domingo, 5 de março de 2017

Fernando Henrique Cardoso: Jogo de gente grande.

No carnaval passeei com casais amigos por Florença e vizinhanças. Há mais de meio século, eu, minha mulher Ruth, Bento e Lucia Prado e Arthur Giannotti passeáramos pela mesma região com a fascinação da primeira vez e a energia da juventude. Lá, de onde escrevo este artigo, passamos o 31 de dezembro de 1961.
Desta vez, com o mesmo deslumbramento, revi o que pude das cidades toscanas. Em 1961 vivíamos o clima da Guerra Fria — russos e americanos se enfrentavam por procuração, como na “crise dos mísseis” em Cuba — e as marcas da guerra quente estavam presentes na Europa bombardeada. Agora, nem mesmo a eventual tensão belicosa que os dias de Trump deixam entrever assusta o Ocidente.
A memória se esfuma: passa-se por um ou outro cemitério americano em solo italiano e só os mais velhos, imagino, ainda se lembram do que foi a luta dos Aliados contra o Eixo totalitário. Em poucos brasileiros ressoam os nomes de Monte Cassino e Monte Castello, marcos do heroísmo dos soldados brasileiros.
É bom, entretanto, não esquecer. Desfrutando o gênio de Masaccio ou o colorido e a perspectiva dos afrescos de Ghirlandaio, a poucos passos um do outro na Santa Maria Novella, é bom darmo-nos conta de que o que o passado construiu pode romper-se e não só na arte.
Vale a pena recordar que a História é mãe e madrasta ao mesmo tempo.
Os sinais do futuro podem não ser do nosso agrado, mas com eles teremos de nos haver.
O pós-guerra, a despeito das diferenças entre comunistas e capitalistas, resultou na criação das Nações Unidas e na corresponsabilização dos vencedores da guerra pela ordem global e pela paz mundial.
O arcabouço político que precedeu a globalização econômica está se modificando, e a continuidade do que pareceria imutável no espírito ocidental depois de tanta violência e morte, o internacionalismo, não pode mais ser tomado como algo definitivo.
Será que os eleitores do Brexit ou os rebelados do Rust Belt, que atribuem suas perdas à globalização e aos imigrantes, acaso se deram conta de que estão destruindo o que as gerações passadas fizeram com tanto esforço? Provavelmente não e pouco importa.
O que é certo é que o “equilíbrio de poder” que americanos, chineses, russos e europeus construíram depois da guerra de 1939-45 está abalado. E não pela “desglobalização” ou pelas crises da economia — que sempre pesam — mas pela visão do mundo e do poder que os governantes da geração atual parecem acalentar.
Os Estados Unidos com Trump se retraem dos compromissos internacionais: o “America first” de Trump visa mais o fortalecimento da economia doméstica do que o predomínio mundial.
Os chineses se expandem na economia e se fortalecem regionalmente, mas sem empenho em construir o mundo à sua semelhança, como tinham os americanos.
A Rússia se contenta em intervir de onde era excluída, de “sua” área imperial e das zonas onde historicamente os otomanos deram as cartas.
E por aí vão refazendo caminhos os antigos donos do mundo, deixando a Europa escabreada.
Diante disso, o que cabe aos que ainda não têm voz decisiva no capítulo global, como nós brasileiros, é dar-nos conta de nossos interesses e ver estrategicamente, sem alinhamentos automáticos nem mesmo ideológicos (pois disso não se trata como na luta contra o Totalitarismo ou o Comunismo), para que lado vai o mundo e como melhor nos situamos nele.
Este “pragmatismo responsável” não deve se eximir de tomar partido, entretanto, na defesa dos direitos humanos e da democracia quando for o caso.
Não deve tão pouco deixar de avaliar friamente os interesses econômicos de nosso povo. Se até Larry Summers, ex-ministro da Fazenda dos Estados Unidos e pilar do pensamento liberal de mercado, para compensar as angústias da globalização, apresentou um texto ao Berggruen Institute falando de “nacionalismo responsável”, por que não deveríamos repensar nossas chances, interesses e responsabilidades quando uma nova ordem mundial começa a esboçar-se?
O Itamaraty, sob a batuta de José Serra, reviu posições e revigorou alguns de nossos antigos propósitos. Dentre estes, o fortalecimento da cláusula democrática no Mercosul e a consequente cobrança de novos rumos na Venezuela.
Precisamos intensificar os liames com os vizinhos da América do Sul no lado do Pacífico e, principalmente, dar maior força a nossa ligação com a Argentina. Da mesma forma, necessitamos de sólida reaproximação com o México, flechado por Trump; devemos ampliar nossas convergências, não só econômicas mas políticas, com aquele país.
O muro proposto separa não apenas o México: separa os latino-americanos e os americanos adversos à insensatez de Trump.
Começamos a vislumbrar que as mudanças no tabuleiro internacional não vão na direção de um novo Hegemon, mas abrem espaço para alianças regionais que podem transcender o hemisfério. Neste, por escolha dos Estados Unidos, estão distantes os tempos da Alca.
Quem sabe um acordo com o Mercosul se torne viável, com os alemães à frente e os ingleses correndo à parte, mas também interessados em, ao se distanciarem de Bruxelas, não perderem espaços no mundo.
China e Índia, que crescem 7% ao ano, precisarão cada vez mais de comida e minérios de que dispomos.
O rearranjo atual da ordem global não tem força para estancar o que as mudanças culturais e tecnológicas tornaram irreversível: as consequências do aumento da produtividade e a integração produtiva.  As mudanças em curso decorrem mais das questões de poder do que das econômicas. Isso não nos leva a descuidar de nossa base produtiva, mas induz-nos a não descuidar dos meios disponíveis de poder, que incluem capacidade de defesa e visão estratégica.
É o que esperamos do governo ao nomear um novo ministro para as Relações Exteriores: que não se esqueça de que entraremos em um jogo “de gente grande”.

