quarta-feira, 16 de março de 2011

Alerta na USP.

Recebe-se com estranheza a notícia: cresce o número dos alunos que, aprovados no vestibular, não se animam a matricular-se na USP (Universidade de São Paulo).

Estima-se, num cálculo ainda sujeito a correções, que 25% dos estudantes admitidos em primeira chamada não se apresentam para o curso. Eram 13% em 2005.

Vários fatores, segundo os especialistas, influem no fenômeno. Haveria alunos, por exemplo, optando por cursos pagos em faculdades de elite, mais prestigiosos que os da USP em algumas áreas.

Na outra ponta do espectro social, estudantes de poucos recursos podem preferir uma universidade menos reconhecida sob o ângulo acadêmico, mas situada em área mais próxima dos locais de trabalho e moradia. Ou então: a perspectiva de inserção rápida no mercado de trabalho seria mais interessante, para determinados jovens, do que a obtenção de um diploma de excelência.

Observe-se que, nas faculdades particulares, um fenômeno paralelo tem ocorrido: aumentou o número de alunos que desistem de cursá-las, a meio do caminho. A decepção com a qualidade do ensino e a dificuldade em arcar com os custos do curso, nesses casos, são as explicações mais comuns.

Diversos fatores econômicos se acrescentam ao quadro. A vantagem da gratuidade do ensino, na USP, perde importância diante do aumento de vagas nas escolas federais e da disseminação de mecanismos como ProUni (bolsas na rede privada) e Fies (financiamento estudantil do governo federal).

Torna-se difícil, sem pesquisa detalhada, distinguir o que há de positivo e de negativo no fenômeno. Não deixa de ser boa notícia, de ponto de vista mais geral, que alunos se deem ao luxo de dispensar a vaga na USP, preferindo algo ainda melhor. A interpretação inversa não é menos plausível: por necessidade, e não luxo, contentarem-se com ensino inferior.

Em qualquer das alternativas, todavia, um problema de base persiste. É o de uma certa falta de adequação entre demanda e oferta, que a estrutura esclerosada da USP contribui para agravar.

Sem agilidade para criar vagas em cursos mais procurados, reduzindo-as proporcionalmente em outras disciplinas, cria-se em toda a universidade processo de acomodação e falta de criatividade, que a experiência da USP Leste não foi capaz de reverter.

Apesar do prestígio ainda intacto, e de sua colocação no "ranking" nacional (os internacionais, mesmo entre países emergentes, não registram nada de tão alvissareiro), a USP corre, há tempos, o risco da estagnação. Os números agora divulgados podem servir como um novo alerta.

terça-feira, 15 de março de 2011

Cuidado com os falcões.

No VALOR ECONÔMICO de hoje, Antonio Delfim Netto alerta para o “cuidado com os falcões.” Embora não concorde com grande parte do artigo, este blog publica por ter certeza que todo conhecimento é válido para uma discussão.

Nos últimos oito anos, a despeito das profundas mudanças no sentimento nacional, a economia brasileira cresceu muito pouco: cerca de 4% ao ano, praticamente o mesmo que a economia mundial (3,8%). Mas no período houve uma importante diferença como se vê na primeira tabela abaixo.

Ela explica-se, basicamente, por dois motivos: 1º) pela ênfase no Programa de Aceleração do Crescimento (o PAC) que reacendeu a partir de 2006 o "espírito animal" do próprio governo, dos trabalhadores e dos empresários que havia sido anestesiado pela falsa proposição (aceita pelo Banco Central sob o estímulo do sistema financeiro) que o "produto potencial" do Brasil permitia, apenas, um crescimento de 3,5% ao ano e, para não produzir uma aceleração da taxa de inflação, deveria praticar uma "taxa neutra" de juros real quase quatro vezes a mundial; e, 2º) pela maior rapidez com que o Brasil superou a crise produzida pelo desastroso comportamento do sistema financeiro internacional: no período 2008/09 o mundo cresceu em torno de 1% ao ano, e o Brasil cresceu em torno de 2,3%. Talvez uma visão um pouco melhor dos dois períodos possa ser apreciada na segunda tabela abaixo.

