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domingo, 20 de dezembro de 2020

O GLOBO: Covid-19 - Fique em casa.

É tempo de Papai Noel — e de coronavírus. As festas de fim de ano se aproximam. Sempre motivo para júbilo, tornaram-se uma enorme preocupação. No encerramento de um 2020 tisnado pela mais devastadora pandemia em cem anos, não há espaço para comemorações feéricas. A Covid-19 já matou mais de 185 mil brasileiros. Uma nova e mortífera onda de contágio já mata mais de mil por dia. A situação do país é crítica e, embora a vacina esteja num horizonte não tão distante, não há espaço para brincar com vidas humanas.

O Observatório Covid-19 BR, iniciativa independente que reúne cerca de 80 cientistas ligados às principais instituições brasileiras de pesquisa, lançou um alerta: “A catástrofe que se anuncia não vai se reverter de forma natural. A lógica de multiplicação de casos é simples e incomplacente: novos casos geram outros novos casos”. No estado do Rio, afirma a análise, as internações aumentam desde outubro. Não há leitos de UTI disponíveis para novos pacientes da doença. Em São Paulo, os índices de lotação já são semelhantes aos registrados em setembro — e crescem. Em Salvador, a ocupação das UTIs está em 75%. Em Santa Catarina, o número de mortes aumentou 300% desde o início de novembro. Minas, Paraná e Rio Grande do Sul têm registrado aumentos diários superiores a 1% nas mortes — um crescimento explosivo.

No Paraná, um dos estados mais atingidos, o Natal será sob toque de recolher. Desde ontem, a medida, que vigorará até o dia 28, restringe a circulação entre 23h e 5h, preservados os serviços essenciais. O governador Ratinho Júnior justificou a decisão apresentando a demanda por leitos exclusivos de Covid-19, superior à capacidade disponível.

As tradicionais comemorações da virada do ano, com aglomerações e gestos de confraternização, representam um risco temerário num momento em que o contágio volta a acelerar em quase todo o país. De forma sensata, cidades suspenderam suas festas oficiais de réveillon. Ainda em julho, a prefeitura de São Paulo anunciou o cancelamento do evento na Avenida Paulista. Naquele mesmo mês, a prefeitura do Rio informou que a tradicional queima de fogos na Praia de Copacabana estava descartada. A ideia era realizar pequenos shows em diferentes pontos da cidade, sem presença de público, transmitidos pela TV e internet. No último dia 15, porém, o prefeito Marcelo Crivella mudou de ideia e disse que não haverá mais comemoração oficial. Mesmo assim, quiosques da orla já preparavam suas festas de réveillon, autorizadas pela prefeitura. O Ministério Público Federal pôs água no champanhe: entrou com uma ação civil contra as autoridades, e a própria prefeitura tratou de proibi-las.

Melhor assim. Nada há para festejar, a não ser o encerramento de um ano que ficará marcado como um dos mais trágicos de nossa história. O Rio já perdeu quase 25 mil vidas para a Covid-19 e registra a maior taxa de mortalidade do país, de acordo com levantamento do MonitoraCovid-19, da Fiocruz (131 óbitos por cem mil habitantes). O aumento nos casos e nas mortes, bem como a dramática falta de leitos para Covid-19 nos hospitais têm sido tratados de forma amadora pelo governador Cláudio Castro e pelo prefeito Crivella. As medidas de restrição para deter a transmissão do vírus foram tímidas e questionáveis.

Mesmo com o cancelamento de eventos, persiste a preocupação com festas particulares e reuniões familiares de Natal e Ano Novo. Não custa lembrar o exemplo dos Estados Unidos, onde os casos explodiram após o tradicional Dia De Ação de Graças. O país já soma mais de 300 mil mortos — quase o total das vítimas das guerras do Vietnã e da Coreia. Na última semana, um só dia registrou 3.611 mortes (nos atentados de 11 de Setembro, morreram 2.977 ao todo). A perspectiva para o Brasil não é menos trágica. “Teremos o janeiro mais triste de nossa história, porque falhamos em trazer uma consciência cívica da gravidade do que estamos vivendo”, afirmou a pneumologista Margareth Dalcolmo no debate “E Agora, Brasil?”.

