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quarta-feira, 10 de abril de 2019

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Chair Janet L. Yellen: The Economic Outlook 2016.

The U.S. economy has made further progress this year toward the Federal Reserve's dual-mandate objectives of maximum employment and price stability. Job gains averaged 180,000 per month from January through October, a somewhat slower pace than last year but still well above estimates of the pace necessary to absorb new entrants to the labor force. The unemployment rate, which stood at 4.9 percent in October, has held relatively steady since the beginning of the year. The stability of the unemployment rate, combined with above-trend job growth, suggests that the U.S. economy has had a bit more "room to run" than anticipated earlier. This favorable outcome has been reflected in the labor force participation rate, which has been about unchanged this year, on net, despite an underlying downward trend stemming from the aging of the U.S. population.
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quarta-feira, 8 de julho de 2015

Thomas Piketty et al, Angela Merkel e a Grécia em 2015.

Direto do site The Nation:

The never-ending austerity that Europe is force-feeding the Greek people is simply not working. Now Greece has loudly said no more.

As most of the world knew it would, the financial demands made by Europe have crushed the Greek economy, led to mass unemployment, a collapse of the banking system, made the external debt crisis far worse, with the debt problem escalating to an unpayable 175 percent of GDP. The economy now lies broken with tax receipts nose-diving, output and employment depressed, and businesses starved of capital.

The humanitarian impact has been colossal—40 percent of children now live in poverty, infant mortality is sky-rocketing and youth unemployment is close to 50 percent. Corruption, tax evasion and bad accounting by previous Greek governments helped create the debt problem. The Greeks have complied with much of German Chancellor Angela Merkel’s call for austerity—cut salaries, cut government spending, slashed pensions, privatized and deregulated, and raised taxes. But in recent years the series of so-called adjustment programs inflicted on the likes of Greece has served only to make a Great Depression the likes of which have been unseen in Europe since 1929-1933. The medicine prescribed by the German Finance Ministry and Brussels has bled the patient, not cured the disease.

Together we urge Chancellor Merkel and the Troika to consider a course correction, to avoid further disaster and enable Greece to remain in the eurozone. Right now, the Greek government is being asked to put a gun to its head and pull the trigger. Sadly, the bullet will not only kill off Greece’s future in Europe. The collateral damage will kill the Eurozone as a beacon of hope, democracy and prosperity, and could lead to far-reaching economic consequences across the world.

In the 1950s, Europe was founded on the forgiveness of past debts, notably Germany’s, which generated a massive contribution to post-war economic growth and peace. Today we need to restructure and reduce Greek debt, give the economy breathing room to recover, and allow Greece to pay off a reduced burden of debt over a long period of time. Now is the time for a humane rethink of the punitive and failed program of austerity of recent years and to agree to a major reduction of Greece’s debts in conxjunction with much needed reforms in Greece.

To Chancellor Merkel our message is clear; we urge you to take this vital action of leadership for Greece and Germany, and also for the world. History will remember you for your actions this week. We expect and count on you to provide the bold and generous steps towards Greece that will serve Europe for generations to come.

Sincerely,

Heiner Flassbeck, former State Secretary in the German Federal Ministry of Finance

Thomas Piketty, Professor of Economics at the Paris School of Economics

Jeffrey D. Sachs, Professor of Sustainable Development, Professor of Health Policy and Management, and Director of the Earth Institute at Columbia University

Dani Rodrik, Ford Foundation Professor of International Political Economy, Harvard Kennedy School

Simon Wren-Lewis, Professor of Economic Policy, Blavatnik School of Government, University of Oxford. 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A economia mundial — agora sem esteroides.

Com habilidade, Sri Mulyani Indrawati, ex-ministra das Finanças da Indonésia e diretora administrativa e de operações do Banco Mundial, apresenta um panorama da atual situação econômica mundial, onde fica implícito que faltou ao Brasil melhor aproveitar o contexto internacional quando a economia ia de vento em popa. Apesar de alguns colegas ainda acreditarem que a economia brasileira voa em ceu de brigadeiro, mesmo em Davos..., a tendência dos últimos números econômicos demonstra, pelo menos, motivos para preocupação. E ainda teremos eleições...            

