sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Crescimento menor com Dilma.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Fim de semana para ser lembrado.
No próximo fim de semana teremos um encontro de chefes de Estado da zona do euro para definição das regras do Feef (Fundo Europeu de Estabilização Financeira), aprovado nos últimos meses pelos parlamentos nacionais.
Mas a crise fiscal se mostrou mais grave do que a prevista pelos políticos. A desconfiança dos mercados chegou rapidamente aos títulos da Espanha e da Itália.
Manchetes de jornais substituíram análises e considerações técnicas sobre ações de empresas e taxas de câmbio de moedas de vários países. Políticos alemães e franceses, refletindo os conflitos que existem entre os dois países sobre como enfrentar a crise atual, se sucediam em declarações conflitantes.
Os investidores de maior seriedade retiraram-se dos mercados e recolheram-se às aplicações financeiras mais seguras, deixando os mercados nas mãos dos especuladores da pior qualidade.
Vou procurar dar ao leitor da Folha uma visão simplificada sobre as principais alternativas que serão discutidas pelos líderes europeus.
A mais importante decisão a ser tomada será a possibilidade de serem utilizados os recursos do Feef para cobertura parcial de risco de crédito nos bônus emitidos pelos países europeus.
Esse mecanismo permitirá transformar os € 440 bilhões do Feef em mais de € 1 trilhão em garantia para os investidores no futuro. Uma decisão inteligente, mas que precisa ainda de aceitação pelos conservadores políticos alemães.
Outro ponto relevante que terá de ser definido é uma rodada compulsória de aumento do capital dos bancos europeus -algo entre € 100 bilhões e € 200 bilhões- para permitir a absorção dos prejuízos com os títulos dos países mais endividados -como Grécia e Portugal- no caso de uma quase certa moratória.
Nesses dois casos, deverá haver uma redução de pelo menos 50% no valor original dos títulos em circulação para adequar o tamanho da dívida pública a sua capacidade de pagamento.
Mas, para que isso possa ocorrer, sem que uma crise sistêmica seja criada -afetando principalmente Espanha e Itália-, será necessário que a garantia do Feef esteja claramente definida e aceita pelos investidores. Minha expectativa é que esses dois pontos sejam aprovados e que um pouco de calma e racionalidade possa voltar ao mercado nas próximas semanas.
Entretanto, as incertezas e as dúvidas dos investidores devem manter a volatilidade dos principais ativos financeiros por mais algum tempo. Mas pelo menos os governos terão à sua disposição instrumentos mais efetivos para agir. A crise europeia, entretanto, ficará entre nós por um tempo bastante longo. Os ajustes que se farão necessários na maior parte dos países que usam o euro vão precisar de tempo para serem implementados com algum sucesso. Nos próximos anos a economia da velha Europa vai se parecer muito com a do Japão depois da bolha imobiliária dos anos 1980.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Brasil em momento importante.
O mundo vive hoje um desses momentos especiais em que mudanças estruturais -principalmente na economia- estão forjando o futuro de muitas sociedades. Para alguns países, os próximos anos serão marcados por dificuldades, principalmente devido a ajustes que precisarão ser realizados em um ambiente de baixo crescimento econômico. Para outros -e o Brasil está nesse grupo-, o futuro poderá ser muito favorável, pois serão reconhecidos como espaços de crescimento e mudanças sociais favoráveis, atraindo investimentos internacionais por um longo período de tempo.
O Brasil tem hoje limites muito nítidos para continuar crescendo a taxas superiores a 4%. As pressões inflacionárias que estão latentes nos índices de preços dos últimos meses são indicadores claros de que estamos num momento delicado. Se adicionarmos ainda, ao longo de 2012, um novo fluxo de investimentos por conta dos desequilíbrios que citei, vamos certamente cruzar uma fronteira perigosa no campo da inflação.
domingo, 25 de setembro de 2011
Uma tempestade vinda de fora atingiu fortemente a economia brasileira nesta semana. Um pessimismo crescente com a crise política e econômica na Europa transformou-se em pânico com o aumento do risco de que a Itália também se junte ao grupo de países perto de uma moratória. Se isso realmente acontecer, uma catástrofe financeira -e não mais uma crise- vai atingir o mundo nos próximos meses.
