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segunda-feira, 22 de março de 2021

Carta Aberta à Sociedade Referente a Medidas de Combate à Pandemia.

O País Exige Respeito; a Vida Necessita da Ciência e do Bom Governo


Carta Aberta à Sociedade Referente a Medidas de Combate à Pandemia


O Brasil é hoje o epicentro mundial da covid-19, com a maior média móvel de novos casos. Enquanto caminhamos para atingir a marca tétrica de 3.000 mortes por dia e um total de mortes acumuladas de 300.000 ainda esse mês, o quadro fica ainda mais alarmante com o esgotamento dos recursos de saúde na grande maioria de Estados, com insuficiente número de leitos de UTI, respiradores e profissionais de saúde. Essa situação tem levado a mortes de pacientes na espera pelo atendimento, contribuindo para uma maior letalidade da doença. A situação econômica e social é desoladora. O PIB encolheu 4,1% em 2020 e provavelmente observaremos uma contração no nível de atividade no primeiro trimestre deste ano. A taxa de desemprego, por volta de 14%, é a mais elevada da série histórica, e subestima o aumento do desemprego, pois a pandemia fez com que muitos trabalhadores deixassem de procurar emprego, levando a uma queda da força de trabalho entre fevereiro e dezembro de 5,5 milhões de pessoas. A contração da economia afetou desproporcionalmente trabalhadores mais pobres e vulneráveis, com uma queda de 10,5% no número de trabalhadores informais empregados, aproximadamente duas vezes a queda proporcional no número de trabalhadores formais empregados.


Esta recessão, assim como suas consequências sociais nefastas, foi causada pela pandemia e não será superada enquanto a pandemia não for controlada por uma atuação competente do Governo federal. Este subutiliza ou utiliza mal os recursos de que dispõe, inclusive por ignorar ou negligenciar a evidência científica no desenho das ações para lidar com a pandemia. Sabemos que a saída definitiva da crise requer a vacinação em massa da população. Infelizmente, estamos atrasados. Em torno de 5% da população recebeu ao menos uma dose de vacina, o que nos coloca na 45ª posição no ranking mundial de doses aplicadas por habitante.


O ritmo de vacinação no país é insuficiente para vacinar os grupos prioritários do Plano Nacional de Imunização (PNI) no 1º semestre de 2021, o que amplia o horizonte de vacinação para toda a população para meados de 2022.


As consequências são inomináveis. No momento, o Brasil passa por escassez de doses de vacina, com recorrentes atrasos no calendário de entregas e revisões para baixo na previsão de disponibilidade de doses a cada mês. Na semana iniciada em 8 de março foram aplicadas, em média, apenas 177.000 doses por dia.


No ritmo atual, levaríamos mais de 3 anos para vacinar toda a população. O surgimento de novas cepas no país (em especial a P.1) comprovadamente mais transmissíveis e potencialmente mais agressivas, torna a vacinação ainda mais urgente. A disseminação em larga escala do vírus, além de magnificar o número de doentes e mortos, aumenta a probabilidade de surgirem novas variantes com potencial de diminuir a eficácia das vacinas atuais. Vacinas são relativamente baratas face ao custo que a pandemia impõe à sociedade. Os recursos federais para compra de vacinas somam 22 bilhões de reais, uma pequena fração dos 327 bilhões de reais desembolsados nos programas de auxílio emergencial e manutenção do emprego no ano de 2020.


Vacinas têm um benefício privado e social elevado, e um custo total comparativamente baixo. Poderíamos estar em melhor situação, o Brasil tem infraestrutura para isso. Em 1992, conseguimos vacinar 48 milhões de crianças contra o sarampo em apenas um mês.


Na campanha contra a covid-19, se estivéssemos vacinando tão rápido quanto a Turquia, teríamos alcançado uma proporção da população duas vezes maior, e se tanto quanto o Chile, dez vezes maior. A falta de vacinas é o principal gargalo. Impressiona a negligência com as aquisições, dado que, desde o início da pandemia, foram desembolsados 528,3 bilhões de reais em medidas de combate à pandemia, incluindo os custos adicionais de saúde e gastos para mitigação da deteriorada situação econômica. A redução do nível da atividade nos custou uma perda de arrecadação tributária apenas no âmbito federal de 6,9%, aproximadamente 58 bilhões de reais, e o atraso na vacinação irá custar em termos de produto ou renda não gerada nada menos do que estimados 131,4 bilhões de reais em 2021, supondo uma recuperação retardatária em dois trimestres.


Nesta perspectiva, a relação benefício custo da vacina é da ordem de seis vezes para cada real gasto na sua aquisição e aplicação. A insuficiente oferta de vacinas no país não se deve ao seu elevado custo, nem à falta de recursos orçamentários, mas à falta de prioridade atribuída à vacinação.


