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quinta-feira, 7 de maio de 2020

La Nacion: Deuda - Economistas locales firman una carta abierta en apoyo a la reestructuración.

https://www.lanacion.com.ar/economia/deuda-economistas-locales-firman-carta-abierta-apoyo-nid2362844

Desde Jorge Remes Lenicov a Emmanuel Álvarez Agis, pasando por Fernando Navajas, Pablo Gerchunoff, José Luis Machinea y Martín Rapetti. Más de un centenar de economistas argentinos firmaron hoy una carta abierta en apoyo a la gestión del gobierno local por la renegociación de la deuda pública.
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La carta replica centralmente el texto publicado ayer, firmado por los premios Nobel Joseph Stiglitz, Edmund Phelps, y su colega Carmen Reinhardt, que fue acompañada por otros colegas célebres como Thomas Piketty, Jeffrey Sachs, Kenneth Rogoff y Dani Rodrik.
La iniciativa local comenzó esta mañana, con llamados y mensajes entre economistas argentinos de diversas escuelas. Rapetti, economista de Cedes, y Pablo Gluzmann, investigador del Centro de Estudios Distributivos, Laborales y Sociales (CEDLAS) de la Universidad Nacional de La Plata (UNLP), alma mater del ministro Martín Guzmán, fueron algunos de los impulsores de la iniciativa. 

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Dani Rodrik: Economics Rules - "A Economia manda".



Em novo livro lançado nos Estados Unidos, o economista Dani Rodrik, professor da Universidade Harvard, citou uma lendária frase de John Kenneth Galbraith:

"Deus criou os economistas que fazem previsões para os astrólogos se sentirem respeitáveis". 

No livro, Dani Rodrik faz  uma apaixonada defesa do estudo da economia para a solução de grandes questões da atualidade. 

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Thomas Piketty et al, Angela Merkel e a Grécia em 2015.

Direto do site The Nation:

The never-ending austerity that Europe is force-feeding the Greek people is simply not working. Now Greece has loudly said no more.

As most of the world knew it would, the financial demands made by Europe have crushed the Greek economy, led to mass unemployment, a collapse of the banking system, made the external debt crisis far worse, with the debt problem escalating to an unpayable 175 percent of GDP. The economy now lies broken with tax receipts nose-diving, output and employment depressed, and businesses starved of capital.

The humanitarian impact has been colossal—40 percent of children now live in poverty, infant mortality is sky-rocketing and youth unemployment is close to 50 percent. Corruption, tax evasion and bad accounting by previous Greek governments helped create the debt problem. The Greeks have complied with much of German Chancellor Angela Merkel’s call for austerity—cut salaries, cut government spending, slashed pensions, privatized and deregulated, and raised taxes. But in recent years the series of so-called adjustment programs inflicted on the likes of Greece has served only to make a Great Depression the likes of which have been unseen in Europe since 1929-1933. The medicine prescribed by the German Finance Ministry and Brussels has bled the patient, not cured the disease.

Together we urge Chancellor Merkel and the Troika to consider a course correction, to avoid further disaster and enable Greece to remain in the eurozone. Right now, the Greek government is being asked to put a gun to its head and pull the trigger. Sadly, the bullet will not only kill off Greece’s future in Europe. The collateral damage will kill the Eurozone as a beacon of hope, democracy and prosperity, and could lead to far-reaching economic consequences across the world.

In the 1950s, Europe was founded on the forgiveness of past debts, notably Germany’s, which generated a massive contribution to post-war economic growth and peace. Today we need to restructure and reduce Greek debt, give the economy breathing room to recover, and allow Greece to pay off a reduced burden of debt over a long period of time. Now is the time for a humane rethink of the punitive and failed program of austerity of recent years and to agree to a major reduction of Greece’s debts in conxjunction with much needed reforms in Greece.

To Chancellor Merkel our message is clear; we urge you to take this vital action of leadership for Greece and Germany, and also for the world. History will remember you for your actions this week. We expect and count on you to provide the bold and generous steps towards Greece that will serve Europe for generations to come.