O crescimento econômico está de volta. Não somente os Estados Unidos, Europa e Japão estão finalmente se expandindo, mas também os países em desenvolvimento estão recuperando forças. Como resultado, o PIB mundial deverá ficar em 3,2% este ano, ante 2,4% de 2013 – o que significa que 2014 pode muito bem ser o ano em que a economia começará a se recuperar.

O fato de as economias dos países desenvolvidos voltarem a ganhar força é uma boa notícia para todos. Mas, para os países em desenvolvimento, que dominaram o crescimento global nos últimos cinco anos, isso levanta uma questão importante: agora, com os países de alta renda juntando-se a eles no contexto do crescimento, os emergentes ainda estão fortes na competição? A resposta simples é não.

Assim como um atleta pode usar esteroides para obter resultados rápidos, evitando os exercícios difíceis que são necessários para desenvolver resistência e garantir a saúde em longo prazo, algumas economias emergentes, para crescer, têm se apoiado em influxos de capital de curto prazo, especulativos, atrasando ou até mesmo evitando as difíceis, mas necessárias reformas econômicas e financeiras. O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, pretende restringir as condições monetárias excepcionalmente generosas, que levam ao crescimento "fácil". Frente a isso, essas economias emergentes terão de mudar sua abordagem, sujeitas a condições mais estreitas e ao risco de perder o terreno que ganharam nos últimos anos.

Com a política monetária restritiva do Federal Reserve tornando-se realidade, o Banco Mundial prevê que os fluxos de capitais para os países em desenvolvimento cairão de 4,6% do seu PIB em 2013 para cerca de 4% em 2016. Mas, se as taxas de juros de longo prazo dos EUA subirem muito rapidamente, ou se mudanças na política não forem bem informadas, ou ainda, se os mercados tornarem-se voláteis, o fluxo de capitais para os países emergentes pode cair 50% ou mais por alguns meses.

Esse cenário tem o potencial para interromper o crescimento dessas economias emergentes que fracassaram em aproveitar os recentes fluxos de capital para fazer reformas. A provável elevação das taxas de juros irá colocar pressão considerável em países com grandes déficits de conta corrente e altos níveis de dívida externa – um resultado de cinco anos de expansão do crédito.

De fato, na metade do ano passado, com a especulação de que o Fed começaria a redução gradual de compras de ativos de longo prazo (o chamado afrouxamento quantitativo, ou quantitative easing), as pressões financeiras foram mais fortes nos mercados suspeitos de possuírem fracos fundamentos. Turquia, Brasil, Indonésia, Índia e África do Sul – apelidados de "os cinco frágeis" – foram particularmente atingidos.

Da mesma forma, algumas moedas de mercados emergentes têm sofrido pressão nos últimos dias, provocada em parte pela desvalorização do peso argentino e sinais de uma desaceleração no crescimento chinês, bem como dúvidas sobre os verdadeiros pontos fortes dessas economias em meio a um mercado geralmente tenso. Como a grande turbulência no verão passado, o atual surto do mercado está afetando principalmente as economias caracterizadas por tensões políticas internas ou desequilíbrios econômicos.

Mas, para a maioria dos países em desenvolvimento, a história não foi tão ruim. Os mercados financeiros de muitas destas nações não sofreram tanta pressão – no ano passado ou agora. Com efeito, mais de três quintos dos países em desenvolvimento – muitos dos quais são fortes agentes econômicos, que se beneficiaram das reformas anteriores à crise (e assim atraíram mais influxos de capital, como investimento estrangeiro direto) – se saíram bem no último ano.

Novamente, retornando à metáfora do atleta: alguns continuaram a exercitar os músculos e a melhorar a resistência – mesmo sob pressão. O México, por exemplo, apresentou no ano passado um projeto de abertura do setor de energia para parceiros estrangeiros – uma reforma politicamente difícil que possivelmente trará benefícios significativos ao país no longo prazo. Sem dúvida, essa iniciativa ajudou o México a evitar unir-se aos cinco frágeis.

