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sexta-feira, 15 de julho de 2016

2016.2T: China GDP 6,7%.

Enquanto o Brasil continua afundando num poço sem fim, com estimada queda de 3,3% no PIB de 2016, a China é a China. 

Official statistics showed China's gross domestic product (GDP) expanded 6.7 percent year on year in the first half of 2016 to reach 34.06 trillion yuan (5.08 trillion U.S. dollars).

sábado, 3 de novembro de 2012

China: sem mudança, será sempre a União Soviética.


É comum ouvir que o século XXI pertence a China. Sempre discordo que a China seja a potência que ultrapassará os Estados Unidos e dominará o mundo.

Ainda que eu não tenha concluído a leitura do “Por que as nações fracassam – As origens do poder, da prosperidade e da pobreza”, os autores Daron Acemoglu e James Robinson já deixam claro que “a China sob o domínio do Partido Comunista é mais um exemplo de sociedade que cresce sob a tutela de instituições extrativistas, e é improvável, do mesmo modo, que venha a gerar crescimento sustentável – a menos que sofra uma transformação política fundamental, rumos a instituições inclusivas de fato”.

Isso posto, recordo da extinta União Soviética e de quantos, por exemplo, que afirmaram que a própria renda soviética ultrapassaria a americana em meados de 1984. E olha que o nosso grande mestre, o Nobel Paul Samuelson, defendia repetidamente a “iminente preponderância econômica da União Soviética”. Em 2012, quem ainda lembra que existiu uma União Soviética?

Portanto, colegas que estão desesperados estudando mandarim, peço continuarem com o seu inglês fluente, pois ele será utilizado ainda durante muitos e muitos anos. Exceto, claro, quando os chineses tiverem eleições livres para Presidente, o que acredito isso não acontecerá tão cedo.  

segunda-feira, 23 de julho de 2012

A China pode comprar o resto do mundo?


Sim. (Porém, espero que não).   

A China não está mesmo para brincadeira e mais uma vez foi destaque na página de negócios do NYT: Cnooc to Acquire Nexen for $15 Billion.

Por aproximadamente US$ 15,1 bilhões a chinesa Cnooc vai comprar a canadense Nexen.

E para complicar mais o assunto, a compra é em uma área estratégica para qualquer governo: energia, principalmente petróleo.   

A venda ainda depende de outros países, entre os quais os Estados Unidos, mas dinheiro não falta aos chineses.

Agora, tudo é uma questão de política. 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

China se transforma em mais um foco de perigo para economia mundial.


Paul Krugman, direto no UOL, seu artigo publicado no The New York Times.

Analisemos o seguinte quadro: o crescimento recente dependeu de um grande boom no setor de construção, alimentado pela disparada dos preços reais dos imóveis, e que exibia todos os sinais clássicos de uma bolha. Houve uma rápida expansão do crédito. Grande parte do crescimento não se deu por meio do sistema bancário tradicional, mas sim através do não regulado sistema de "shadow banking", que não está sujeito à supervisão governamental e não é lastreado por garantias do governo. Agora a bolha está estourando, e existem motivos concretos para que se tema uma crise financeira e econômica.

Estaria eu a descrever o Japão no final da década de oitenta? Ou os Estados Unidos em 2007? Poderia ser. Mas neste momento eu estou me referindo à China, que está se transformando em mais um foco de perigo em uma economia mundial que neste momento precisa de tudo, menos disso.

Eu tenho relutado em opinar sobre a situação chinesa, em parte porque é muito difícil saber o que está de fato ocorrendo lá. Todas as estatísticas econômicas são consideradas, na melhor das hipóteses, uma modalidade de ficção científica especialmente maçante. Mas os números referentes à China são mais fictícios do que os da maioria dos outros países. Eu recorreria a especialistas na China real para entender o que ocorre, mas é impossível encontrar dois especialistas que compartilhem o mesmo ponto de vista em relação àquele país.

Porém, mesmo os dados oficiais são preocupantes – e as notícias recentes são suficientemente dramáticas para fazer soar os alarmes.