Sincerely,

Heiner Flassbeck, former State Secretary in the German Federal Ministry of Finance

Thomas Piketty, Professor of Economics at the Paris School of Economics

Jeffrey D. Sachs, Professor of Sustainable Development, Professor of Health Policy and Management, and Director of the Earth Institute at Columbia University

Dani Rodrik, Ford Foundation Professor of International Political Economy, Harvard Kennedy School

Simon Wren-Lewis, Professor of Economic Policy, Blavatnik School of Government, University of Oxford. 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Economia brasileira não volta a ter expansão de 7%. Alguma dúvida?


Leio na FOLHA entrevista com o economista Dani Rodrik, professor de política econômica internacional da Universidade Harvard e um dos maiores especialistas em economia do desenvolvimento.

Segundo Rodrik, o ambiente global benéfico -- alto crescimento da China, elevados preços das commodities, países avançados em expansão -- não vai se repetir. "É realista esperar uma taxa de crescimento de 3% a 4% no Brasil", disse à Folha Rodrik, que participou de seminário da revista "Carta Capital".

Folha - O Brasil cresceu 0,9% em 2012 e há uma percepção de que o modelo de crescimento baseado em consumo se esgotou. O que o sr. acha?
Dani Rodrik - Dois anos atrás, todo mundo dizia que o Brasil estava vivendo um novo milagre econômico. Eu achava que era um enorme exagero. Agora, as pessoas estão tirando conclusões apressadas em cima de apenas um ano de crescimento.
O Brasil não vai mais crescer 7%, como no milagre econômico antes da crise da dívida ou mesmo em 2010 [7,5%]. É realista esperar uma taxa de crescimento de 3% a 4%. Se o contexto global ajudar, 5% será uma taxa razoável.

O sr diz que, a partir de agora, alto crescimento no mundo será exceção. Como se situa o Brasil nesse cenário? As condições que permitiram crescimento de 7% a 8% não vão se repetir. Antes, tínhamos os estágios iniciais da industrialização --ao tirar mão de obra da zona rural ou do setor informal e levar para as indústrias, tínhamos ganhos de 400% na produtividade. Agora, não teremos grandes ganhos sem mais investimentos em educação e tecnologia. Com as mudanças tecnológicas, a indústria é muito mais intensiva em capital e não absorve tanta mão de obra. E o Brasil, na realidade, já atingiu o pico de industrialização e está agora se desindustrializando. Mas isso é verdade para a maioria dos países. É inevitável. A discussão agora é a velocidade da desindustrialização, se está mais rápida do que deveria. A indústria não mais será o motor do crescimento. Serviços e outras áreas irão gerar ganhos de produtividade.

O sr. ficou decepcionado com a decisão dos Brics [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] de criar um banco de desenvolvimento... Essa é uma noção dos anos 50, de que é preciso ter financiamento de infraestrutura. Frequentemente, o que emperra o desenvolvimento não é a falta de financiamento, mas sim instituições frágeis, excesso de regulação, falta de política industrial e moedas sobrevalorizadas. Financiamento é apenas um dos fatores. Não me parece o foco apropriado para os Brics. Faltam ideias novas de como consertar a globalização e criar uma nova relação entre emergentes e ricos.

O sr. diz que os Brics precisam parar de se comportar como "suplicantes". Qual é a mensagem que o Brasil deveria passar nos foros mundiais? Gostaria de ver o Brasil abordar o sistema internacional não como um país em desenvolvimento dizendo que é pobre e precisa de ajuda. Em vez disso, o Brasil precisa se posicionar como formador de políticas, que também tem grandes responsabilidades. Em áreas como mudança climática, por exemplo, não haverá redução de emissões se os emergentes não assumirem responsabilidade.

O que o sr. espera de Roberto Azevêdo à frente da Organização Mundial do Comércio? A agenda da OMC precisa mudar. A Rodada Doha morreu e as pessoas deveriam simplesmente declarar isso. O real desafio para a OMC é estabelecer uma nova narrativa, que não se restrinja a: "você reduz suas tarifas e em troca nós abrimos nossos mercados". No momento, o maior problema não é a falta de abertura comercial.
E o Brasil precisa mudar sua atitude. O Brasil ocasionalmente precisa proteger sua indústria, mas tem de entender que os países ricos passam por uma situação muito difícil e também precisam proteger a sua indústria. O Brasil, apesar de todas as elevações de tarifas recentes, não pode ser chamado de economia fechada. Aliás, acho que a atual estrutura de tarifas no Brasil é até positiva.