Fox: The Americans


http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/03/1863789-serie-the-americans-volta-mais-sombria-na-quinta-temporada.shtml

quinta-feira, 2 de março de 2017

Argentina: ?De qué hablamos cuando hablamos de Logoterapia?


Para os que estão em Buenos Aires, recomendamos a palestra ?De qué hablamos cuando hablamos de Logoterapia? a ser proferida pelo Professor Dr. Oscar Ricardo Oro, no próximo dia 14 de março, na sede da Fundación Argentina de Logoterapia. 
  

Bacen: cenário para antecipação na redução da Taxa Selic, hoje em 12,25% ao ano.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) pode intensificar o ritmo de cortes na taxa básica de juros (Selic). A indicação da nova estratégia consta da ata da última reunião do comitê, divulgada hoje (2).
No último dia 22, o Copom anunciou o quarto corte seguido na taxa. Por unanimidade, o comitê reduziu a Selic em 0,75 ponto percentual, de 13% ao ano para 12,25% ao ano.
Com a recessão econômica e as expectativas de inflação em queda, o comitê indica que os próximos cortes podem ser maiores do que o da reunião passada de 0,75 ponto percentual. “Com expectativas de inflação ancoradas, projeções de inflação na meta para 2018 e marginalmente abaixo da meta para 2017, e elevado grau de ociosidade na economia, o cenário básico do Copom prescreve antecipação do ciclo de distensão da política monetária [redução da Selic]”, diz a ata.
A projeção de inflação do Copom para 2017 caiu em relação à estimativa prevista em janeiro e ficou em torno de 4,2%, abaixo do centro da meta de 4,5%. Para o próximo ano está ao redor de 4,5%. Para instituições financeiras consultadas pelo BC, a inflação ficará em 4,36%, em 2017 e em 4,5% em 2018.
Na ata, o Copom diz também que se os cortes forem maiores, o ciclo de redução da Selic (período de cortes) pode ser menor. Ou seja, em vez de ir cortando a Selic aos poucos a cada reunião, o Copom pode fazer reduções maiores na taxa em um período menor de tempo. As reuniões do Copom ocorrem aproximadamente a cada 45 dias. A próxima reunião está marcada para os dias 11 e 12 de abril.
O Copom ressalta que a aprovação e implementação de reformas fiscais são fundamentais para a sustentabilidade da desinflação e para a redução da taxa de juros ao longo do tempo. “Por fim, os membros do Copom destacaram a importância de outras reformas e investimentos em infraestrutura que visam ao aumento de produtividade, a ganhos de eficiência, maior flexibilidade da economia e melhoria do ambiente de negócios. Estes esforços são fundamentais para a estabilização e retomada da atividade econômica e da trajetória de desenvolvimento da economia brasileira”, diz a ata.
A redução da taxa Selic estimula a economia porque juros menores impulsionam a produção e o consumo em um cenário de baixa atividade econômica. Segundo o boletim Focus, os analistas econômicos projetam crescimento de apenas 0,48% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos pelo país) em 2017. No ano passado, a economia registrou retração. De acordo com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), a queda ficou em 4,34%. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai divulgar o PIB de 2016 no próximo dia 7. O PIB (Produto Interno Bruto) é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país