O quadro atual ainda poderá deteriorar-se muito se não houver esforços efetivos de coordenação nacional no apoio a governadores e prefeitos para limitação de mobilidade. Enquanto se busca encurtar os tempos e aumentar o número de doses de vacina disponíveis, é urgente o reforço de medidas de distanciamento social. Da mesma forma é essencial a introdução de incentivos e políticas públicas para uso de máscaras mais eficientes, em linha com os esforços observados na União Europeia e nos Estados Unidos.


A controvérsia em torno dos impactos econômicos do distanciamento social reflete o falso dilema entre salvar vidas e garantir o sustento da população vulnerável. Na realidade, dados preliminares de óbitos e desempenho econômico sugerem que os países com pior desempenho econômico tiveram mais óbitos de covid-19. A experiência mostrou que mesmo países que optaram inicialmente por evitar o lockdown terminaram por adotá-lo, em formas variadas, diante do agravamento da pandemia —é o caso do Reino Unido, por exemplo. Estudos mostraram que diante da aceleração de novos casos, a população responde ficando mais avessa ao risco sanitário, aumentando o isolamento voluntário e levando à queda no consumo das famílias mesmo antes ou sem que medidas restritivas formais sejam adotadas. A recuperação econômica, por sua vez, é lenta e depende da retomada de confiança e maior previsibilidade da situação de saúde no país.


Logo, não é razoável esperar a recuperação da atividade econômica em uma epidemia descontrolada. O efeito devastador da pandemia sobre a economia tornou evidente a precariedade do nosso sistema de proteção social. Em particular, os trabalhadores informais, que constituem mais de 40% da força de trabalho, não têm proteção contra o desemprego. No ano passado, o auxílio emergencial foi fundamental para assistir esses trabalhadores mais vulneráveis que perderam seus empregos, e levou a uma redução da pobreza, evidenciando a necessidade de melhoria do nosso sistema de proteção social.


Enquanto a pandemia perdurar, medidas que apoiem os mais vulneráveis, como o auxílio emergencial, se fazem necessárias. Em paralelo, não devemos adiar mais o encaminhamento de uma reforma no sistema de proteção social, visando aprimorar a atual rede de assistência social e prover seguro aos informais. Uma proposta nesses moldes é o programa de Responsabilidade Social, patrocinado pelo Centro de Debate de Políticas Públicas, encaminhado para o Congresso no final do ano passado. Outras medidas de apoio às pequenas e médias empresas também se fazem necessárias. A experiência internacional com programas de aval público para financiamento privado voltado para pequenos empreendedores durante um choque negativo foi bem-sucedida na manutenção de emprego, gerando um benefício líquido positivo à sociedade.


O aumento em 34,7% do endividamento dos pequenos negócios durante a pandemia amplifica essa necessidade. A retomada de linhas avalizadas pelo Fundo Garantidor para Investimentos e Fundo de Garantia de Operações é uma medida importante de transição entre a segunda onda e o pós-crise.


Estamos no limiar de uma fase explosiva da pandemia e é fundamental que a partir de agora as políticas públicas sejam alicerçadas em dados, informações confiáveis e evidência científica. Não há mais tempo para perder em debates estéreis e notícias falsas. Precisamos nos guiar pelas experiências bem-sucedidas, por ações de baixo custo e alto impacto, por iniciativas que possam reverter de fato a situação sem precedentes que o país vive. Medidas indispensáveis de combate à pandemia: a vacinação em massa é condição sine qua non para a recuperação econômica e redução dos óbitos.


1. Acelerar o ritmo da vacinação. O maior gargalo para aumentar o ritmo da vacinação é a escassez de vacinas disponíveis. Deve-se, portanto, aumentar a oferta de vacinas de forma urgente. A estratégia de depender da capacidade de produção local limitou a disponibilidade de doses ante a alternativa de pré-contratar doses prontas, como fez o Chile e outros países. Perdeu-se um tempo precioso e a assinatura de novos contratos agora não garante oferta de vacinas em prazo curto. É imperativo negociar com todos os laboratórios que dispõem de vacinas já aprovadas por agências de vigilância internacionais relevantes e buscar antecipação de entrega do maior número possível de doses. Tendo em vista a escassez de oferta no mercado internacional, é fundamental usar a política externa ―desidratada de ideologia ou alinhamentos automáticos― para apoiar a obtenção de vacinas, seja nos grandes países produtores seja nos países que têm ou terão excedentes em breve. A vacinação é uma corrida contra o surgimento de novas variantes que podem escapar da imunidade de infecções passadas e de vacinas antigas. As novas variantes surgidas no Brasil tornam o controle da pandemia mais desafiador, dada a maior transmissibilidade.


