critério tem pontos fortes e fracos. Não quero discuti-los neste espaço hoje. Apenas quero informar o leitor de que a economia brasileira está em recessão técnica. 
Os dados já disponíveis para o período janeiro/março, quando utilizamos a metodologia de cálculo do IBGE, apontam para uma queda do PIB da ordem de 1,3%. Com a redução de 3,5% verificada no quarto trimestre de 2008, temos a recessão caracterizada. Feita essa observação, devemos agora fugir do entendimento burocrático da regra acima citada e procurar entender o que se esconde atrás dos números. A principal fonte de informação do IBGE para a construção do PIB são os dados da indústria. Ao contrário de outros países, nos quais há uma vasta gama de indicadores de salários, gastos das famílias e investimentos realizados, no Brasil são poucas as informações disponíveis.
Então, o IBGE utiliza o que chamamos "PIB pela oferta", que é a soma entre o que foi produzido pela indústria mais o valor das importações menos o das exportações. Somente quando o IBGE realiza pesquisas periódicas mais abrangentes é que temos um retrato mais realista da atividade econômica. 
A indústria caiu 9,5% no final de 2008 e quase 8% neste primeiro trimestre. Segundo números do comércio exterior divulgados e ajustados pelos economistas da Quest Investimentos, as exportações caíram 8% nesses mesmos dois períodos. A queda do PIB só será menos intensa que a do final do ano passado porque as importações caíram quase 17%. Com esse desempenho, o setor externo deverá acrescentar cerca de um ponto ao PIB do primeiro trimestre, revertendo a tendência que ocorre desde 2007. Com indústria e importações fracas, é certo que o comportamento do consumo foi decepcionante também. Mas a queda do investimento impressiona mais. A produção de máquinas caiu 9,5% no último trimestre de 2008 e, agora, outros incríveis 19%! A principal decepção da próxima divulgação do PIB serão, sem dúvida, as taxas de investimento. 
Para não ficarmos apenas nas grandes decepções, vamos às pequenas alegrias: se a indústria como um todo caiu menos do que a indústria de máquinas, então algum setor ficou de lado ou caiu menos. Isso aconteceu com a indústria de bens para o consumo. Por conta do salário médio que ainda cresce e dos estímulos para a compra de automóveis (redução do IPI), houve crescimento de 0,7% na produção de bens duráveis. Já a produção de bens semi e não duráveis -como roupas e alimentos- reduziu-se em "apenas" 2% nesse mesmo período. 
Resumindo, os números do IBGE mostrarão que realmente estamos em recessão técnica, causada, principalmente, pelo valor dos investimentos privados em queda livre. Já o consumo, na análise mais otimista, ficou de lado ou apresentou pequena queda. Por fim, a retração do PIB só não será mais violenta porque o que importamos cairá mais do que o que exportamos. Ou seja, depois de quase dois anos, estamos crescendo por conta da demanda existente em outras economias. 
Esse é um mau resultado na medida em que dependeu de um ritmo menor de atividade em nossa economia e, portanto, da geração de riqueza para os brasileiros. 
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

sexta-feira, 1 de maio de 2009

DA SÉRIE: LEITURA INEVITÁVEL

Hoje, direto da Folha de S. Paulo, o colega LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, pergunta "UM RAIO DE LUZ?". Para os meus quase dois leitores, abaixo a resposta.
O comportamento dos mercados financeiros nos últimos 30 dias parece indicar um final - "ou intermezzo"- feliz para a verdadeira catástrofe que ocorreu a partir da quebra do banco Lehman Brothers. Por longos meses as Bolsas de Valores despencaram e a desconfiança generalizada levou a uma virtual paralisação do crédito ao setor privado.
No chamado lado real, tivemos uma queda no vazio da atividade econômica - principalmente a industrial -, com milhões de pessoas perdendo seus empregos, inclusive em países com forte crescimento, como o Brasil e a China. 
O índice S&P da Bolsa de Nova York chegou a cair 50% nesse período. O mesmo ocorreu com os indicadores dos preços das ações em mercados na Ásia, na América latina e na Europa. No Brasil, o índice Bovespa também chegou a perder metade de seu valor. Nos mercados de crédito, a diferença entre os juros dos títulos públicos - únicos vistos como seguros - e os dos papéis privados de maior qualidade chegou a 6% ao ano, um recorde. 
Caíram também os preços cobrados nos fretes marítimos - o maior dos tombos verificados -, os preços das commodities, inclusive petróleo, e os índices de confiança dos consumidores. Nem mesmo a posse de um novo presidente nos Estados Unidos trouxe alguma esperança a investidores e empresas. Assistimos então a um verdadeiro salve-se quem puder de dimensões planetárias. 
Agora, em abril, a corrida ocorreu no sentido contrário. As ordens de venda foram sendo substituídas, pouco a pouco, pelas ordens de compra. Na esteira dessa correria, nos mercados as Bolsas subiram de forma vigorosa. O S&P valorizou-se em mais de 9%, o Ibovespa, em mais de 15%, o DAX alemão, em mais de 17%. Também nos mercados de crédito os ventos da esperança de dias melhores mudaram a direção dos preços. Os títulos privados de maior qualidade passaram a ser negociados com um prêmio de risco da ordem de 2%. Nos anos de bonança, essa diferença oscilava entre 0,5% e 1% ao ano. 
Essa mudança de comportamento foi sendo construída ao longo do primeiro trimestre de 2009. Os indicadores antecedentes da atividade industrial em várias economias começaram a sinalizar o fim da queda no vazio que tinha ocorrido nos últimos meses. Isso porque o consumo privado caiu bem menos que a produção nesse período. 
O caso da indústria automobilística no Brasil foi um exemplo claro. Em razão disso, ocorreu uma queda vertiginosa - e global - nos estoques das empresas, primeiro passo para estabilizar a produção. Para um bom leitor desses indicadores, era questão de tempo para que a queda livre fosse interrompida. Os analistas de várias instituições começaram a verbalizar esse comportamento, levando essa mensagem aos investidores. 
Em um mercado pouco confiante, o movimento de compra que foi tomando corpo funcionou como um fósforo aceso em um depósito de pólvora. Na Bovespa, as empresas de menor liquidez chegaram a subir 50% em abril. O mesmo aconteceu em outros mercados de ações pelo mundo afora. 
Os próximos indicadores industriais - se confirmarem o que vem ocorrendo desde março - podem manter esse inesperado rali. Alguns itens podem até superar a marca de crescimento. Mas uma análise mais profunda sobre a real situação da economia - que certamente vai acontecer a partir do terceiro trimestre - pode jogar água fria na excitação dos investidores. 

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...