O fato mais notável a respeito da economia chinesa nos últimos dez anos tem sido a maneira como o consumo domiciliar, embora ascendente, ficou bem para trás do crescimento geral da economia. Atualmente os consumidores chineses estão gastando apenas 35% do produto interno bruto, o que é cerca da metade do índice dos Estados Unidos.

Sendo assim, quem está comprando os bens e serviços produzidos pela China? Em parte, nós. À medida que a parcela da economia referente ao consumidor chinês foi declinando, a China passou a se basear cada vez mais nos superávits comerciais para manter o seu setor industrial à tona. Mas a questão mais importante sob o ponto de vista da China diz respeito aos gastos com investimentos, que dispararam para quase a metade do produto interno bruto.

A questão óbvia é: se a demanda por parte dos consumidores encontra-se relativamente fraca, o que motivou todo esse surto de investimento? A resposta, em grande parte, é que isso foi provocado por uma bolha imobiliária em constante expansão. O investimento imobiliário praticamente dobrou como parcela do produto interno bruto da China a partir de 2000, respondendo diretamente por mais da metade do crescimento geral dos investimentos. E sem dúvida o restante desse aumento diz respeito a firmas que se expandiram a fim de vender seus produtos para a aquecida indústria da construção.

E como é que nós sabemos de fato que essa expansão do setor imobiliário chinês se constitui em uma bolha? Ele manifesta todos os sinais: não apenas os preços crescentes, mas também aquele tipo de febre especulativa bastante familiar devido às nossas experiências de apenas alguns anos atrás – basta pensar na área litorânea da Flórida.

E existe outro paralelo com a experiência dos Estados Unidos: à medida que o crédito se expandiu, grande parte dele não foi derivada dos bancos tradicionais, mas sim do não supervisionado e desprotegido sistema de "shadow banking". Existem grandes diferenças quanto aos detalhes: o estilo norte-americano de "shadow banking" costumava envolver firmas famosas de Wall Street e instrumentos financeiros complexos, enquanto que a versão chinesa tende a ocorrer por meio de bancos clandestinos e até mesmo casas de penhora. Mas as consequências são semelhantes: na China, assim como nos Estados Unidos alguns anos atrás, o sistema financeiro pode estar muito mais vulnerável do que sugerem os dados sobre o sistema bancário convencional.

Agora essa bolha está visivelmente estourando. Qual será o estrago que ela provocará na economia chinesa e mundial?

Alguns analistas afirmam que não existe motivo para preocupação, que a China possui líderes fortes e inteligentes que farão tudo o que for necessário para enfrentar uma crise. Embora raramente se diga isso, o fato é que esses analistas acreditam que a China possa fazer o que bem quiser já que ela não tem que se preocupar com sutilezas democráticas.

Na minha opinião, no entanto, isso soa como as famosas últimas palavras antes do desastre. Afinal, eu me recordo muito bem de ter escutado palavras tranquilizadoras em relação ao Japão na década de oitenta, onde os brilhantes burocratas do Ministério das Finanças teriam tudo sob controle. E, mais tarde, ouvimos as garantias de que os Estados Unidos jamais repetiriam os erros que levaram à década perdida do Japão – quando na verdade nós estamos em uma situação ainda pior do que a do Japão dos anos oitenta.

As declarações das autoridades chinesas sobre a política econômica não me parecem ser nem um pouco sensatas. Em particular, a maneira como a China está agindo em relação aos automóveis estrangeiros – entre outras coisas, impondo uma tarifa punitiva sobre as importações dos Estados Unidos –, que em nada contribuirá para ajudar a economia do país, mas que envenenará as relações comerciais, não transmite a impressão de que aquele seja um governo maduro que saiba o que está fazendo.