Não há dúvida de que as reuniões familiares são uma tradição nesta época do ano e de que o cancelamento de festas de réveillon traz prejuízos irrecuperáveis a cidades como o Rio. Mas vive-se um 2020 atípico. Para tomar a vacina que está chegando, será preciso sobreviver. Aglomerações devem ser evitadas a todo custo, e as normas de prevenção, respeitadas para que não se amplie a catástrofe.

Se a festa for inevitável, é fundamental seguir as orientações da Fiocruz para reduzir o risco de contágio em reuniões familiares: limitar as comemorações a quem mora na mesma casa. Para quem for sair, a recomendação é usar máscaras quando não estiver comendo ou bebendo, manter distância de pelo menos dois metros, preferir ambientes ao ar livre, lavar as mãos após usar objetos compartilhados etc.

“Não podemos colocar a perder todo o esforço feito até agora. Com o aumento de casos e a saturação do sistema de saúde em vários estados, somados às festas de final de ano que se aproximam, é imperativo que medidas sejam tomadas com a urgência necessária, de modo que possamos reduzir o número de vidas perdidas”, afirmam os cientistas do Observatório Covid-19 BR. “Fiquemos em casa nesta época que se aproxima. Podemos estabelecer um novo calendário para nossas festas. Fazendo isso, teremos reencontros seguros e felizes em breve, e cada um de nós poderá dizer, às gerações futuras, que fez sua parte na luta contra esta epidemia que tanto nos ameaça.”

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https://oglobo.globo.com/opiniao/fique-em-casa-nas-festas-de-fim-de-ano-1-24803642

sábado, 8 de agosto de 2020

O Globo: 100 mil mortos, uma tragédia do tamanho do Brasil.

 https://oglobo.globo.com/opiniao/100-mil-mortos-uma-tragedia-do-tamanho-do-brasil-1-24574686

Em 17 de março, quando o Brasil registrava 290 casos e apenas uma morte pelo novo coronavírus, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, previu que os números cresceriam exponencialmente até o fim de junho. Em julho estabilizariam e, em agosto, começariam a cair. Num cenário em que os fatos correm mais que o tempo, quase cinco meses depois, não há mais Mandetta, exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro em 16 de abril. Agosto está aí — e o panorama é um país ainda perdido em meio ao avanço da Covid-19. Os infectados passam de 2,9 milhões, e os mortos chegam à marca macabra de 100 mil. Para ter ideia da dimensão da catástrofe, o contingente supera a soma de duas conhecidas tragédias nacionais: todos os óbitos no trânsito (40.721) e todos os assassinatos (41.635) em 2019.

Não se chegou a tal número por acaso. Ele foi construído cotidianamente, por erros e omissões de um governo que trocou a Ciência pelo obscurantismo. Claro que governadores e prefeitos — com autonomia dada pelo STF para impor medidas de restrição e liberdade para fazer compras emergenciais (muitas das quais viraram caso de polícia) — também deixaram suas digitais na hecatombe. Mas é inequívoca a responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro, a quem cabia, por meio do Ministério da Saúde, coordenar o combate à mais letal pandemia em cem anos.

Bolsonaro começou minimizando a pandemia. Tratou a doença como “gripezinha” e, questionado sobre os mortos, soltou um revoltante “E daí?”. Mais preocupado com seu projeto de reeleição, atacou o isolamento social decretado por governadores e prefeitos — eficaz para impedir o avanço da doença na falta de vacinas ou remédios — e pregou a reabertura imediata das atividades. Alegou que a população não morreria de Covid, mas de fome. Simulou um falso dilema, já que, quanto antes a epidemia estiver controlada, mais rapidamente a economia voltará a girar.

O Ministério da Saúde é o melhor exemplo do pouco caso com a epidemia. Em menos de quatro meses, foram três ministros. Mandetta e seu substituto, Nelson Teich, saíram por discordar de Bolsonaro. O general Eduardo Pazuello permaneceu por concordar, no melhor estilo “missão dada é missão cumprida”. Está há mais de dois meses no cargo como interino, prova do esvaziamento da pasta em plena pandemia. Uma de suas primeiras decisões foi liberar a cloroquina para qualquer fase do tratamento, ignorando evidências científicas de que ela não tem eficácia contra o coronavírus e pode causar sérios efeitos colaterais. O país produziu comprimidos de cloroquina aos milhões, sabe-se lá para quê. Estima-se que haja estoque para abastecer por 38 anos o mercado nacional.