Com o descontrole da pandemia é questão de tempo até emergirem novas variantes. O Brasil precisa ampliar suas capacidades de sequenciamento genômico em tempo real, de compartilhar dados com a comunidade internacional e de testar a eficácia das vacinas contra outras variantes com máxima agilidade. Falhas e atrasos nesse processo podem colocar em risco toda a população brasileira, e também de outros países.


2. Incentivar o uso de máscaras tanto com distribuição gratuita quanto com orientação educativa. Economistas estimaram que se os Estados Unidos tivessem adotado regras de uso de máscaras no início da pandemia poderiam ter reduzido de forma expressiva o número de óbitos. Mesmo se um usuário de máscara for infectado pelo vírus, a máscara pode reduzir a gravidade dos sintomas, pois reduz a carga viral inicial que o usuário é exposto. Países da União Europeia e os Estados Unidos passaram a recomendar o uso de máscaras mais eficientes ―máscaras cirúrgicas e padrão PFF2/N95― como resposta às novas variantes. O Brasil poderia fazer o mesmo, distribuindo máscaras melhores à população de baixa renda, explicando a importância do seu uso na prevenção da transmissão da covid. Máscaras com filtragem adequada têm preços a partir de 3 reais a unidade. A distribuição gratuita direcionada para pessoas sem condições de comprá-las, acompanhada de instrução correta de reuso, teria um baixo custo frente aos benefícios de contenção da covid-19. Considerando o público do auxílio emergencial, de 68 milhões de pessoas, por exemplo, e cinco reúsos da máscara, tal como recomenda o Center for Disease Control do EUA, chegaríamos a um custo mensal de 1 bilhão de reais. Isto é, 2% do gasto estimado mensal com o auxílio emergencial. Embora leis de uso de máscara ajudem, informar corretamente a população e as lideranças darem o exemplo também é importante, e tem impacto na trajetória da epidemia. Inversamente, estudos mostram que mensagens contrárias às medidas de prevenção afetam a sua adoção pela população, levando ao aumento do contágio.


3. Implementar medidas de distanciamento social no âmbito local com coordenação nacional. O termo “distanciamento social” abriga uma série de medidas distintas, que incluem a proibição de aglomeração em locais públicos, o estímulo ao trabalho a distância, o fechamento de estabelecimentos comerciais, esportivos, entre outros, e ―no limite― escolas e creches. Cada uma dessas medidas tem impactos sociais e setoriais distintos. A melhor combinação é aquela que maximize os benefícios em termos de redução da transmissão do vírus e minimize seus efeitos econômicos, e depende das características da geografia e da economia de cada região ou cidade. Isso sugere que as decisões quanto a essas medidas devem ser de responsabilidade das autoridades locais.


Com o agravamento da pandemia e esgotamento dos recursos de saúde, muitos estados não tiveram alternativa senão adotar medidas mais drásticas, como fechamento de todas as atividades não essenciais e o toque de recolher à noite. Os gestores estaduais e municipais têm enfrentado campanhas contrárias por parte do governo federal e dos seus apoiadores. Para maximizar a efetividade das medidas tomadas, é indispensável que elas sejam apoiadas, em especial pelos órgãos federais. Em particular, é imprescindível uma coordenação em âmbito nacional que permita a adoção de medidas de caráter nacional, regional ou estadual, caso se avalie que é necessário cercear a mobilidade entre as cidades e/ou estados ou mesmo a entrada de estrangeiros no país. A necessidade de adotar um lockdown nacional ou regional deveria ser avaliado. É urgente que os diferentes níveis de governo estejam preparados para implementar um lockdown emergencial, definindo critérios para a sua adoção em termos de escopo, abrangência das atividades cobertas, cronograma de implementação e duração.


Ademais, é necessário levar em consideração que o acréscimo de adesão ao distanciamento social entre os mais vulneráveis depende crucialmente do auxílio emergencial. Há sólida evidência de que programas de amparo socioeconômico durante a pandemia aumentaram o respeito às regras de isolamento social dos beneficiários. É, portanto, não só mais justo como mais eficiente focalizar a assistência nas populações de baixa renda, que são mais expostas nas suas atividades de trabalho e mais vulneráveis financeiramente. Dentre a combinação de medidas possíveis, a questão do funcionamento das escolas merece atenção especial. Há estudos mostrando que não há correlação entre aumento de casos de infecção e reabertura de escolas no mundo. Há também informações sobre o nível relativamente reduzido de contágio nas escolas de São Paulo após sua abertura.


