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sábado, 4 de julho de 2020

Folha: Confira seleção de Martin Wolf de livros para o segundo semestre/20.


Capital e Ideologia
Thomas Piketty, ed. Intrínseca, R$ 99,90 (R$ 62,61 versão digital), 1.056 págs.

Só Piketty ousaria escrever um livro de mais de mil páginas com a expectativa de que se torne best-seller. Mas é preciso duvidar de que seu novo trabalho venha a ser bem lido. Mesmo assim, trata-se de um trabalho de imensa erudição sobre a história da desigualdade. Também contém análise penetrante da política contemporânea, especialmente os fracassos do que Piketty define como “a esquerda de elite”, bem como um novo e radical programa de igualitarismo socialista.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

La Nacion: Deuda - Economistas locales firman una carta abierta en apoyo a la reestructuración.

https://www.lanacion.com.ar/economia/deuda-economistas-locales-firman-carta-abierta-apoyo-nid2362844

Desde Jorge Remes Lenicov a Emmanuel Álvarez Agis, pasando por Fernando Navajas, Pablo Gerchunoff, José Luis Machinea y Martín Rapetti. Más de un centenar de economistas argentinos firmaron hoy una carta abierta en apoyo a la gestión del gobierno local por la renegociación de la deuda pública.
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La carta replica centralmente el texto publicado ayer, firmado por los premios Nobel Joseph Stiglitz, Edmund Phelps, y su colega Carmen Reinhardt, que fue acompañada por otros colegas célebres como Thomas Piketty, Jeffrey Sachs, Kenneth Rogoff y Dani Rodrik.
La iniciativa local comenzó esta mañana, con llamados y mensajes entre economistas argentinos de diversas escuelas. Rapetti, economista de Cedes, y Pablo Gluzmann, investigador del Centro de Estudios Distributivos, Laborales y Sociales (CEDLAS) de la Universidad Nacional de La Plata (UNLP), alma mater del ministro Martín Guzmán, fueron algunos de los impulsores de la iniciativa. 

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Thomas Piketty: Às urnas, cidadãos!


Autor do impactante O capital no século XXI, Thomas Piketty revolucionou para sempre o pensamento econômico contemporâneo. Em Às urnas, cidadãos!, ele analisa de modo incisivo assuntos de extrema relevância para a economia mundial, como as dívidas nacionais, a redistribuição de recursos e a fragmentação do bloco europeu. Às portas da eleição presidencial francesa de 2017, Piketty faz ainda um minucioso balanço dos mandatos de Nicolas Sarkozy e François Hollande; propõe rever diversas políticas que debilitam programas e instituições de grande relevância social e critica a forma de aplicação das alíquotas, que em geral privilegia as grandes empresas e os indivíduos mais ricos, ampliando as já imensas desigualdades. Diante de países que pouco se importam com seus vizinhos, qual seria a solução? A moratória das dívidas? A formação de uma câmara orçamentária da zona do euro? Para responder a essa e a outras perguntas, Piketty critica os egoísmos nacionais, lança um amplo olhar sobre a economia global e acompanha a escalada da desigualdade além da Europa, ao discutir a situação de Estados Unidos, África do Sul, Brasil, Índia, Oriente Médio e China. Nas mais de cinquenta crônicas que compõem Às urnas, cidadãos! o autor reafirma a ideia de que a economia diz respeito a toda a sociedade, e não a um pequeno grupo de especialistas.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Thomas Piketty et al, Angela Merkel e a Grécia em 2015.

Direto do site The Nation:

The never-ending austerity that Europe is force-feeding the Greek people is simply not working. Now Greece has loudly said no more.

As most of the world knew it would, the financial demands made by Europe have crushed the Greek economy, led to mass unemployment, a collapse of the banking system, made the external debt crisis far worse, with the debt problem escalating to an unpayable 175 percent of GDP. The economy now lies broken with tax receipts nose-diving, output and employment depressed, and businesses starved of capital.

The humanitarian impact has been colossal—40 percent of children now live in poverty, infant mortality is sky-rocketing and youth unemployment is close to 50 percent. Corruption, tax evasion and bad accounting by previous Greek governments helped create the debt problem. The Greeks have complied with much of German Chancellor Angela Merkel’s call for austerity—cut salaries, cut government spending, slashed pensions, privatized and deregulated, and raised taxes. But in recent years the series of so-called adjustment programs inflicted on the likes of Greece has served only to make a Great Depression the likes of which have been unseen in Europe since 1929-1933. The medicine prescribed by the German Finance Ministry and Brussels has bled the patient, not cured the disease.

Together we urge Chancellor Merkel and the Troika to consider a course correction, to avoid further disaster and enable Greece to remain in the eurozone. Right now, the Greek government is being asked to put a gun to its head and pull the trigger. Sadly, the bullet will not only kill off Greece’s future in Europe. The collateral damage will kill the Eurozone as a beacon of hope, democracy and prosperity, and could lead to far-reaching economic consequences across the world.

In the 1950s, Europe was founded on the forgiveness of past debts, notably Germany’s, which generated a massive contribution to post-war economic growth and peace. Today we need to restructure and reduce Greek debt, give the economy breathing room to recover, and allow Greece to pay off a reduced burden of debt over a long period of time. Now is the time for a humane rethink of the punitive and failed program of austerity of recent years and to agree to a major reduction of Greece’s debts in conxjunction with much needed reforms in Greece.