A taxa básica é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o Banco Central segura o excesso de demanda, que pressiona os preços, porque juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Quando reduz os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação.

The Economist: The next French revolution - March 4th 2017.


Bacen Focus: Inflação e taxa de juros em queda!


quarta-feira, 1 de março de 2017

Domenico de Masi: Alfabeto da Sociedade Desorientada - Para entender o nosso tempo.


Mauricio Macri: Para reducir la pobreza, la Argentina tiene que crecer.


Para reducir la pobreza, la Argentina tiene que crecer. Hace cinco años que no crecemos ni generamos empleo. Hay mucha gente que sufre pero estamos saliendo.

En 2017 la economía va a crecer. Estamos trabajando en las cuestiones de fondo para que sea el comienzo de un período de crecimiento sostenido, año a año.

Debemos crear un contexto de confianza; confianza en nuestro potencial de crecimiento y en que la inflación estará bajo control.
La inflación es tóxica. Destruye el salario de los trabajadores, dificulta ahorrar, paraliza la inversión y nos impide mirar a largo plazo.

Los gobiernos anteriores la fomentaron y la quisieron esconder. Nosotros la enfrentamos y hoy está en un claro camino descendente. El Banco Central cumplió con sus metas: en el segundo semestre la inflación fue del 8,9%, que anualizada es la más baja desde el 2008.

La tendencia es clara. Empresarios y trabajadores deberían tener en cuenta las nuevas metas que se ha impuesto el Banco Central para el 2017 de una inflación entre el 12% y el 17%.

El Banco Central se fijó un objetivo para 2019 de una inflación de menos del 5%. Sabemos que eso es posible con un Banco Central independiente. La experiencia muestra que los países que bajaron su inflación crecieron muchísimo más al conseguirlo.

Ya probamos con alta inflación: la economía crece menos y los salarios siempre son alcanzados y superados por ella.

Durante años el Estado le dio la espalda a esta realidad y se negó a actualizar el mínimo no imponible del Impuesto a los Ingresos.

Nosotros revertimos ese daño, actualizando el mínimo no imponible y corriendo las escalas sin caer en el populismo irresponsable.

Gracias a la confianza que generamos, el año pasado salimos del default que nos aisló durante 15 años. Eso nos permitió incorporarnos al mundo y tener credibilidad internacional. Hoy el país se financia en el mercado a tasas menores, el crédito comienza a fluir para las familias y las empresas.

Entre 2015 y 2016 redujimos el déficit fiscal del 5,2% al 4,6% del PBI. Después de años de manipulación, sancionamos un presupuesto calculado sobre números reales. Para 2017, nos comprometimos a cumplir con la meta de 4,2% de déficit, y las metas del 2018 y 2019 son de 3,2% y 2,2%.

Un claro ejemplo de que la confianza aumenta es el éxito del sinceramiento fiscal. Al 31 de enero recaudamos casi 115 mil millones de pesos, lo que nos permitirá hacer los pagos de la reparación histórica a los jubilados.


Sobre esa base de confianza tenemos que trabajar para ser cada día más competitivos.

Reforma da previdência: o momento da psicologia colaborar com a economia!