A cloroquina virou obsessão de Bolsonaro, transformado em garoto-propaganda do medicamento. Ele próprio, quando contraiu o vírus, apareceu numa transmissão ao vivo com uma caixa em mãos. Numa cena bizarra que decerto ilustrará os futuros livros de história, foi flagrado exibindo uma caixa de cloroquina às emas do Palácio da Alvorada. Até elas pareciam ter consciência do ridículo. A insistência na cloroquina não foi a única ofensa à Ciência. Bolsonaro se especializou em quebrar os protocolos sanitários mais básicos para a prevenção da Covid-19. Em lugares públicos, cumprimentou transeuntes, tossiu, falou alto, desprezou o uso da máscara — chegou a ser obrigado pela Justiça a usá-la — e frequentou aglomerações.

O que o governo deveria fazer não fez: estabelecer protocolos nacionais, lançar uma campanha para incentivar o distanciamento, testar a população para identificar os infectados, isolá-los e rastrear seus contatos, seguindo exemplos de países que controlaram a epidemia, como Coreia do Sul, Austrália ou Alemanha. O Brasil testa pouquíssimo, caminha às cegas no combate à doença. Escolhe sempre o caminho errado. Em meio ao desgoverno, a epidemia avança e escancara as desigualdades gritantes do país. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que, na cidade do Rio de Janeiro, dos 6.735 óbitos até 13 de junho, 79,6% ocorreram nos bairros de menor Índice de Desenvolvimento Social (IDS). Nas áreas mais pobres, a taxa de letalidade chega a ser o dobro da de regiões ricas (20% contra 10%). Na capital paulista, não é diferente. Os 25 distritos com maior número de mortes por Covid-19 estão na periferia. Juntos, concentram 42,1% dos óbitos.

Números superlativos não devem servir para banalizar a tragédia. Por trás deles, há 100 mil histórias de brasileiros que perderam a vida para o coronavírus. Tal contingente ainda cresce ao ritmo de mais de mil mortes por dia, quase uma por minuto. Produzimos sepultamentos em escala industrial, que nos humilham perante o mundo. O Brasil de Bolsonaro fica atrás apenas dos Estados Unidos de Donald Trump no campeonato macabro da Covid-19.

Em vez de impedir a tragédia, o governo tentou escondê-la. No início de junho, quando a escalada já era desenfreada, decidiu omitir o total de mortos do boletim diário do ministério. Iniciativa inócua, pois um consórcio da imprensa profissional passou a apurar os dados, e o Supremo obrigou o governo a recuar. Bolsonaro deveria saber que não é torturando números que se muda a realidade. Ela está aí, para quem quiser ver. Na quinta-feira, ele disse lamentar a iminência das 100 mil mortes: “Mas vamos tocar a vida, tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema”. Obviamente, nenhum dos mortos terá como tocar vida nenhuma. Nem Bolsonaro tem como se safar da responsabilidade pela tragédia e pela vergonha nacional.

domingo, 7 de junho de 2020

FHC: Tempos incertos.


São tempos incertos. Neles, a liderança deve apelar à racionalidade, ao bom senso, ao sentimento de solidariedade e de comunhão nacional, admitir que não há caminhos fáceis nem soluções mágicas, mas que o país deverá buscá-los de braços dados. O Brasil tem vulnerabilidades, a começar por seus grandes aglomerados urbanos onde milhões de pessoas vivem do trabalho informal e habitam moradias precárias. Sem falar dos desempregados e mesmo dos que perderam condições para se empregarem. Tem limitações fiscais, que podem e devem ser flexibilizadas num momento de emergência social e econômica, porém não podem ser desconsideradas. Mas o Brasil também tem ativos: o SUS, instituições de pesquisa científica como a Fiocruz, universidades como a USP e várias outras, epidemiologistas de categoria internacional, militares devotados ao serviço público, uma sociedade civil solidária e ativa, governadores e prefeitos que arregaçaram as mangas para enfrentar o desafio, uma imprensa atenta e instituições públicas de controle capazes de zelar pelo bem comum etc.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Globo: Bolsa fecha em forte alta, de 4,2%, enquanto dólar encerra em queda de 2,2%, a R$ 5,45.