Por quê? Porque, na margem, está dando uma proteção temporária para algumas indústrias que estão sendo dizimadas pela valorização da moeda. Vivemos no mundo possível, não no mundo doutrinário.

Qual é a importância de ter um brasileiro liderando a OMC? O Brasil pode levar para a OMC uma abordagem pragmática, não doutrinária, que é uma evolução da proposta radical de livre mercado --é assim a política econômica do Brasil atualmente. Então ter um brasileiro no comando da OMC é muito positivo.

O sr. classifica os países de mercantilistas ou liberais. Em que faixa se situa o Brasil?
O Brasil é uma boa mistura -- usa regras liberais em seu sistema financeiro, políticas monetária e cambial, mas é mais mercantilista no que se refere às políticas industriais, proteção por tarifas, regras de conteúdo local e uso do BNDES. Talvez precise de menos liberalismo no fronte macroeconômico e mais no fronte comercial.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ocupe a sala de aula?


Hoje, após ter lido na FOLHA o artigo do Bresser-Pereira em que cita um texto de Dani Rodrik   publicado anteriormente no VALOR, o comentário despertou a minha curiosidade e consegui obter o artigo do Rodrik conforme abaixo. E algumas verdades econômicas, diga-se de passagem.   

No início de novembro, um grupo de estudantes abandonou um conhecido curso de Harvard de introdução à economia, "Ciências Econômicas 10", lecionado por meu colega Greg Mankiw. A reclamação: o curso propaga ideologia conservadora disfarçada de ciência econômica e ajuda a perpetuar a desigualdade social.

Os estudantes fazem parte do crescente coro de protestos contra as ciências econômicas modernas da forma como são ensinadas nas principais instituições acadêmicas do mundo. As ciências econômicas sempre tiveram seus críticos, é claro, mas a crise financeira e suas sequelas lhes deram nova munição, que parece validar as antigas acusações contra as suposições pouco realistas da profissão, assim como sua reificação dos mercados e desprezo pelas preocupações sociais.

Mankiw, por sua vez, achou que os estudantes que protestavam estavam "mal informados". As ciências econômicas não têm ideologia, retorquiu. Citou John Maynard Keynes e destacou que as ciências econômicas são um método que ajuda as pessoas a pensar mais claramente e a alcançar respostas corretas, sem conclusões políticas predeterminadas.

A ciência econômica que precisamos é a do tipo da "sala de seminário" e não a do tipo "geral". Precisamos das ciências econômicas que reconheçam suas limitações e saibam que a mensagem apropriada depende do contexto.

De fato, embora possa entender-se o ceticismo de quem não esteve imerso em anos de estudos avançados de economia, os trabalhos feitos pelos alunos em um curso típico de doutorado em economia produzem uma variedade desconcertante de receitas políticas, dependendo do contexto específico. Algumas das estruturas que os economistas usam para analisar o mundo favorecem o livre mercado, enquanto outras não. Na verdade, boa parte das análises econômicas são voltadas a compreender como a intervenção dos governos pode melhorar o desempenho econômico. E motivações não econômicas e comportamentos socialmente cooperativos são cada vez mais parte dos assuntos estudados por economistas.

Como o grande economista internacional Carlos Diaz-Alejandro, já falecido, disse certa vez, "atualmente, qualquer estudante universitário esperto, se escolher suas suposições [...] cuidadosamente, pode produzir um modelo consistente, recomendando praticamente quaisquer medidas políticas às quais ele fosse favorável inicialmente". E isso foi na década de 70! Um economista aprendiz não precisa mais ser particularmente esperto para produzir conclusões de políticas não ortodoxas.