As funções da escola, principalmente nos anos do ensino fundamental, vão além da transmissão do conhecimento, incluindo cuidados e acesso à alimentação de crianças,liberando os pais ―principalmente as mães― para o trabalho. O fechamento de escolas no Brasil atingiu de forma mais dura as crianças mais pobres e suas mães. A evidência mostra que alunos de baixa renda, com menor acesso às ferramentas digitais, enfrentam maiores dificuldade de completar as atividades educativas, ampliando a desigualdade da formação de capital humano entre os estudantes. Portanto, as escolas devem ser as últimas a fechar e as primeiras a reabrir em um esquema de distanciamento social. Há aqui um papel fundamental para o Ministério da Educação em cooperação com o Ministério da Saúde na definição e comunicação de procedimentos que contribuam para a minimização dos riscos de contágio nas escolas, além do uso de ferramentas comportamentais para retenção da evasão escolar, como o uso de mensagens de celular como estímulo para motivar os estudantes, conforme adotado em São Paulo e Goiás.


4. Criar mecanismo de coordenação do combate à pandemia em âmbito nacional ―preferencialmente pelo Ministério da Saúde e, na sua ausência, por consórcio de governadores―, orientada por uma comissão de cientistas e especialistas, se tornou urgente. Diretrizes nacionais são ainda mais necessárias com a escassez de vacinas e logo a necessidade de definição de grupos prioritários; com as tentativas e erros no distanciamento social; a limitada compreensão por muitos dos pilares da prevenção,particularmente da importância do uso de máscara, e outras medidas no âmbito do relacionamento social. Na ausência de coordenação federal, é essencial a concertação entre os entes subnacionais, consórcio para a compra de vacinas e para a adoção de medidas de supressão.


O papel de liderança: Apesar do negacionismo de alguns poucos, praticamente todos os líderes da comunidade internacional tomaram a frente no combate ao Covid-19 desde março de 2020, quando a OMS declarou o caráter pandêmico da crise sanitária. Informando, notando a gravidade de uma crise sem precedentes em 100 anos, guiando a ação dos indivíduos e influenciado o comportamento social. Líderes políticos, com acesso à mídia e às redes, recursos de Estado, e comandando atenção, fazem a diferença: para o bem e para o mal. O desdenho à ciência, o apelo a tratamentos sem evidência de eficácia, o estímulo à aglomeração, e o flerte com o movimento antivacina, caracterizou a liderança política maior no país. Essa postura reforça normas antissociais, dificulta a adesão da população a comportamentos responsáveis, amplia o número de infectados e de óbitos, aumenta custos que o país incorre. O país pode se sair melhor se perseguimos uma agenda responsável. O país tem pressa; o país quer seriedade com a coisa pública; o país está cansado de ideias fora do lugar, palavras inconsequentes, ações erradas ou tardias. O Brasil exige respeito.


Assinam essa carta:


Affonso Celso Pastore


Alexandre Lowenkron


Alexandre Rands


Alexandre Schwartsman


Álvaro de Souza


Amanda de Albuquerque


Ana Carla Abrão


Ana Maria Barufi


André de Castro Silva


André Luis Squarize Chagas


André Magalhães


André Portela


Andrea Lucchesi


Angélica Maria de Queiroz


Anna Olimpia de Moura Leite


Antônio Márcio Buainain Aod Cunha


Armínio Fraga


Beny Parnes


Bernard Appy


Bráulio Borges


Braz Camargo


Bruno Imaizumi


Carla Jucá Amrein C. de Andrade


Carlos Alberto Manso


Carlos Ari Sundfeld


Carlos Brunet Martins Filho


Carlos Góes


Carolina Grottera


Cassiana Fernandez


Celso de Campos Toledo Neto


Cesar Hideki Yamamoto


Christiano Penna


Claudia Sussekind Bird


Claudio Considera


Cláudio Frischtak


Claudio Ribeiro de Lucinda


Cleveland Prates


Cosmo De Donato Junior


Cristian Andrei


Cristiane Alkmin Junqueira Schmidt


Daniel Cerqueira


Daniel Gleizer


Danielle Carusi Machado


Danilo Camargo Igliori


Demósthenes Madureira de Pinho Neto


Dércio de Assis


Dimitri Szerman


Edmar Bacha


Eduardo Amaral Haddad


Eduardo Augusto Guimarães


Eduardo Mazzilli de Vassimon


Eduardo Pontual


Eduardo Souza-Rodrigues


Eduardo Weber


Eduardo Zilberman


Eduardo Zylberstajn


Eleazar de Carvalho


Elena Landau


Eloá Sales Davanzo


Fabiana Rocha


Fábio Barbosa


Fabio Giambiagi


Fábio Moraes


Fábio Romão


Fábio Xavier da Silveira Rosa


Felipe de Mendonça Lopes


Felipe Imperiano


Felipe Salto


Fernando Genta


Fernando Postali


Fernando Veloso


Flávio Ataliba


Francisco Ramos


Francisco Soares de Lima


Franklin Gonçalves


Gabriella Seiler


Genaro Lins


Giovanna Ribeiro


Guilherme Irffi


Guilherme Tinoco


Guilherme Valle Moura


Gustavo Gonzaga


Gustavo Loyola


Gustavo Madi Rezende


Helcio Tokeshi


Helena Arruda Freire


Henrique Félix


Henrique Vicente


Horácio Lafer Piva


Humberto Moreira


Ilan Goldfajn


Isacson Casiuch


Jéssica de Araújo Silva Caieiro


Joana C.M. Monteiro


Joana Naritomi


João Antunes Ramos


João Carlos Nicolini de Morais


João Mário de França


José Augusto Fernandes


José Luiz Chabassus Maia


José Monforte


José Olympio Pereira


José Roberto Mendonça de Barros


José Tavares de Araujo


Josué Alfredo Pellegrini


Júlia Fontes


Juliana Camargo


Juliano Assunção


Laísa Rachter


Laura de Carvalho Schiavon


Laura Karpuska


Leandro Piquet Carneiro


Leane Naidin


Leany Barreiro


Lemos Leonardo Coviello Regazzini


Leonardo Monteiro Monasterio


Leonardo Rezende


Lucas M. Novaes


Lucia Hauptmann


Luciano Losekann


Luciene Pereira


Luís Meloni


Luis Terepins


Maílson da Nóbrega


Manoel Pires


Manuel Thedim


Marcela Carvalho Ferreira de Mello


Marcelo André Steuer


Marcelo Barbará


Marcelo Cunha Medeiros


Marcelo de Paiva Abreu


Marcelo F. L. Castro


Marcelo Fernandes


Marcelo Justus


Marcelo Kfoury


Marcelo Leite de Moura e Silva


Marcelo Pereira Lopes de Medeiros


Marcelo Trindade


Marcílio Marques Moreira


Márcio Garcia


Márcio Holland


Márcio Issao Nakane


Marco Bonomo


Marcos Lederman


Marcos Ross Fernandes


Maria Alice Moz-Christofoletti


Maria Cristina Pinotti


Maria Dolores Montoya Diaz


Maria Gabriela Mazoni do Nascimento Mário Ramos Ribeiro


Marisa Moreira Salles


Maurício Canêdo Pinheiro


Mauro Rodrigues


Michael Burt


Miguel Nathan Foguel


Mônica Viegas Andrade


Naercio Menezes Filho


Natália Nunes Ferreira-Batista


Natalie Victal


Nilson Teixeira


Octavio de Barros


Otaviano Canuto


Patrícia Franco Ravaioli


Paula Carvalho Pereda


Paula Magalhães


Paulo Guilherme Correa


Paulo Hartung


Paulo Henrique de Oliveira


Paulo Hermanny


Paulo Ribeiro


Paulo Tafner


Pedro Bodin de Moraes


Pedro Cavalcanti Ferreira


Pedro Henrique Salerno


Pedro Henrique Thibes Forquesato


Pedro Malan


Pedro Moreira Salles


Pedro Vasconcelos Maia do Amaral


Persio Arida


Priscilla Albuquerque Tavares


Rafael B. Barbosa


Rafael Dix-Carneiro


Regina Madalozzo


Renato Fragelli


Renê Garcia Jr.


Ricardo de Abreu Madeira


Ricardo Markwald


Roberto Bielawski


Roberto Iglesias


Roberto Olinto


Roberto Setúbal


Rodger Barros Antunes Campos


Rodrigo Lanna Franco da Silveira


Rodrigo Menon S. Moita


Rodrigo Nishida


Rogério Furquim Werneck


Rubens Ricupero


Ruy Ribeiro


Sabino da Silva Porto Júnior


Samira Schatzmann


Samuel Pessoa


Sandra Rios


Sérgio Besserman Vianna


Sergio MargulisSilvia Matos


Solange Srour


Stephanie Kestelman


Synthia Santana


Thomas Conti


Thomas Kang


Tiago Cavalcanti


Tomás Urani


Tuanne Ferreira Dias


Vagner Ardeo


Verônica Lazarini Cardoso


Victor Alexandre de Paula Lopes


Vilma da Conceição Pinto


Vinicius Carrasco


Vinícius de Oliveira Botelho


Vitor Pereira


Walter Novaes


Wilfredo Leiva Maldonado

domingo, 20 de dezembro de 2020

O GLOBO: Covid-19 - Fique em casa.

É tempo de Papai Noel — e de coronavírus. As festas de fim de ano se aproximam. Sempre motivo para júbilo, tornaram-se uma enorme preocupação. No encerramento de um 2020 tisnado pela mais devastadora pandemia em cem anos, não há espaço para comemorações feéricas. A Covid-19 já matou mais de 185 mil brasileiros. Uma nova e mortífera onda de contágio já mata mais de mil por dia. A situação do país é crítica e, embora a vacina esteja num horizonte não tão distante, não há espaço para brincar com vidas humanas.