Nada recomenda ou exige, como afirmam alguns "falcões" do mercado financeiro, um ajuste dramático da situação fiscal e monetária. Algumas de suas sugestões são sensatas, como o controle das despesas de custeio e das transferências voluntárias, impondo-lhes um crescimento sistematicamente menor do que o do PIB. Outras são absurdas, como executar uma combinação de política fiscal super-restritiva, uma política monetária que racione o crédito com aumentos "musculosos" da taxa de juro real (colocando-a ainda mais longe da taxa de juro real do mundo) e liberdade para o câmbio valorizar-se "naturalmente", de acordo com os "fundamentais"... Infelizmente a taxa de câmbio (como um ativo financeiro) tem pouca relação "natural" com os "fundamentais"!

Muitos devem ter assistido a um desses "falcões", respeitado analista do mercado financeiro (que pretensiosamente acredita-se portador da "verdadeira" ciência econômica), afirmar num programa de televisão, que aquela "receita" é o "único caminho para reduzir o crescimento do PIB em 2011 para 3% e, assim, terminar o ano com uma inflação de 4,5%"... Ao contrário, o mais provável é que sua sugestão não apenas destruiria o "ajuste" (fiscal, monetário e cambial) que está sendo feito, como anestesiaria o ressuscitado "espírito animal" que tem animado o recente crescimento da economia.

Não deixa de ser um pouco extravagante a ideia que numa economia de mercado temos o poder de "fixar" o crescimento do PIB que desejamos. Este depende, basicamente, das "expectativas" sobre a demanda futura por parte dos empresários (que avaliam a oportunidade de novos investimentos) e dos trabalhadores (que avaliam a probabilidade e a qualidade de seu emprego), o que determina o nível de seu consumo.

Pode-se admitir que o governo cometeu alguns exageros e pecados veniais. Por exemplo, não ter eliminado todos os mecanismos de indexação quando a expectativa inflacionária estava bem ancorada nos 4,5% e não ter perseguido algumas reformas necessárias. Ou ter insistido (pela necessidade de dar maior velocidade à ampliação da demanda) numa política anticíclica de gastos correntes permanentes. A verdade, entretanto, é que ele levou o Brasil a superar mais rapidamente do que seus parceiros a crise internacional de 2008/09. Nada, afinal, que não possa ser corrigido com cuidadosas políticas fiscal, monetária e cambial críveis e bem coordenadas.

A inflação que está aí depende de fatores internos (de um aumento ainda não bem avaliado da demanda global sobre a oferta global, da estacionalidade, da acidentalidade, da fundamental e proposital redistribuição de renda que alterou a estrutura da demanda, da construção de monopólios protegidos na oferta de insumos básicos, da péssima qualidade dos serviços públicos que dissipam a produtividade do setor privado etc). E de fatores externos, como prova a co-variação da nossa taxa de inflação com relação à de todo o mundo emergente.

Porém, três coisas são certas: 1º) não devemos acreditar cegamente que o crescimento de 7,5% em 2010 representou uma dramática divergência entre a oferta e a demanda globais. Em boa parte foi produto de um "artefato" estatístico; 2º) o governo tem mesmo que reduzir a taxa de crescimento do consumo e aumentar sua eficiência; e 3º) que 2011 não está dado. Temos uma nova política fiscal, uma nova política monetária e uma maior coordenação entre elas. 2011 será o que formos capazes de fazer dele!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Harvard é aqui!!!

Globalização, crise, diversificação. As palavras que regem a expansão internacional de tantas empresas americanas têm levado a melhor universidade do mundo, Harvard, a se lançar em uma busca por recursos humanos e financeiros no exterior. Desde que assumiu a reitoria, em 2007, Drew Faust visitou China, Japão, África do Sul e Botsuana, além de Canadá e países europeus. Na semana que vem, ela visita o Brasil e, em seguida, o Chile. A meta sempre é estreitar o laço com os países visitados e recrutar alunos, professores e fundos. Em 2010, 1 em cada 5 alunos de Harvard veio de fora dos EUA. Faust também impulsionou a presença internacional da universidade inaugurando, em 2008, escritórios na Índia e na China. Antes, a instituição fincou o pé no Brasil, na Argentina, no Chile, na Itália, na França, na Grécia e no Japão. A reitora recebeu a Folha na semana passada em seu gabinete, em um dos prédios mais modestos do campus da universidade em Cambridge, Massachusetts, para explicar como atrai os alunos que fazem Harvard ser o que é. Falou também de expansão, crise e diversificação -graças à recente reforma do programa de bolsas, a instituição, fundada em 1636, está deixando de ter cara de "elite branca" para acolher estudantes brilhantes das mais diversas origens. Afinal, diz ela, muito do aprendizado por aqui se dá na convivência entre as diferenças.