Ainda assim, os economistas precisam aguentar acusações de que não saem das raias ideológicas, porque eles mesmos são seus piores inimigos no que se refere a aplicar suas teorias no mundo real. Em vez de comunicar todo o arsenal de perspectivas que sua disciplina oferece, eles mostram confiança excessiva em soluções em particular - frequentemente aquelas que melhor se encaixam em suas próprias ideologias.

Vejamos a crise financeira mundial. A macroeconomia e as finanças não carecem das ferramentas necessárias para entender como a crise surgiu e se desenrolou. De fato, a literatura acadêmica está repleta de modelos de bolhas financeiras, informações assimétricas, distorções dos incentivos, crises autorrealizáveis e risco sistêmico. Nos anos que levaram à crise, no entanto, muitos economistas menosprezaram as lições desses modelos em favor dos que tratavam sobre a eficiência e o poder de autocorreção dos mercados, o que, na esfera das políticas, resultou em supervisão inadequada dos mercados financeiros pelos governos.

Em meu livro "O Paradoxo da Globalização", imagino o seguinte experimento. Consiste em que um jornalista ligue a um professor de economia e pergunte se um acordo de livre comércio com o país X ou Y seria uma boa ideia. Podemos ter quase certeza de que o economista, assim como a ampla maioria das pessoas na profissão, se mostrará empolgado em seu apoio ao livre comércio.

Em outra situação, o repórter não se identifica e diz ser um estudante no seminário universitário avançado do professor sobre teoria do comércio internacional. Ele faz a mesma pergunta: O livre comércio é bom? Duvido que a resposta será tão rápida e sucinta. Na verdade, é provável que o professor se sinta bloqueado com a pergunta. "O que você quer dizer com 'bom'?", ele perguntará. "E 'bom' para quem?"

O professor, então, entrará em uma longa e cansativa exegese, que acabará culminando em uma declaração pesadamente evasiva: "Então, se a longa lista de condições que acabei de descrever for cumprida e supondo que podemos tributar os beneficiários para compensar os que saíram perdendo, um comércio mais livre tem o potencial para melhorar o bem-estar de todos." Se estivesse em dia inspirado, o professor poderia até acrescentar que o impacto do livre comércio no índice de crescimento da economia não seria claro e dependeria de um conjunto inteiramente diferente de requisitos.

A afirmação direta e incondicional sobre os benefícios do livre comércio agora foi transformada em uma declaração adornada com todos os tipos de "se" e "mas". Estranhamente, o conhecimento que o professor transmite de boa vontade e com grande orgulho a seus estudantes avançados é considerado impróprio (ou perigoso) para o público em geral.

O ensino das ciências econômicas no nível universitário sofre do mesmo problema. Em nosso empenho para mostrar as joias da coroa da profissão de forma imaculada - a eficiência do mercado, a mão invisível, a vantagem comparativa - nós pulamos as complicações e nuances do mundo real, tão conhecidas como são na disciplina. É como se os cursos de introdução à física presumissem um mundo sem gravidade, porque assim tudo ficaria muito mais simples.

Aplicadas apropriadamente, com uma dose saudável de senso comum, as ciências econômicas nos teriam preparado para a crise financeira e nos indicado a direção certa para consertar o que a causou. Mas a ciência econômica que precisamos é a do tipo da "sala de seminário" e não a do tipo "geral". Precisamos das ciências econômicas que reconheçam suas limitações e saibam que a mensagem apropriada depende do contexto.

Negligenciar a diversidade de orientações intelectuais dentro de sua disciplina não torna os economistas melhores analistas do mundo real. Nem os torna mais populares.

terça-feira, 26 de julho de 2011

O futuro do crescimento econômico.

O futuro do crescimento econômico, no texto sempre bem escrito do DANI RODRIK, hoje no VALOR ECONÔMICO. Dani Rodrik é professor de Economia Política Internacional na Universidade de Harvard, é autor de "The Globalization Paradox: Democracy and the Future of the World Economy" (O paradoxo da globalização: a democracia e o futuro da economia mundial).