O Observatório Covid-19 BR, iniciativa independente que reúne cerca de 80 cientistas ligados às principais instituições brasileiras de pesquisa, lançou um alerta: “A catástrofe que se anuncia não vai se reverter de forma natural. A lógica de multiplicação de casos é simples e incomplacente: novos casos geram outros novos casos”. No estado do Rio, afirma a análise, as internações aumentam desde outubro. Não há leitos de UTI disponíveis para novos pacientes da doença. Em São Paulo, os índices de lotação já são semelhantes aos registrados em setembro — e crescem. Em Salvador, a ocupação das UTIs está em 75%. Em Santa Catarina, o número de mortes aumentou 300% desde o início de novembro. Minas, Paraná e Rio Grande do Sul têm registrado aumentos diários superiores a 1% nas mortes — um crescimento explosivo.

No Paraná, um dos estados mais atingidos, o Natal será sob toque de recolher. Desde ontem, a medida, que vigorará até o dia 28, restringe a circulação entre 23h e 5h, preservados os serviços essenciais. O governador Ratinho Júnior justificou a decisão apresentando a demanda por leitos exclusivos de Covid-19, superior à capacidade disponível.

As tradicionais comemorações da virada do ano, com aglomerações e gestos de confraternização, representam um risco temerário num momento em que o contágio volta a acelerar em quase todo o país. De forma sensata, cidades suspenderam suas festas oficiais de réveillon. Ainda em julho, a prefeitura de São Paulo anunciou o cancelamento do evento na Avenida Paulista. Naquele mesmo mês, a prefeitura do Rio informou que a tradicional queima de fogos na Praia de Copacabana estava descartada. A ideia era realizar pequenos shows em diferentes pontos da cidade, sem presença de público, transmitidos pela TV e internet. No último dia 15, porém, o prefeito Marcelo Crivella mudou de ideia e disse que não haverá mais comemoração oficial. Mesmo assim, quiosques da orla já preparavam suas festas de réveillon, autorizadas pela prefeitura. O Ministério Público Federal pôs água no champanhe: entrou com uma ação civil contra as autoridades, e a própria prefeitura tratou de proibi-las.

Melhor assim. Nada há para festejar, a não ser o encerramento de um ano que ficará marcado como um dos mais trágicos de nossa história. O Rio já perdeu quase 25 mil vidas para a Covid-19 e registra a maior taxa de mortalidade do país, de acordo com levantamento do MonitoraCovid-19, da Fiocruz (131 óbitos por cem mil habitantes). O aumento nos casos e nas mortes, bem como a dramática falta de leitos para Covid-19 nos hospitais têm sido tratados de forma amadora pelo governador Cláudio Castro e pelo prefeito Crivella. As medidas de restrição para deter a transmissão do vírus foram tímidas e questionáveis.

Mesmo com o cancelamento de eventos, persiste a preocupação com festas particulares e reuniões familiares de Natal e Ano Novo. Não custa lembrar o exemplo dos Estados Unidos, onde os casos explodiram após o tradicional Dia De Ação de Graças. O país já soma mais de 300 mil mortos — quase o total das vítimas das guerras do Vietnã e da Coreia. Na última semana, um só dia registrou 3.611 mortes (nos atentados de 11 de Setembro, morreram 2.977 ao todo). A perspectiva para o Brasil não é menos trágica. “Teremos o janeiro mais triste de nossa história, porque falhamos em trazer uma consciência cívica da gravidade do que estamos vivendo”, afirmou a pneumologista Margareth Dalcolmo no debate “E Agora, Brasil?”.

Não há dúvida de que as reuniões familiares são uma tradição nesta época do ano e de que o cancelamento de festas de réveillon traz prejuízos irrecuperáveis a cidades como o Rio. Mas vive-se um 2020 atípico. Para tomar a vacina que está chegando, será preciso sobreviver. Aglomerações devem ser evitadas a todo custo, e as normas de prevenção, respeitadas para que não se amplie a catástrofe.

Se a festa for inevitável, é fundamental seguir as orientações da Fiocruz para reduzir o risco de contágio em reuniões familiares: limitar as comemorações a quem mora na mesma casa. Para quem for sair, a recomendação é usar máscaras quando não estiver comendo ou bebendo, manter distância de pelo menos dois metros, preferir ambientes ao ar livre, lavar as mãos após usar objetos compartilhados etc.

“Não podemos colocar a perder todo o esforço feito até agora. Com o aumento de casos e a saturação do sistema de saúde em vários estados, somados às festas de final de ano que se aproximam, é imperativo que medidas sejam tomadas com a urgência necessária, de modo que possamos reduzir o número de vidas perdidas”, afirmam os cientistas do Observatório Covid-19 BR. “Fiquemos em casa nesta época que se aproxima. Podemos estabelecer um novo calendário para nossas festas. Fazendo isso, teremos reencontros seguros e felizes em breve, e cada um de nós poderá dizer, às gerações futuras, que fez sua parte na luta contra esta epidemia que tanto nos ameaça.”