O forte crescimento nas economias de alta renda também criará oportunidades para os países em desenvolvimento – por meio da forte demanda de importação e novas fontes de investimento. Enquanto essas oportunidades serão mais difíceis, em comparação à facilidade dos fluxos de capital da época de maiores estímulos do Fed, as recompensas serão muito mais duradouras. Mas, para aproveitá-las, os países, assim como os atletas, devem se esforçar para competir com êxito – por meio de políticas nacionais sólidas que promovam um ambiente de pró-concorrência ideal para negócios, um regime de comércio exterior atraente e um setor financeiro saudável.

Em muitos países, parte do desafio será reconstruir reservas macroeconômicas, esgotadas ao longo dos anos em função do estímulo fiscal e monetário. A redução dos déficits orçamentários e  a transição da política monetária para um plano mais neutro será particularmente difícil em países como os cinco frágeis, onde o crescimento está muito atrasado.

Como no caso de um atleta exausto que precisa recuperar sua força, é muito difícil para um líder político tomar duras medidas de reforma sob pressão. Mas, para as economias emergentes, fazê-lo é fundamental para de restaurar o crescimento, bem como melhorar o bem-estar dos cidadãos. Sobreviver à crise é uma coisa; sair vencedor é algo completamente diferente. 

O texto está disponível no site da VEJA.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Economia doente. Somente na Argentina?

Matéria do economista Daniel Altman na FOREIGN POLICY e publicada hoje no ESTADÃO afirma que é difícil saber se o peso argentino aguentará até a chegada de um novo presidente, em 2015; e se o governo chegará até lá.  

A dois anos de deixar o cargo, a presidente Cristina Kirchner mantém a economia argentina à beira de uma crise cambial. Conseguirá o peso sobreviver até a chegada de um novo presidente? O governo vem gastando rios de dinheiro com o efeito colateral de uma inflação anual acima de 20%, o que tem sido repetidamente negado de maneira quase cômica.

Como que para provar que a inflação não poderia estar tão alta, o Banco Central (BC) argentino defendeu o peso numa taxa de câmbio artificialmente forte ante o dólar. Essa política fez o BC dilapidar suas reservas, vendendo dólares para sustentar o peso, enquanto o governo limitava rigidamente a capacidade de os argentinos comprarem dólares a uma taxa favorável e tirá-los do país. Surgiu um mercado negro - o dólar valia ontem 5,83 pesos, e no paralelo chegava a 9,62.

Nos últimos anos, o BC apoiou-se nos superávits comerciais para sustentar suas reservas. Mas esses superávits, que chegaram a 2,5% do PIB em 2009, basicamente desapareceram. Aliás, o FMI prevê que a Argentina enfrentará déficits comerciais em todos os anos de 2013 a 2018.

Esses déficits continuarão a corroer as reservas, assim como os pagamentos de juros de dívidas pendentes da Argentina, para os quais o governo recorreu ultimamente ao BC. O investimento estrangeiro na Argentina ajudaria a trazer mais moedas fortes, mas o país tem ficado atrás de seus vizinhos Chile e Uruguai na atração de dinheiro.

Na primavera de 2009, as reservas equivaliam a cerca de 1,8 vez a base monetária da taxa de câmbio oficial. Desde então, a relação se reduziu acentuadamente, estabilizando-se em cerca de 0,65 em setembro. Ironicamente, talvez, esse valor está pouco abaixo do nível de 0,67 que o BC foi encarregado de manter antes da desastrosa crise que começou em 2001.

Evidentemente, a taxa de câmbio atual é insustentável no longo prazo. Mas será sustentável até 2015? Se o BC conseguir chegar lá, a Argentina poderia conseguir um raro pouso suave. Todos os prováveis candidatos presidenciais - Mauricio Macri, Sergio Massa, Daniel Scioli e Elisa Carrió (ou um de seus aliados) - condenaram a inflação galopante que está destruindo o valor do peso. Em graus variados, eles estão todos comprometidos com a conversão da economia de um laboratório de cientista louco em uma parte mais transparente e integrada do sistema financeiro global.

Uma eleição bem-sucedida trará uma inundação de capital estrangeiro e um fortalecimento da economia, fortalecendo as reservas do BC e o peso. Os gastos públicos, a impressão de dinheiro e a inflação diminuiriam. Os preços das ações e valores dos ativos aumentariam. Seria preciso apenas, talvez, uma desvalorização gradual do peso. 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

A caminho do fracasso.