Segundo alguns analistas, os efeitos que se seguirão vão fazer o período 2009/2010 parecer tempos de normalidade e bonança econômica. Nesse novo cenário, o mundo emergente, que até então vinha sendo considerado pelos investidores internacionais um refúgio seguro para seus investimentos, seria afetado de forma importante e entraria também em recessão. Até meados de agosto, países como Brasil, México, Austrália e muitos outros estavam recebendo expressivos volumes de recursos para serem investidos em suas economias. Citei recentemente, como exemplo desse movimento, a compra de parcela importante do capital da cervejaria Schincariol por um grupo japonês do mesmo ramo.
Dizia que tinha escolhido esse particular investimento como exemplo por três razões: o valor do investimento (US$ 2 bilhões), o fato de a empresa ter enorme questão legal com o fisco brasileiro e, principalmente, por ser o investidor uma tradicional empresa japonesa, considerada pelos especialistas uma das mais conservadoras do mundo.
Por isso, quando a crise europeia virou tempestade do tipo 5, o mundo róseo dos emergentes desabou. Os investidores -como sempre acontece nesses momentos desde que os florentinos inventaram os bancos- tentaram sair correndo ao mesmo tempo e voltar para o refugio do dólar, ainda a moeda mais confiável que existe.
Mas a porta de saída do mundo emergente é muito mais estreita do que a do mundo desenvolvido e esse movimento descontrolado -chamado no linguajar do mercado de desalavancagem- provocou subitamente uma das mais brutais correções de preço que já vi em meus 44 anos de mercado financeiro.
O pânico no Brasil foi muito maior do que na maioria dos emergentes, principalmente no mercado de câmbio, por culpa do governo Dilma. Poucos dias antes dessa mudança de ares, o ministro da Fazenda tinha criado um imposto na compra de dólares no mercado futuro da BM&FBovespa. Segundo ele, havia um movimento especulativo que estava valorizando o real e prejudicando a indústria brasileira. Contra a maioria das opiniões de especialistas, ele decidiu levar sua proposta adiante. Ora, no momento de pânico que estamos vivendo, esse imposto funcionou como uma restrição importante nos negócios com o real, pois pune os que, sabendo que esse movimento de pânico em algum momento vai passar, poderiam estar comprando reais e amortecendo sua queda.
A imagem que me vem à mente para descrever o que está ocorrendo é a de um acidente recente em uma boate no México, quando centenas de pessoas morreram porque as saídas de emergência estavam fechadas. Nessa situação, todos os que estavam na boate tiveram de sair por uma única porta de entrada, e o resultado foi um desastre.
No caso do mercado de câmbio no Brasil, as portas de emergência, para situações como a que estamos vivendo, estavam fechadas na BM&FBovespa. A tranca colocada pelo governo -o IOF na compra de dólares futuros- funcionou a contento se o objetivo do governo era provocar uma correção vigorosa do real. Mas, como o câmbio é um preço fundamental na dinâmica da inflação brasileira -afeta 50% dos preços ao consumidor-, a correção brusca dos últimos dias ameaça inviabilizar a política de redução de juros do governo.
Por isso, no momento em que escrevo esta coluna, equipes de bombeiros do BC estão tentando abrir buracos nas paredes para evitar que o câmbio leve a inflação brasileira para mais de 7% ao ano. Como o mercado da BM&FBovespa hoje está do lado dos especuladores por não haver vendedores, o BC está vendendo mais de US$ 5 bilhões em derivativos cambiais. Uma trapalhada de mais de metro...
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Antonio Barros de Castro.
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Churchill e os governos do PT.
Agora, passou despercebida mesmo entre seus mais radicais militantes. Mas o tempo passa e o Brasil, felizmente -como os Estados Unidos na imagem de Churchill-, também acaba trilhando o caminho correto depois dos erros cometidos.
Agora a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) promete levar adiante a concessão dos aeroportos de Cumbica e de Viracopos, ambos em São Paulo, e de Brasília. Espero sinceramente que prevaleça, daqui para a frente, a máxima caipira que diz que "em porteira que passa um boi passa também uma boiada" e que a privatização dos aeroportos permita que o cidadão tenha mais respeito quando for utilizar os serviços de um aeroporto no Brasil.
