Paul Krugman, em seu blog, no ESTADÃO de hoje:
Uma pergunta que surge de tempos em tempos nos comentários: o que poderia fazer eu mudar minhas ideias sobre como a economia funciona. Associada a esta há uma outra: se, algum dia, diante de alguns acontecimentos, eu mudei completamente minha forma de pensar.
Respondo primeiramente à última indagação. Minhas ideias mudaram drasticamente no final dos anos 90, e essa mudança foi acarretada pelos acontecimentos na Ásia.
Até então eu aceitava muito bem a estrutura “elegante e conceitualmente simples” descrita recentemente por Olivier Blanchard. Basicamente, achava que a política monetária convencional poderia realizar o trabalho de estabilizar a economia.
A crise asiática, no entanto, levou-me a repensar essa opinião ortodoxa. Ela mostrou, principalmente, que uma economia de mercado pode sofrer fortíssimos choques financeiros que não conseguem ser contrabalançados por meio de uma política monetária; em particular, surpreendi-me ao ver um papel de fato para os controles do capital para lidarmos com o efeito de crises monetárias em países com uma grande dívida em moeda estrangeira.
E a realidade da armadilha de liquidez do Japão mostrou que a política monetária pode perder tração mesmo sem esses tipos de problemas de ordem monetária ou de dívidas em moeda estrangeira.
A crise asiática tornou-me mais keynesiano – porque ela mostrou que problemas como os da década de 30 podem ocorrer no mundo moderno e que você não pode, na verdade, depender do Tio Alan, ou Tio Ben, para resolver tudo. Assim, na crise de 2008, minhas ideias estavam estruturadas com base na minha interpretação do que ocorreu na Ásia nos anos 90, e elas funcionaram muito bem, dando um sentido para os acontecimentos até agora. Entretanto, muitos economistas que não levaram em conta os eventos dos anos 90 foram apanhados de surpresa.
O que poderia me levar a entender que eu teria de reavaliar drasticamente as minhas ideias? Uma enorme alta na inflação, provocada internamente, e em especial um grande salto nos salários – faria isso. E temos verificado um aumento nas medidas da inflação que tem surpreendido um pouco; mas não chegaria a uma discordância tal com a teoria que exigisse uma grande mudança de pensamento.
A resposta então é que sim, estou disposto a mudar minhas ideias quando as evidências justificam essa mudança. E você, também está?