FOLHA - O que a sra. espera de sua viagem ao Brasil? Drew Faust - Estou animada em ir. É um lugar vibrante, que está crescendo e se torna cada vez mais importante no mundo. Há hoje mais gente interessada em estudar o Brasil? Há. A melhor representação disso é a questão dos BRICs, quando o Brasil passou a ser visto como uma das principais forças emergentes na economia internacional. Ainda assim não há tantos estudantes e professores brasileiros ou especialistas em Brasil aqui em Harvard. Recebemos uma doação generosa de um brasileiro, o Jorge Paulo Lemann [milionário cujo fundo já foi dono da AmBev e acaba de comprar o Burger King], que apoiou nossa expansão em estudos brasileiros. Avançamos alguns passos, esperamos continuar. O escritório no Brasil está indo muito bem. Há bastante interesse por parte de nossos professores e estudantes em fazer conexões e tocar programas [de extensão] lá. Além disso, a [Harvard] Business School está interessada em fazer estudos de casos do Brasil. Estamos bem otimistas com as nossas conexões com o país, e minha viagem é para reforçar isso. Harvard está se expandindo. O que estão fazendo para atrair mais estrangeiros, estudantes e professores? Nós nos tornamos uma universidade muito mais global nos últimos anos. Hoje, 20% do total de nossos alunos são estrangeiros. Também passamos a dar ênfase, na graduação, à importância de se ter uma experiência internacional. É uma mudança cultural para nossos alunos, que costumavam ser desestimulados a passar tempo fora de Cambridge. Oferecemos, inclusive, apoio financeiro, caso não tenham meios de arcar com isso -1/4 dos estudantes teve alguma experiência internacional no ano passado. Se olharmos a forma como nossos professores pesquisam, ela também mudou. Temos uma proliferação de professores viajando para trabalhar e buscando os serviços que nosso departamento internacional fornece. Aumentamos o número de escritórios internacionais nos últimos anos e temos um novo modelo em Xangai, que é um espaço com salas de aula e que oferece oportunidades para atividades. Qual a relação com o governo federal e as instituições privadas no financiamento à pesquisa científica? Nós recebemos uma proporção majoritária no nosso financiamento à pesquisa do governo federal. Está em cerca de 21% de nosso orçamento hoje [US$ 3,7 bilhões]. Nosso orçamento também conta com uma contribuição significativa de nosso fundo de doações ["endownment"]. Hoje, cerca de 35% de nosso orçamento operacional vêm desse fundo. E há ainda as anuidades. O fundo sofreu com a crise econômica? [A crise] nos obrigou a ter um olhar mais duro com o que estávamos fazendo, estabelecer prioridades e decidir sobre o que poderíamos passar sem. O fundo caiu 27%. Foi um momento de autoexame intenso na universidade, e acabamos fazendo algumas mudanças. Mas pelos números, o investimento em pesquisa não caiu. Essa é a prioridade? Sim, ao lado da ajuda financeira aos estudantes. Como Harvard recruta estudantes? Tentamos mandar a mensagem que queremos ter aqui gente talentosa independentemente da situação financeira e localização geográfica. Fazemos isso por meio de nosso escritório de admissões, cuja equipe viaja pelo país e pelo mundo todo. E procuramos reforçar isso com um pacote de ajuda financeira, que faz a universidade parecer acessível. Nos últimos anos, criamos uma série de iniciativas para famílias de baixa renda. Com essa mensagem, conseguimos 35 mil inscrições neste ano. Quão importante é ter os melhores aqui? E quanto os estudantes aprendem uns com os outros? Não tenho como dar um percentual, mas este é um ambiente muito mais diverso do que qualquer outro em que os estudantes já tenham vivido. São pessoas diferentes deles, às vezes de outras partes do mundo, com outras ideias, outros talentos, e isso é muito enriquecedor. Mesmo com tanta tecnologia, não há como substituir a convivência... A tecnologia mudou muita coisa no ensino. A sala de aula deixou de ser um espaço apenas para transmitir informação e passou a ser para debatê-la. Mas achamos que esse tipo de aprendizado, pela convivência com gente diferente, é essencial. Temos até o sistema de alojamento, no qual os graduandos aprendem a viver juntos, a dividir o banheiro, o refeitório, os projetos. Aprender vai além do computador