Neste início oficial de 2017, espero que o presidente Temer e sua competente  equipe econômica leiam com atenção na Folha de S. Paulo a entrevista que a Ana Estela de Sousa Pinto realizou com o especialista em seguridade social Einar Øverbye, professor da Escola de Ciências Aplicadas da Universidade de Oslo e Akershus. 

O professor estudou reformas previdenciárias levadas a termo na Europa e na América Latina a partir dos anos 1990. Segundo ele, "teorias pregavam que reduzir benefícios era suicídio político. Eram vistas como particularmente impossíveis tentativas de passar de um modelo de repartição (como o brasileiro, em que uma geração mais jovem sustenta a aposentadoria dos mais velhos) para um de capitalização (no qual cada trabalhador deposita para sua própria aposentadoria), porque os trabalhadores que já arcavam com os atuais aposentados seriam duplamente onerados para garantir renda futura".


"Mas as reformas aconteceram, com apoio e muitas vezes por iniciativa de políticos social-democratas, que costumam ser avessos a qualquer ideia de corte social", diz Øverbye. Em sua pesquisa, ele elencou fatores estruturais e psicológicos que podem ser decisivos.

Bacen Focus: Estimado crescimento do PIB em 0,48% para 2017 e de 2,37% para 2018.


domingo, 26 de fevereiro de 2017

2017’s Spirit Awards: Moonlight.


With weeks of torrential rain finally lifting over Southern California to deliver a clear blue sky, it was a beautiful day in Santa Monica to celebrate, in all their glory, independent films and the folks who make them. With hosts Nick Kroll and John Mulaney delivering the funny and Andy Samberg performing Pearl Jam’s “Alive” as a tribute to the living, 2017’s Spirit Awards was yet another eccentric year that delivered — just see the winners for yourself!
If you missed any acceptance speeches and the memorable opening monologue, you can check out our YouTube channel.
BEST FEATURE – Moonlight
BEST DIRECTOR – Barry Jenkins, Moonlight
BEST FEMALE LEAD – Isabelle Huppert, Elle
BEST MALE LEAD – Casey Affleck, Manchester by the Sea
BEST SUPPORTING FEMALE – Molly Shannon, Other People
BEST SUPPORTING MALE – Ben Foster, Hell or High Water
BEST SCREENPLAY – Barry Jenkins, Tarell Alvin McCraney, Moonlight
BEST EDITING – Joi McMillon, Nat Sanders, Moonlight
BEST DOCUMENTARY FEATURE – O.J.: Made In America
BEST CINEMATOGRAPHY – James Laxton, Moonlight
BEST FIRST FEATURE – The Witch
BEST FIRST SCREENPLAY – Robert Eggers, The Witch
JOHN CASSAVETES AWARD – Spa Night
ROBERT ALTMAN AWARD – Moonlight
BEST INTERNATIONAL FILM – Toni Erdmann
PIAGET PRODUCERS AWARD – Jordana Mollick
KIEHL’S SOMEONE TO WATCH AWARD – Anna Rose Holmer, The Fits
TRUER THAN FICTION AWARD – Nanfu Wang, Hooligan Sparrow

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Lawrence H. Summers: Farewell to Kenneth Arrow, a Gentle Genius of Economics.

My mother’s brother, the Nobel economist Kenneth Arrow, died this week at the age of 95. He was a dear man and a hero to me and many others. No one else I have ever known so embodied the scholarly life well lived.

I remember like yesterday the moment when Kenneth won the Nobel Prize in 1972. Paul Samuelson—another Nobel economist and, as it happens, also my uncle—hosted a party in his honor, to which I, then a sophomore at MIT, was invited. It was a festive if slightly nerdy occasion.

As the night wore on, Paul and Kenneth were standing in a corner discussing various theorems in mathematical economics. People started leaving. Paul’s wife was looking impatient. Kenneth’s wife, my aunt Selma, put her coat on, buttoned it and started pacing at the door. Kenneth raised something known as the maximum principle and the writings of the Russian mathematician Pontryagin. Paul began a story about the great British mathematical economist and philosopher Frank Ramsey. My ride depended on this conversation ending, so I watched alertly without understanding a word.