O GLOBO RECOMENDA

https://oglobo.globo.com/opiniao/fique-em-casa-nas-festas-de-fim-de-ano-1-24803642

terça-feira, 29 de setembro de 2020

DW: Mundo ultrapassa marca de 1 milhão de mortes por covid-19.

https://www.dw.com/pt-br/mundo-ultrapassa-marca-de-1-milh%C3%A3o-de-mortes-por-covid-19/a-55088207

Folha: Um milhão de mortos.

 https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/09/um-milhao-de-mortos.shtml

Os serviços de saúde contabilizam um milhão de mortes pela Covid-19 no planeta, passados apenas 260 dias da notificação do primeiro óbito, na China. A marcha hiperbólica do novo coronavírus já infectou mais de 33 milhões, oficialmente.

Embora as eclosões iniciais tenham ocorrido na Ásia, foi a passagem da pandemia pela Europa que deixou patente a virulência do patógeno. Os sistemas de saúde italiano e espanhol entraram em colapso. Com exceção da Alemanha, as nações europeias ocidentais mais populosas atingiram mortalidades brutas mínimas da ordem de 50 óbitos para 100 mil habitantes.

Isso ocorreu em países cujas taxas anuais de mortes por doenças infeciosas e parasitárias normalmente não passam de 5 por 100 mil.

Nas Américas, apesar de os países terem tido mais tempo para se preparar, a destruição de vidas pela pandemia, infelizmente, não tem ficado nada a dever para o velho continente, antes pelo contrário.

As taxas de Brasil (67), Estados Unidos (62) e México (59), onde vivem mais de 670 milhões de pessoas, alarmam não só pela magnitude, mas também pelo fato de essas nações ainda não terem demonstrado controle da infecção.

No caso brasileiro, em relação ao ocorrido na Europa, as curvas de mortes desenvolveram um arco menos acelerado no início, mas bem mais persistente ao longo do tempo. É o retrato, em larga medida, de um combate débil do vírus.

Ao presidente da República não faltou apenas o senso da mobilização nacional que o tema exigia. Desde cedo portou-se irresponsavelmente, como o chefe dos negacionistas, a propagar falsidades científicas e mensagens contrárias às medidas de isolamento decretadas por governadores e prefeitos, sem as quais a tragédia seria maior.

Faltaram testes na quantidade, nos locais e no tempo necessários. A mitigação dos danos econômicos foi parcialmente satisfeita com o auxílio emergencial, mas na educação dezenas de milhões de crianças e jovens tiveram as atividades escolares suspensas sem a devida prestação pedagógica a distância.

As políticas de resguardo e a estrutura do SUS contribuíram para que, na maioria das cidades, a capacidade de atendimento dos casos que requeriam internação e cuidado intensivo não fosse engolfada.

A maior expectativa, sem dúvida, repousa na chegada das primeiras vacinas, cuja aplicação em caráter emergencial deve começar a ser liberada, inclusive no Brasil, entre o final de 2020 e o início de 2021.

A depender das características das vacinas, tais como a eficácia, uma dada estratégia de saúde pública será exigida. Que atitudes extravagantes de autoridades não voltem a atrapalhar, desta vez na etapa decisiva do controle da infecção.

editoriais@grupofolha.com.br

sábado, 8 de agosto de 2020

Reuters: Com 100 mil mortes, Covid mata em menos de 6 meses mesmo número de brasileiros que HIV matou em 9 anos.

 https://br.reuters.com/article/topNews/idBRKCN253336-OBRTP

O Globo: 100 mil mortos, uma tragédia do tamanho do Brasil.

 https://oglobo.globo.com/opiniao/100-mil-mortos-uma-tragedia-do-tamanho-do-brasil-1-24574686

Em 17 de março, quando o Brasil registrava 290 casos e apenas uma morte pelo novo coronavírus, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, previu que os números cresceriam exponencialmente até o fim de junho. Em julho estabilizariam e, em agosto, começariam a cair. Num cenário em que os fatos correm mais que o tempo, quase cinco meses depois, não há mais Mandetta, exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro em 16 de abril. Agosto está aí — e o panorama é um país ainda perdido em meio ao avanço da Covid-19. Os infectados passam de 2,9 milhões, e os mortos chegam à marca macabra de 100 mil. Para ter ideia da dimensão da catástrofe, o contingente supera a soma de duas conhecidas tragédias nacionais: todos os óbitos no trânsito (40.721) e todos os assassinatos (41.635) em 2019.

