sexta-feira, 1 de maio de 2009

DA SÉRIE: LEITURA INEVITÁVEL

Hoje, direto da Folha de S. Paulo, o colega LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, pergunta "UM RAIO DE LUZ?". Para os meus quase dois leitores, abaixo a resposta.
O comportamento dos mercados financeiros nos últimos 30 dias parece indicar um final - "ou intermezzo"- feliz para a verdadeira catástrofe que ocorreu a partir da quebra do banco Lehman Brothers. Por longos meses as Bolsas de Valores despencaram e a desconfiança generalizada levou a uma virtual paralisação do crédito ao setor privado.
No chamado lado real, tivemos uma queda no vazio da atividade econômica - principalmente a industrial -, com milhões de pessoas perdendo seus empregos, inclusive em países com forte crescimento, como o Brasil e a China. 
O índice S&P da Bolsa de Nova York chegou a cair 50% nesse período. O mesmo ocorreu com os indicadores dos preços das ações em mercados na Ásia, na América latina e na Europa. No Brasil, o índice Bovespa também chegou a perder metade de seu valor. Nos mercados de crédito, a diferença entre os juros dos títulos públicos - únicos vistos como seguros - e os dos papéis privados de maior qualidade chegou a 6% ao ano, um recorde. 
Caíram também os preços cobrados nos fretes marítimos - o maior dos tombos verificados -, os preços das commodities, inclusive petróleo, e os índices de confiança dos consumidores. Nem mesmo a posse de um novo presidente nos Estados Unidos trouxe alguma esperança a investidores e empresas. Assistimos então a um verdadeiro salve-se quem puder de dimensões planetárias. 
Agora, em abril, a corrida ocorreu no sentido contrário. As ordens de venda foram sendo substituídas, pouco a pouco, pelas ordens de compra. Na esteira dessa correria, nos mercados as Bolsas subiram de forma vigorosa. O S&P valorizou-se em mais de 9%, o Ibovespa, em mais de 15%, o DAX alemão, em mais de 17%. Também nos mercados de crédito os ventos da esperança de dias melhores mudaram a direção dos preços. Os títulos privados de maior qualidade passaram a ser negociados com um prêmio de risco da ordem de 2%. Nos anos de bonança, essa diferença oscilava entre 0,5% e 1% ao ano. 
Essa mudança de comportamento foi sendo construída ao longo do primeiro trimestre de 2009. Os indicadores antecedentes da atividade industrial em várias economias começaram a sinalizar o fim da queda no vazio que tinha ocorrido nos últimos meses. Isso porque o consumo privado caiu bem menos que a produção nesse período. 
O caso da indústria automobilística no Brasil foi um exemplo claro. Em razão disso, ocorreu uma queda vertiginosa - e global - nos estoques das empresas, primeiro passo para estabilizar a produção. Para um bom leitor desses indicadores, era questão de tempo para que a queda livre fosse interrompida. Os analistas de várias instituições começaram a verbalizar esse comportamento, levando essa mensagem aos investidores. 
Em um mercado pouco confiante, o movimento de compra que foi tomando corpo funcionou como um fósforo aceso em um depósito de pólvora. Na Bovespa, as empresas de menor liquidez chegaram a subir 50% em abril. O mesmo aconteceu em outros mercados de ações pelo mundo afora. 
Os próximos indicadores industriais - se confirmarem o que vem ocorrendo desde março - podem manter esse inesperado rali. Alguns itens podem até superar a marca de crescimento. Mas uma análise mais profunda sobre a real situação da economia - que certamente vai acontecer a partir do terceiro trimestre - pode jogar água fria na excitação dos investidores. 

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