Que bom ler hoje na FOLHA o reconhecimento pelo Bresser-Pereira que, afinal, a Argentina não é um exemplo a ser seguido.  

Liberalismo econômico e desenvolvimentismo são duas formas de organização econômica e social do capitalismo e dois estilos de política econômica. Nesta segunda acepção, a escolha do estilo envolveria uma troca: mais estabilidade no liberalismo, mais crescimento no desenvolvimentismo.

Na realidade, o liberalismo econômico rejeita deficit públicos, mas aceita deficit crônicos em conta corrente, o que o deixa sujeito a crise de balanço de pagamentos.

Já o desenvolvimentismo competente rejeita ambos os deficit, e promove crescimento com estabilidade, enquanto o desenvolvimentismo populista aceita os dois deficit, e acaba não logrando nem crescimento nem estabilidade.

As políticas econômicas liberais, ao aprovarem deficit em conta corrente crônicos, estão praticando populismo cambial: pensam que promovem o aumento do investimento, mas, ao levar o país como um todo a gastar mais do que suas receitas de exportação permitem, apreciam o câmbio, incentivam mais o consumo do que o investimento e, afinal, levam o país à crise.

O caso argentino mostra como um desenvolvimentismo que começou competente pode derivar para o populismo fiscal e cambial ("fiscal" se o Estado gastar irresponsavelmente, "cambial" se o país como um todo fizer o mesmo).

Depois de uma brutal crise causada pela adoção de políticas ortodoxas, o peso se desvalorizou. O novo governo que surgiu da crise estabeleceu uma retenção sobre as exportações de commodities que neutralizou a doença holandesa e produziu superavit em conta corrente; ao mesmo tempo, adotou política fiscal responsável, alcançou superavit fiscais e reestruturou sua dívida externa com coragem e firmeza.

O resultado foi o surgimento de oportunidades de investimento lucrativo para as empresas. A taxa de investimento aumentou, e o país cresceu a taxas elevadíssimas durante vários anos: em média, 8,5%.

Entretanto, em 2007, a inflação, que estava em torno de 9%, saltou para 18%, devido a um crescimento acelerado dos anos anteriores.

O governo, no quadro do pleno emprego, ao invés de adotar políticas duras e ajustar a economia, segurou o câmbio para controlar a inflação, e aumentou a despesa pública. Em consequência, o peso valorizou-se 41% entre 2007 e 2012, o país perdeu competitividade e entrou em deficit em conta corrente.

Devido a essa combinação de populismo cambial e fiscal, em 2012 o crescimento do PIB foi de apenas 1,9%, enquanto surgia novamente um mercado paralelo de dólar, hoje comprado pelo dobro do preço oficial, porque o medo de nova crise cambial ressurgiu na população.

Durante um tempo, vendo a responsabilidade fiscal, o superavit em conta corrente e a neutralização da doença holandesa, acreditei que os argentinos haviam aprendido a administrar o câmbio e a garantir a competitividade do país, e que poderiam ser um exemplo de novo desenvolvimentismo para o Brasil, que até hoje não aprendeu essa lição.


Mas, com tristeza, vejo agora uma estratégia de desenvolvimento que poderia ter garantido prosperidade e estabilidade para a Argentina caminhar para o fracasso.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A Economia do Papa Francisco: "o dinheiro deve servir e não governar".


Senhores Embaixadores, 

Com alegria acolho-os por ocasião da apresentação das Cartas, que os credenciam como Embaixadores extraordinários e plenipotenciários de seus respectivos Países junto à Santa Sé: Kyrgystão, Antígua e Barbuda, Grão Ducado de Luxemburgo e Botswana.

As cordiais palavras que me dirigiram, as quais agradeço com vivo apreço, testemunham que os Chefes de Estado de seus Países desejam desenvolver as relações de estima e de colaboração com a Santa Sé. Ficaria agradecido se os senhores lhes transmitissem os meus sentimentos de gratidão e de respeito, acompanhados das minhas orações pelas suas pessoas e seus compatriotas.

Senhores Embaixadores, a humanidade vive neste momento como um retorno à própria história, considerando os progressos registrados nos vários âmbitos. Devemos louvar os resultados positivos, que concorrem para um autêntico bem-estar da humanidade, como por exemplo, no campo da saúde, da educação e da comunicação.