RIO - O mercado financeiro começou a semana no terreno positivo. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), fechou em forte alta de 4,25%, aos 85.663 pontos. É o maior  patamar desde o dia 10 de março, quando fechou em 92.214 pontos. O dólar encerrou em queda de 2,25%, cotado a R$ 5,45, na menor cotação desde o dia 30 de abril, quando encerrou em R$ 5,43.

domingo, 24 de maio de 2020

O Globo: A corrosão na confiança dos investidores.

Não são muitas as certezas possíveis sobre o cenário brasileiro depois da pandemia. Uma delas, porém, é a de que o país vai precisar atrair investimentos externos para ajudar a alavancar o processo de recuperação da economia.

O governo tem insistido numa perspectiva otimista, assentada na venda de 36 empresas estatais a partir de agosto. Na lista oficial constam, entre outras, Eletrobras, Correios, Embrapa, Finep, Nuclep, Serpro, Dataprev e Casa da Moeda.

Em paralelo, acha possível a atração de até US$ 100 bilhões do setor privado para a área de petróleo. Argumenta com a disponibilidade de US$ 1,5 trilhão no mercado mundial.

Talvez fosse real na virada do ano, mas o mundo mudou com o vírus, e uma dose de realismo pode ser adequada. O Brasil encerrou 2019 como um dos quatro maiores receptores de investimentos estrangeiros diretos. Foram US$ 78,6 bilhões. Em março, no início da pandemia, o Banco Central refez projeções e estimou uma queda de 24%, para US$ 60 bilhões, neste ano. Poderá ser maior, devido ao recrudescimento da disputa por hegemonia entre Estados Unidos e China e das políticas protecionistas em vários países.

Já não basta oferecer condições favoráveis ao trânsito de capitais. Vai ser preciso firme sinalização sobre a estabilidade política, a segurança jurídica e o rigor na proteção ambiental — fator cada vez mais relevante nas decisões dos maiores fundos globais.

A chave está na conquista da confiança. E nesse ponto reside, hoje, a grande dificuldade brasileira, com um governo que se mostra desnorteado. Sob Jair Bolsonaro, a Presidência se tornou o principal vetor de instabilidades na República, depois do novo coronavírus. O governo se transformou numa usina de crises e de conflitos com o Legislativo e o Judiciário. Exemplo vívido está no vídeo da reunião ministerial de abril, com o presidente dizendo que sua intenção é “armar o povo” e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, pedindo a prisão de integrantes do Supremo Tribunal Federal. Ou com o ministro Augusto Heleno direcionando ameaças a outros Poderes.

O governo não fomenta confiança. Ao contrário, acirra as próprias contradições programáticas. Militante da retórica antipolítica, Bolsonaro passou 16 meses sem se preocupar com uma base parlamentar e, agora, adotou o “toma lá dá cá”. Tal qual os antecessores que criticava, passou a distribuir cargos em troca de votos no Congresso, em alianças pouco confiáveis com líderes notórios pelo prontuário em escândalos de corrupção.

A instabilidade resulta em insegurança. Soma-se a confusão em áreas como meio ambiente, e o obscurantismo na política externa, com hostilização a parceiros como a China.

O governo reconhece a dependência de capitais externos para a economia emergir da crise. Mas mantém uma postura corrosiva naquilo que é mais decisivo à atração dos investidores: a confiança.

domingo, 26 de abril de 2020

O Globo: Persio Arida aponta os erros na economia.

https://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/persio-aponta-os-erros-na-economia.html

– Do outro lado, é a ideia do crowding out, de que quando retrai o PIB do governo aumenta o PIB privado, ou seja, basta conter o governo que a iniciativa privada floresce e, como a iniciativa privada é mais produtiva que o gasto do governo, o PIB cresce. Isso é uma agenda simplória, errada macroeconomicamente. Para crescer você precisa de uma outra agenda, que é a abertura de bens comerciais e serviços, privatizações, reforma do Estado e reforma tributária. São essas quatro coisas que fazem o país crescer rápido. Curiosamente o governo não tocou em nenhuma delas. Nunca enviou uma reforma tributária, nem a administrativa, para o Congresso. Não fez abertura alguma, assinou um acordo com a União Europeia que já nasceu velho e não será ratificado porque Bolsonaro atacou o Macron, então esquece – diz Persio.

domingo, 19 de abril de 2020

André Lara Resende no O GLOBO de 19/04/2020.



