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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Stanley Fischer.

No VALOR de hoje, o retrato de Stanley Fischer pela lente de Delfim Netto.

Stanley Fischer , que parece será nomeado para a vice-presidência do Fed, é um dos mais bem apetrechados economistas teóricos aos quais foram dadas oportunidades para usar seu conhecimento no exercício da política econômica. Recebeu o PhD no MIT em 1969 e rapidamente se notabilizou.

 
Que economista ficou indiferente em 1977 diante da sua inovadora combinação da teoria das "expectativas racionais", com hipóteses keynesianas? Qual não se entusiasmou em 1978, com a síntese magistral do "Macroeconomics" (em colaboração com Rudiger Dornbusch)? E não se maravilhou e sofreu, em 1989, com o seu "Lectures in Macroeconomics" (em colaboração com Olivier Blanchard)?

Em 1984, assessorou o governo de Israel no bem-sucedido programa de estabilização, inaugurando sua vida prática. Depois ocupou o cargo de economista-chefe do Banco Mundial, no período de 1988-1990. Em 1994, foi nomeado economista-chefe do FMI, cargo que ocupou até 2001 e no qual enfrentou várias crises, inclusive a brasileira. Em 2001, ao deixar o FMI, foi assessorar o Citigroup e meteu a mão na massa no lado privado do sistema financeiro.

Voltou à vida pública em 2005, nomeado presidente do Banco Central de Israel, cargo que ocupou até 30 de junho último. Mostrou o seu virtuosismo na grande recessão de 2008. Antecipou um afrouxamento monetário (antes do Fed) e combateu a apreciação da moeda israelense, o shekel, para proteger o nível de atividade do país, onde as exportações são próximas de 40% do PIB.

Ainda em 2008, instituiu um programa de compra diária de US$ 100 milhões, exatamente o oposto do que fazia o Banco Central do Brasil, que estimulava a valorização do real como fator coadjuvante para o combate à inflação à custa da destruição do nosso setor industrial.

A competência e a sensibilidade de Fischer são confirmadas por seu pragmatismo. Não hesita em relativizar sua "ciência" diante da realidade fática que a nega. É o caso, por exemplo, de sua mudança de atitude diante da ampla liberdade de movimento de capitais e do regime de câmbio livremente flutuante, que defendeu ardorosamente enquanto no FMI.

Toda a longa experiência de Fischer está destilada e amadurecida na imperdível introdução à conferência "Lessons from the World Financial Crisis", realizada em Israel em 2011, agora publicada no livro ("The Great Recession" - Lessons for Central Bankers", MIT Press, 2013). Ele aponta as dez lições que colheu até agora. Particularmente interessante é a lição nº 6: "A importância da taxa de câmbio nas pequenas economias abertas".

Nela, Fischer nos ensina que "a taxa de câmbio real é uma das duas mais importantes variáveis macroeconômicas nas pequenas economias abertas. A outra é a taxa de juros real. "Nenhum banqueiro central em tais economias pode ser indiferente quanto ao nível da taxa de câmbio, mas infelizmente não há escolhas fáceis na sua administração".

E Fischer continua: "Primeiro, há a escolha do sistema cambial, que está intimamente ligado à questão do controle de capitais. Se os fluxos de capitais podem ser controlados, pode haver alguma vantagem na escolha de uma taxa de câmbio nominal fixa. Entretanto, e sem entrar no longo e irresoluto debate sobre o sistema cambial, acredito (sic) que é melhor operar com um sistema cambial mais flexível e com um movimento de capitais mais aberto. Mas "flexível" não significa, aqui, que um país não possa intervir no mercado cambial, ou que o movimento de capitais seja completamente aberto... Nenhum país pode comprometer-se a defender uma particular taxa de câmbio. Os participantes do mercado costumam dizer que o banco central não pode colocar-se contra sua força. Entretanto, é preciso reconhecer a assimetria existente entre defender-se de pressões para valorizar ou desvalorizar a moeda. No caso da depreciação, o mercado quer mais moeda estrangeira das quais o banco central dispõe de quantidade limitada e não pode resistir indefinidamente. Os eventos recentes mostraram que grandes reservas podem ajudá-lo a resistir às pressões do mercado... No caso da valorização, os mercados querem mais moeda local, que o banco central pode produzir para comprar o fluxo de moeda estrangeira que está entrando. Evidentemente, para prevenir um processo inflacionário é preciso esterilizar os seus efeitos, como se fez em Israel e em outros países".

Fischer reconhece que, em certas circunstâncias, os países introduzem algum atrito no movimento dos capitais. Para ele, "tais controles são raramente elegantes, de administração difícil e permanentemente erodidos pela capacidade do setor privado de encontrar meio de ilidi-los. Mas, às vezes, necessários, quando o país é confrontado com um importante movimento de entrada de capitais".

A 10ª lição de Fischer é definitiva e moralmente tranquilizadora para os sacerdotes do método do "suponhamos que", que se pensam portadores da "verdadeira" ciência econômica. "Numa crise" - diz ele - "os banqueiros centrais (e sem dúvida outros 'policy makers') vão encontrar-se tendo que decidir por políticas que eles nunca pensaram em aplicar e, frequentemente, que eles nunca prefeririam aplicar. Portanto, uma palavra final para os banqueiros centrais: nunca digam nunca". O conselho pode estender-se aos críticos que, sem saber, serão um dia "policy makers".

Este "suelto" foi publicado nesta coluna em 17/09/2013, quando eu esperava que ele fosse o "chairman" do Fed.

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