E certos fatos sugerem que, embora o governo chinês possa não ser governado pelo estado de direito, ele tem o seu poder reduzido pela corrupção generalizada, o que significa que aquilo que ocorre de fato no nível local pode ter pouca semelhança com o que é ordenado em Pequim.
Eu espero não estar sendo necessariamente alarmista. Mas é impossível não se preocupar. A história da China parece-se muito com outras que temos presenciado em outros países. E a última coisa da qual precisamos em uma economia mundial que já está sofrendo com a bagunça na Europa é um novo epicentro de crise.

sábado, 1 de outubro de 2011

A China terá um acidente?


MOISÉS NAÍM, ontem na FOLHA DE S. PAULO, pergunta: “A China terá um acidente?
A economia do planeta irá para onde for a da China. Caso sofra um acidente econômico importante, os danos serão muito mais vastos e profundos que os da crise europeia atual. Será que na próxima década a China sofrerá um acidente que reduza seu crescimento econômico? Infelizmente, é provável que sim. A economia chinesa é como um carro veloz avançando por uma estrada de terra. Cedo ou tarde, topará com um buraco. Será um choque duro.
O acidente da China pode ser econômico, ecológico, social ou internacional. Para que se torne sério o suficiente para colocar em perigo a performance econômica total do país, terá que transbordar para mais de uma região e tornar-se uma crise política de primeira grandeza.
Um acidente financeiro ou ecológico pode ser justamente o gatilho de uma turbulência política ampla. Um crash da Bolsa que elimine uma parcela grande das economias das pessoas e as leve a sair às ruas, a contaminação da fonte de água de uma metrópole ou uma escaramuça com o Exército indiano em qualquer um dos pontos contestados da fronteira podem não ser, por si sós, suficientes para gerar instabilidade que faça a economia descarrilar.
Mas esses incidentes -ou outros difíceis de prever- podem ser a faísca que acenda uma turbulência política ampla que faça a economia desacelerar. A Primavera Árabe foi desencadeada pela imolação de um vendedor de frutas em uma pequena cidade do interior da Tunísia. O Banco Mundial prevê que, entre 2016 e 2020, a economia chinesa cresça 7% ao ano. É uma previsão muito otimista e que presume que não haverá acidentes. Mas mesmo esse índice mais otimista está 30% abaixo do índice atual e da média da década passada. Também a inflação está virando um problema. Nos últimos dez anos, esteve em menos de 2% ao ano. Agora está em mais de 6%, e os preços sobem, especialmente os dos alimentos.
Durante a era de Mao, a desigualdade era quase inexistente e, fosse qual fosse seu nível, era invisível para o resto da população. Hoje ela se equipara às piores do mundo e é altamente visível. Trabalhadores urbanos podem ganhar três vezes mais que camponeses da zona rural, e o número de chineses que ingressam na fileira dos bilionários do mundo quebra um recorde todos os anos.
A corrupção está por toda parte, e, apesar de algumas prisões de vez em quando -e até mesmo da pena de morte ocasionalmente aplicada a funcionários governamentais acusados de corrupção-, vem sendo largamente tolerada até agora. Uma queda econômica profunda e prolongada fará da corrupção uma fonte importante de revolta social e protestos. O mesmo se aplica aos problemas ecológicos crescentes, que, para muitos chineses, não são abstrações: há limites ao quanto as pessoas toleram receber em suas casas água marrom e malcheirosa para cozinhar ou tomar banho.
É fácil traçar uma lista dos gatilhos potenciais e das situações que os tornariam mais explosivos. O que não é fácil é saber qual deles será a faísca a desencadear uma turbulência que desacelere o crescimento chinês. Ou quando. Ou, ainda, se a China terá sorte e evitará um acidente. E com isso poupe o resto de nós de um acidente.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Uma aula sobre a China.