No entanto, devemos reconhecer também que a maior parte dos homens e das mulheres do nosso tempo continuam a viver numa precariedade quotidiana com consequências funestas. Aumentam algumas patologias, com suas consequências psicológicas; o medo e o desespero arrebatam os corações de numerosas pessoas, mesmo nos Países considerados ricos; a alegria de viver começa a diminuir; a indecência e a violência estão em aumento; a pobreza se torna mais evidente. Deve-se lutar para viver e, muitas vezes, viver com pouca dignidade.

Uma das causas desta situação, na minha opinião, consiste na relação que temos com o dinheiro, ao aceitar o seu domínio sobre nós e sobre nossas sociedades. Assim, a crise financeira, pela qual estamos atravessando, faz-nos esquecer da sua origem primordial, arraigada numa profunda crise antropológica: a negação da primazia do homem! Criamos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (Cf. Ex 32,15-34) defronta-se com uma nova e impiedosa imagem do feiticismo do dinheiro e da ditadura da economia sem fisionomia e nem objetivo realmente humano.

A crise mundial, que envolve as finanças e a economia, parece colocar em luz as suas deformações e, sobretudo, a grave falta da sua perspectiva antropológica, que reduz o homem a uma única exigência: o consumismo. E, ainda pior, o ser humano, hoje, é considerado como um bem de consumo, que se pode usar e, depois, jogar fora. Este desvio se verifica, em nível individual e social, e é favorecido! Em tal contexto, a solidariedade, tesouro dos pobres, é, muitas vezes, considerada contraproducente, contrária à racionalidade financeira e econômica.

Enquanto a renda de uma minoria aumenta, de maneira exponencial, aquela da maioria enfraquece. Este desequilíbrio deriva de ideologias, que promovem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira, negando assim o direito de controle por parte dos Estados, que também devem prover o bem comum. Instaura-se, assim, uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, unilateralmente e sem recurso possível, suas leis e suas regras. O endividamento e o crédito, outrossim, distanciam os Países e a sua economia real e os cidadãos do seu poder de aquisição real. Além do mais, pode-se acrescentar a tudo isso uma corrupção tentadora e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. O desejo de poder e de posse tornou-se ilimitado.

Atrás desta atitude oculta-se a rejeição da ética, a rejeição de Deus. Como a solidariedade, também a ética incomoda; ela é considerada contraproducente; como muito humana, porque relativiza o dinheiro e o poder; como uma ameaça, porque rejeita a manipulação e a submissão da pessoa.

A ética conduz a Deus, que se aliena das categorias do mercado. Deus é considerado, pelos financeiros, economistas e políticos, como incontrolável ou até perigoso, porque induz o homem à sua plena realização e à independência de qualquer tipo de escravidão. A ética – uma ética naturalmente não ideológica – permite, na minha opinião, criar um equilíbrio e uma ordem social mais humanos.

Neste sentido, encorajo os peritos financeiros e os governantes dos seus Países a refletirem sobre as palavras de São João Crisóstomo: «Não compartilhar com os pobres os próprios bens é roubar deles e tirar-lhes a vida. Os bens que possuímos não são nossos, mas deles» (Homilia sobre Lázaro, 1, 6 : PG 48, 992D).

Prezados Embaixadores, seria de bom augúrio fazer uma reforma financeira, que seja ética e que comporte, por sua vez, uma reforma econômica salutar para todos. No entanto, ela requereria uma corajosa mudança de atitude dos dirigentes políticos. Exorto-lhes, pois, a enfrentar este desafio com determinação e perspicácia, levando em conta, naturalmente, a peculiaridade dos seus contextos. O dinheiro deve servir e não governar!

O Papa ama todos, ricos e pobres; mas o Papa tem o dever, em nome de Cristo, de recordar ao rico que deve ajudar o pobre, respeitá-lo, promovê-lo. O papa exorta à solidariedade desinteressada e a um retorno da ética para o bem do homem, na sua realidade financeira e econômica.

A Igreja, por sua vez, trabalha sempre para o desenvolvimento integral de cada pessoa. Neste sentido, ela recorda que o bem comum não deveria ser um simples acréscimo, um simples esquema conceitual de qualidade inferior, inserido nos programas políticos.