To Chancellor Merkel our message is clear; we urge you to take this vital action of leadership for Greece and Germany, and also for the world. History will remember you for your actions this week. We expect and count on you to provide the bold and generous steps towards Greece that will serve Europe for generations to come.

Sincerely,

Heiner Flassbeck, former State Secretary in the German Federal Ministry of Finance

Thomas Piketty, Professor of Economics at the Paris School of Economics

Jeffrey D. Sachs, Professor of Sustainable Development, Professor of Health Policy and Management, and Director of the Earth Institute at Columbia University

Dani Rodrik, Ford Foundation Professor of International Political Economy, Harvard Kennedy School

Simon Wren-Lewis, Professor of Economic Policy, Blavatnik School of Government, University of Oxford. 

sábado, 4 de abril de 2015

O economista de Dilma Rousseff: Thomas Piketty.


Thomas Piketty continua na lista dos livros mais vendidos no Brasil, agora com dois livros.

Além do já mundialmente famoso “O Capital no Século XXI”, na lista temos o seu “A Economia da Desigualdade”.


Segundo o site http://glamurama.uol.com.br/sabe-qual-foi-o-livro-que-dilma-devorou-durante-sua-campanha/, "O Capital no Século XXI" foi o livro de cabeceira da presidente Dilma Rousseff na campanha eleitoral de 2014, tendo a presidente lido em inglês, em apenas um final de semana. 

Em pesquisa por este blog se Joaquim Levy também já devorou o seu Piketty. 

sábado, 29 de novembro de 2014

Thomas Piketty em detalhes.