Durante décadas, o ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger, 88, foi um observador da China. Ele falou à "Der Spiegel" sobre seus encontros com Mao Tse-Tung, o futuro do Partido Comunista chinês e a rivalidade crescente entre Beijing e Washington.
Spiegel: Sr. Secretário, você acaba de celebrar seu 88º aniversário, o que significa que é quase tão velho quanto um dos partidos políticos mais influentes da história mundial - o Partido Comunista da China (CPC), que fez 90 anos na semana passada. Ainda é correto chamar o CPC de comunista? A China, tema de seu livro mais recente, ainda é comunista?
Kissinger: Não é um país comunista da forma como foi historicamente definido - com o estado gerindo a economia, determinando a distribuição de renda, e detendo o monopólio de todos os aspectos da vida intelectual. As reformas de Jiang Zemin no início da década de 2000 tentaram ampliar a base do Partido Comunista pela doutrina dos Três Representantes. Mas a China continua sendo um partido comunista no sentido de que o Partido Comunista detêm um monopólio do poder político.
Spiegel: Você se lembra de quando percebeu pela primeira vez o CPC como um movimento histórico, talvez até como uma ameaça histórica?
Kissinger: Nos anos 60, eu teria considerado a China com seu CPC um país mais dinâmico ideologicamente do que a União Soviética. Mas a União Soviética era estrategicamente mais ameaçadora.
Spiegel: E mesmo assim você e o presidente Richard Nixon não evitaram retomar as relações diplomáticas com a liderança comunista chinesa, a partir de 1973.
Kissinger: A Inglaterra e a França haviam estabelecido relações diplomáticas anos antes. Nossas conversas com Pequim serviram a um propósito estratégico: pensávamos que se China e a União Soviética compensassem uma à outra seria do interesse estratégico ocidental. Além disso, acreditávamos que era muito importante demonstrar para o povo norte-americano, na época dividido pela Guerra do Vietnã, uma nova noção de paz internacional.
Spiegel: Quando você se encontrou com os chineses na época, percebeu o imenso prejuízo humano que esses líderes haviam infligido a seu próprio povo - a Revolução Cultura, o Grande Salto Adiante? Isso não o incomodou?
Kissinger: Esses eventos foram uma catástrofe.
Spiegel: E foram bem documentados na época de suas negociações na China. O Grande Salto sozinho custou até 45 milhões de vidas, de acordo com estimativas dos historiadores.
Kissinger: O sofrimento e a fome eram conhecidos, mas não em sua total dimensão. Em todo caso, nos lidamos com a China enquanto um estado; não endossamos sua direção moral. Todos nossos aliados europeus e o Japão aplaudiram esse caminho.
Spiegel: É uma escolha que você fez porque suas considerações de política externa superavam as morais?
Kissinger: Não. Porque nós achávamos que promover a paz também era uma virtude moral, e porque a segurança também era um objetivo importante. Nós pensaríamos que a conclusão alternativa teria sido não ter nenhum contato com a China.
Spiegel: Você acredita que o CPC ainda existirá daqui a mais 90 anos?
Kissinger: O partido terá que ampliar sua base. Há muitas forças novas na China, e os líderes do atual partido estão proclamando que são necessárias mudanças. A questão essencial, é claro, é se os chineses permitirão em tempo a existência de partidos alternativos.
Spiegel: O CPC tem uma esquerda ideológica em seu cerne, ou ele é apenas um veículo conveniente de poder para as elites chinesas.
Kissinger: O partido se desenvolverá na direção do partido PRI (Partido Institucional Revolucionário) que governou o México por cerca de sete décadas fazendo ajustes pragmáticos. Pode haver um componente ideológico no cerne que, entretanto, não fará o papel amplo que fazia no período de Mao.
Spiegel: A abertura de relações, que você iniciou, tem com frequência sido divulgada como um triunfo político estrangeiro. Mas pode-se argumentar que ela começou um processo que agora tornou os Estados Unidos mais fracos e a China mais forte. O atual déficit comercial dos EUA com a China é gigante, e Pequim tem quase US$ 900 bilhões em títulos do tesouro dos EUA.