Desde 2008, só em conversão de dívidas para com a estatal federal em capital social já foram gastos mais de R$ 5 bilhões. Mesmo com todo esse esforço de redução de dívidas para manter as empresas funcionando, elas já acumulam prejuízo consolidado de mais de R$ 750 milhões.
Esse estado caótico, aliás, levou os auditores dessas empresas a colocar em seus balanços uma nota em que chamam a atenção para um possível colapso operacional em futuro próximo.
Uma das empresas em pior situação quando o BNDES implantava esse processo de privatização nos Estados era a Cemar, a distribuidora de energia elétrica no Maranhão.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Para além do vaivém das Bolsas.
O keynesiano LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, hoje na FOLHA DE S. PAULO, comenta sobre as últimas turbulências econômicas.
Incríveis as oscilações de preços nos mercados financeiros nas últimas duas semanas. Depois de um longo movimento de quedas diárias, e que destruiu trilhões de dólares de valor nos três cantos do mundo, estamos agora vivendo um vaivém insensato. Em um dia os preços das ações -no Brasil e no mundo- caem mais de 4%; no dia seguinte, sobem com a mesma intensidade, para em seguida voltar a cair forte.
Essa mesma gangorra acontece com a cotação do franco suíço, do iene japonês e do ouro, ativos vistos pelo mercado como mais seguros do que o dólar americano.
A moeda suíça -uma das mais estáveis do mundo- chegou a se valorizar em mais de 5% em relação ao dólar em um só dia. Mesmo os títulos emitidos pelo Tesouro americano tiveram seus preços flutuando diariamente em níveis também muito acima do padrão histórico.
Isso apesar de serem eles os títulos financeiros de maior liquidez em circulação no mundo e, portanto, difíceis de serem manipulados pelos especuladores.
Vou usar um derivativo que mede a variação dos preços das ações na Bolsa de Nova York -o chamado índice VIX- para dar ao leitor da Folha uma ordem de grandeza da loucura deste período. O VIX, que em tempos normais vale 15 pontos, chegou a mais de 40 nesta semana.
As perguntas que chegam hoje a todos os que ocupam um espaço de reflexão sobre economia e finanças são quase sempre as mesmas: como explicar esse estado de irracionalidade coletiva, e do que depende a volta de um comportamento mais previsível aos mercados?
A causa mais importante de toda essa volatilidade é, sem dúvida nenhuma, a volta do risco de uma nova recessão nos Estados Unidos.
Essa ameaça -que, por vários meses, parecia afastada- voltou com força a partir da divulgação do crescimento do PIB americano no segundo trimestre deste ano e, principalmente, das revisões dos números relativos aos trimestres anteriores.
As estatísticas mostraram a todos duas verdades explosivas: a recessão em 2009 foi mais profunda do que medida anteriormente e o crescimento no início deste ano foi muitíssimo mais fraco do que o que havia sido medido pelo governo americano e por instituições privadas há alguns meses.
O quase pânico que se instalou nos mercados após a divulgação desses dados deveu-se ao reconhecimento de que as medidas que vinham sendo tomadas pelo governo e pelo Fed não estavam sendo suficientes para colocar a maior economia do mundo de volta à rota do crescimento sustentado. Tinha havido uma recuperação ao longo de 2010, mas os números agora revelavam que isso tinha sido apenas um espasmo de crescimento.
Além disso, mesmo os mais fervorosos economistas keynesianos, como eu, sabiam que não existem novos medicamentos a serem ministrados ao paciente. E todos sentiam a frustração de reconhecer que os ensinamentos e os conselhos do velho mestre não estavam funcionando desta vez.
No meio dessa decepção, a crise criada pelo impasse na renegociação do teto da dívida pública americana funcionou como elemento adicional no imaginário já pessimista dos mercados. A recuperação da economia dos Estados Unidos, todos sabem, é um elemento fundamental para que a Europa possa administrar sua própria crise fiscal.
Na medida em que a confiança nesse cenário desaparecia e se transformava em um fantasma recessivo das piores proporções, a crise europeia mudava de dimensão.
Com esse futuro negro à frente, o mercado passou a criar seus próprios monstros. O maior deles foi o mito da fuga dos investidores tanto dos títulos emitidos pelo governo americano como do dólar.
Felizmente, essa ameaça durou apenas um fim de semana, pois na segunda feira seguinte à decisão da agência Standard & Poor's os investidores corriam para comprar esses papéis e a moeda americana.