Leio nesta semana no portal UOL mais uma entrevista com o agora célebre THOMAS PIKETTY.
No dia em que o governo brasileiro oficializou um novo ministro da Fazenda simpático ao mercado, o economista francês Thomas Piketty, autor do best-seller "O Capital no Século 21", afirmou considerar um erro pensar que o Brasil precisa de mais mercado e menos intervenção na economia.
Piketty, que está no Brasil para promover o livro que lhe rendeu status de celebridade no debate econômico, não quis discutir especificamente a nova equipe econômica, mas afirmou que "seria um erro pensar que o Brasil fez demais na área social e para reduzir a desigualdade".
Em seu livro, o francês sustenta que a desigualdade voltou a aumentar nas últimas décadas, beneficiando herdeiros e prejudicando a ascensão social, o que colocaria em risco a democracia.
Em entrevista à Folha, Piketty, que já foi citado em discurso pela presidente Dilma Rousseff, reclamou que dados de má qualidade fazem com que a desigualdade brasileira seja subestimada, e sua redução, alardeada pelo governo, talvez exagerada.
Folha - Recentemente, Dilma disse que o Brasil vai contra a corrente internacional de alta da desigualdade que seu livro aponta. O sr. concorda?
Thomas Piketty - Políticas de educação e transferências sociais como as que foram aplicadas em certa medida no Brasil nestes dez últimos anos podem permitir ir contra a corrente de aumento da desigualdade, mas ela realmente diminuiu?
Não é tão certo, é possível que tudo tenha sido puxado para cima, inclusive os mais pobres, mas não necessariamente em maior proporção que os mais ricos.
A forma como medimos a desigualdade sem dúvida a subestima. No Brasil, ela é sem dúvida ainda mais alta do que muitas estatísticas oficiais dizem porque a maior parte delas se baseia em pesquisas familiares com autodeclaração. O problema dessas pesquisas é que temos tendência a subestimar o topo da distribuição. Infelizmente, tem sido muito difícil acessar os dados fiscais do Brasil.
Falta transparência?
Estudo recente (de pesquisadores da Universidade de Brasília) sugere que, se utilizamos dados fiscais, o nível das desigualdades no Brasil aumenta. Não sabemos muitas coisas sobre a distribuição da renda no Brasil e precisamos de mais transparência para ver melhor em que medida os diferentes grupos sociais se beneficiam do crescimento.
É evidente que todo o mundo se beneficiou do crescimento dos últimos 15 anos. Agora, em qual proporção exatamente os diferentes grupos se beneficiaram dele não sabemos muito bem. É possível que se tenha exagerado um pouco a [divulgação da] redução das desigualdades no Brasil.
Dilma também disse preferir investir em consumo e educação para lutar contra desigualdade a fazer taxação, como o sr. defende. Isso é suficiente?
Também é preciso reforma fiscal, de um imposto progressivo sobre a renda e sobre o patrimônio. Precisamos da reforma fiscal para financiar a educação. Acrescento que uma parte das desigualdades grandes do Brasil se explica pela relativamente baixa progressividade do sistema fiscal.
Como seria a reforma?
A faixa mais alta de Imposto de Renda no Brasil é de 27,5%, inferior à menor dos Estados Unidos. Creio que uma das razões pela qual há muito desigualdade no Brasil é a progressividade de IR relativamente baixa. Há também muitos impostos indiretos, que são regressivos e pesam sobre as camadas populares.
É importante também tratar de forma diferente as rendas anuais de R$ 100 mil e de R$ 1 milhão, R$ 5 milhões e R$ 10 milhões. Poderíamos ter faixas mais elevadas, de 50%, 60%.
Como na sua França natal?
Também como os EUA, o Reino Unido, a Alemanha, que têm taxas que vão até 40%, 50%. É ainda mais impressionante o imposto sobre herança, 4% [na maioria dos Estados] é realmente baixo, muito perto de zero.
É possível ter uma economia dinâmica e sistema capitalista próspero com imposto sobre herança alto. Para as novas gerações que não têm patrimônio familiar e procuram comprar apartamento em São Paulo, é muito difícil se você só tem a renda de seu trabalho. Não é normal que você ganhe R$ 100 mil por ano com seu trabalho e pague muito mais de imposto do que se você recebesse R$ 100 mil de herança de sua família.
O governo oficializou uma nova equipe econômica com um ministro da Fazenda mais ligado ao mercado e vindo de uma escola liberal. Que avaliação o sr. faz disso?
Não conheço o contexto político brasileiro, não posso me pronunciar. Quem quer que seja colocado no comando da política, qualquer que seja a orientação, os níveis de desigualdade muito altos que temos no Brasil devem ser questionados e tratados pelo governo, assim como a baixa progressividade do sistema fiscal.
Mas abordagem liberal e pró-mercado é boa ideia para enfrentar tais desafios?
Precisamos de mercado e também de poder público que tome decisões que permitam a cada um de se beneficiar da globalização e dos mercados.
Eu tento ir além dessas oposições um pouco teóricas e ideológicas. Creio que que seria um erro pensar que o Brasil fez demais na área social, que fez demais para reduzir a desigualdade, que agora é preciso mais mercado, menos intervenção, eu acho que isso seria um erro.
Apesar dos esforços que foram feitos em políticas sociais nos últimos 15 anos, o Brasil continua extraordinariamente desigual. O nível de investimento social, educacional para os desfavorecidos da população brasileira continua insuficiente.
O sr. defende que os estudos em economia levem em conta aspectos históricos, sociais, políticos e culturais. Isso é importante também para a gestão econômica do governo?
Sim, é importante para o governo também. A questão econômica é importante demais para ser deixada para economistas, que às vezes tentam fazer crer que dispõem de uma ciência realmente complicada que os outros não podem compreender e que é preciso deixá-los em paz. Isso é uma piada gigantesca.
O nome de seu livro, que remete a Karl Marx, e algumas de suas opiniões fazem que muitos o considerem anticapitalista.
O problema é que há gente que vive ainda na Guerra Fria e tem necessidade de inimigos anticapitalistas. Não sou esse inimigo. Creio no capitalismo, na propriedade privada e nas forças do mercado.
Nasci tarde demais para ter a menor tentação que seja pelo comunismo de tipo soviético. Isso não me interessa. Ao mesmo tempo, acho que temos necessidade, basta ver a crise de 2008, de instituições públicas muito fortes para regular o mercado financeiro e as desigualdades produzidas pelo capitalismo.
Sua defesa de um imposto global sobre grandes fortunas já foi feita por outros autores e nunca avançou. Não é ingênuo crer que seja realmente possível contrariar tantos interesses contrários?
Não precisamos esperar ter um governo mundial, um imposto unificado mundial para fazer progressos, se não arriscamos esperar um longo tempo. Podemos fazer progresso por etapas e a nível nacional. Há diferentes formas de imposto sobre capital e patrimônio em cada país, que podem ser melhorados de forma mais progressiva. Em seguida podemos progredir na cooperação internacional, como já tem sido feito quanto aos paraísos fiscais.
Como o sr. demonstra, a desigualdade no século 20 só caiu em um contexto de crise e reconstrução das sociedade após duas guerras mundiais. Seria mesmo possível algo tão ambicioso em tempos de paz?

As lições de história são importantes, as elites que não querem pagar mais impostos no Brasil, nos EUA e na Europa devem se lembrar que não é uma boa solução esperar a crise. Todo o mundo precisa de uma globalização que seja mais justa, que beneficie diferentes grupos sociais em proporção equilibrada. Se não, é a própria globalização que arrisca ser questionada.

domingo, 23 de novembro de 2014

Thomas Piketty - O Capital no Século 21.

O prêmio Business Book of the Year, do Financial Times e McKinsey, deste ano foi para o épico "O Capital no Século 21" (Ed. Intrínseca), do economista francês Thomas Piketty, que analisa as raízes e consequências da desigualdade e os meios para enfrentar a questão. Segundo Lionel Barber, editor do FT e presidente do júri, a decisão foi tomada após um "vigoroso debate" sobre a "incrivelmente forte" lista de seis finalistas.

Pelo primeiro lugar, Piketty receberá um prêmio de 30 mil libras, enquanto cada um dos demais autores dos livros finalistas vão receber um prêmio de 10 mil  libras.