André Lara Resende, um dos autores do Plano Real, avalia que, no mundo pós-pandemia, abre-se a oportunidade para a revalorização do Estado, tornando-o “mais eficiente e a favor da população”. Em entrevista por e-mail, ele prevê um reequilíbrio entre produção nacional e externa e que “o liberalismo econômico primário” será “imperiosamente revertido”.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

O Globo: Por que é preciso tornar a ler Sartre, quarenta anos depois de sua morte.


Assim, Sartre, o homem que morreu há exatos quarenta anos, um dos mais influentes pensadores de sua época, soube expressar a revolta do inconformismo servindo-se de sua pena e de seu pensamento em registros diversos. Filósofo, concebeu uma das grandes obras do existencialismo, “O ser e o nada” (1943), percorrendo algo como 600 páginas de recusa a toda forma de determinismo e de sentido pré-fixados em nossa condição existenciária. Ficcionista, redigiu “A náusea” (1938), seu mais célebre romance, no qual a personagem principal faz a experiência da radical gratuidade da existência e a descoberta do assédio da objetividade indiferenciada das coisas sobre a consciência. Dramaturgo, compôs peças teatrais nas quais suas personagens se entregam de má-fé a uma vontade alheia, fixando-se em determinações que lhe são dadas em exterioridade em lugar de assumirem a responsabilidade por suas próprias existências. Jornalista, foi um dos fundadores da revista “Os tempos modernos” (1945), publicação destinada à realização de uma experiência concreta da liberdade por meio do radical compromisso do escritor com sua própria época. Ativista, intelectual militante, engajou-se politicamente na causa da revolução, mas preservou independência ao definir-se como um “companheiro de rota” dos comunistas, produzindo uma crítica severa ao “método de Terror” da burocracia stalinista e seu empreendimento de eliminação violenta de toda dissidência.

domingo, 5 de abril de 2020

FHC hoje no O GLOBO: Durante e depois da crise.

Sem diminuir a importância dessas iniciativas, a ação decisiva é dos governos. Os economistas não sabem qual será a profundidade da crise e em quanto tempo virá a recuperação. Mas em um ponto a maioria concorda: às favas (por ora!) a ortodoxia e os ajustes fiscais. Voltamos aos tempos de Keynes e, quem sabe, os mais apressados deixarão de jogar os “social-democratas” na lata de lixo da História. Os governos, e não só o daqui, começam a perceber que é melhor gastar já e salvar vidas do que manter a higidez fiscal e produzir cadáveres e depressão econômica. A dívida pública vai aumentar. Depois se verá como pagá-la. Este se é dúbio: em geral, a maior parte da conta vai para o conjunto da população e não para os que mais podem. Terá de haver mobilização política para que desta vez seja diferente.

domingo, 29 de março de 2020

Gustavo Franco: O Corona e a economia.


Esta crise reúne as piores características de todas as anteriores: a insegurança que veio com o 09-11, a ansiedade com o HIV, o impacto econômico sistêmico de 2008, tudo isso junto com a turbulência financeira, que foi a tônica das crises dos anos 1990. Mas há singularidade.
Esta crise não nos traz um problema cambial, o que não quer dizer que não vai ter agitação nesse mercado, sempre tem, e pode ser que tenha mais, mas o câmbio não é um tema importante dessa vez.
A inflação está prostrada numa mínima histórica e, com isso, o país entra na crise com os juros a 3,75%, o que muda todo o protocolo, sobretudo numa crise na qual o crédito é o primeiro problema a enfrentar. Ainda bem que fizemos o dever de casa no passado, contrariamente à opinião da medicina econômica alternativa.
Pois bem, o custo do endividamento, público e privado, vai ser muito menor do que em qualquer outro episódio de estresse financeiro do passado. Mas é preciso que a liquidez chegue a quem precisa, trabalho para o BC monitorar os bancos, sobretudo os analógicos (os digitais nunca passaram por isso, e poderão ajudar muito, pois sua “agência” é o seu celular, onde não tem aglomeração).