But I did understand this: There were two people in the room who had won Nobel Prizes. They were the two people who, after everyone else was exhausted and heading home, talked on and on into the evening about the subject they loved. I learned that night about my uncles—about their passion for ideas and about the importance and excitement of what scholars do.

Kenneth’s writings resolved age-old questions and opened up vast new areas for others to explore. He likely was the most important economic theorist of the second half of the 20th century.

Is there a voting system that can be relied on to distill the will of a group of people? Many mathematicians have theorems named after them. Arrow’s impossibility theorem regarding voting and combining preferences is the only theorem I know of that is named for an economist.

Drawing upon mathematical logic, it shows that there is no possible voting scheme that can consistently and sensibly reflect the preferences of a set of individuals with diverse views. Any scheme that could ever be invented will be at risk of perverse outcomes, where, for example, the choice between options A and B is affected by the presence or absence of option C; or where a vote switch by one person toward option A makes it less likely to prevail. Mathematical and abstruse it was. But it also explained why committees have so much trouble coming to consistent conclusions and why, with an increasingly polarized electorate, democracy can become increasingly dysfunctional.

Economists have been drawn to Adam Smith’s idea of the “invisible hand” for hundreds of years. But until Kenneth drew on the techniques of topology (that is, the study of geometric properties and spatial relations), no one had ever been able to establish precise conditions under which there would be prices that would clear all markets, or under which one could assume that the market outcome was optimal. Writing in the early 1950s, he clarified the very specific conditions under which market outcomes were for the best and, of equal importance, the far more general conditions under which public interventions in markets had the potential to make things better.

For the rest of his life, Kenneth explored these conditions, writing articles on topics ranging from health insurance to public investment policy to economic growth to the limits of organizations. It is hard to imagine what economics would be like today without his contributions.

I saw him every Thanksgiving for the past 49 years with the extended family that he loved. In a family of professors, the conversation ranged widely. Save for the NFL, there was no topic—from politics to music, from classics to physics—on which Kenneth was not infinitely curious and apparently omniscient.

Kenneth knew more about everything than most know about anything, but he never flaunted his intelligence. It was another lesson for me when, many years ago, a paper was published correcting a famous analysis published by one of Kenneth’s teachers. At the time, it created a stir. I asked him what he thought. He said quietly that he had known of the error for decades, but such was his respect for his teacher that he did not publish his insight.


Rest in peace, gentle genius.

Bresser-Pereira: Hoje, a taxa de câmbio competitiva ou de equilíbrio industrial é de cerca de R$ 4,00 por dólar.

Da página do Professor Bresser-Pereira, sua avaliação sobre a taxa de câmbio e a nossa economia.

A teoria se confirma, mas sombriamente.

Um cientista se alegra quando desenvolve uma teoria que implica uma predição e esta se confirma na prática. Em 2008 eu propus a tendência fundamental da macroeconomia desenvolvimentista que venho desenvolvendo desde 2001 – a tendência à sobreapreciação cíclica e crônica da taxa de câmbio. Isto significa que a taxa de câmbio se deprecia fortemente nas crises, mas logo volta a se apreciar, o país passa a ter deficits em conta-corrente, e alguns anos depois, devido ao contínuo aumento das dívidas das empresas e do país, uma nova crise financeira se desencadeia, e a taxa de câmbio novamente se deprecia.

Em 2008 a taxa de câmbio, que se depreciara fortemente na crise financeira de 2002, já voltara a se apreciar e desde o ano anterior estava sobreapreciada ao mesmo tempo em que o deficit em conta corrente do país já voltara a ser grande, dada a forte correlação entre este e a taxa de câmbio. Nos anos seguintes a tendência se confirmou, e a taxa real de câmbio, a preços do final de 2015, flutuou em torno de R$ 2,80, quando a taxa de câmbio, que torna competitivas as boas empresas industriais do país, era de R$ 3,80 por dólar. Assim, a previsão se confirmou, como também se confirmou sua consequência: as empresas, tornadas assim sem competitividade, deixaram de investir, houve uma nova e brutal onda de desindustrialização, as empresas se endividaram, e, no segundo semestre de 2014, o país entrou em crise financeira, e a taxa de câmbio voltou a se depreciar. Ela chegou a R$ 4,40, mas logo voltou se a apreciar, e hoje, a preços de hoje, quando a taxa de câmbio competitiva ou de equilíbrio industrial é de cerca de R$ 4,00 por dólar, ela caiu (apreciou-se) para R$ 3,00 por dólar.