Kissinger: Você pode dizer isso só se não viveu naquela época como um participante consciente no debate. Quando a relação começou, a ideia de que a China se tornaria um competidor econômico para os Estados Unidos parecia inimaginável. Mas qual era a alternativa? Se um país de um bilhão de pessoas se organiza, ele pode se transformar num enorme concorrente. O desequilíbrio fiscal não é causado pela abertura mas por políticas norte-americanas equivocadas.
Spiegel: A secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton já expressou sua frustração com a China ao dizer: "como você pode ser duro com o seu banqueiro?"
Kissinger: Quando você deve dinheiro para o banco, isso se torna um arranjo mutuamente suicida. Se os chineses tentarem usar sua posição como banqueiros, eles podem fazê-lo sob o risco de perder as exportações que os tornaram o principal banqueiro em primeiro lugar.
Spigel: Então você ficaria menos preocupado com o débito dos EUA com a China do que Clinton?
Kissinger: É difícil jugar os graus de preocupação. Eu não acredito que a relação de banqueiro como tal é impossível de gerenciar. Entretanto, ela não é viável para que os Estados Unidos tenham déficits imensos indefinidamente sem colocar em risco seu crédito geral independentemente do que os chineses façam com a dívida que eles têm.
Spiegel: Clinton também foi crítica com a reação da China em relação à Primavera Árabe. Ela disse que os chineses estão "com medo" dela e tentando fazer a história voltar atrás. O quanto Pequim está preocupada com os acontecimentos recentes no Oriente Médio?
Kissinger: Não é sábio, nem tática nem psicologicamente, dizer a um país com 4 mil anos de história sem interrupções que compreendemos sua história melhor do que eles próprios. Mas sem dúvida, a possível aplicação dos princípios da Primavera Árabe à China é um motivo de preocupação para a liderança chinesa.
Spiegel: O que aconteceria se os protestos sociais emergissem na China e houvesse uma repetição do massacre na Praça Tiananmen? Como o mundo reagiria?
Kissinger: A posição formal norte-americana foi a de se opor à violência por parte de governos contra seus povos. Esse princípio não deveria ser abandonado. As implicações disso em casos individuais, entretanto, precisam ser vistas no contexto geral da política externa.
Spiegel: Isso deixa muito espaço de manobra.
Kissinger: Temos de defender essas questões de direitos humanos que consideramos de fundamental importância, mas também precisamos entender que há um preço em política externa a ser pago por essa atitude.
Spiegel: Você parece preferir lidar com temas de direitos humanos atrás de portas fechadas, e não em público.
Kissinger: Eu sempre disse que em relação à China, o engajamento é preferível.
Spiegel: Mas quando a China está irritada com outro país ou, por exemplo, com o Comitê do Prêmio Nobel por laurear o dissidente chinês Liu Xiaobo, ela diz isso, em alto e bom som. Esta é uma questão de dois pesos e duas medidas - por que o Ocidente não deveria criticar Pequim em público?
Kissinger: Eu não critico as pessoas que assumem uma postura pública em questões de direitos humanos. Expresso meu respeito por elas. Mas algumas pessoas são mais influentes sem uma confrontação pública.
"Pequim quer melhorar as relações com os EUA"
Spiegel: Quando o presidente Barack Obama assumiu o poder, ele tentou dialogar com a China. Mas mais tarde o debate sino-americano ficou concentrado em controvérsias - discussões na Conferência do Clima em Copenhague, debates fervorosos sobre a taxa de câmbio chinesa ou a fria recepção que Obama teve durante sua visita à China.
Kissinger: Obama gostaria de melhorar as relações com a China. A China também quer melhorar suas relações com os Estados Unidos. O que não está acontecendo é encontrar uma gramática para o diálogo, e parte disso é um problema cultura. Os norte-americanos veem a política externa como uma série de questões pragmáticas, em parte porque todos os problemas que foram reconhecidos como problemas nos EUA tiveram solução. Então, lidamos com os chineses numa série de temas específicos.
Spiegel: E isso é diferente para os chineses?
