Direto do The New York Times, leio na Folha mais uma matéria sobre o Thomas Piketty e o seu livro, atual sucesso mundial.
PARIS - Quando o Muro de
Berlim caiu, em 1989, Thomas Piketty tinha 18 anos, o que o poupou do debate
intelectual sobre as virtudes e os vícios do comunismo, que durou décadas na
França.
Segundo ele, mais
reveladora foi a viagem que fez com um amigo à Romênia no início dos anos 1990,
após a queda da União Soviética.
"Quando vi aquelas
lojas vazias, aquelas pessoas fazendo fila inutilmente na rua, ficou claro que
nós precisamos de propriedade privada e instituições de mercado, não só por uma
questão de eficiência econômica, mas também pela liberdade individual."
Mas o desencanto com o
comunismo não significa que Piketty deu as costas para o legado intelectual de
Karl Marx.
Como o alemão, ele é um
crítico ferrenho das desigualdades econômicas e sociais produzidas pelo
capitalismo desenfreado -as quais, para ele, se agravarão. "Sou de uma
geração que jamais teve atração pelo Partido Comunista. De certa maneira, isso
facilita retomar com frescor essas grandes questões sobre capitalismo e
desigualdade."
Em seu novo livro de 700
páginas, "Capital in the Twenty-First Century" [O Capital no Século
21], Piketty, 42, desmonta teses sobre a benevolência do capitalismo e prevê
desigualdade crescente em países industrializados, com impacto sobre valores
democráticos como justiça e equidade.
O livro, que está na
lista dos mais vendidos do "New York Times", pretende ser um retorno
ao tipo de história econômica e economia política escrito no passado por Marx e
Adam Smith.
A obra se empenha em
compreender sociedades ocidentais e as regras econômicas que as sustentam. E em
seu decorrer, ao desmascarar a ideia de que "a riqueza ergue todos os
barcos", Piketty desafia governos democráticos a lidarem com o abismo crescente
entre ricos e pobres.
Piketty cresceu em um lar
impregnado de política. Seus pais, esquerdistas, participaram das manifestações
em 1968 que sacudiram a França tradicional.
Mais relevantes e
importantes, disse ele, são as "experiências fundamentais" de sua
geração: o colapso do comunismo, a degradação do Leste Europeu e a Guerra do
Golfo. Tais eventos o incitaram a tentar entender um mundo no qual ideias
econômicas tinham consequências tão nefastas.
Piketty entrou na
elitista École Normale Supérieure aos 18 anos. Sua dissertação de doutorado
sobre a teoria da redistribuição da riqueza, concluída quando ele tinha 22
anos, ganhou prêmios.
Então ele se mudou para
os Estados Unidos, para lecionar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts
(MIT), mas se decepcionou com o estudo de economia americano e voltou para a
França.
"Percebi rapidamente
que havia pouco empenho para coletar dados históricos sobre renda e riqueza,
então comecei a fazê-lo".
Com a ajuda dos potentes
computadores atuais, suas conclusões se baseiam em séculos de estatísticas
sobre o acúmulo de riqueza e o crescimento econômico em países industriais
desenvolvidos.
Elas também são
enunciadas de maneira simples: a taxa de crescimento da renda do capital é
várias vezes maior que o ritmo do crescimento econômico.
Isso significa que uma
parcela comparativamente decrescente vá para a renda ganha com salários, os
quais raramente aumentam mais rápido que a atividade econômica.
A desigualdade aumenta
quando a população e a economia crescem lentamente.
A desigualdade em si é
aceitável, diz ele, à medida que incita a iniciativa individual e a geração de
riqueza que, com a ajuda da taxação progressiva e outras medidas, ajuda a
melhorar a situação de todos na sociedade.
"Não vejo problema
na desigualdade, desde que ela seja de interesse comum", afirmou.
Porém, Piketty diz que a
desigualdade extrema "ameaça nossas instituições democráticas". A
democracia não significa apenas cada cidadão um voto, mas a promessa de
oportunidades iguais.
A última parte do livro
apresenta as ideias de Piketty sobre políticas públicas. Ele defende uma
taxação global progressiva sobre a riqueza real (menos dívida), com os
resultados decorrentes não entregues a governos ineficientes, mas
redistribuídos para os que têm menos capital.
O livro tem despertado
críticas, especialmente às prescrições políticas de Piketty, consideradas
ingênuas. Ele recebe bem as críticas. "Certamente estou aguardando
ansiosamente os debates."
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