Com os mercados mais calmos, e bem mais baratos, creio que teremos um período de maior racionalidade à espera de novos dados econômicos que mostrem a economia ainda crescendo e do início de um entendimento no Congresso americano sobre a questão fiscal nos EUA.
sexta-feira, 29 de julho de 2011
O governo e a batalha do câmbio.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 68, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso). Entende mais do assunto do que muitos colegas de economia... Veja o que ele escreveu hoje na FOLHA DE S. PAULO. Na verdade parece que o nosso governo está PERDIDO diante de um cenário internacional muito confuso e preocupante, os Estados Unidos a um passo do calote, o brasileiro com muito medo da volta da inflação ao nosso dia a dia etc. Logo, o futuro é incerto, mas prevejo para os próximos meses o US$ entre R$ 1,50 a R$ 1,70. Espero que minha bola de cristal esteja limpa...
Com o real chegando a seu momento de maior força em relação ao dólar, o governo Dilma Rousseff cruzou uma nova fronteira em sua confusa e pouco eficiente estratégia de proteger a indústria brasileira.
Pela primeira vez desde que o ministro Guido Mantega cunhou a expressão "guerra cambial", o governo tomou medidas para atingir o mercado futuro de câmbio na BM&F.
Ao taxar essas operações com o IOF e estabelecer um marco legal para fixar --por medidas administrativas do CMN-- o nível de garantias exigidas, o governo --como Cesar-- cruzou o Rubicão.
Não há mais volta, pois, ao interferir em um mercado tão grande e tão interligado com o lado real da economia sem a devida reflexão sobre seus efeitos --e esse é certamente o caso--, o governo criou algo muito perto do caos.
Estou fora do país, mas os relatos que tive sobre a coletiva do ministro Mantega são suficientes para compor esse quadro de desconhecimento profundo das consequências das medidas adotadas.
Posso afirmar isso porque participei em 1986, quando era diretor do Banco Central, de algo muito semelhante. Pressionado para enfrentar a questão das expectativas de inflação embutidas nas taxas de juros dos títulos públicos, o Banco Central mudou a tributação desses papéis sem a necessária avaliação de suas consequências na economia como um todo.
Tudo virou um inferno, e uma sequência de novas medidas foi necessária para tentar enfrentar as maiores distorções que apareceram. E, a cada tentativa de correção, novos problemas se colocavam. No final, tivemos de voltar atrás...
A questão do real forte é ainda mais complexa do que a que o Banco Central enfrentou décadas atrás. E isso ocorre por várias razões.
A mais importante delas está relacionada às complexas relações entre mercados internos e externos que existem hoje na economia brasileira.
E não estou falando apenas de relações financeiras, mas sim da complexa interação entre as cadeias produtivas em setores importantes do tecido produtivo. As importações fazem parte do cotidiano das empresas brasileiras, o que as obrigam a realizar operações de proteção contra a flutuação da taxa cambial.
Também os exportadores, principalmente no setor de produtos primários, precisam de mecanismos de proteção contra as flutuações de grandes proporções que ocorrem hoje nos mercados futuros desses produtos no exterior. E essas operações de proteção trazem, juntas, as flutuações nos mercados de câmbio.
Poderia escrever muito mais sobre as relações econômicas, e, como já disse, não apenas as financeiras, que estão por trás das operações de taxas de câmbio futuro na BM&F.
Mas tenho certeza de que isso não é necessário para mostrar ao leitor da Folha a fragilidade que está por trás das decisões tomadas pelo governo Dilma nos últimos dias.
Quando escrevo esta coluna, os mercados estão paralisados à espera de esclarecimentos do governo sobre as medidas tomadas. Já tenho muito tempo de estrada para acreditar que elas virão. Volto a afirmar que ninguém no Ministério da Fazenda --inclusive o ministro Mantega-- tem a menor ideia sobre a caixa de surpresas que eles abriram agora.
Uma coisa é certa: ao longo dos próximos dias um mercado futuro de taxas de câmbio, tendo o real como uma das pontas das operações, vai aparecer em Chicago ou em outras praças financeiras.