Os demais finalistas são: "Hack Attack", de  Nick Davies, sobre o escândalo de escuta telefônica que envolveu o império de mídia de Rupert Murdoch; "The Second Machine Age", de Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, sobre a promessa da revolução digital; "Creativity, Inc.", do cofundador da Pixar Ed Catmull, com Amy Wallace, sobre como Catmull administrou a "criatividade inteligente" do estúdio de animação; "House of Debt", análise de Atif Mian e Amir Sufi de como evitar futuras recessões; e "Dragnet Nation", de Julia Angwin, uma investigação do crescimento da "vigilância da economia".

sábado, 1 de novembro de 2014

Thomas Piketty: O Capital no século XXI.

Finalmente, a edição brasileira com a tradução da competente colega Monica Baumgarten de Bolle, do mais recente fenômeno editorial no mundo da economia: Thomas Piketty e O Capital no século XXI.    



domingo, 14 de setembro de 2014

Monsieur Piketty vai à América Latina.

Do Project Syndicate, uma análise da visão de Piketty para a América Latina.  

Há poucas coisas que emocionam mais a velha esquerda latino-americana que um livro sobre desigualdade escrito por um francês. Então, como era esperado, o livro O Capital do Século 21(Capital in the Twenty-First Century), de Thomas Piketty, tem sido um grande sucesso. Nos dois meses desde a publicação do livro em inglês, alguns ensaios foram escritos, alegando que a grande obra do professor da Escola de Economia de Paris confirma declarações anteriores (geralmente feitas pelo próprio autor) sobre os perigos da desigualdade na América Latina.

Piketty tece uma grandiosa narrativa sobre a dinâmica da acumulação de capital na economia de mercado. Em sua (agora) famosa fórmula, se a taxa de retorno do capital é maior que a taxa de crescimento da economia, a riqueza herdada crescerá mais rapidamente  que a renda salarial, e os donos do capital ter uma participação cada vez mais alta da produção nacional.

Não se pode negar que a distribuição de renda é escandalosamente desigual na América Latina. No entanto, o que surpreenderá os entusiastas de Piketty (muitos dos quais ainda nem leram o seu livro) é que a sua teoria ter pouco ou nada a ver com os aspectos já quantificados da dinâmica de distribuição de renda na América Latina.

Isso ocorre porque a maior parte dos dados sobre a distribuição de renda na América Latina vem de pesquisas domiciliares, que raramente conseguem obter informações confiáveis sobre o quanto ganham realmente essa  classe "rentista" de Piketty, que recebem seus rendimentos como lucros, dividendos ou juros. Por exemplo, os resultados da CASEN 2009, uma ampla pesquisa domiciliar realizada no Chile, sugere que a renda produzida por capital é mais igualmente distribuída que os rendimentos do trabalho.

É claro que ninguém em seu perfeito juízo deveria acreditar nisso. Tais resultados somente revelam que os proprietários de ações e títulos tendem a entregar informação falsa ou incompleta aos pesquisadores.

Isso, por sua vez, revela dois dados - ambos desanimadores - sobre a distribuição de renda na América Latina. Em primeiro lugar, a verdadeira distribuição de ingresso pessoal - que compreende todos os rendimentos, sejam provenientes do trabalho ou de capital - é provavelmente pior do que sugerem os números que geralmente figuram as manchetes da imprensa.

Em segundo lugar, mesmo que se pudesse fazer desaparecer toda a dinâmica do capital que tanto preocupa a Piketty, a distribuição de renda na América Latina continuaria sendo escandalosamente desigual. E a cura para essa má distribuição não reside apenas no considerável imposto sobre a riqueza que Piketty defende.

Por que não? Certamente, se o rendimento do trabalho está repartido de maneira desigual, a redistribuição de ativos ou de renda de capital para os mais pobres pode impulsionar a igualdade. Em um estudo recente, no qual utilizam um novo conjunto de dados que abrange muitos países, economistas do Fundo Monetário Internacional se mostram bastante otimistas sobre o potencial para aumentar a redistribuição sem comprometer o crescimento econômico. Contudo, o mesmo estudo também recorda que há limites do montante das rendas que o regime fiscal pode redistribuir.

Os autores comparam o coeficiente de Gini (um índice da desigualdade que se emprega normalmente, e que consiste em 100 pontos, onde o zero é uma igualdade perfeita e 100 indica uma desigualdade perfeita) antes e depois de aplicar-se os impostos e as transferências fiscais. Esses índices demostram que poucos países redistribuem o suficiente para que se reproduza  uma variação de dez pontos no coeficiente, e que as redistribuições que resultam em mudanças de mais de 13 pontos do coeficiente de Gini tendem a ter um efeito adverso sobre o crescimento.

Os programas fiscais de  redistribuição, pelo menos na América Latina, em geral são de muito menor alcance. A reforma tributária recentemente proposta pela administração da presidente Michelle Bachelet no Chile visa arrecadar 3% adicionais do PIB. Mesmo que não se desperdice nenhum peso desse dinheiro e seja redistribuído completamente para os chilenos mais pobres, é pouco provável que tal reforma reduza o coeficiente de Gini em mais de três pontos.

O problema é que no Chile, o coeficiente de Gini após os impostos é de aproximadamente 50 (semelhante aos números de Brasil, Colômbia e Peru), enquanto em países desenvolvidos esse coeficiente costuma  estar abaixo dos 30, ou até mesmo acima dos 20. Conseguir que o Chile e alguns de seus vizinhos se transformem em países com níveis de igualdade da OCDE ( Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) requer muito mais do que uma reforma tributária.