A Igreja encoraja os governantes a estarem, realmente, a serviço do bem comum das suas populações. Ela exorta os dirigentes das realidades financeiras a levarem em consideração a ética e a solidariedade. E por que não se dirigirem a Deus para inspirar seus desígnios? Assim, poder-se-ia criar uma nova mentalidade política e econômica, a fim de contribuir para transformar a dicotomia absoluta entre a esfera econômica e a social em uma sã convivência.
Enfim, saúdo com afeto, através dos senhores, os Pastores e os fiéis das comunidades católicas presentes em seus Países. Exorto-os a continuar o seu corajoso e alegre testemunho de fé e de amor fraterno ensinados por Cristo.

Não tenham medo de oferecer a sua contribuição para o desenvolvimento dos seus Países, mediante iniciativas e atitudes inspirados nas Sagradas Escrituras! E, no momento em que inauguram a sua missão, faço-lhes, Senhores Embaixadores, as minhas melhores felicitações, assegurando a colaboração da Cúria Romana para o cumprimento da sua função.

Enfim, invoco, com prazer, sobre os senhores e seus familiares, como também sobre seus colaboradores, a abundância das Bênçãos divinas.

Palácio Apostólico do Vaticano em 16 de maio de 2013.

domingo, 7 de abril de 2013

Capitalismo de Estado ganha mais força no Brasil.


NOURIEL ROUBINI - ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE

Na FOLHA DE S. PAULO, NOURIEL ROUBINI, professor de Economia da Escola Stern de Administração de Empresas, Universidade de Nova York e presidente da Roubini Global Economics (www.roubini.com), escreve e critica o capitalismo de estado, inclusive no Brasil.

Nas quatro últimas semanas, visitei Sófia, Kuala Lumpur, Dubai, Londres, Milão, Frankfurt, Berlim, Paris, Pequim, Tóquio, Istambul e EUA. Os inúmeros desafios que a economia mundial enfrenta estavam por perto.

Na Europa, o risco de uma dissolução da zona do euro caiu depois da decisão do Banco Central Europeu, no terceiro trimestre de 2012, de intervir para sustentar os títulos de dívida nacional.

Mas os problemas fundamentais da UE - baixo potencial de crescimento, recessão continuada, perda de competitividade e endividamento - não foram resolvidos.

Além disso, o acordo entre os países centrais da zona do euro, o BCE e as nações periféricas - dolorosa austeridade em troca de apoio financeiro - está se desfazendo porque o cansaço quanto à austeridade nos países periféricos contrasta com o cansaço de resgatar dos países centrais, como a Alemanha.

Na China, a transição de líder aconteceu sem solavancos. Mas o modelo econômico continua, na definição do ex-premiê Wen Jiabao, "instável, desequilibrado, descoordenado e insustentável".

Os problemas da China são muitos: os desequilíbrios regionais; o excesso de poupança e o baixo consumo; a alta da renda e da desigualdade de renda; e a imensa degradação ambiental.

Os novos líderes do país falam convictamente da necessidade de aprofundar as reformas e reequilibrar a economia, mas continuam cautelosos e conservadores.

Como resultado, as reformas necessárias para reequilibrar a economia podem não acontecer com rapidez suficiente para impedir uma aterrissagem dura quando a contração do investimento chegar, o que deve vir no primeiro trimestre de 2014.

Na China e na Rússia (e em parte no Brasil e na Índia), o capitalismo de Estado ganhou mais força, e isso é mau sinal para o crescimento.

No geral, esses quatro países (o grupo Bric) vêm recebendo elogios exagerados, e outros emergentes podem se sair melhor na década que vem - Malásia, Filipinas e Indonésia, na Ásia; Chile, Colômbia e Peru, na América Latina; e Cazaquistão, Azerbaijão e Polônia, na Europa Oriental e na Ásia Central.

Mais a leste, o Japão inicia uma nova experiência econômica para conter a deflação, estimular o crescimento e restaurar a confiança.

O modelo econômico tem diversos componentes: estímulo monetário agressivo; um estímulo fiscal neste ano para forçar uma retomada da demanda, seguido por austeridade fiscal em 2014; reformas estruturais; e novos acordos de livre comércio.