Novamente a teoria se confirmou na prática. Mas não estou alegre. O que se confirmou foi uma previsão sombria. Quando a taxa de câmbio não é apenas volátil, mas tende a permanecer apreciada por vários anos – algo que apenas a macroeconômico novo-desenvolvimentista afirma – o país fica condenado a exportar apenas commodities e permanecer semiestagnado, como está desde 1990, crescendo em média, por pessoa, 1% ao ano. Hoje o Valor publica ampla reportagem onde as empresas industriais afirmam que essa taxa de câmbio inviabiliza a indústria – é mais que isto, inviabiliza o Brasil.

Por que a taxa de câmbio tende a se sobreapreciar nos países em desenvolvimento? No plano econômico, porque muitos deles sofrem a doença holandesa, porque suas taxas de juros tendem a ser elevadas, atraindo capitais, porque seus governos acreditam equivocadamente que o pode crescer com “poupança externa”, ou seja, com deficit em conta corrente financiado por investimentos diretos e empréstimos, e finalmente, porque usam o câmbio como âncora para controlar a inflação; no plano cultural, porque os brasileiros revelam uma alta preferência pelo consumo imediato, que é incompatível com uma taxa de câmbio competitiva ou de equilíbrio industrial, e, segundo, porque deixaram de ser nacionalistas, e passaram a acreditar nas recomendações e pressões dos países ricos.


Keynes afirmou que a economia é uma ciência triste, sombria. Tinha razão. Mas ele mostrou que através de uma boa política macroeconômica – fiscal e monetária – seria possível superar suas previsões sombrias. Os economistas novo-desenvolvimentistas concordam, mas acrescentam: é preciso também uma política cambial – algo que o Brasil não tem desde 1990, quando se submeteu ao capitalismo financeiro-rentista do Oeste, suas elites se tornaram liberal-dependentes, e semiestagnação se tornou o novo normal .

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

IBGE: Brasil com quase 13 milhões de desempregados!

A taxa de desocupados continua em alta e fechou o trimestre encerrado em janeiro em 12,6%, um crescimento de 0,8 ponto percentual em relação ao período de agosto a outubro do ano passado, quando estava em 11,8%. Com a alta do último trimestre, o país passou a contabilizar 12,9 milhões de desempregados.
Os dados, divulgados hoje (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. Esta é a maior taxa de desemprego da série histórica iniciada em 2012 e também o maior número de desempregados da história.
Segundo o IBGE, com a alta do último trimestre, a população desocupada cresceu 7,3% (o equivalente a mais 879 mil pessoas) em relação ao trimestre de agosto a outubro de 2016. Quando comparada ao mesmo trimestre do ano passado, a alta do desemprego no trimestre encerrado em janeiro chegou a 34,3%, o equivalente a mais 3,3 milhões de pessoas desocupadas.
Na comparação com o mesmo trimestre móvel encerrado em janeiro do ano passado, quando o desemprego estava em 9,5%, a taxa cresceu 3,1 ponto percentual. Em relação à população ocupada, atualmente de 89,9 milhões de pessoas, houve estabilidade em relação ao trimestre de agosto a outubro de 2016.
Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, quando o total de ocupados era de 91,6 milhões de pessoas, foi registrado declínio de 1,9% na taxa de desocupação – ou menos 1,7 milhão de pessoas empregadas.Os dados da Pnad Contínua indicam que o contingente de pessoas ocupadas foi estimado em aproximadamente 89,9 milhões no trimestre de novembro do ano passado a janeiro deste ano, dos quais 33,9 milhões eram empregados no setor privado, com carteira de trabalho assinada.
Esse número ficou estável em relação ao trimestre de agosto a outubro, mas em um ano o número de trabalhadores com carteira assinada caiu 3,7%, o equivalente a 1,3 milhão de pessoas - quando a comparação se dá com o trimestres encerrado em janeiro do ano passado.
A categoria dos empregados no setor privado sem carteira assinada fechou o último trimestre em 10,4 milhões de pessoas, com estabilidade em relação ao trimestre de agosto a outubro do ano passado. Em relação ao mesmo período do ano anterior, foi registrado crescimento de 6,4%, um aumento de 626 mil pessoas.
A categoria que trabalha por conta própria cresceu 2,1% frente ao trimestre de agosto a outubro, atingindo 22,2 milhões de pessoas, mais 450 mil pessoas. Em comparação ao mesmo período do ano anterior, no entanto, houve queda de 3,9%, ou seja, menos 902 mil pessoas.
Por outro lado, o contingente de empregadores, estimado em 4,2 milhões de pessoas, apresentou estabilidade frente ao trimestre imediatamente anterior, com elevação de 8,6% (mais 333 mil pessoas).
Os dados do IBGE mostram ainda que a categoria de trabalhadores domésticos, estimada em 6,1 milhões de pessoas, se manteve estável tanto em relação ao trimestre de agosto a outubro de 2016 quanto ao de novembro de 2015 a janeiro de 2016.
Apesar da alta taxa de desemprego no país, o rendimento médio real habitualmente recebido pelo trabalhador vem se mantendo estável, tanto em relação ao trimestre agosto-outubro do ano passado (R$ 2.056), quanto em relação ao mesmo trimestre do ano passado (R$ 2.047).