Em outras palavras, se uma sociedade está muito desnivelada  para a competição desde o início, essa sociedade continuará a ser bastante desigual mesmo após uma redistribuição fiscal considerável. Portanto, a política deve focar-se no que o cientista político Jacob Hacker, da Universidade de Yale, chama de "pré-distribuição": alterando a estrutura de renda salarial determinada pelo mercado.

Existem três principais ferramentas disponíveis para melhorar a pré-distribuição de renda. A primeira: uma reforma educacional - com forte ênfase na formação técnica - isso daria aos cidadãos de baixa renda novas habilidades, as quais poderiam trazer para o mercado de trabalho. Em segundo lugar, as políticas industriais direcionadas criariam uma demanda dos serviços desses trabalhadores e suas novas habilidades. E terceiro, a modernização dos mercados de trabalho facilitaria o ajuste entre as habilidades dos trabalhadores e necessidades especiais das empresas em um contexto produtivo cada vez mais heterogêneo.

Estas condições não são substitutas, mas sim complementares: todas devem ser implementadas ao mesmo tempo. Colocá-las em prática não é tarefa fácil. Na América Latina, os líderes políticos de centro-esquerda, preocupados com a justiça econômica e social, devem dar enfoque às necessidades específicas de cada um de seus países. Não há economista francês cuja magnum opus ofereça um remédio pré-formulado.

Andrés Velasco, ex ministro de finanças do Chile, é professor visitante na Universidade de Columbia.

sábado, 7 de junho de 2014

Thomas Piketty na VEJA,

Do site da VEJA trechos da entrevista com o economista Thomas Piketty.

Desde os tempos do britânico John Maynard Keynes, um dos maiores pensadores econômicos do século XX, o trabalho de um economista não despertava debates tão acirrados quanto O Capital no Século XXI, do francês Thomas Piketty (que será lançado pela Editora Intrínseca no Brasil em novembro). O livro traz um apanhado histórico da evolução da riqueza e da desigualdade nas sociedades capitalistas e propõe remédios para os males que enxerga — como a adoção de um imposto progressivo de até 80% sobre o patrimônio dos mais ricos. Piketty rapidamente se tornou vedete de ganhadores do Nobel alinhados à esquerda, como Paul Krugman e Joseph Stiglitz, mas também viu a consistência dos dados que embasam seu livro ser duramente contestada — por exemplo, numa longa investigação do jornal britânico Financial Times. Em entrevista a VEJA concedida em seu escritório na Escola de Economia de Paris, onde leciona, Piketty defendeu sua pesquisa e procurou se dissociar de qualquer campo político. Diz ele: “Fui beneficiado por pertencer a uma geração que tem acesso mais fácil aos dados devido à tecnologia e que não é movida necessariamente pela ideologia”.

O senhor dedicou toda a sua carreira à pesquisa sobre a desigualdade. Por que o tema o atrai tanto? A divisão da riqueza sempre foi um tema central para a política e a economia. Contudo, minha motivação foi perceber que um tema tão interessante tinha tão poucos dados disponíveis para pesquisa. Pouquíssimas pessoas estudaram a desigualdade do ponto de vista histórico. O debate sempre existiu, mas sem muitos dados que o embasassem. Ninguém havia feito uma pesquisa completa nos arquivos fiscais de diferentes países para analisar a evolução da desigualdade no mundo, por exemplo. Parecia ser um trabalho histórico demais para os economistas e econômico demais para os historiadores. A originalidade da minha pesquisa está justamente em juntar essas perspectivas e contar a história desse dinheiro ao longo dos últimos séculos. Fui beneficiado por pertencer a uma geração que tem acesso mais fácil aos dados devido à tecnologia e que não é movida necessariamente pela ideologia.

No tom e nas propostas, como a de taxação da riqueza, semelhante à encampada pelo presidente francês François Hollande há algum tempo, o senhor parece bastante alinhado com o socialismo francês. Faço parte de uma geração pós-Guerra Fria. Tinha 18 anos quando o Muro de Berlim caiu. Nunca fui tentado pelo comunismo. Durante a Guerra Fria era difícil avançar no debate sobre o tema, porque havia um embate político muito forte entre os dois blocos. O recuo temporal de hoje, aliado aos dados mais acessíveis, nos permite retomar este que foi um dos grandes debates do século XIX, a saber, o debate sobre a desigualdade no capitalismo.

O senhor acredita que o capitalismo é um sistema que precisa ser superado? Eu acredito no capitalismo, no livre mercado e na propriedade privada, não apenas como origem de eficácia e crescimento, mas também como elemento de liberdade individual. Sou muito positivo quanto a isso. Mas vejo que há um risco se não mostrarmos que existem formas de repartir os ganhos da globalização de forma mais equilibrada. Para que o processo virtuoso do capitalismo continue, é preciso que todos se beneficiem. Caso contrário, surgem tentações como as que assombram a Europa de hoje. Quando não conseguimos resolver nossos problemas domésticos e sociais, procuramos um culpado, que pode ser o imigrante, a Alemanha, a China, o Brasil.