Não se chegou a tal número por acaso. Ele foi construído cotidianamente, por erros e omissões de um governo que trocou a Ciência pelo obscurantismo. Claro que governadores e prefeitos — com autonomia dada pelo STF para impor medidas de restrição e liberdade para fazer compras emergenciais (muitas das quais viraram caso de polícia) — também deixaram suas digitais na hecatombe. Mas é inequívoca a responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro, a quem cabia, por meio do Ministério da Saúde, coordenar o combate à mais letal pandemia em cem anos.

Bolsonaro começou minimizando a pandemia. Tratou a doença como “gripezinha” e, questionado sobre os mortos, soltou um revoltante “E daí?”. Mais preocupado com seu projeto de reeleição, atacou o isolamento social decretado por governadores e prefeitos — eficaz para impedir o avanço da doença na falta de vacinas ou remédios — e pregou a reabertura imediata das atividades. Alegou que a população não morreria de Covid, mas de fome. Simulou um falso dilema, já que, quanto antes a epidemia estiver controlada, mais rapidamente a economia voltará a girar.

O Ministério da Saúde é o melhor exemplo do pouco caso com a epidemia. Em menos de quatro meses, foram três ministros. Mandetta e seu substituto, Nelson Teich, saíram por discordar de Bolsonaro. O general Eduardo Pazuello permaneceu por concordar, no melhor estilo “missão dada é missão cumprida”. Está há mais de dois meses no cargo como interino, prova do esvaziamento da pasta em plena pandemia. Uma de suas primeiras decisões foi liberar a cloroquina para qualquer fase do tratamento, ignorando evidências científicas de que ela não tem eficácia contra o coronavírus e pode causar sérios efeitos colaterais. O país produziu comprimidos de cloroquina aos milhões, sabe-se lá para quê. Estima-se que haja estoque para abastecer por 38 anos o mercado nacional.

A cloroquina virou obsessão de Bolsonaro, transformado em garoto-propaganda do medicamento. Ele próprio, quando contraiu o vírus, apareceu numa transmissão ao vivo com uma caixa em mãos. Numa cena bizarra que decerto ilustrará os futuros livros de história, foi flagrado exibindo uma caixa de cloroquina às emas do Palácio da Alvorada. Até elas pareciam ter consciência do ridículo. A insistência na cloroquina não foi a única ofensa à Ciência. Bolsonaro se especializou em quebrar os protocolos sanitários mais básicos para a prevenção da Covid-19. Em lugares públicos, cumprimentou transeuntes, tossiu, falou alto, desprezou o uso da máscara — chegou a ser obrigado pela Justiça a usá-la — e frequentou aglomerações.

O que o governo deveria fazer não fez: estabelecer protocolos nacionais, lançar uma campanha para incentivar o distanciamento, testar a população para identificar os infectados, isolá-los e rastrear seus contatos, seguindo exemplos de países que controlaram a epidemia, como Coreia do Sul, Austrália ou Alemanha. O Brasil testa pouquíssimo, caminha às cegas no combate à doença. Escolhe sempre o caminho errado. Em meio ao desgoverno, a epidemia avança e escancara as desigualdades gritantes do país. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que, na cidade do Rio de Janeiro, dos 6.735 óbitos até 13 de junho, 79,6% ocorreram nos bairros de menor Índice de Desenvolvimento Social (IDS). Nas áreas mais pobres, a taxa de letalidade chega a ser o dobro da de regiões ricas (20% contra 10%). Na capital paulista, não é diferente. Os 25 distritos com maior número de mortes por Covid-19 estão na periferia. Juntos, concentram 42,1% dos óbitos.

Números superlativos não devem servir para banalizar a tragédia. Por trás deles, há 100 mil histórias de brasileiros que perderam a vida para o coronavírus. Tal contingente ainda cresce ao ritmo de mais de mil mortes por dia, quase uma por minuto. Produzimos sepultamentos em escala industrial, que nos humilham perante o mundo. O Brasil de Bolsonaro fica atrás apenas dos Estados Unidos de Donald Trump no campeonato macabro da Covid-19.

Em vez de impedir a tragédia, o governo tentou escondê-la. No início de junho, quando a escalada já era desenfreada, decidiu omitir o total de mortos do boletim diário do ministério. Iniciativa inócua, pois um consórcio da imprensa profissional passou a apurar os dados, e o Supremo obrigou o governo a recuar. Bolsonaro deveria saber que não é torturando números que se muda a realidade. Ela está aí, para quem quiser ver. Na quinta-feira, ele disse lamentar a iminência das 100 mil mortes: “Mas vamos tocar a vida, tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema”. Obviamente, nenhum dos mortos terá como tocar vida nenhuma. Nem Bolsonaro tem como se safar da responsabilidade pela tragédia e pela vergonha nacional.

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