Kissinger: Os chineses olham para a política externa como uma série de eventos inter-relacionados. Veja o debate sobre a taxa de câmbio chinesa: nós discutimos mais estreitamente se a moeda chinesa deve se valorizar. Os chineses veem isso em termos da relação econômica geral com os EUA.
Spiegel: E eles só ajustariam sua moeda se os norte-americanos estivessem dispostos a retribuir?
Kissinger: Exatamente. Deve haver algum ajuste norte-americano em alguma área significativa para os chineses.
Spiegel: Então os chineses estão pensando de forma mais estratégica em termos de política estrangeira?
Kissinger: Não, apenas mais amplamente.
Spiegel: Os chineses sentem atualmente que estamos finalmente retornando às glórias do passado?
Kissinger: Os chineses costumam ser descritos como uma "potência em ascensão". Mas eles não pensam em si mesmos como uma potência em ascensão, porque durante 18 dos últimos 20 séculos, seu PIB foi o maior do mundo. Eles percebem o último século e meio como uma aberração e humilhação.
Spiegel: Você está descrevendo a mentalidade da liderança chinesa com grandes detalhes, mas tendo visitado a China mais de 70 vezes, você conheceu chineses comuns?
Kissinger: Eu não sei o que você quer dizer com "chineses comuns". Na maioria das visitas, eu faço o mesmo que eu faço na Alemanha, que é encontrar um grupo de intelectuais e pessoas que eu posso alcançar.
Spiegel: Você encontrou o ditador Mao Tse-Tung várias vezes nos anos 70. O que ele acharia da China moderna?
Kissinger: Mao estava interessado nessa noção de purificação ideológica da China mais do que numa recuperação econômica do país. Em nossas conversas, ele não mostrava praticamente nenhum interesse na cooperação econômica com o Ocidente. Então ele poderia considerar a China atual muito materialista. Ele provavelmente não gostaria dos modernos "yuppies" de Pequim ou Xangai.
Spiegel: "Pureza" - é este o ideal a que você associa Mao?
Kissinger: A definição de pureza de Mao era baseada em premissas diferentes do que as do Ocidente. Ele infligiu um sofrimento monstruoso ao povo chinês. Mas estou apenas apontando que a atitude chinesa é mais complexa. Eles apreciam o fato de que ele uniu o povo chinês.
Spiegel: Os chineses estão começando a pensar que talvez Mao tivesse algum outro objetivo?
Kissinger: A geração do ex-líder chinês Deng Xiaoping (que governou nos anos 80 e 90) considera a Revolução Cultural um desastre sem precedentes. Acredito que foi um imenso desastre, também. Mas há pessoas hoje na China que olham para as políticas lançadas por Mao como algo que poderia ter algum significado, mesmo quando foram longe demais.
Spiegel: As empresas norte-americanas que investiram na China reclamam sobre violações massivas aos direitos autorais. Autoridades norte-americanas lamentam o chamado "novo colonialismo chinês" na África. Como é possível abordar esses temas, dadas as sensibilidades chinesas que descreveu?
Kissinger: Em questões que afetam o interesse nacional imediatamente, você defende. Isso é normal quando se fala sobre o impacto de uma nação além de suas fronteiras. Minha visão é de que na relação com a China, nossos interesses estão mais bem servidos ao criar uma noção de coevolução do que pelo confronto constante.
Spiegel: Quando a China se envolve em outros países, ela parece estar preocupada apenas com interesses empresariais ou recursos naturais. Diferentemente dos EUA, Pequim não desenvolveu ainda tendências ideológicas missionárias.
Kissinger: Os norte-americanos acreditam que podem alterar as pessoas por conversão, e que todos no mundo são norte-americanos em potencial. Os chineses também acreditam que seus valores são universais, mas não acreditam que podem converter os outros a se tornarem chineses, este são apenas os que nasceram no país.
Spiegel: O seu livro será publicado na China?
Kissinger: Não sei ainda. Não aceitarei cortes, então será interessante ver se isso acontece ou não.
Spiegel: Sr. Secretário, muito obrigado por esta conversa.
Entrevista conduzida por Gregor Peter Schmitz e Bernhard Zand.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Brasil e China ou Brasil x China?