quarta-feira, 25 de março de 2020

10 dicas do Frei Betto para enfrentar a reclusão em tempos de pandemia.

https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus-servico/dez-dicas-para-enfrentar-reclusao-em-tempos-de-pandemia-1-24327354

1. Mantenha corpo e cabeça juntos. Estar com o corpo confinado em casa e a mente focada lá fora pode causar depressão.



2. Crie rotina. Não fique de pijama o dia todo, como se estivesse doente. Imponha-se uma agenda de atividades: exercícios físicos, em especial aeróbicos (para estimular o aparelho respiratório), leitura, arrumação de armários, limpeza de cômodos, cozinhar, pesquisar na internet etc.


3. Não fique o dia todo diante da TV ou do computador. Diversifique suas ocupações. Não banque o passageiro que permanece o dia todo na estação sem a menor ideia do horário do trem.


4. Use o telefone para falar com parentes e amigos, em especial com os mais velhos, os vulneráveis e os que vivem só. Entretê-los fará bem a eles e a você.


5. Dedique-se a um trabalho manual: consertar equipamentos, montar quebra-cabeças, costurar, cozinhar etc.


6. Ocupe-se com jogos. Se está em companhia de outras pessoas, estabeleçam um período do dia para jogar xadrez, damas, baralho etc.


7. Escreva um diário da quarentena. Ainda que sem nenhuma intenção de que outros leiam, faça-o para si mesmo. Colocar no papel ou no computador ideias e sentimentos é profundamente terapêutico.


8. Se há crianças ou outros adultos em casa, divida com eles as tarefas domésticas. Estabeleça um programa de atividades, e momentos de convívio e momentos de cada um ficar na sua.


9. Medite. Ainda que você não seja religioso, aprenda a meditar, pois isso esvazia a mente, retém a imaginação, evita ansiedade e alivia tensões. Dedique ao menos 30 minutos do dia à meditação.


10. Não se convença de que a pandemia cessará logo ou durará tantos meses. Aja como se o período de reclusão fosse durar muito tempo. Na prisão, nada pior do que advogado que garante ao cliente que ele recuperará a liberdade dentro de dois ou três meses. Isso desencadeia uma expectativa desgastante. Assim, prepare-se para uma longa viagem dentro da própria casa.
* Frei Betto é escritor, autor de “Cartas da prisão” (Companhia das Letras), entre outros livros.s

terça-feira, 24 de março de 2020

Yuval Noah Harari: O antídoto para a epidemia não é a segregação, mas a cooperação.


Hoje a humanidade enfrenta uma crise aguda, não apenas devido ao coronavírus, mas também devido à falta de confiança entre os seres humanos. Para derrotar uma epidemia, as pessoas precisam confiar em especialistas científicos, os cidadãos precisam confiar nas autoridades públicas e os países precisam confiar uns nos outros. Nos últimos anos, políticos irresponsáveis minaram deliberadamente a confiança na ciência, nas autoridades públicas e na cooperação internacional. Como resultado, agora estamos enfrentando esta crise desprovida de líderes globais que podem inspirar, organizar e financiar uma resposta global coordenada.

segunda-feira, 23 de março de 2020

O Globo: Somos todos responsáveis.