Edição: Graça Adjuto

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Newsweek - The new offensive on Alzheimer’s disease: Stop it before it starts.


The Economist: Clean energy's dirty secret - Feb 25th 2017.


Bacen: Redução da taxa Selic para 12, 25% a.a., sem viés.

O Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 12,25% a.a., sem viés.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
O conjunto dos indicadores de atividade econômica divulgados desde a última reunião do Copom mostra alguns sinais mistos, mas compatíveis com estabilização da economia no curto prazo. A evidência sugere uma retomada gradual da atividade econômica ao longo de 2017;
No âmbito externo, o cenário ainda é bastante incerto. Entretanto, até o momento, a atividade econômica global mais forte e o consequente impacto positivo nos preços de commodities têm mitigado os efeitos sobre a economia brasileira de revisões de política econômica em algumas economias centrais;
O comportamento da inflação permanece favorável. O processo de desinflação é mais difundido e indica desinflação nos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária. Houve ainda uma retomada na desinflação dos preços de alimentos, que constitui choque de oferta favorável;
As expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus recuaram para em torno de 4,4% para 2017 e mantiveram-se ao redor de 4,5% para 2018 e horizontes mais distantes; e
No cenário de mercado, as projeções do Copom recuaram para em torno de 4,2% em 2017 e mantiveram-se ao redor de 4,5% para 2018. Esse cenário embute hipótese de trajetória de juros que alcança 9,5% e 9% ao final de 2017 e 2018, respectivamente.

O Comitê ressalta que seu cenário básico para a inflação envolve fatores de risco em ambas as direções: (i) o alto grau de incerteza no cenário externo pode dificultar o processo de desinflação; (ii) o choque de oferta favorável nos preços de alimentos pode produzir efeitos secundários e, portanto, contribuir para quedas adicionais das expectativas de inflação e da inflação em outros setores da economia; e (iii) a recuperação da economia pode ser mais (ou menos) demorada e gradual do que a antecipada.

O Comitê destaca a importância da aprovação e implementação das reformas, notadamente as de natureza fiscal, e de ajustes na economia brasileira para a sustentabilidade da desinflação e para a redução de sua taxa de juros estrutural.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 12,25% a.a., sem viés. O Comitê entende que a convergência da inflação para a meta de 4,5% no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2017 e, com peso gradualmente crescente, de 2018, é compatível com o processo de flexibilização monetária.