Mas os desafios são assustadores. Não está claro que a deflação possa ser vencida por meio de política monetária; um estímulo fiscal excessivo e a postergação das medidas de austeridade podem tornar a dívida insustentável; e a reforma está indefinida.

Temos também o Oriente Médio, que continua a ser um arco de instabilidade da África do Norte ao Paquistão. A Turquia quer se tornar uma grande potência regional. Mas o país tem muitos desafios nacionais a enfrentar. O deficit em conta-corrente é alto e a política monetária parece confusa, já que o estímulo ao crescimento tromba com o controle da inflação.

Nesse ambiente mundial frágil, será que os EUA se tornaram um farol de esperança? Eles experimentam diversas tendências econômicas positivas: o mercado de habitação se recupera, a exploração de petróleo e gás em campos de xisto reduzirá os custos da energia; a criação de empregos avança; os custos trabalhistas crescentes na Ásia estimulam o renascimento da indústria; e as medidas agressivas de relaxamento quantitativo ajudam tanto a economia real quanto os mercados financeiros.

Mas ainda há riscos. O desemprego e a dívida domiciliar continuam altos. O arrasto fiscal causado pelo aumento de impostos e cortes de gastos prejudicará o crescimento, e o sistema político é disfuncional, com a polarização entre os partidos impedindo soluções sobre o deficit fiscal, imigração, política de energia e outras questões que afetam o crescimento.

A zona do euro e o Reino Unido continuam afundados em recessão, agravada pelas política monetária e fiscal dura. Entre as economias emergentes, a China pode enfrentar uma aterrissagem dura, por volta do final de 2014, se as reformas estruturais essenciais forem adiadas, e os demais países do grupo Bric precisam deixar para trás o capitalismo de Estado.

Embora outros mercados emergentes na Ásia e na América Latina estejam mostrando mais dinamismo que o grupo Bric, sua força não bastará para virar a maré mundial.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Coreia - tão perto, tão longe: socialista x capitalista? A escolha é sua.


Dois países e dois modelos políticos e econômicos com resultados contrastantes:


Coreia do Norte
Coreia do Sul
População
24.600.000
49.800.000
PIB em dólares
40 bilhões
1,1 trilhão
PIB per capita em dólares
1.800
32.400
Acesso a saneamento básico - % da população
59% 
100%
Exportações em bilhões
4,7
548
 Fonte: Exame.

Se ainda existe dúvida onde está a luz, vide a imagem abaixo:


domingo, 17 de março de 2013

A economia do Papa Francisco.


Comentário do atual Papa Francisco sobre a economia mundial:

“La crisis económico-social y el consiguiente aumento de la pobreza tiene sus causas en políticas inspiradas en formas de neoliberalismo que consideran las ganancias y las leyes de mercado como parámetros absolutos en detrimento de la dignidad de las personas y de los pueblos. En este contexto, reiteramos la convicción de que la pérdida del sentido de la justicia y la falta de respeto hacia los demás se han agudizado y nos han llevado a una situación de inequidade”. 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Um cenário pessimista.


Hoje, na FOLHA DE S. PAULO, uma entrevista pessimista com o professor de economia e ciência política Barry Eichengreen.

Ele está pessimista com o cenário que se desenha para a economia mundial. O aprofundamento da crise de confiança na Europa com o que ele vê como a provável saída da Grécia da zona do euro é a pior de suas expectativas, mas não a única ruim.

Os EUA continuam tropeçando na regulamentação do sistema bancário -- ao menos no médio prazo, um desejo mais do que uma realidade -- e os mercados emergentes ainda não dão conta de puxar o crescimento mundial como se esperava há meses.

Eichengreen, que leciona na prestigiosa Universidade de Berkley e dá palestra a convidados nesta quarta em São Paulo, está tão pessimista que está revendo seu livro mais recente, "Privilégio Exorbitante" (Campus, 2011) para corrigir a "expectativa superestimada" para a moeda única europeia e seu papel no mercado global.