domingo, 13 de março de 2011

As leituras de Paul Krugman!

Várias pessoas pediram a lista dos blogs sobre finanças, economia etc. que costumo ler. Não sei se conseguirei ser sistemático. Entretanto, o que posso mencionar é o que leio em geral pela manhã.
Para começar, evidentemente The New York Times - o que faria mesmo que o jornal não fosse o meu empregador. Contudo, é uma leitura imprescindível. Depois olho o Financial Times . Leio os dois jornais impressos, embora, quando viajo, costume lê-los online.
Quanto aos blogs, o primeiro é Economist View , de Mark Thoma, em parte pela profundidade de Mark, em parte por se tratar de uma espécie de bolsa de informações. Em seguida, frequentemente vejo alguns dos links que ele recomenda.
Leio então o Wonkbook , de Ezra Klein, e tudo o que ele traz. E muitas vezes sigo também alguns dos links. A revista Washington Monthly é excelente para acompanhar o que acontece em política.
E lá pelo fim do dia, por causa do horário da Califórnia, Brad DeLong .
Não pretendo com isto menosprezar outros blogs. Leio Calculated Risk , Econbrowser , Rortybomb , Naked Capitalism , Yglesias , o Jon da revista The New Republic , e outros, inclusive não tão sistematicamente.
Há muita informação por aí; se o mundo não estivesse indo para o inferno, seria um lugar formidável.

sábado, 12 de março de 2011

Forbes - Eike Batista 2011

Brazil's richest man is gearing up to take over the world. Making a play for foreign investors, Batista announced this year the opening of an office in New York and his intention to list some of his companies on the London Stock Exchange. Through his holding company, EBX, Batista controls businesses spanning mining, shipbuilding, energy, logistics, tourism and entertainment. After months of discussions, he was triumphant in February in taking control of Canadian gold outfit Ventana. Two-thirds of his fortune comes from OGX, the oil-and-gas exploration company he founded in 2007 and took public a year later. He says the company will start producing oil this year. In rare recent setback, his planned IPO for his shipbuilding business (OSX), meant to be the world's largest IPO in 2010, was a disappointment and has had a lukewarm reception in the Brazilian market. The son of Brazil's revered former mining minister who presided over mining giant Companhia Vale do Rio Doce got his start in gold trading and mining. Onetime champion offshore powerboat racer; formerly married to Playboy cover girl. In media interviews he's been warning Carlos Helú Slim that he'll soon take his spot as the world's richest man, but he still has a ways to go.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Acorda BRASIL, é a educação, presidente.

O Brasil não tem nenhuma instituição entre as cem universidades com melhor reputação no mundo, segundo ranking elaborado pela organização britânica Times Higher Education, referência na área.

A Universidade de São Paulo (USP) só aparece na 232 posição, e acabou representando todas as instituições da América do Sul. O país foi o único dos Brics — grupo de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China — a não figurar entre as cem melhores do ranking, que colocou a Universidade de Harvard no topo, com pontuação máxima em todos os critérios.

O ranking foi feito com base numa pesquisa com mais de 13 mil professores de 131 países. O resultado reforça a posição dominante das instituições americanas — sete das dez primeiras da lista são dos Estados Unidos —, do Reino Unido e do Japão.

Entre os Brics, a Rússia aparece com a Universidade Lomonosov de Moscou (em 33). A China com as universidades Tsinghua (em 35), Hong Kong (em 42) e Pequim (em 43). O Instituto de Ciência da Índia está entre as dez últimas da lista.

A pesquisa pediu aos acadêmicos para destacar o que eles acreditavam ser o mais forte das universidades para o ensino e a pesquisa em seus próprios campos. Harvard obteve cem pontos.