As demandas por operações desse tipo fazem parte hoje do que chamo de metabolismo da economia brasileira. Por isso, elas vão reaparecer em outros lugares. Mas, como sempre ocorre nessas situações, os custos de transação vão aumentar para quem faz negócios no Brasil e com o Brasil. Os pensamentos estratégicos que os chineses, em seus 5.000 anos de história, nos deixaram foi o de nunca usar um canhão para matar uma formiga.
Os efeitos colaterais que ocorrem quando isso acontece são sempre muito maiores do que os eventuais benefícios gerados.
Vamos testar no Brasil de hoje a sabedoria estratégica dos chineses.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
FHC: parabéns e obrigado!
domingo, 22 de maio de 2011
Folha entrevista Luiz Carlos Mendonca de Barros.
A competente ELEONORA DE LUCENA, da FOLHA DE S. PAULO entrevista neste domingo o sempre influente economista LUIZ CARLOS MENDONCA DE BARROS.
Ex-ministro tucano, Luiz Carlos Mendonça de Barros, 68, traça diferenças entre Lula e Dilma. Conclui que a atual política econômica está mais à esquerda. Nesta entrevista, fala de inflação e sugere redução no crescimento.
Também advoga a implantação de quarentena para o capital externo.
Para Mendonça, as finanças vão ficar menos confiantes no governo se o ministro Antônio Palocci (Casa Civil) cair. Executor de boa parte da privatização nos anos FHC, avalia que o PSDB é hoje um partido mais medíocre.
Folha - Quais são as diferenças ente Dilma e Lula?
Luiz Carlos Mendonça de Barros - A economia de Lula era continuidade da de FHC. Quando a inflação ameaçava subir, o BC aumentava juros. Está claro que Dilma mexeu nessa lógica.
O pessoal da Unicamp passou a ter papel de formulador de política. O Banco Central de [Henrique] Meirelles tinha uma linha mais liberal, de gente do mercado financeiro. O BC de Dilma é formado por burocratas.
Existe uma visão de que o BC era sempre capturado pelas finanças.
Não era capturado. O BC reproduzia a leitura que o mercado financeiro tem da política econômica.
E agora não mais?
Não. Há diferença de comportamento. É muito difícil para um burocrata ir contra a hierarquia. Com Lula, havia um conflito entre BC e Fazenda. Quem ganhava era o BC.
Houve uma inversão. A política econômica é conduzida por [Guido] Mantega. No sistema de metas, está se levando em consideração o custo para o crescimento. E usam outros instrumentos além dos juros, como as medidas macroprudenciais.
O mercado financeiro está insatisfeito?
Quer acreditar que não mudou nada. Está num período de grandes incertezas.
O mercado está sendo prejudicado?
Não, mas muda a forma de trabalhar. O mercado detesta mudança. O governo Dilma -e daí a importância da questão do Palocci- tem uma irracionalidade. Tem um lado que aparentemente é dominante e que tem uma leitura diferente da de Lula. E o Palocci é um sinal de que a racionalidade anterior não está abandonada.
O sr. acha que ele vai ficar?
Não sei. A Bolsa caiu, o dólar subiu. É porque tem uma insegurança latente. Se Palocci sair, vai ter um efeito importante sobre expectativas. Vai ficar menos confiante na política do governo. É importante mostrar que Dilma tem política diferente.
É mais à esquerda?
O pensamento econômico do governo Dilma é mais à esquerda do que na época de Lula. Tem uma ideia de intervenção mais forte do Estado.
Com Lula havia um certo conflito. A macroeconomia era bem ortodoxa, mas o Estado intervinha. Com Dilma aumentou essa contradição.
Ela é mais ideológica. Não percebeu a herança maldita de Lula. O crescimento do consumo foi forte e não foi acompanhado pelo investimento produtivo. Entraremos num período em que a inflação vai cair porque tem deflação nas commodities.
O país pode se desamarrar do sistema de metas de inflação?
Não, porque é preciso uma referência. Sou a favor de um sistema de metas que leve o custo da convergência da inflação em consideração. Mas fazer isso agora é complicado. Bagunça as expectativas.
É preciso reduzir o crescimento agora?
Não há dúvida. O aspecto mais preocupante é o mercado de trabalho. No início de Lula o desemprego era de 12%. Hoje é de 6%. Isso faz uma diferença brutal.