A epidemia mundial de coronavírus lembra pestes na Idade Média, pandemias também de doenças respiratórias como a Gripe Espanhola, em 1917/18, e a Sars, mais recente, há 17 anos. Mas nunca houve nada igual, pela velocidade com que o vírus se espalha pelo planeta, representando grave perigo para as populações. Identificado na cidade chinesa de Wuhan, no fim do ano passado, e depois de se espalhar pela Ásia, contaminar a Europa e entrar nas Américas, o coronavírus passou a ser uma das maiores ameaças na História à ordem econômica, social e política. Mesmo que fosse possível sociedades não serem contaminadas, elas seriam atingidas, porque é impossível saírem ilesas de uma recessão mundial como a que está em gestação avançada.
O Brasil, um dos dez maiores PIBs do mundo, sofrerá danos severos. Pelo tamanho da crise que se aproxima e devido às características da epidemia, a questão não é só do governo, do Congresso, dos poderes republicanos. É de responsabilidade de todos. A superação dos grandes e múltiplos problemas que aí estão — na saúde, na economia, no campo social e, por consequência, na política —, e que se agravarão, precisará de uma mobilização e engajamento da sociedade talvez nunca vistos. Não se trata de uma causa política, ideológica. Mas de sobrevivência, em sentido amplo.
A responsabilidade pelo sucesso ou fracasso será de todos. Na entrevista coletiva do Ministério da Saúde concedida no sábado, o secretário-executivo da pasta, João Gabbardo, pediu à população para não esperar o poder público para tomar atitudes. Disse, acertadamente, que como a imprensa há dias dá total prioridade ao noticiário do coronavírus, com repetidas informações práticas de como todos precisam se comportar, cada um deve saber a sua parte. É essencial se recolher, para evitar a retransmissão de um vírus veloz.
Neste sentido, foi frustrante, deseducativo e despido de qualquer espírito de cidadania, o carioca encher praias e bares no penúltimo fim de semana. Bem como idosos, grupo vulnerável ao vírus, continuarem no calçadão de Copacabana e praças, correndo risco de contrair a doença e ainda se transformar em uma plataforma ambulante de contaminação. É descabido o prefeito Crivella pensar em pedir ao Exército soldados para mandar pessoas de idade avançada para casa, por ser um desatino converter militares em guardas de costume. Mas inconsequência de idosos é inaceitável.
Pode ser que a falta de sol no fim de semana tenha ajudado a esvaziar as ruas. A melhor hipótese é que esteja afinal aumentando a consciência da seriedade do momento, à medida que o número de contaminados e mortos cresce. É necessário entender que bastam alguns poucos irresponsáveis para muitos padecerem.
Os empresários são um elo estratégico na crise. São eles que empregam a maior parte da força de trabalho e que, se nada for feito, serão obrigados a demitir em massa, porque a recessão fará com que suas receitas desabem. Ou desapareçam. A previsão para a economia americana é que a taxa de desemprego, na faixa de 4%, das mais baixas de que se tem registro, dispare para 20%. No Brasil, o índice se encontrava em janeiro em 11,2%. Estava em queda, vai subir outra vez, não se sabe até onde.
Foi decretado pelo Congresso estado de calamidade pública, a pedido do Planalto, para o governo não obedecer à meta fiscal. Não conseguiria mesmo. Com as receitas em queda vertiginosa, as empresas precisam de dinheiro para pagar a folha de salários. Os bancos públicos serão mobilizados. É possível que também possam atrasar impostos.
Acionistas e executivos das empresas precisam também entender que são parte do esforço coletivo de reconstrução para o bem de todos, pessoas físicas e jurídicas. Empresas já recebem mais de R$ 300 bilhões anuais em incentivos, ou 4,5% do PIB, dinheiro do contribuinte. Para sobreviverem, como a sociedade deseja e precisa, alguns novos bilhões do Erário terão de ser repassados para o seu caixa. Será preciso muita seriedade de gestores e acionistas na administração desses recursos. A prioridade tem de ser a manutenção do emprego. O restabelecimento de margens de lucro pode ficar para depois. A questão social se torna grave junto com a econômica, só que ela explode rapidamente nas ruas.
O chamamento à responsabilidade alcança os políticos. Muitos demonstram a mesma inconsciência de tantos diante do maremoto que se aproxima do país. Ano de eleições municipais, aspirantes a 2022 se agitam. Não causariam tantos danos se não fossem o presidente da República e os governadores de São Paulo e Rio de Janeiro, os dois maiores estados.
É louvável que João Doria e Wilson Witzel estejam ativos diante da crise e procurem prestar contas diariamente por meio da imprensa. Mas enquanto Bolsonaro e os dois governadores fazem guerra de decretos e medidas provisórias para saber quem terá a primazia de fechar ou abrir portos, aeroportos e estradas — a União é que deve tratar do assunto, por óbvio —, a situação exige a cooperação entre todas as esferas do poder.
Disso depende um país. Antes da crise, entre trabalhadores sem carteira de trabalho, trabalhadores domésticos e autônomos eram 46,8 milhões. Há ainda milhões que estão no mercado formal e que podem perder o emprego com a crise e aumentar a população deste Brasil pobre, a depender do entendimento entre os brasileiros.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...