As outras cinco melhores classificadas foram: Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, nos EUA); Universidade de Cambridge (Reino Unido); Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA); Universidade de Stanford (EUA) e Universidade de Oxford (Reino Unido).

Os sinais que vêm do mercado.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, alerta hoje na FOLHA DE S. PAULO para “os sinais que vêm do mercado.”
Uma das qualidades de uma economia de mercado é a transparência com que eventuais problemas que ocorrem são percebidos. Isso permite que sejam tratados antes que se tornem graves ou crônicos.
Sistemas econômicos com pouca presença das forças de mercado acabam sendo surpreendidos -de tempos em tempos- por crises muito mais graves do que as que atingem economias abertas. Os acontecimentos recentes no Egito e em outros países do Oriente Médio são uma prova disso.
Mas quem reconhece as vantagens de uma economia de mercado deve entender também que ela está sujeita a certas desfuncionalidades criadas por essa liberdade de escolha. Se o Egito nos lembra a primeira alternativa, a crise financeira que atingiu a Europa e os Estados Unidos nos mostra a outra.
Por isso, sou defensor convicto de uma economia de mercado com forte presença do Estado na sua regulação e fiscalização. Temos no Brasil de hoje um dos exemplos mais bem-sucedidos dessa combinação de mercado com uma regulação que busca evitar distorções que derivam da maximização dos lucros pelo setor privado.
O sistema de telefonia brasileiro é um dos mais eficientes do mundo, do ponto de vista da competição, ao mesmo tempo em que a universalização compulsória de seus serviços o obriga a ir além de seus interesses meramente comerciais.
Na contramão da experiência brasileira temos o caso mexicano, em que a privatização do monopólio público levou o proprietário dessa empresa ao posto de homem mais rico do mundo.
Essas minhas reflexões estão relacionadas com a questão dos gargalos que estão se formando -já há algum tempo- na infraestrutura econômica no Brasil. Na semana passada, fui testemunha de um deles. Ao chegar de uma viagem ao exterior, nas primeiras horas da manhã do domingo de Carnaval, pude observar o estado da área de estacionamento do aeroporto de Guarulhos. Um verdadeiro caos, com automóveis estacionados nos lugares mais incríveis por falta de espaço.
Com meu raciocínio de engenheiro ainda intacto, imaginei o que aconteceria caso a Infraero realizasse uma licitação para um -ou mais- edifício-garagem naquela área. Seriam fixados no edital de licitação alguns parâmetros, como o número de vagas a serem implantadas e o prazo para sua construção, deixando a tarifa como a variável de sucesso no leilão. Poderia também ser determinada uma participação da Infraero na receita de exploração da concessão.
Embalado por meus pensamentos, imaginei que o mesmo procedimento poderia ser feito -inclusive ao mesmo tempo- em outros aeroportos pelo Brasil. Temos hoje um volume de capitais privados suficiente para financiar os investimentos necessários a esse ambicioso projeto.
O governo ficaria com o controle das operações aéreas, com as atividades ligadas à segurança e ao controle e com a fiscalização dos concessionários para garantir as cláusulas de proteção do consumidor dos serviços aeroportuários. Já o concessionário privado ficaria responsável pelos custos do investimento -pois isso será de seu interesse- e a operação dos serviços, evitando até as tradicionais tentativas de superfaturamento.
A Infraero -e o Tesouro- não teria de investir nenhum tostão e ainda teria um fluxo garantido de receita para financiar a operação em pequenos e médios aeroportos espalhados pelo Brasil.
Ainda nos meus sonhos, via essa mesma equação -tão simples como eficiente- sendo levada a outros setores, como o das estradas de rodagem, o dos portos. Embora com um grau de complexidade maior, seria possível também estender esse sistema de parceria público-privada para o importante setor de ferrovias, principalmente as vinculadas ao sistema logístico do país. Nesse caso, o papel do BNDES seria crucial, como já foi no caso da Ferronorte.
Mas, infelizmente, caí na real, quando um amigo com quem conversava me lembrou da campanha de Lula em 2006 e da demonização das privatizações do período FHC.

Mais um voo de galinha!

Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ, foi presidente do BNDES, escreveu o texto abaixo para o VALOR ECONOMICO.
Qualquer criança do interior sabe o que é voo de galinha. Curto, barulhento ao voltar para o chão. Vendo o gráfico de evolução do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 1980 a 2010, não consigo afastar a imagem do voo de galinha. Em 30 anos, a maior taxa de crescimento do PIB foi no primeiro ano do general Figueiredo (9,2%), colhendo iniciativas da era militar. Figueiredo encolheria a economia à mediocridade absoluta, sendo que a galinha dá um pulo nos seus anos finais, crescendo 5,4% em 1984 e 7,8% em 1985. Qualquer um desses é maior que o Pibão, como foi denominado o crescimento de 7,5% no ano de 2010.
O governo Sarney, apesar do brilho do Plano Cruzado, assistiu a uma despencada para um PIB negativo em 1988. Após a Constituição, um pequeno voo de galinha e a economia do país se contrai com a posse de Fernando Collor. Vai lá pra baixo. O período é de mediocridade absoluta, salvo em práticas de apropriação de bens públicos.
No intervalo Itamar, FHC se credenciava e, em 1994, eleito presidente, praticaria por dois mandatos um crescimento médio do PIB (2,3% ao ano), superior apenas ao do Haiti. O crescimento rastejante acompanhou-se de dois pequenos pulos da galinha. O governo Lula, cuja média foi um pouco menos medíocre - 4% ao ano -, termina com o Pibão de 7,5% de 2010... Precedido pelo mergulho de - 0,6% no ano anterior. Tudo leva a crer que assistiremos a mais um voo de galinha, pois não será sustentado o aumento do gasto público e a reposição da ideia de desenvolvimento permanece encabulada.
Quero cotejar esses 30 anos de esvoaçar cacarejante, no nível de chão de galinheiro, com médias históricas anteriores. Média de 1951/1960: 4,3% ao ano. Média do regime militar: 6% ao ano. Em termos de participação no PIB mundial, a economia brasileira caiu de 3,91% em 1980, para 2,92% em 2010 (estimativa do professor Reinaldo Gonçalves). Com seu esvoaçar precário, o Brasil somente poderá ganhar posições se alguns países europeus quebrarem.
O melhor dado de 2010 foi a pequena elevação da taxa de investimento de capital fixo. Foi uma taxa robusta de crescimento em relação a 2009, quando houve uma contração de 10,3% do investimento. Entretanto, o Brasil continua um pigmeu em relação a uma China, que pratica uma taxa de investimento de 40% do PIB, ou de uma Índia, acima de 30%. O Brasil tem uma taxa de 18,4% do PIB em 2010.
Com a inflação seguindo indexada a itens como a eletricidade, o povão é punido pelos altos preços do que o Brasil exporta, e que se refletem internamente nos alimentos e pela dificuldade de geração de novos empregos e elevações salariais. O investimento privado fica inseguro ante o anúncio de cortes de gasto público e persistência dos problemas de infraestrutura. A componente inquietante é reforçada quando se tem presente o crescimento do crédito em relação ao PIB e à visível curva ascendente da inadimplência de 2009: 5,9% para 8% em 2011.
É evidente que uma política de redução dos investimentos públicos e de elevação da taxa de juros alimentarão a taxa de inadimplência. Para as famílias endividadas, o importante é a multiplicação de empregos e uma tendência altista de salários - o oposto do que Dilma persegue. O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn advertiu que o risco da economia brasileira é o superaquecimento. Em 4 de março, a presidente Dilma disse que está muito consciente dessa questão. Suas declarações preconizando cortes de gasto público e rápida elevação da taxa Selic surgem como variação bastante conhecida de que, crescendo mais de 4%, a tendência do Brasil é inflação. Com juros hiperelevados, a tendência da empresa brasileira é ao rentismo, ou seja: ampliar aplicações financeiras e não realizar investimentos produtivos.
Enquanto o FMI aplaude a política econômica da presidente Dilma, parece haver um coro trágico limitando o crescimento brasileiro a 4% ao ano. As sugestões se acumulam. Afirmam ser o problema brasileiro a qualidade da mão de obra, ao invés do comportamento da elite dirigente globalizada, ou seja, o problema educacional restringe o desenvolvimento brasileiro. Sou professor e conheço de perto as brutais deficiências do sistema educacional brasileiro. Gosto de pensar que a tarefa da educação é a reposição de uma nova geração melhor qualificada que a geração que a formou. O bom mestre quer que o discípulo o supere. A nação exige que cada geração esteja melhor preparada para a futura civilização nacional. O investimento produtivo gera os empregos e a educação faz avançar o processo civilizatório.
O Brasil instalou em tempos de Juscelino o complexo metal mecânico e o eletroeletrônico sem qualquer estrutura de ensino profissional. O operariado brasileiro se qualifica trabalhando. É tão ávido em manter o bom emprego e nele prosperar que se autoqualifica. A qualidade do povo brasileiro é fantástica, pois sobrevive numa das economias com pior distribuição de renda do mundo e péssimo sistema educacional. Pratica, em escala espetacular, a geriatria que mantém funcionando máquinas, veículos, tratores muitos anos após as matrizes terem retirado de linha as peças de substituição.
Tratores com 30 anos de serviço e caminhões estradeiros com 17 anos em média fazem prova das dezenas de milhares de oficinas artesanais. A criatividade brasileira, principalmente nas seções de manutenção, é reconhecida pelos empresários industriais. O jovem necessita emprego e oportunidade de trabalho e isto não lhe é fornecido pela política econômica. Se o Brasil tiver cursos de alta qualificação sem gerar os empregos correspondentes, será introduzida uma nova commodity nas exportações nacionais - o próprio brasileiro.

