Fabio Giambiagi, economista, co-organizador
do livro "Economia Brasileira Contemporânea: 1945/2010" (Editora
Campus), hoje no VALOR ECONÔMICO.
O regime de metas de inflação sofreu alguns
arranhões na sua credibilidade desde 2010. Para explicar isso, convém olhar as
duas tabelas que acompanham este texto. A tabela I mostra o que aconteceu a
cada ano t, com: a) a expectativa de inflação dos Top 5 de médio prazo (as
instituições com melhor índice de acerto para o médio prazo, na pesquisa
Focus), feita no começo de janeiro do ano anterior; b) a expectativa da mediana
de mercado para o próprio ano; e c) a inflação de fato observada no final do
ano.
A tabela I sugere, primeiro, que até 2007 o
mercado trabalhava com o cenário de que o governo, dando continuidade à
política de combate à inflação reafirmada no início do governo Lula e mantida,
até então, com excelentes resultados, promoveria reduções posteriores da
própria meta de inflação a partir de 2009, a ponto de o mercado acreditar na
época que a inflação de 2008 seria inferior à meta daquele ano (no começo de
2007, o mercado achava que a inflação de 2008 seria 3,5 %!). E, segundo, que
desvios da inflação acima da meta eram vistos como temporários.
Isso começou a mudar durante 2010. Até o
começo daquele ano, com meta de 4,5%, não se duvidava que o governo voltaria a
alcançar a meta, mesmo que não no ano, pelo menos no ano seguinte. Já a tabela
I indica que, em 2011, pela primeira vez, não apenas duvidou-se que a inflação
estaria na meta naquele ano, como desde o começo do ano os Top 5 de médio prazo
já sinalizavam que sequer a meta de 2012 seria alcançada.
A rigor, não haveria problemas se o BC
explicasse por A + B que por alguma razão a meta no ano não seria cumprida, mas
que no futuro a trajetória convergiria para 4,5%. Quando no começo de cada ano
se insiste que a meta será alcançada e depois isso não ocorre, porém, os
efeitos cumulativos sobre a capacidade de inspirar confiança são óbvios.
Observe-se na tabela II que a comparação da inflação prevista para 2011 entre o
cenário de mercado do Relatório Trimestral do BC e a previsão dos Top 5 (de
médio prazo em 2010 e de curto prazo em 2011) mostra uma subestimação
sistemática da inflação futura por parte do BC que vinha se arrastando desde
2010.
O fato é que tivemos inflação distante da
meta por dois anos consecutivos em 2010 e 2011 e com expectativas descoladas da
meta em 2011 e 2012. O nosso BC é muito melhor que o de nossos vizinhos
heterodoxos e é difícil fazer política monetária em um mundo conturbado como o
atual. Os fatos de 2011 sugerem, de qualquer forma, que a comunicação
institucional do BC deve ser aprimorada. Ao mesmo tempo, a repetição de alguns
desses problemas recomenda que o horizonte de referência da meta seja
explicitamente estendido para um período de 24 meses à frente.
Faz mais sentido o BC agir a cada reunião
para tentar que 24 meses depois a inflação esteja na meta - dando tempo para um
ajustamento suave a eventuais choques - do que ficar repetindo em janeiro
promessas que em dezembro acabam se frustrando. Comunicação é o nome do jogo. A
propósito: a expectativa de inflação da mediana dos Top 5 de médio prazo para o
ano que vem (2013) está subindo e já está em 5,3%. Os Top 5 podem errar? Sim,
mas nos últimos tempos acertaram bastante. O BC deveria prestar atenção nos
sinais que eles estão emitindo.