Antonio Delfim Netto e o seu artigo de hoje na FOLHA DE S. PAULO: DESIGUALDADE.
A Folha presta
um excelente serviço à sociedade brasileira ao continuar dando espaço à
interessante discussão em torno do livro do economista francês Thomas Piketty,
"O Capital no Século 21".
Foi imenso o
"choque" que a obra produziu após o lançamento de sua tradução em
inglês. Olhada com cuidado, a sua tese está longe de provar empiricamente o
inevitável fim do "capitalismo", imposto por alguma "lei"
histórica (o que Marx pensou ter feito com o uso de argumentos lógicos).
Reduzida à sua essência,
ela é o resultado de pura aritmética: se a taxa de retorno do capital (que ele,
como a maioria dos economistas em seus modelos chama de "r") for
permanentemente maior do que a taxa de crescimento do PIB (que ele, como os
economistas, chama de "g"), então haverá, necessariamente, uma
acumulação de renda e patrimônio que, ao fim e ao cabo, submeterá a democracia
ao controle do capital e tornará o "capitalismo" disfuncional.
O problema não é
econômico, é político! Não tem nada a ver com "esquerda" ou
"direita". Instituições mal construídas permitem que uma classe se
aproprie do excedente econômico produzido pelo trabalho, como ocorria no regime
colonial e ocorre no capitalismo de "compadres"...
O problema é que
"g" e "r" não são constantes e não satisfazem,
necessariamente, a desigualdade: "r" sempre maior do que
"g". Dependem da qualidade das instituições e, portanto, são de
extrapolação duvidosa. A relação entre eles controla aritmeticamente, no longo
prazo, a distribuição da renda entre o trabalho e o capital e a acumulação dos
patrimônios. São as instituições e o jogo dialético permanente entre o bom
funcionamento dos "mercados" e o bom funcionamento das
"urnas" que determinam a relação entre "g" e "r".
O livro de Piketty já
produziu dois resultados notáveis. O primeiro, muito triste para nós que amamos
a França. Infelizmente, o francês transformou-se numa língua paroquial em
matéria de economia, para prejuízo do próprio pensamento econômico universal. O
livro só teve a merecida repercussão quando vertido para o inglês.
O segundo, é que mostra a
insanidade do "cientificismo" que domina a pobre modelização de
alguns economistas que têm inveja da física e se recusam entender que o átomo
da economia (o cidadão comum, sujeito da política do governo) tem memória,
aprende e reage num jogo dinâmico com a autoridade. E, o que é pior e mais
grave, protesta e vota!
A distribuição da renda
sempre implicará uma valorização filosófica. Como ensinou Adam Smith há mais de
250 anos ("A Teoria dos Sentimentos Morais", 1759), se a economia for
um dia "ciência", ela há de ser uma ciência moral.
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