terça-feira, 8 de março de 2011

DILMA ROUSSEFF IN THE GUARDIAN.

A teenage socialist guerrilla who withstood imprisonment and torture, Rousseff is the first female president of Brazil. Aged 63, she is said to be a tough, no-nonsense manager, who won power by promising economic stability, to reduce poverty and improve education and healthcare. She also promised to improve the lot of women, saying in her inaugaration speech: "I would like for fathers and mothers to look into their daughters' eyes today and tell them: 'Yes, women can.'" She vowed that nine of her 37 ministers would be women – a record for Brazil. (Although critics noted she not only ignored women's issues during her election campaign, but that the twice-divorced grandmother also publicly reversed her position on the legal right to an abortion to placate the religious right and underwent several rounds of plastic surgery to gain her place.)

The daughter of a Bulgarian immigrant her childhood was affluent until the death of her father when she was just 14 when her life changed dramatically. The family struggled financially and Rousseff became involved with socialist and workers groups - eventually joining Palmares Armed Revolutionary Vanguard, which seized foreign diplomats for ransom and shot foreign torture experts sent to train the generals' death squads (although Rousseff says she never used any weapons herself.) She was captured and tortured. After her release she returned to University, had a daughter with her second husband and started working for the government, eventually becoming finance chief of Porto Alegre, the state capital. In 2000 she threw her lot in with Lula and his Partido dos Trabalhadores, or Workers' Party.

O jornal britânico "The Guardian" colocou a presidente brasileira Dilma Rousseff em sua lista das cem mulheres mais inspiradoras da atualidade, publicada nesta terça-feira.

Na lista, que é publicada no Dia Internacional da Mulher, Dilma aparece na categoria "Política" ao lado de outras dez personalidades, como a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, e a ativista birmanesa Aung San Suu Kyi.

O jornal descreve a presidente brasileira como "uma guerrilheira socialista adolescente que enfrentou prisão e tortura" e que é considerada uma "administradora dura e pragmática".

O texto cita ainda a promessa de Dilma de melhorar as condições de vida das mulheres e de ter mulheres no comando de nove dos 37 Ministérios de seu governo, um número recorde na história do Brasil.

No entanto, o "The Guardian" fala também sobre as críticas de que, durante a campanha presidencial, Dilma ignorou assuntos relacionados à mulher e reverteu publicamente sua posição sobre o aborto para acalmar os religiosos, além de que teria, segundo os críticos, feito diversas cirurgias plásticas para "ganhar o seu lugar".

"Ela já está enfrentando um grande teste --as enchentes recentes que mataram centenas e enterraram cidades inteiras", diz o jornal.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...