Talvez pela primeira vez na história moderna, o futuro da economia mundial está nas mãos dos países pobres. Os Estados Unidos e a Europa marcham como gigantes feridos, vítimas dos seus excessos financeiros e paralisia política. Parecem condenados, por seu pesado endividamento, a anos de estagnação ou crescimento lento, ampliando a desigualdade e possíveis conflitos sociais.Grande parte do resto do mundo, entretanto, está carregado de energia e esperança. Autoridades governamentais na China, Brasil, Índia e Turquia estão preocupados com crescimento excessivo, e não com pouco crescimento. Sob determinados parâmetros, a China já é a maior economia no mundo e os mercados emergentes e os países em desenvolvimento respondem por mais de metade da produção mundial. A empresa de consultoria McKinsey qualificou a África, há muito tempo sinônimo de fracasso econômico, de terra dos "leões em movimento".

Como acontece frequentemente, a ficção reflete melhor a mudança de clima. "Super Sad True Love Story" (Verdadeiro Caso de Amor Supertriste), romance em quadrinhos do russo Gary Shteyngart, é um guia tão bom quanto qualquer outro para o que pode nos esperar. Situado num futuro próximo, a história se desenrola contra o pano de fundo de um EUA financeiramente arruinado sob uma ditadura de partido único e envolvido em mais uma inútil aventura militar no exterior - dessa vez na Venezuela. Todo o trabalho real nas empresas é feito por imigrantes qualificados; faculdades da Ivy League adotaram os nomes de suas homólogas na Ásia a fim de sobreviver; a economia está endividada junto ao banco central da China e "dólares ancorados ao yuan" substituíram a moeda tradicional como ativo seguro preferido.

Mas serão os países em desenvolvimento realmente capazes de puxar a economia mundial? Grande parte do otimismo sobre suas perspectivas econômicas é resultado da extrapolação. A década anterior à crise financeira mundial foi, sob muitos aspectos, a melhor de todos os tempos para os emergentes. O crescimento disseminou-se para muito além de um pequeno número de países asiáticos e, pela primeira vez desde a década de 1950, a grande maioria dos países pobres experimentou o que os economistas chamam de convergência - um estreitamento do diferencial de renda em relação aos países ricos.

Crescimento baseado em afluxos de capital ou booms de commodities tendem a ser de curta duração. Crescimento sustentado requer a elaboração de incentivos para encorajar investimentos do setor privado em novos setores, e fazê-lo com um mínimo de corrupção.

Esse, no entanto, foi um período peculiar, caracterizado por muito vento de cauda econômico. Os preços das commodities estavam elevados, o que beneficiou países africanos e latino-americanos em especial, e o financiamento externo foi abundante e barato. Além disso, muitos países africanos bateram no fundo do poço e recuperam-se de longos períodos de guerra civil e declínio econômico. E, como sabemos, o rápido crescimento nos países avançados alimentou, de modo geral, um aumento no volume do comércio mundial até níveis recordes.

Em princípio, um baixo crescimento pós-crise nos países avançados não bloqueará, necessariamente, o desempenho econômico dos países pobres. Em última instância, o crescimento depende de fatores do lado da oferta - investimento e aquisição de novas tecnologias - e do estoque de tecnologias que podem ser adotadas pelos países pobres e que não desaparece quando o crescimento dos países avançados fica lento. Assim, o potencial de crescimento dos países atrasados é determinado por sua capacidade de eliminar o atraso em relação à fronteira tecnológica - e não pela velocidade com que a própria fronteira está avançando.

A má notícia é que ainda não temos uma compreensão adequada sobre quando esse potencial de convergência é concretizado ou sobre o tipo de políticas que gerem crescimento autossustentado. Mesmo casos de inquestionável êxito têm sido objeto de interpretações conflitantes. Alguns estudiosos atribuem o milagre econômico da Ásia a mercados mais livres, ao passo que outros acreditam que intervenção estatal foi o fator decisivo. E a aceleração excessiva de crescimento, após algum tempo, perdeu impulso.

Os otimistas estão confiantes em que dessa vez será diferente. Eles acreditam que as reformas da década de 1990 - melhor política macroeconômica, maior abertura e mais democracia - colocaram o mundo em desenvolvimento em curso de crescimento sustentado. Recente relatório do Citigroup, por exemplo, prevê que o crescimento será fácil para países pobres com populações jovens.