O jornal britânico Financial Times publicou uma reportagem que contradiz a base de sua pesquisa histórica, que é justamente o aumento da desigualdade desde 1970. Sua base de dados é inconsistente? De forma alguma. Serei bem claro sobre isso. Não há nenhum erro na minha pesquisa. É claro que ela pode ser melhorada. É por isso que tudo foi colocado na internet. Mas o ponto é que as pequenas correções feitas pelo Financial Times, com as quais eu não concordo, têm impacto mínimo no resultado geral. No caso dos dados sobre o aumento da desigualdade nos Estados Unidos, a pesquisa mais recente dos economistas Emmanuel Saez e Gabriel Zucman, da Universidade da Califórnia, reforça meu estudo. No caso da Grã-Bretanha, outro foco de críticas do jornal, é óbvio que pesquisas que são baseadas em declarações entregues pelos próprios contribuintes não mostram um quadro fiel sobre o aumento da renda em nenhum lugar do mundo, ao contrário do que afirma o jornal. É um fato: todos os rankings de riqueza indicam que os mais ricos estão cada vez mais ricos, e cada vez mais rápido. O que não é errado. É apenas um fato que o jornal quer ignorar. Eu acho que eles estão com medo do meu livro, mas deveriam estar com medo do aumento da desigualdade.

O senhor discorda de que o crescimento econômico, e não as medidas redistributivas criadas por lei, seja a ferramenta primordial para melhorar a vida das pessoas? De forma alguma acredito que o crescimento da riqueza seja algo inútil. Para os países emergentes, como o Brasil, o crescimento é a chave do desenvolvimento e da melhora da qualidade de vida. Ele é fundamental, mas não suficiente. É preciso refletir sobre a desigualdade. O que observamos nos países ricos é que a riqueza do topo da pirâmide, ou seja, da parcela de 1% da população, avança três vezes mais rápido que o crescimento do produto interno bruto (PIB). E isso, eventualmente, vai acontecer com os emergentes também. Até onde isso irá? Eu não sei. Não posso ter certeza das taxas de crescimento econômico dos anos que virão. Se os países ricos conseguirem crescer mais de 4% ao ano, por exemplo, a desigualdade tende a se equilibrar. Mas não há evidências de que isso deva ocorrer. Então é melhor termos outro plano caso essa taxa de crescimento não ocorra. O que eu digo no livro é que será preciso transparência sobre a renda e a riqueza dos indivíduos. Isso servirá para que possamos produzir informações sobre a evolução do nível de renda e do patrimônio e, em consequência, fortalecer nossa democracia, para que ela disponha de mais dados sobre ela mesma.

A base para sua tese sobre a desigualdade é a relação r>g , segundo a qual a renda sobre o capital (r) é sempre maior que o crescimento econômico (g). Por que, para sua tese, é tão vital relacionar essas duas variáveis, uma microeconômica e outra macro?São duas variáveis certamente de natureza distinta. Mas a comparação entre r e g é importante, porque uma diferença muito grande entre elas significa que a desigualdade inicial de riqueza tende a se ampliar a ponto de ameaçar a estabilidade em muitos países. A ideia de comparar essas duas variáveis não é novidade. Quando se abre um romance do francês Balzac, que viveu na primeira metade do século XIX, um período de crescimento nulo e retorno sobre o capital de 4% a 5% ao ano, essa preocupação está muito clara. Essa relação é, inclusive, a base da sociedade tradicional, pois permite que um grande proprietário viva da renda de seu patrimônio. Um ponto crucial do livro é mostrar que a industrialização não mudou fundamentalmente essa dinâmica. Mesmo que tenhamos passado de um mundo de crescimento zero para um mundo de crescimento positivo, a longo prazo a produtividade não se mostrou tão alta assim, foi de 1% ou 2% ao ano. Uma taxa de crescimento de 4% só é possível para países ainda em desenvolvimento. Em países que já estão na dianteira do avanço tecnológico, um crescimento de 4% ao ano parece improvável. Seria necessário um salto inaudito de produtividade. Ou talvez um choque, como uma guerra mundial que leve a um longo processo de reconstrução. Suponho que não queremos isso. Em vez de depender de um milagre de crescimento, deveríamos nos acostumar a viver com um crescimento positivo mas limitado e pensar no que mais somos capazes de fazer.

O senhor propõe uma taxação progressiva de até 80%. O Estado já não abocanha uma fatia grande demais da riqueza produzida por empresas e indivíduos? Certamente. Por isso, minha proposta para a Europa é, na verdade, reduzir os impostos para a classe média e aumentá-los para os maiores patrimônios. O problema na Europa é que a concorrência fiscal entre os países faz com que as grandes empresas paguem muito pouco imposto em comparação às pequenas e médias. Por outro lado, aumentam-se as taxas sobre os sa­lários, ou o IVA, que é o imposto sobre o consumo. Então, o problema não é aumentar os impostos, e sim reparti-los melhor. Por exemplo, o principal tri­buto sobre o patrimônio nos Estados Unidos e na Europa é o imposto proporcional sobre o valor dos imóveis. Eu não proponho aumentá-lo, mas transformá-lo num imposto progressivo sobre o patrimônio líquido. Se um indivíduo tem um apartamento que vale 300000 euros, mas foi financiado em 290000 euros, sua riqueza líquida sobre esse bem é de 10000 euros. Hoje, esse indivíduo paga o mesmo imposto que aquele que não tem financiamento, herdou seu apartamento ou tem várias casas e uma ampla carteira de investimentos. Eu proponho mudar essa lógica.