Com essa concentração de renda, o salário tem que ser sempre o vilão?
Exatamente porque há concentração de renda é que os salários viram problema. Todo o aumento vira consumo. Há uma capacidade limitada de produzir. A alta de consumo em Lula ocorreu com oferta sobrando. Dilma não tem essa folga. Se a economia crescer na mesma velocidade vai pressionar custos, e a inflação vai subir.
E o câmbio?
O Brasil virou um país desejado por todos. Cerca de 80% do dinheiro que chega é para comprar bens. O real é uma moeda confiável. Evidente que tem um componente de juro, mas não é o principal. O governo precisa rever a agenda de problemas.
E o que estaria no topo dessa nova agenda?
A inflação, porque vai virar problema político. Se não resolver, vai bater na popularidade. Mas o primeiro item é o excesso de entrada de capital estrangeiro de investimento. Não é especulativo. Portanto não adianta pôr IOF de um ano.
O sr. faria uma quarentena?
Eu faria uma quarentena mesmo. O dinheiro entra, fica seis meses, um ano, e depois é liberado. O dinheiro de investimento permite que se tenha isso. A entrada de capital externo para investimento é boa. Mas, se não tiver uma dosagem, vira coisa ruim via câmbio.
O que o sr. faria diferente?
Tentaria moderar essa entrada de capital. O Brasil tem hoje uma agenda de problemas derivados do sucesso. A inflação é a ponta do iceberg desses desequilíbrios todos. Por exemplo: qual é o problema de privatizar os aeroportos no Brasil? O único problema é o político. Como Lula venceu fazendo da privatização um demônio, Dilma está com dificuldade e não resolve o problema.
O sr. faria diferente a privatização hoje?
Tem erros na privatização. Por que o pedágio em SP é caro? Porque, na época, Mario Covas quis arrecadar. Ganhava quem pagasse mais. Isso é um absurdo. Porque o concessionário cobra do usuário. O Serra ainda insistiu nesse erro no Rodoanel. Agora mudou. O leilão é feito em cima do menor custo de pedágio.
O modelo de privatização do PT então foi melhor do que o do PSDB?
Nesse caso é melhor. O erro do PT foi fixar um pedágio muito menor do que deveria ser. Aí a qualidade do serviço... A privatização terá que ser revista porque ninguém é perfeito.
No caso da telefonia, a tarifa não é muito alta, uma das mais caras do mundo?
Por causa de imposto. A parte que sobra para o concessionário é uma das mais baixas do mundo porque tem concorrência. Basta olhar a propaganda na TV.
Mas não houve a competição prevista. As teles divididas se uniram na Oi, e em SP é quase só Telefônica, não?
Isso na telefonia fixa. Porque tem um problema técnico. Não é econômico fazer dois sistemas de cabo numa região. Não se sabia disso na época. Mas o telefone no Brasil é celular. É caro porque metade da tarifa é imposto.
E a crise do PSDB?
O PSDB sofre uma mudança de líderes que não têm a visão estratégica dos que ficaram para trás. É um partido mais medíocre. Tem o azar de ser oposição num momento em que a população está satisfeita. A maior contribuição do Lula foi transformar o PT num partido burguês igual aos outros.
O sr. concorda que ex-ministro é valorizado pelo mercado?
Precisa ter algum talento. Político é paparicado em qualquer lugar no mundo. Nos EUA há uma forma mais transparente, clara. O lobby é registrado. Deveria ter isso aqui.
Palocci não está muito enfraquecido?
Prefiro olhar de longe. Eu já passei por isso. A imprensa às vezes é injusta.
segunda-feira, 21 de março de 2011
A presidente Dilma e a economia
Luiz Carlos Mendonça de Barros - VALOR ECONÔMICO
A entrevista da presidente Dilma ao Valor na última semana é uma fonte muito rica para entender sua leitura da economia brasileira hoje. Apesar do pouco tempo de Dilma Roussef no Palácio do Planalto, já sabemos que ela tem uma forma mais profunda de tratar publicamente os temas relevantes sobre o Brasil. Na era Lula as entrevistas do presidente muito raramente traziam alguma contribuição ao entendimento das prioridades e políticas de seu governo.
Em todas as respostas da presidente à jornalista Claudia Safatle podemos encontrar um ponto em comum: ela está trazendo finalmente ao governo alguns dos conceitos e prioridades do pensamento econômico do PT.