Minha leitura das evidências é mais cautelosa. É certamente motivo para comemoração que as políticas inflacionárias tenham sido extirpadas e a governança melhorou em grande parte do mundo em desenvolvimento. De modo geral, essas mudanças melhoram a resistência da economia a choques e evitam colapsos econômicos.

Mas desencadear e sustentar crescimento rápido exige algo mais: políticas orientadas para a produção que estimulem mudanças estruturais em curso e fomentem emprego em novas atividades econômicas. Crescimento baseado em afluxos de capital ou booms de commodities tendem a ser de curta duração. Crescimento sustentado requer a elaboração de incentivos para encorajar investimentos do setor privado em novos setores - e fazê-lo com um mínimo de corrupção e competência adequada.

Se a história pode nos servir de guia, o leque de países que capazes desse feito continuará estreito. Assim, embora possa haver menos colapsos econômicos devido a melhor gestão macroeconômica, crescimento elevado provavelmente permanecerá episódico e excepcional. Em média, o desempenho pode ser um pouco melhor do que no passado, mas nem de longe tão espetacular como esperam os otimistas.

A grande questão para a economia mundial é se os países avançados atolados em dificuldades econômicas serão capazes de abrir espaço para o rápido crescimento dos países em desenvolvimento cujo desempenho dependerá em larga medida de sua incursão em setores industriais e de serviços onde os países ricos têm sido tradicionalmente dominantes. As consequências para o nível de emprego nos países avançados seriam problemáticas, especialmente tendo em conta a escassez de empregos com altos salários. Consideráveis conflitos sociais poderão tornar-se inevitáveis, colocando em risco o apoio político a aberturas econômicas.

Em última instância, parece inevitável uma convergência maior na economia mundial pós-crise. Mas uma grande reversão na sorte dos países ricos e pobres não parece economicamente provável nem politicamente viável.

sábado, 30 de janeiro de 2010

A CHINA DOMINARÁ O MUNDO?