Leio no blog RADAR ECONÔMICO interessante notícia:

Luiz Fernando de Paula*, colaborador do Radar Econômico, chama atenção para editorial publicado ontem (quarta-feira, 24) no jornal “Financial Times”, que pode ter passado despercebido por muitos brasileiros porque no mesmo dia o diário abordou também os problemas envolvendo o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.

O editorial, coluna que expressa a opinião do jornal, diz que o problema entre Brasil e China se agravou por conta da manipulação do câmbio e por barreiras comerciais, duas práticas do governo chinês que atrapalham o País.

Escreve Luiz Fernando de Paula:

“Editorial de ontem da jornal britânico “Financial Times” analisa a complexa relação econômica entre Brasil e China e merece atenção.

Por um lado, há forte complementaridade entre as duas economias: a China é grande importadora de commodities e exportadora de capitais; Brasil é grande exportador de commodities e importador de capitais externos.

Contudo, nem tudo são rosas: a participação de commodities no total das exportações brasileiras mais que dobrou nos últimos dez anos, alcançando quase a metade da pauta de exportações do país, ao mesmo tempo que a participação de manufaturados vem caindo.

O problema tem se agravado em relação a China por dois fatores: a política massiva de intervenção cambial chinesa para manter seu câmbio mais ou menos estável; as barreiras existentes no mercado chinês que dificultam exportações brasileiras, inclusive nas competitivas exportações agrícolas.

Não é para menos que, das 144 investigações anti-dumping que o Brasil lançou no fim de 2010, 50 são contra a China. Enfim, são questões importantes a serem avaliadas na complexa geopolítica Brasil-China.”

Leia o editorial no site do “Financial Times”

* Luiz Fernando de Paula é professor de Economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pesquisador do CNPq e presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB). É autor, entre outros, do livro “Financial Liberalization and Economic Performance: Brazil at the crossroads” (Routledge, 2011). Blog da Associação Keynesiana Brasileira (AKB): http://associacaokeynesiana.wordpress.com

terça-feira, 26 de abril de 2011

Estados Unidos e Japao: economia.

Alex Ribeiro, no VALOR ECONÔMICO de hoje, escreve que os EUA repetem erro do Japão dos anos 90.

O presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, deverá sinalizar amanhã, em sua primeira entrevista coletiva após uma reunião de política monetária, o fim do controverso plano de expansão quantitativa de US$ 600 bilhões. Alguns economistas acham que a medida irá provocar alta nos juros dos títulos do Tesouro americano, mas a maioria acha que o impacto concreto será muito pequeno, porque a expansão quantitativa fez pouco para estimular a economia dos Estados Unidos.

Os americanos, porém, não deveriam estar tão preocupados com o fim dos estímulos monetários, mas principalmente com os riscos de uma prematura consolidação fiscal. "Os Estados Unidos correm o risco de cometer o mesmo erro que o Japão", afirma Richard Koo, economista-chefe da Nomura Securities, um dos maiores estudiosos dos erros de política fiscal que levaram a uma década perdida no Japão, nos anos 90.

Em resposta à crise financeira ocorrida a partir de 2007, os EUA baixaram os juros para próximo de zero, adotaram medidas pouco convencionais de expansão monetária e aprovaram pacote de estímulo fiscal de US$ 800 bilhões. Agora, preparam-se para desmontar esse aparato.

Muitos analistas acham que as medidas foram eficazes para evitar uma grande depressão, como a iniciada em 1929. Mas a economia ainda cresce lentamente, numa velocidade estimada em 2,8% pelo FMI, e o desemprego de 9,2% é considerado bastante alto para os padrões americanos. As estatísticas ainda apontam fragilidades no mercado imobiliário, que podem levar a um segundo mergulho recessivo.

O partido Republicano, de oposição, venceu as eleições legislativas do ano passado com o discurso de austeridade fiscal. Eles sustentam que o alto déficit público inibe consumo e investimentos e, por isso, pressionam a administração Barack Obama a reduzir gastos. Conseguiram corte de US$ 38 bilhões no orçamento deste ano e, agora, ameaçam não renovar o teto do endividamento público, tentando forçar o governo a adotar um plano de consolidação fiscal de pelo menos US$ 4 trilhões.