O Copom entende que a extensão do ciclo de flexibilização monetária dependerá das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira, que continuarão a ser reavaliadas pelo Comitê ao longo do tempo.
O Copom ressalta que uma possível intensificação do ritmo de flexibilização monetária dependerá da estimativa da extensão do ciclo, mas, também, da evolução da atividade econômica, dos demais fatores de risco e das projeções e expectativas de inflação.


Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Viana de Carvalho, Isaac Sidney Menezes Ferreira, Luiz Edson Feltrim, Otávio Ribeiro Damaso, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel. 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Nobel Prize-winner Kenneth Arrow dies.


BY ALEX SHASHKEVICH
Nobel Prize-winning Stanford economist Kenneth Arrow died in his home in Palo Alto on Tuesday morning. He was 95.
Arrow, the Joan Kenney Professor of Economics and Professor of Operations Research, Emeritus, was a world-renowned scholar in the fields of economic theory and research operations. In addition to the Nobel Prize, he was awarded the National Medal of Science in 2004, among numerous other awards.
“Kenneth Arrow was one of the greatest economists,” said John Shoven, a professor of economics at Stanford. “But he was also humble, warm and a great friend to all of us at Stanford.”
Arrow’s pioneering contributions to general equilibrium theory and welfare theory led him to become the youngest person to date to win the Nobel Memorial Prize in Economic Sciences, which he received in 1972 together with British economist Sir John Hicks.
One of Arrow’s most influential works was his 1951 book, “Social Choice and Individual Values,” which publicized what would later be known as “Arrow’s Impossibility Theorem,” which addresses issues of collective decision-making.
But Arrow’s knowledge and accomplishments extended beyond the world of economics and statistics, according to his colleagues and family members. He was interested in a myriad of other subjects, from politics and music to mathematics and Chinese Art.
“He was as gentle as he was brilliant,” said Arrow’s nephew, Lawrence Summers, former Treasury Secretary and former president of Harvard University. “He was always an inspiration to me.”
David Arrow recalled a line from “Hamlet” when talking about his father: “He was a great human being. He was perfect in everything. I’ll never see the likes of him again.”
“I really think my father is that kind of man,” David Arrow said. “His intellectual life and influence is perhaps as profound as any in his field.”
He was also vocal about social issues. In 1988, Arrow, whose parents were Romanian-Jewish immigrants, wrote an open letter to then Israeli Prime Minister Yitzhak Shamir, challenging Shamir’s stance on an “undivided land of Israel” and pleading for an end to violence between Israelis and Palestinians. He also supported the Free South Africa Fund, which supported black South Africans’ efforts for freedom while challenging Stanford to rethink its ties with South African companies. He was a co-author of the “Economists’ Statement on Climate Change,” issued in 1997 and signed by more than 2,400 U.S. economists, detailing the hazards of global warming.
Originally from New York City, Arrow earned a bachelor’s degree from the City College of New York in 1940, and a master’s degree in mathematics from Columbia University in 1941. His academic career was interrupted by World War II, and he served as a weather officer in the U.S. Army Air Corps from 1942 to 1946.
After the war, he returned to Columbia for his PhD, and spent time as a research associate and assistant professor at the University of Chicago. He joined Stanford’s faculty as an assistant professor of economics and statistics in 1949, and remained there until 1968 when he left to teach at Harvard University for about 11 years.
But he considered Stanford home and eventually came back, his son said.
“He was proud to come back,” Arrow said. “He loved Stanford and the community here.”
Besides his accomplishments in research, Arrow valued teaching and advising students in his emeritus position until his last days, according to his son. In fact, at least five of his students also have become Nobel Prize winners.
Arrow, who became a professor emeritus in 1991, retired with his wife, Selma, at Stanford, where they lived until moving to a retirement community in Palo Alto.
“To me, to our family, he was just a very generous, loving, caring unpretentious man,” Arrow said.

Arrow is survived by his sister Anita Summers, of Philadelphia; sons David, of New York City; and Andrew, of New York City; his daughter-in-law Donna Lynn Champlin, of New York City; and his grandson, Charles Benjamin Arrow, of New York City.
http://news.stanford.edu/2017/02/21/nobel-prize-winner-kenneth-arrow-dies/

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