Diretamente do Valor Econômico de 28/01/2010, Dani Rodrik, professor de Economia Política na Escola de Administração Pública John F. Kennedy da Universidade Harvard, pergunta: A China dominará o mundo?
A China ainda é um país pobre, mesmo assim projeta-se que sua economia ultrapasse a dos EUA em tamanho nas próximas duas décadas;
Trinta anos atrás, a China tinha uma presença minúscula na economia global e pouca influência fora das suas fronteiras, exceto por alguns países com os quais mantinha relações políticas e militares próximas. Hoje, o país é uma notável potência econômica: maior centro fabril do mundo, destacado investidor mundo afora, da África à América Latina, e, cada vez mais, uma importante fonte de pesquisa e desenvolvimento.
O governo chinês está sentado sobre um nível espantoso de reservas cambiais, superior a US$ 2 trilhões. Não existe um único setor em algum lugar no mundo que já não tenha sentido o impacto da China, seja como um fornecedor de baixo custo, ou, de forma mais ameaçadora, como um concorrente formidável.
A China ainda é um país pobre. Apesar de a renda média ter aumentado muito rapidamente nas décadas recentes, ela ainda se situa entre 1/7 e 1/8 dos níveis nos EUA, mais baixo que o da Turquia ou Colômbia. Enquanto a China litorânea e suas metrópoles mais importantes exibem riqueza formidável, extensas faixas da China Ocidental continuam atoladas na pobreza. Apesar disso, projeta-se que a economia da China ultrapasse a dos EUA em tamanho nas próximas duas décadas.
Enquanto isso, os EUA, a única superpotência econômica do mundo até recentemente, permanecem um gigante diminuído. O país se vê humilhado por seus fiascos em política exterior e por uma descomunal crise financeira. Sua credibilidade depois da desastrosa invasão do Iraque está no seu nível histórico mais baixo, apesar da simpatia global pelo presidente Barack Obama, e seu modelo econômico está em pedaços. O outrora todo-poderoso dólar cambaleia à mercê da China e dos países ricos em petróleo.
Todos esses elementos levam a perguntar se a China acabará substituindo os EUA como o poder hegemônico do mundo, o ditador e fiscalizador de regras do mundo. Num livro novo fascinante, intitulado de forma esclarecedora "When China Rules the World" (Quando a China dominar o mundo), o intelectual e jornalista britânico Martin Jacques é contundente: se você pensa que a China será integrada suavemente num sistema mundial liberal, capitalista e democrático, argumenta Jacques, prepare-se para uma grande surpresa. A China não só será a próxima superpotência econômica, como também a ordem mundial que ela construirá parecerá muito diferente daquela que tivemos sob a liderança dos EUA.
Americanos e europeus presumem displicentemente que a China se tornará mais parecida com eles à medida que sua economia se desenvolver e sua população ficar mais rica. Isso é uma miragem, diz Jacques. Os chineses e seu governo estão ligados a um conceito diferente de sociedade e de regime: baseado em comunidade, em vez de individualista, centralizado no Estado, em vez de liberal, autoritário em lugar de democrático. A China tem 2 mil anos de história como uma civilização distinta, aos quais pode recorrer para se fortalecer. Ela não se curvará simplesmente aos valores e instituições do Ocidente.
Uma ordem mundial centrada na China refletirá valores chineses em vez de ocidentais, argumenta Jacques. Pequim eclipsará Nova York, o renminbi substituirá o dólar, o mandarim assumirá o lugar do inglês, e os alunos em todo o mundo aprenderão sobre as viagens de descobrimento de Zheng He ao longo da costa Oriental da África, em vez de aprenderem sobre Vasco da Gama ou Cristóvão Colombo.
Serão coisas do passado o evangelismo dos mercados e a democracia. É muito menos provável que a China interfira nos assuntos internos de Estados soberanos. Em troca, porém, ela exigirá que países menores e menos poderosos reconheçam explicitamente a primazia chinesa (exatamente como nos sistemas tributários de antigamente).
Antes que algo dessa natureza venha a ocorrer, contudo, a China deverá continuar o seu veloz crescimento econômico e manter sua coesão social e união política. Nada disso está garantido. Por baixo do possante dínamo econômico da China encontram-se profundas tensões, desigualdades e rachaduras que poderão até arruinar uma progressão tranquila rumo à hegemonia global. Ao longo da sua longa história, forças centrífugas muitas vezes empurraram o país na direção da desordem e da desintegração.
A estabilidade da China depende criticamente da capacidade do governo de distribuir ganhos econômicos contínuos à vasta maioria da população. A China é o único país do mundo onde qualquer coisa abaixo de 8% de crescimento ano após ano é considerado perigoso porque o fato poderia desencadear inquietação social. A maioria do resto do mundo apenas sonha com crescimento àquela taxa, o que deixa entrever muito sobre a fragilidade subjacente do sistema chinês.
A natureza autoritária do regime político está no núcleo dessa fragilidade. Ele só permite a repressão quando o governo enfrenta protestos e oposição fora dos canais estabelecidos.
O problema é que ficará cada vez mais difícil para a China manter o tipo de crescimento que experimentou nos anos recentes. O crescimento do país atualmente se apoia numa moeda subvalorizada e num enorme superávit na balança comercial. Isso é insustentável e, cedo ou tarde, precipitará um confronto de grandes proporções com os EUA (e a Europa). Não há formas fáceis de contornar esse dilema. A China provavelmente precisará se conformar com crescimento mais baixo.
Se a China superar esses obstáculos e realmente acabar se tornando a potência econômica predominante do mundo, a globalização deverá, certamente, assumir as características chinesas. Assim, a democracia e os direitos humanos provavelmente perderão a sua atratividade como normas mundiais. Esse é o lado negativo.
O lado positivo é que uma ordem global chinesa mostrará maior respeito por soberania nacional e mais tolerância por diversidade nacional. Haverá maior espaço para experimentação com diferentes modelos econômicos.
Nota deste blogueiro:
espero que DANI RODRIK esteja errado: a CHINA NUNCA dominará o mundo.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...