"Ninguém que escrevesse há dois anos poderia imaginar quão incompetentes seriam os esforços da Europa em lidar com a crise seriam", disse ele à Folha

Folha - Há um desencanto nos últimos meses com os mercados emergentes, particularmente com o Brasil, após taxas de crescimento mornas. O "hype" foi exagerado ou os emergentes não deram conta de puxar o crescimento global sozinhos, como alguns esperavam?
Barry Eichengreen - O "hype" foi excessivo, sem dúvida. Muito do que vimos reflete o crescimento insustentavelmente alto da China, que alimentou sua demanda por exportações de produtos básicos do Brasil e da Rússia. Nenhuma economia cresce a 10% ao ano para sempre.
Também acho que economias como o Brasil poderiam ter feito mais para conter o crescimento dos gastos e o endividamento da população nos momentos de pico, para que houvesse mais espaço hoje para incentivar os gastos domésticos.

Um ano e meio após o lançamento de "Privilégio Exorbitante", o sr. acrescentaria algo à sua análise? Vimos o dólar se recuperar, em alguma medida, mas os obstáculos a manutenção de seu status como moeda internacional continuam lá.
A nova edição, que sai no mês que vem, terá um prefácio que responde isso. Claramente, o livro superestimou a perspectiva do euro em emergir como uma moeda internacional de primeira linha -- e ninguém que escrevesse há dois anos poderia imaginar quão incompetentes seriam os esforços da Europa em lidar com a crise.
Mas ele também subestimou o progresso que a China faria em internacionalizar o yuan. As iniciativas políticas mais recentes são impressionantes, e o yuan está aí, mais rápido do que se imaginava.
Apesar do debate sobre regulamentação do mercado financeiro, ainda há muita resistência dos grandes bancos privados. Episódios recentes, como o do HSBC, mostram que estamos longe do equilíbrio, embora haja mais atenção ao tema.

O que é necessário, no curto prazo, para garantir que o sistema financeiro não provoque outra crise, e quais são os obstáculos à regulamentação efetiva?
Os bancos são politicamente poderosos; nos EUA eles são grandes doadores e fazem parte das Comissões Bancárias do Senado e da Câmara, que criam as leis de regulamentação. Com isso, não surpreende que não tenha acontecido uma varredura dessas instituições nem mesmo depois da crise.
Eu gostaria de ver os grandes bancos quebrarem, a reinstituição adequada da Lei Glass-Steagall [promulgada em 1933 para conter a especulação e revogada em 1999] e exigências de capital muito maiores para esses bancos. Mas sou cínico demais para acreditar que ocorra na minha geração.

Alguns analistas e economistas preveem um colapso do euro. O sr. vê esse risco? E se as economias menores e mais problemáticas, como a Grécia, deixarem a zona do euro, isso pode levar a um colapso total ou, ao contrário, tornaria os demais países-membros mais saudáveis?
Certamente o risco está lá, menos pelas razões econômicas (os passos econômicos que a Europa precisa para resolver a crise são claros) e mais por razões políticas.
Há uma deterioração da confiança política na Europa: os países não confiam uns nos outros, e a população não confia em seus governos. Isso torna muito difícil, embora não impossível, implementar as políticas econômicas necessárias.
A essa altura, a saída da Grécia da zona do euro é praticamente certa, não porque não haja medidas econômicas para evitá-la, mas porque não há mais desejo político de evitar. Isso vai prejudicar o restante da zona do euro.
Uma vez que um país possa sair, os investidores começarão a perguntar qual é o próximo. A falta de confiança virará um problema que levará muito tempo para se resolver.

Qual seria a consequência de um colapso?
Honestamente, ninguém sabe, pois nunca houve o colapso de uma união monetária. Duvido que seja um processo ªadministrávelº. Os estragos seriam muito mais graves do que os causados pelo fim da conversibilidade na Argentina, em 2001-2 [quando o país abandonou a paridade cambial com o dólar e deu calote].

E se tudo der errado com o dólar e o euro, o que países como a China e o Brasil teriam de fazer para que suas moedas de fato se tornassem moedas internacionais?
Não acho que nem o yuan nem o real possam ser moedas internacionais de peso nos próximos 10 ou 20 anos. O Brasil e a China teriam de aumentar a escala de seus mercados financeiros, aumentar sua liquidez e fortalecer a estabilidade macroeconômica. A China teria de abrir comercialmente seus bancos e abandonar os controles de capital. O Brasil teria de acabar com os impostos à entrada de dinheiro estrangeiro. É um processo que levaria décadas, e não anos.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...