Para aumentar tributos, é preciso que a população confie no Estado como gestor. Como essa proposta se sustenta se essa confiança está cada vez menor? Tem razão. Uma das complicações nos países ricos é que, ao mesmo tempo em que há um questionamento sobre a desregulamentação, há um questionamento sobre o papel do Estado. A desconfiança é totalmente justificável. Nos países ricos hoje, quando temos 40% ou 50% do PIB em carga tributária, não dá para aumentar mais. Mas há outras formas de perseguir o mesmo objetivo. Uma delas é permitir um pouco de inflação, o que traz riscos enormes. A outra é pôr em prática o imposto progressivo sobre o patrimônio, que atinge de forma concentrada a camada mais alta da população e, ao mesmo tempo, protege a classe média.

Medidas como essa não desencorajam o empreendedorismo? Por que se arriscar em um empreendimento quando se sabe de antemão que seus frutos serão duramente taxados? Não se trata de “cortar a cabeça” dos ricos ou interditar o enriquecimento. É crucial que um país tenha empreendedores, ricos, classe média e pobres. Não há nenhum problema nisso. Mas precisamos assegurar que a riqueza dos diferentes grupos cresça num ritmo minimamente coerente. Não precisa ser exatamente o mesmo ritmo, mas, se a riqueza das classes mais altas cresce três ou quatro vezes mais que as outras, há um desequilíbrio. É preciso que as instituições democráticas e fiscais ajudem a retomar o equilíbrio desse crescimento. Mas a taxação não é a única saída. A meu ver, aliás, a educação é e continuará sendo a maior força de redução da desigualdade.

O senhor trata executivos com altos salários como vilões da desigualdade. Salários altos são pagos para atrair gente capaz e talentosa. Há algo errado com a meritocracia? As desigualdade salariais são fundadas na lógica do mérito e da produtividade. O problema é que o aumento dos salários dos grandes executivos pode ser justificado por muitos indicadores, menos pelas estatísticas de produtividade das empresas. Nos Estados Unidos, quando se comparam empresas que pagam a seus executivos 10 ou 50 milhões de salário anual com empresas que pagam muito menos, não se verifica que as empresas que pagam mais bônus cresceram mais. Então, esse discurso precisa ser visto com cautela. Mas é certo que a meritocracia é melhor que os sistemas do passado. Ela permite que as pessoas consigam construir um patrimônio sem que tenham sido beneficiadas por uma herança. O problema é que o ideal da meritocracia foi, em muitos casos, deturpado.

O Brasil dificulta o acesso a dados e ficou fora de sua pesquisa. Algo mudou depois da publicação do livro? O Brasil foi o país em que tivemos mais dificuldades, e, por enquanto, continuamos sem dados significativos. É uma pena, porque foi um dos países que mais conseguiram, nos últimos anos, conciliar crescimento e redistribuição de renda. Mas as conversas avançam. Não se pode ter medo da transparência, da democracia. Espero, em breve, ter o Brasil em nossa base de dados.


quarta-feira, 28 de maio de 2014

Thomas Piketty e Delfim Netto novamente na FOLHA.

Antonio Delfim Netto e o seu artigo de hoje na FOLHA DE S. PAULO: DESIGUALDADE.

Folha presta um excelente serviço à sociedade brasileira ao continuar dando espaço à interessante discussão em torno do livro do economista francês Thomas Piketty, "O Capital no Século 21".

Foi imenso o "choque" que a obra produziu após o lançamento de sua tradução em inglês. Olhada com cuidado, a sua tese está longe de provar empiricamente o inevitável fim do "capitalismo", imposto por alguma "lei" histórica (o que Marx pensou ter feito com o uso de argumentos lógicos).

Reduzida à sua essência, ela é o resultado de pura aritmética: se a taxa de retorno do capital (que ele, como a maioria dos economistas em seus modelos chama de "r") for permanentemente maior do que a taxa de crescimento do PIB (que ele, como os economistas, chama de "g"), então haverá, necessariamente, uma acumulação de renda e patrimônio que, ao fim e ao cabo, submeterá a democracia ao controle do capital e tornará o "capitalismo" disfuncional.

O problema não é econômico, é político! Não tem nada a ver com "esquerda" ou "direita". Instituições mal construídas permitem que uma classe se aproprie do excedente econômico produzido pelo trabalho, como ocorria no regime colonial e ocorre no capitalismo de "compadres"...

O problema é que "g" e "r" não são constantes e não satisfazem, necessariamente, a desigualdade: "r" sempre maior do que "g". Dependem da qualidade das instituições e, portanto, são de extrapolação duvidosa. A relação entre eles controla aritmeticamente, no longo prazo, a distribuição da renda entre o trabalho e o capital e a acumulação dos patrimônios. São as instituições e o jogo dialético permanente entre o bom funcionamento dos "mercados" e o bom funcionamento das "urnas" que determinam a relação entre "g" e "r".