Nos oito anos de Lula isso não aconteceu na medida em que a política econômica foi o resultado de uma simbiose confusa entre conceitos e objetivos herdados do período FHC, respostas pragmáticas a desafios de natureza conjuntural que ocorreram e, claro, algumas prioridades históricas do PT. Esse todo heterogêneo desaguou em um período de sucesso na economia em função do cenário conjuntural extremamente favorável, principalmente pela elevação expressiva dos chamados termos de troca de nosso comércio exterior.
Os preços de nossas exportações em alta e uma deflação dos produtos industriais importados geraram ao longo do segundo mandato de Lula um ganho anual de renda interna da ordem de 1,6% do PIB. Estimulada por essa força externa e trabalhando com uma folga estrutural em setores chaves como o mercado de trabalho, a economia cresceu a taxas elevadas sem que a inflação fugisse do controle. Em 2011 os efeitos positivos da melhora de nossos termos de troca continuam a empurrar a economia, mas as condições conjunturais internas não são mais as mesmas. Por isso as pressões inflacionárias começam a tomar uma dimensão que não tiveram no governo Lula.
A presidente Dilma foi incisiva em defender o controle da inflação, mas seguindo um receituário diferente do estabelecido no sistema de metas de inflação que prevalece desde 1999. Ele segue mais de perto o pensamento econômico do PT histórico, que defende ser possível o combate a uma inflação de demanda, como vivemos hoje, sem comprometer o crescimento. Essa opção da presidente fica clara quando ela promete um combate implacável à inflação mas, ao mesmo tempo, assume um compromisso com um crescimento do PIB da ordem de 5% ao ano. Para este analista esse duplo objetivo é incompatível e um deles terá que ser deixado de lado. Hoje me parece claro que a corda vai arrebentar do lado da inflação.
Essa nova postura do governo tem implicações importantes. Em primeiro lugar o Banco Central está abandonando na prática - depois de mais de 12 anos - uma das cláusulas pétreas do regime de metas de inflação implantado em 1999. Até agora, quando a inflação ameaçava superar de forma sustentada o centro da meta, o Banco Central entrava em cena aumentando os juros. Seu objetivo era o de criar condições para que houvesse - no mais curto espaço possível - uma volta da inflação ao centro do intervalo de metas em vigor. Nessa sua missão, o crescimento da economia passava a ser uma variável dependente da intensidade do aumento dos juros.
Dada a credibilidade que o BC ganhou junto aos agentes econômicos, ao longo de vários anos, o mercado projetava poucos meses à frente o fim do aumento dos juros e - mais importante - o momento em que o Copom passaria a reduzi-los. Em outras palavras, as expectativas de inflação estavam ancoradas em função da credibilidade do Banco Central.
No governo Dilma o Copom trabalha com um mandato duplo, ou seja, o de trazer a inflação para a meta e viabilizar uma meta mínima de crescimento fixada pelo Planalto. Além disso existe uma restrição adicional que é a decisão de não permitir uma nova rodada de fortalecimento do real como instrumento para forçar os preços dos bens que trabalham com preços em dólar para baixo.
Nessas novas condições, mesmo que a intenção do governo seja a de manter a inflação estritamente sob controle - como reafirmou na entrevista a presidente - a trajetória de convergência para o centro da meta será outra, bem diferente da que ocorria até agora. Não vejo um problema grave nessa mudança, se for apenas um ajuste no prazo de convergência da inflação e da utilização - adicionalmente à elevação dos juros - de outros instrumentos de aperto nas condições financeiras. Neste caso estaríamos jogando para 2012 o fim do aperto monetário em andamento.
Mas se a limitação na redução no ritmo de crescimento for um impedimento à liberdade do BC de buscar novamente o centro da meta, estamos diante de uma política monetária de outra natureza. Nas condições atuais da economia brasileira, principalmente com os níveis de desemprego de hoje, essa nova postura do governo vai levar a níveis de inflação bem mais elevados. Portanto, a questão não se trata mais de um prazo maior ou menor de convergência da taxa de inflação, mas sim de uma terrível inconsistência teórica. Que, aliás, faz parte do receituário tradicional do PT e que ficou de lado durante o mandato do presidente Lula. |
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