Para Koo, a continuidade dos estímulos fiscais é a única maneira para EUA e Europa evitarem a volta da recessão. "No Japão, tivemos os mesmos problemas políticos", afirmou, em entrevista ao Valor. "É quase impossível manter a expansão fiscal necessária numa democracia e em tempos de paz."

A crise americana e europeia atual, afirma ele, é idêntica à vivida pelo Japão a partir de meados da década de 90. No caso do Japão, levou 15 anos para combatê-la, em parte porque o governo recuou na hora errada, em 1997 e em 2001. "Ao primeiro sinal de recuperação, o governo fez o ajuste fiscal", afirmou. "A economia afundou, a arrecadação caiu e a situação fiscal ficou pior ainda." Se o governo japonês não tivesse errado, o problema seria superado em dez anos, diz ele.

Estados Unidos, Europa e Japão dos anos 90 enfrentaram o que Koo chama de recessão de balanço privados. Antes da crise, empresas e indivíduos tomaram muito dinheiro emprestado para comprar ativos, como propriedades e ações, cujos preços ficaram supervalorizados. Quando as bolhas estouraram, os preços dos ativos caíram, e o setor privado ficou com enormes dívidas em seus balanços. Agora, estão poupando para quitar esse débitos, num processo que pode levar anos.

No caso do Japão, o ajuste demorou 15 anos, porque os preços dos imóveis caíram 75% e o governo fez a coisa errada. Nos EUA, o ajuste nos balanços pode levar algo como seis anos, porque a queda dos preços foi em torno de 40%, mas depende de o governo americano fazer a coisa certa. "Os EUA têm a vantagem de aprender com o exemplo do Japão", disse.

Quando empresas e indivíduos aumentam poupança para pagar dívidas, corte nos juros e emissões monetárias, como os patrocinados pelo Federal Reserve, têm impacto quase nulo para aumentar a oferta de dinheiro na economia. Os bancos não querem conceder empréstimos, porque o setor privado está muito endividado. E o setor privado não quer tomar empréstimos, porque sua prioridade é pagar dívidas.

Nos EUA, alguns analistas afirmam que a situação do país é diferente, porque sua população é mais jovem, há mais imigrantes e o mercado de trabalho é mais flexível. "Conversa", afirma Koo. "Todo mundo vem com uma desculpa para dizer que é diferente do Japão."

O indicador mais importante, afirma ele, é comparar o aumento de poupança privada com o aumento do déficit público. Se o setor privado passou a poupar mais do que a expansão fiscal, a economia segue numa recessão provocada por um processo de ajuste de balanço privado. Nos Estados Unidos, afirma, o aumento de poupança privada é de cerca de 13% do PIB, mais do que o aumento do déficit fiscal, de cerca de 8%.

Mesmo em países da Europa, como Espanha, Irlanda e Portugal, a expansão fiscal ainda está atrás do aumento da poupança privada. Por isso, para esses países a recomendação de Koo é que os governos continuem gastando para estimular a economia. A regra, porém, não vale para a Grécia, que apenas expandiu o gasto público, sem aumento de poupança privada. "Sinto muito pelos gregos, mas eles têm que fazer o ajuste fiscal", afirma ele.

Contrações fiscais só têm impacto expansionista sobre a demanda agregada, como pregam republicanos nos Estados Unidos, e conservadores na Inglaterra, quando o setor privado não está se desalavancando. "Se o setor privado é saudável, o corte do déficit público vai abrir mais espaço para o setor privado", afirma Koo. "Os juros vão cair."

A China, afirma Koo, é um dos raros países que seguiram à risca a lição japonesa. Quando foi atingida pela crise de 2008, o país asiático tinha mercados acionário e imobiliário supervalorizados, com vários sinais de bolha. Se houvesse uma recessão naquela época, afirma o economista da Nomura, a China entraria num processo de ajuste de balanço privado. A resposta chinesa foi um pacote fiscal de 17% do PIB. "A China pode fazer", afirma Koo. "Não é uma democracia."

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...