O livro de Piketty já produziu dois resultados notáveis. O primeiro, muito triste para nós que amamos a França. Infelizmente, o francês transformou-se numa língua paroquial em matéria de economia, para prejuízo do próprio pensamento econômico universal. O livro só teve a merecida repercussão quando vertido para o inglês.

O segundo, é que mostra a insanidade do "cientificismo" que domina a pobre modelização de alguns economistas que têm inveja da física e se recusam entender que o átomo da economia (o cidadão comum, sujeito da política do governo) tem memória, aprende e reage num jogo dinâmico com a autoridade. E, o que é pior e mais grave, protesta e vota!

A distribuição da renda sempre implicará uma valorização filosófica. Como ensinou Adam Smith há mais de 250 anos ("A Teoria dos Sentimentos Morais", 1759), se a economia for um dia "ciência", ela há de ser uma ciência moral.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Thomas Piketty: Um admirador crítico do capitalismo

Direto do The New York Times, leio na Folha mais uma matéria sobre o Thomas Piketty e o seu livro, atual sucesso mundial.

PARIS - Quando o Muro de Berlim caiu, em 1989, Thomas Piketty tinha 18 anos, o que o poupou do debate intelectual sobre as virtudes e os vícios do comunismo, que durou décadas na França.

Segundo ele, mais reveladora foi a viagem que fez com um amigo à Romênia no início dos anos 1990, após a queda da União Soviética.

"Quando vi aquelas lojas vazias, aquelas pessoas fazendo fila inutilmente na rua, ficou claro que nós precisamos de propriedade privada e instituições de mercado, não só por uma questão de eficiência econômica, mas também pela liberdade individual."

Mas o desencanto com o comunismo não significa que Piketty deu as costas para o legado intelectual de Karl Marx.

Como o alemão, ele é um crítico ferrenho das desigualdades econômicas e sociais produzidas pelo capitalismo desenfreado -as quais, para ele, se agravarão. "Sou de uma geração que jamais teve atração pelo Partido Comunista. De certa maneira, isso facilita retomar com frescor essas grandes questões sobre capitalismo e desigualdade."

Em seu novo livro de 700 páginas, "Capital in the Twenty-First Century" [O Capital no Século 21], Piketty, 42, desmonta teses sobre a benevolência do capitalismo e prevê desigualdade crescente em países industrializados, com impacto sobre valores democráticos como justiça e equidade.

O livro, que está na lista dos mais vendidos do "New York Times", pretende ser um retorno ao tipo de história econômica e economia política escrito no passado por Marx e Adam Smith.

A obra se empenha em compreender sociedades ocidentais e as regras econômicas que as sustentam. E em seu decorrer, ao desmascarar a ideia de que "a riqueza ergue todos os barcos", Piketty desafia governos democráticos a lidarem com o abismo crescente entre ricos e pobres.

Piketty cresceu em um lar impregnado de política. Seus pais, esquerdistas, participaram das manifestações em 1968 que sacudiram a França tradicional.

Mais relevantes e importantes, disse ele, são as "experiências fundamentais" de sua geração: o colapso do comunismo, a degradação do Leste Europeu e a Guerra do Golfo. Tais eventos o incitaram a tentar entender um mundo no qual ideias econômicas tinham consequências tão nefastas.

Piketty entrou na elitista École Normale Supérieure aos 18 anos. Sua dissertação de doutorado sobre a teoria da redistribuição da riqueza, concluída quando ele tinha 22 anos, ganhou prêmios.

Então ele se mudou para os Estados Unidos, para lecionar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), mas se decepcionou com o estudo de economia americano e voltou para a França.

"Percebi rapidamente que havia pouco empenho para coletar dados históricos sobre renda e riqueza, então comecei a fazê-lo".

Com a ajuda dos potentes computadores atuais, suas conclusões se baseiam em séculos de estatísticas sobre o acúmulo de riqueza e o crescimento econômico em países industriais desenvolvidos.

Elas também são enunciadas de maneira simples: a taxa de crescimento da renda do capital é várias vezes maior que o ritmo do crescimento econômico.

Isso significa que uma parcela comparativamente decrescente vá para a renda ganha com salários, os quais raramente aumentam mais rápido que a atividade econômica.

A desigualdade aumenta quando a população e a economia crescem lentamente.

A desigualdade em si é aceitável, diz ele, à medida que incita a iniciativa individual e a geração de riqueza que, com a ajuda da taxação progressiva e outras medidas, ajuda a melhorar a situação de todos na sociedade.

"Não vejo problema na desigualdade, desde que ela seja de interesse comum", afirmou.

Porém, Piketty diz que a desigualdade extrema "ameaça nossas instituições democráticas". A democracia não significa apenas cada cidadão um voto, mas a promessa de oportunidades iguais.

A última parte do livro apresenta as ideias de Piketty sobre políticas públicas. Ele defende uma taxação global progressiva sobre a riqueza real (menos dívida), com os resultados decorrentes não entregues a governos ineficientes, mas redistribuídos para os que têm menos capital.


O livro tem despertado críticas, especialmente às prescrições políticas de Piketty, consideradas ingênuas. Ele recebe bem as críticas. "Certamente estou aguardando ansiosamente os debates."

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...